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Confesso que por estes dias pouco me dedico a ler blogs. Quer seja porque não tenho paciência para os infidáveis chorrilhos de lugares comuns tão característicos dos períodos eleitorais, quer porque tenho mesmo demasiadas ocupações por agora. Mas se há blog que faz as minhas delícias e sem o qual não passo é mesmo o Mátria Minha, ora vejam:
Eugénia de Vasconcellos, who else?
"Roubo" à Eugénia de Vasconcellos o seu postal n.º 49 da magnífica série "As mulheres são o que são". Que continue a presentear-nos diariamente com a belíssima prosa a que já nos habituou:
As mulheres trocam tudo. Especialmente trocam quando desligam o coração do corpo: impossível cirurgia. Porque a fazem? Querem um amor livre de sofrimento como um iogurte livre de açúcar? Não há. Vão para a cama com um homem, têm um orgasmo e acham que se apaixonaram. Se têm o azar de ser sexualmente compatíveis com esse homem, porque as anteriores experiências do sexo os deixaram a ambos no mesmo patamar performativo, acham que amam, que é a mística da pele ou as feromonas ou outra merda qualquer sentimental e zoológica. Se a isto se junta alguma proximidade de referentes académicos e sociais é, seria se eles deixassem, a predestinação, como não deixam, o drama de ter e perder! Viram a luz, pela vigésima vez, mas já esqueceram as outras dezanove... Os homens têm, no sexo como na linguagem, um coração mais escorreito, menos rasteiro. Andam mais próximo da verdade. Sexo é sexo. É desejo e posse todo o tempo em que o desejo de posse durar. Se é bom, melhor, demora mais do a ao z. Mas não lhe chamam amor por causa disso. Claro que todo aquele maluquedo de serem o senhor irresistível número x/2009 os envaidece. Isto é um desencontro horrível: elas engolem dicionários à procura do brilho da palavra que, enquanto os ofusque, as enalteça, eles andam à procura do primeiro, tão simples, gosto de ti. Em tudo o que é genuíno, do amor à arte, há, não a elaboração, mas o despojamento da carne em espírito vivo.
(imagem picada daqui)
Pela escrita extremamente agradável e porque tem feito as minhas delícias há já algumas semanas, especialmente no que concerne aos ensinamentos sobre como são homens e mulheres, aqui fica o destaque ao blog de Eugénia de Vasconcellos, Mátria Minha, onde se podem encontrar preciosidades como esta:
Os únicos homens que explicam o amor conforme ele é, e o é também para as mulheres, são os poetas tomados de um grande amor a vida inteira, ou tardiamente na vida, quando o sabem discernir. Desta profunda diferença decorrem perigos apontados ao coração das mulheres, pelos homens. E perigos apontados ao coração dos homens pela cegueira dos corações deles.
Ficam ainda os nossos parabéns pelo terceiro aniversário do blog!