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Os dias e as horas serão esquecidos. Mas o ano de 2012 ficará marcado pela partida precoce de Luís Abel Ferreira. Um dos homens mais brilhantes que tive a oportunidade de conhecer, e que me ajudou no meu processo de construção literário. O Luís decidiu cessar a sua relação com este mundo, a 17 de Junho de 2012. Um profissional das letras na mais pura acepção da palavra. Um meio-termo que sempre procurou, mas que nem sempre encontrou. Um estilista devassado pelas mensagens dos outros. Um indivíduo que tornava a sombra faustosa, como um mistério resvalado para muito perto da capa, distante da euforia reclamada pela notoriedade. Foram tantas as obras que perpassou e que estabilizou nessa condição frágil que nunca chega. Um cidadão Português que deveria ser homenageado na sua constrição, na passagem que não é breve. Mas tenho vergonha do círculo que não acendeu a mecha de uma pequena vela. A Agustina Bessa- Luís será lembrada nos tons de petróleo desses livros infinítos. E se procurarem com devoção, lá estará o outro Luís que ampara, amparou e desamparou a simples lógica. Tenho vergonha de um país que não se rende, na hora da morte e da ressurreição. Lamento ser tão pequeno para não erguer o sentimento certo para tamanha crueza. Tenho vergonha de todos eles. Os fabricantes de capas que esgotáram a alma e as parcas edições que se seguiram. Peço perdão ao Luís em nome próprio pela rudeza que não mereces. Deste modo amargurado em ti, encerro um longo ano que não cabe num dia. Uma palavra teria bastado.
(Luís Abel Ferreira - editor-revisor-pensador)