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A emergência do populismo no seio das democracias liberais, a perda de hegemonia dos EUA no sistema internacional, a ascensão da China e o ressurgimento da Rússia, ambas potências revisionistas e claras ameaças à zona de paz liberal, o Brexit e o futuro de uma União Europeia dominada por uma Alemanha encantada com Putin, as alterações climáticas, a crise dos refugiados, a cibersegurança e as guerras de informação e desinformação no ciberespaço fomentadas pela Rússia e China e nós o que discutimos? Petições a favor e contra um museu dedicado a Salazar, já depois da crise dos combustíveis, dos incêndios sempre reveladores da nossa aversão ao planeamento sistematizado, da importação dos espantalhos racistas dos estudos pós-coloniais, da sempre presente ideologia de género e da restante espuma dos dias alimentada pelos ciclos noticiosos e pelas shitstorms nas redes sociais. Sem embargo de a esfera pública numa sociedade livre dever comportar os mais diversos temas, entretanto, num mundo cada vez mais globalizado e perigoso, cá continuamos, neste cantinho à beira-mar plantado dominado por certa sociedade de corte composta por caciques e carreiristas partidários e umas quantas dúzias de famílias, sem darmos prioridade à política externa e andando essencialmente a reboque dos parceiros europeus. Já dizia Rodrigo da Fonseca que "nascer entre brutos, viver entre brutos e morrer entre brutos é triste”.
O Eusébio, o Panteão, os Estaleiros de Viana, as praxes, "Duxes" com idade para serem meus pais que ainda não acabaram a licenciatura, a Fernanda Câncio a tweetar enquanto estava no Prós e Contras, os cortes na Fundação para a Ciência e Tecnologia e o descaramento dos que agora rasgam as vestes porque lhes estão a tirar o pote, o PS de António José Seguro com quase 40 por cento nas intenções de voto, o Livre de Rui Tavares, o eurodeputado que se lembrou que está quase a ficar sem emprego, o 3D, o relógio da JP/Paulo Portas, o referendo à co-adopção por casais homossexuais, o Hugo Soares que acha que todos os direitos podem ser referendados e o outro que reivindica o direito à humilhação, o Ministro da Economia que não sabe como funciona a ciência e ilustra o pensamento camilo-lourencista da falta de utilidade (seja lá isso o que for) das universidades para a economia real (novamente, seja lá isto o que for), o Camilo Lourenço a analisar "clichets" e os editores que não o corrigem, a factura da sorte, a candidatura presidencial de Marcelo e a argolada de Passos Coelho, a Judite de Sousa armada em comentadeira, os Miró e as redes sociais, ó meu Deus, o raio das redes sociais inundadas pelos comentadeirismo de vão de escada, porque o que importa é dizer alguma coisa, mesmo que se diga o mesmo que todos os demais sobre os mesmos assuntos efémeros e merdiáticos que não interessam verdadeiramente para nada e daqui a uns dias já foram esquecidos para serem substituídos por outros igualmente importantes. Um país a endoidecer colectivamente. Bocejo profundamente, volto ao trabalho.
Michel de Montaigne, Da Vaidade:
"A mania de escrever parece constituir um sintoma de uma época sobrecarregada. Desde quando escrevemos tanto senão desde que nos encontramos em apuros? Desde quando os romanos o fizeram senão depois da sua ruína? Além do mais, tal como o apuramento dos espíritos, não há uma moderação organizacional; esta azáfama ociosa nasce do facto de que cada um se entrega indolentemente ao ofício da sua função, pervertendo-o. A corrupção dos nossos dias faz-se do contributo individual de cada um de nós: uns insuflam-lhe a traição, outros a injustiça, a irreligião, a tirania, a avareza, a crueldade, conforme sejam mais poderosos; os mais frágeis, entre os quais me encontro, inculcam-lhe a estupidez, a vaidade, a ociosidade. Parece que estamos na época das coisas vãs quando os acontecimentos perniciosos nos pressionam."
O panorama político e social português e europeu é exasperante. Neste cantinho à beira mar plantado, onde não nos governamos mas já nos deixamos governar, a impotência assola uma nação perante os aprendizes de feiticeiro obrigados ao temor reverencial troikista, e até aparecem economistas do FMI a realçar o grande consenso social existente em Portugal quanto ao esforço que é necessário realizar, confundindo consenso com resignação e revolta perante a imposição e o esbulho fiscal que defrauda até as medidas e os cálculos da própria troika. Entre quem nos salva e quem se quer salvar, já dizia Millôr Fernandes que "o país que precisa de um salvador não merece ser salvo", embora até vão aparecendo candidatos a salvador nacional que se assemelham na voz, nos métodos e nos cargos a um outro que foi chamado ao Terreiro do Paço nos idos de 1926. Muito menos merecem ser salvas as muitas futebolíticas luminárias adiantadas mentais que deixaram a minha geração bem tramada mas que continuam a pavonear-se por aí sempre prontas para a baixa política em qualquer palco ou em frente de qualquer câmara, debitando chorrilhos de verborreia ignorante em palavreado do vira o disco e toca o mesmo, que vai pouco mais além da intriga política e do clássico exercício de ilusão do Zé Povinho. E também não merece ser salvo este continente, que mais ano menos ano colapsará sobre si mesmo, importando não confundir os sintomas com as causas quando certo Comissário Europeu até sugere que as bandeiras dos porcos (PIGS) sejam colocadas a meia-haste. Afinal, ainda há pouco tempo Nigel Farage evidenciava no Parlamento Europeu que dez dos actuais Comissários Europeus foram comunistas ou próximos disso. Acrescente-se os que colaboraram ou viveram sob o regime nazi. E não esqueçamos que só os idiotas, como muitos cá do burgo, é que acham que comunismo e nazismo não são, na essência, a mesma coisa. Até foram mitigados, expurgados do mal e travestidos nesse outro ismo que dá pelo nome de social-democracia, onde até cabem democratas-cristãos, liberais e conservadores, alegres contribuidores para o OPNI deloriano que, afinal, é apenas a mais arrojada experiência socialista europeia de que há memória. A Europa vai continuar a existir, a União Europeia também. O nosso país também. Apenas não nos moldes que temos como garantidos. Agarrados a projectos políticos mais mortos que vivos e cuja sobrevivência depende da nossa falta de resistência e se alicerça no nosso medo e ausência de imaginação, preferimos ignorar que a vida como a conhecemos acabou. A quinze minutos de terminar o jogo ainda estamos todos vivos.
(imagem do Público)
1 - A ser verdade, isto é escabroso, escandaloso e um caso de polícia. Mais um grande exemplo ético do coveiro do nosso futuro que vai estudar filosofia em Paris. Já dizia o outro que ninguém dá lições de democracia ao PS.
2 - A cobrança de um imposto extraordinário sobre o subsídio de Natal, anunciada hoje pelo Governo, é um mau começo e um mau sinal. Consigo compreender a aflição do Governo que levou a tomar esta medida, sabendo do buraco escavado pelos anteriores Governos, comprovado pelos dados do INE relativos à má execução orçamental em curso. E até já me mentalizei para a mesma - apesar de ainda ontem ter recebido a nota de liquidação do IRS. Mas é uma medida injusta, que vai contra o que PSD e CDS proclamaram nos meses anteriores, contra a ortodoxia económica do modelo da curva de Laffer num país cuja carga fiscal e esforço fiscal é já das maiores da UE, e que vai contribuir ainda mais para a recessão económica e para a evasão fiscal. Passos Coelho apresenta-a como uma medida corajosa por antecipar medidas de austeridade. O que seria corajoso, verdadeiramente liberal e um incentivo ao crescimento económico era antecipar o relatório a apresentar daqui a 90 dias quanto às instituições públicas a extinguir - aliás, o actual Ministro da Economia compilou dados quanto a esta questão e sabe bem onde começar a cortar. Mais corajoso ainda, e maior estímulo à economia, seria baixar os impostos. Recorrer à via mais fácil é um mau sinal, para os portugueses e para os mercados. Eu lamento imenso, mas para aqueles que ainda tinham ilusões quanto ao alegado liberalismo de Passos Coelho, só me recordo daquele ditado/teste, que aqui adapto: "se fala como um socialista, anda como um socialista e age como um socialista, então provavelmente é socialista". Ainda que aparentemente fale como liberal, o que só agrava a contradição e falta de autenticidade. Estou de acordo com Luís Menezes Leitão, Nuno Branco, Maria João Marques, Luís Rocha e João Miranda. E é sempre engraçado quando Carlos Abreu Amorim, o autor da famosa frase e rubrica "É difícil ser liberal em Portugal", é quem mais aplaude esta medida no parlamento. Em consequência desta medida, muita razão tem o Miguel Noronha: "Quem acabou de anunciar uma medida deste calibre está obrigado a redobrar esforços na redução da despesa pública."
3 - Das poucas coisas positivas deste dia, há a registar o ambiente político menos agressivo, o que ficou bem patente no debate na AR. Estiveram bem, neste aspecto, Passos Coelho e Vítor Gaspar. Quanto ao novo Ministro das Finanças, pode-se dizer que não é o melhor orador do mundo, mas a calma, o humor acutilante e a simplicidade com que respondeu à oposição é desarmante e deixou muitos deputados irritados. A surpresa está desfeita. Veremos como se dará na execução do programa de governo.
(foto tirada daqui)
Agradeço a todos os que me deram os parabéns, mas quero apenas dizer que me limitei a dar uma aula pontual, a convite de uma professora. Não estou vinculado em termos laborais a qualquer universidade, ao contrário do que alguns julgam. Aliás, lá vou continuando no Mestrado em Ciência Política, com aulas das 18h às 22h, após cansativos dias de trabalho.
Quem corre por gosto não cansa, e mesmo não conseguindo ter tempo para ler tudo o que devia e queria ler, lá vou entre Dan Brown e Saramago, entre o estudo da Democracia na teoria e na prática, passando pelos gurus da actualidade do pensamento e da prática da política interna e internacional, sentindo que estou a aprender algo de útil, quanto mais não seja apenas para enriquecimento intelectual pessoal, enquanto simplesmente por puro prazer e vocação - ou falta dela - julgo que posso transmitir algo a outros. Continuo a nunca me espantar com a minha própria ignorância, de quem todos os dias admite que só sabe que nada sabe, em especial quando de queixo caído fico perante a magistralidade e genialidade de que ultimamente tenho sido espectador privilegiado.
Porque ainda ontem em jeito de brincadeira um músico e professor de piano me dizia "os cientistas políticos sabem tudo sobre tudo, mas não sabem fazer nada", sou forçado a fazer alguma coisa durante o dia, para poder continuar os estudos que prossigo para almejar saber um tudo nada sobre muito pouco daquilo sobre que só sei que nada sei. Agora percebo quando há tempos alguém me dizia que muitos de nós se estão a tornar "intelectuais proletários".
Noto que nos continua a fazer falta um crítico sentido de competição e de qualidade, de incentivo e de aposta no risco que é a inovação, à medida que uma certa ideia de universidade se perde no enorme buraco negro criado pelas forças burocráticas centralizadoras que esvaziam os significados e o simbólico da tradição, tudo em prol da massificação e da igualdade, que a mais das vezes apenas disfarça a mediocridade, alimentada pela bolorenta ideia da sebenta e dos manuais por que todos nos guiamos, e dos quais não nos queixamos, até porque para muitos facilita o mero objectivo de obtenção do canudo por via do decorar e despejar matéria.
Continuamos sem perceber, como explicava Hayek, que é impossível calcular todas as necessidades e fazer funcionar qualquer sistema dirigido centralmente de forma planificada. Não percebem que destroem as tradições e perdem os que poderiam usar essas tradições para a inovação e para a schumpeteriana destruição criativa. Em vez disso, continuamos a seguir o mito do racionalismo construtivista que nos leva à servidão voluntária. Continuamos apenas na caminhada cega e dirigida em passo acelerado na direcção do abismo. Valham-nos algumas luzes. Enquanto essas houverem, não há iluminação cega a que não possamos resistir com o sincretismo e o reconhecimento dos limites da razão.
José Sócrates ganhou claramente o debate a Francisco Louçã. Estava longe de imaginar que isto pudesse vir a acontecer, especialmente porque já esperava um debate centrado no tema da economia, área de eleição e especialização de Louçã. A irritação que fez Sócrates sair mal na fotografia em querelas parlamentares com Louçã no passado não se fez mostrar. Pelo contrário, um José Sócrates calmo desconcertou Louçã, algo nervoso. O segundo trunfo de Sócrates foi limitar-se a desmontar os preconceitos ideológicos patentes no programa do BE, que Louçã teve o desplante de desmentir. À questão das nacionalizações Sócrates perguntou de forma muito clara, e que serve para todos quantos intelectualmente retrógados e apologistas do colectivismo: "No dia seguinte a nacionalizarmos a banca, os seguros, a energia, estaríamos melhor?". Pois não, não estaríamos. A prová-lo estão todas as experiências do comunismo real, exemplos gritantes do crasso erro de ter uma economia centralizada, planificada e totalmente dirigida pelo estado. Como Sócrates apontou, as nacionalizações levaram sempre à total miséria.
Já ontem Paulo Portas tinha feito o mesmo em relação a Jerónimo. O problema de Jerónimo e de Louçã são os exacerbados preconceitos ideológicos. Ambos preferem que o sistema de saúde seja inteiramente público, esquecendo-se da atrocidade que são as eternas listas de espera para cirurgias tão simples como a remoção de cataratas. Como muito bem colocou Portas, "Em nome de que ideologia deve um doente ficar à espera de uma consulta?"
Entretanto, quanto à visita de Ferreira Leite à Madeira, subscrevo na íntegra o Carlos Abreu Amorim: "Não é possível andar a representar convictamente o ‘Portugal de Verdade’, tentar ser a encarnação da democracia transparente, espalhar reclames em toda a parte acerca do respeito pelas pessoas, jurar que, ao contrário dos adversários, nunca irão asfixiar democraticamente ninguém e, acto contínuo, branquear aquela espécie de Chávez insular. Porque são precisos uns votitos. Porque, para ganhar, o PSD de Manuela Ferreira Leite é capaz de tudo. Como qualquer outro partido ou político profissional."
Hoje viu-se também, na SIC, uma peça jornalística que mostrou a faceta mais pessoal de Paulo Portas, um homem descontraído e à vontade em frente das câmaras, como é seu apanágio. E na sua visita ao mercado mensal de Évora, foi certeiro como sempre, criticando os caciquismos e o país onde o estado é o maior empregador, especialmente por intermédio das câmaras municipais, onde muitos têm medo de perder o seu emprego.
Aproveito ainda para, em relação ao post da Cristina, afirmar apenas que o único partido merecedor do meu voto, tal como o foi nas europeias, é o CDS, pelo que respondo "sim" ao mesmo apelo, subscrevendo ainda o André Azevedo Alves:
Concordo que o melhor do CDS está quase todo no Rua Direita (falta por exemplo o Michael Seufert, insurgente, líder da Juventude Popular e número 4 na lista pelo Porto) mas o ponto fraco do partido é o pior do CDS que, apesar de não estar no Rua Direita, continua a ter um peso decisivo na direcção nacional do partido e na respectiva agenda.
Quando o melhor do CDS determinar o rumo do partido talvez o partido possa ter o fio condutor que faz falta à direita em Portugal. Até lá, ficam os contributos de um excelente blogue que está bastantes furos acima da direcção do partido que apoia.
(também publicado no Novo Rumo)
Estou numa daquelas alturas em que tenho muito pouca paciência para a espuma dos dias. É demasiado entediante a realidade política, económica e social portuguesa. Além do mais ando mentalmente ocupado com diversos trabalhos para a faculdade. Não há paciência para tanto tédio proporcionado pela espuma dos dias.