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Estou a mudar. E não sou o único. Não deixei de acreditar. Mas as minhas convicções também não se encontram em territórios perfeitamente delineados. Dentro de dias farei anos, e se me confinasse a uma matriz definida estaria arrumado, seria um velho - mais velho do que o mero ano que irei adicionar à minha existência. Durante anos a fio fomos arremessados sem dó nem piedade de um sistema de valores políticos para o seguinte, de uma promessa grandiosa para um juramento ainda maior, e sem pudor, fomos aceitando essa modalidade de fé, essa religião política. Encontramo-nos agora num cruzamento, no confronto entre os medos, as expectativas, as convenções e preconceitos que se sedimentaram no nosso espírito e toldaram as nossas consciências. Somos adeptos de uma modalidade de descrença em particular. Por força da dependência crónica do juízo dos outros reduzimo-nos a unidades de conformidade, de passividade perante uma narrativa agora corroborada por eventos que alguns designarão de surpreendentes. No entanto, não existe nada de excêntrico na eleição de Trump. Os americanos esbanjaram tanto tempo para encarar a sua própria decepção. Não souberam repartir a tarefa de um modo gradual, faseado. Atingiram a velocidade de cruzeiro de uma máquina desgovernada, contrafeita. Pactuaram com os termos de identidade e residência em Washington dos demais actores da mesma epopeia de ascensão e apenas ascensão. Agora que a encomenda chega, o espanto parece ser a expressão facial mais corrente. Mas fomos nós que produzimos o estado da Nação, e seremos nós que iremos escrever os próximos capítulos europeus. Os discursos e a letra dos mesmos darão lugar a algo distinto, com grau de parentesco ou não. Somos simultaneamente responsáveis e testemunhas de um processo irreversível. Mas somos letárgicos, lentos. Sabemos sempre tarde demais como poderia ter sido, como desejaríamos que tivesse sido. A política assente na antecipação é uma natureza morta. Estamos sempre em dívida e estamos quase sempre atrasados. E como deixamos que outros tomem a dianteira, queixamo-nos de um modo injusto. Fomos nós que nos paralisamos em convenções e ideologias consideradas estanques e vitalícias.
A União Europeia (UE), como tem sido o seu apanágio, não tem sido capaz de acompanhar os tempos em que vivemos. E estou a ser simpático. Ao longo das últimas décadas não soube edificar os pilares da Política Externa e de Segurança Comum ou tender para uma verdadeira União Fiscal. O esforço mercantil e económico não bastou para contagiar as demais dimensões. Os fundos estruturais pareciam ser a panaceia inédita. Pensaram eles que a religião dos mercados seria suficiente, que atirar dinheiro aos desafios serviria para dissipar o fosso económico e social entre os mais ricos e pobres. À época não havia desentendimentos. Não havia neo-liberais e menos neo-liberais. Não havia uma Esquerda ou uma Direita demarcada por regiões. Não havia uma zona Euro nem uma zona Deutsche Mark. Não havia grande diferença entre o político doméstico e o político de Bruxelas. Mas lentamente, sem grande alarido, o interesse nacional de cada Estado-membro foi subvertendo o idealismo de Monnet ou Schuman. Os países, Estados-membros, ou outros a caminho desse estatuto, foram alavancando o seu caderno de encargos, o seu rol de exigências, até desvirtuar a possibilidade de uma verdadeira união política, uma federação. E os anos da UE que foram passando serviram de pastagem para a expressão de um conjunto de reinvindicações económicas e sociais da parte daqueles que não foram capazes de reorganizar os seus modelos societários. Sempre que as dimensões económicas não encontraram resposta, a ideologia foi sendo arremessada para justificar quer as faltas quer os excessos. Se existiu um Estado-membro que melhor soube tirar partido das fraquezas congénitas da UE, esse parceiro foi o Reino Unido. Se existiu um Estado-membro que buscou tratamento diferenciado dentro da continentalidade europeia, esse colega foi o Reino Unido. Se existiu um Estado-membro que nunca abdicou da sua irmandade transatlântica com os EUA, esse camarada foi o Reino Unido. Enfim, podemos afirmar, de um modo equilibrado e desprovido de paixão, que o Reino Unido talvez não tenha feito a sua quota-parte para aprofundar o processo de integração. Na hora do divórcio e da penosa separação de águas, todos estes elementos de sentimentalidade nacional e europeísta serão colocados em cima da mesa para o estabelecimento de novos acordos de associação. Embora seja uma contradição suicida, resta exigir o seguinte à UE por forma a atenuar as dores de separação: onde está o Comissário das Saídas da UE? Será de prever que semelhantes casos de despedidas venham a ocorrer. E seria bonito, que na sua hora final, a UE demonstrasse algum decoro, alguma competência.
DIALOGUE ON EUROPE, LISBON, MARCH 7th 2016
Migration and Integration (special focus on refugees) - as a participant in this panel, these were the ideas I organized and intended to present in the discussion. I was somewhat censored. Here they are:
Não revelo a fonte aliada de Portugal que me transmitiu o seguinte: os portugueses julgam que se encontram à margem das reais intenções do Estado Islâmico. À medida que os "hard targets" trancam as portas e apertam o seu grau de vigilância, os "soft targets" sobem na classificação de alvos apetecíveis. Portugal, de acordo com esse critério, preenche os requisitos da efectiva tangibilidade. Está à mão de semear. A mentalidade colectiva sempre reforçou a falsa premissa - isso é lá com eles. Mas existem mais pedras no sapato. As guerrinhas domésticas, que afligem os organismos e as estruturas, alegadamente com responsabilidades maiores na implementação de modelos securitários. As quezílias e dissabores que parecem ter sido instigados pelas mais recentes decisões governativas confirmam os nossos maiores receios. O inimigo é doméstico. A politiquice é uma espécie de fundamentalismo que afasta e extingue a competência daqueles que deveriam implementar modelos de gestão de ameaças e exercer as suas funções sem o ónus das filiações ideológicas ou partidárias. Exige-se ao actual primeiro-ministro que saiba estar à altura da realidade geopolítica, que entenda que não temos tempo para brincar com fogo.
Charles Taylor, "Interpretation and the Sciences of Man":
Common meanings are the basis of community. Intersubjective meaning gives a people a common language to talk about social reality and a common understanding of certain norms, but only with common meanings does this common reference world contain significant common actions, celebrations, and feelings. These are objects in the world that everybody shares. This is what makes community.
(...)
Common meanings, as well as intersubjective ones, fall through the net of mainstream social science. They can find no place in its categories. For they are not simply a converging set of subjective reactions, but part of the common world. What the ontology of mainstream social science lacks is the notion of meaning as not simply for an individual subject; of a subject who can be a “we” as well as an “I.” The exclusion of this possibility, of the communal, comes once again from the baleful influence of the epistemological tradition for which all knowledge has to reconstructed from the impressions imprinted on the individual subject. But if we free ourselves from the hold of these prejudices, this seems a wildly implausible view about the development of human consciousness; we are aware of the world through a “we” before we are through and “I.” Hence we need the distinction between what is just shared in the sense that each of us has it in our individual worlds, and that which is in the common world. But the very idea of something which is in the common world in contradistinction to what is in all the individual worlds is totally opaque to empiricist epistemology.