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Bugalho e um par de botas

por John Wolf, em 09.05.24

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Sebastião Bugalho tem o peito inchado. Discorre sobre os grandes desígnios da Europa. A sua ambição é maior do que a própria União Europeia (UE). Apresenta-se como Secretário-Geral das Nações Unidas da Europa e refere diversos planos Marshall em simultâneo. Ao mesmo tempo faz lembrar o mito de D. Sebastião que surge por entre a neblina da ignorância para salvar as pobres almas lusas dessa condição fatal. Fala sobre um tudo para todos da ascensão económica e social, a possibilidade do apanhador da azeitona deixar de ser azeiteiro. O calceteiro que deve abandonar essa arte em nome da aeronáutica espacial. A peixeira tornada gourmet das ovas. Bugalho vai defender a democracia, mas omite que é um produto mediático fabricado sem provas dadas no mundo real onde contam mais as ações do que as palavras. Este embandeirar em arco é algo típico de regimes de seleções nacionais. A ideia dos Ronaldos da vida que podem resgatar equipas disfuncionais. É esse o seu cotovelo de Aquiles — a pose de estadista sem licença para governar. Mais uma vez os media servem-se do delfim para servir os seus propósitos: validar a ideia de que o embrulho vale mais do que o conteúdo. Se apenas escutássemos o Bugalho ficaríamos com a ideia de que o Sebastião é a Europa e o resto é paisagem, que os outros Estados-membros da UE não têm candidatos porventura amplamente mais competentes e capazes. De uma assentada, de repente, Bugalho domina todas as pastas políticas, todos os temas que ainda nem sequer foram inventados. Infelizmente, faz lembrar outro no qual depositávamos grandes esperanças para liderar a banda, mas que já demonstrou de um modo inequívoco e presidencial que descarrilou por completo. Os tiques sobranceiros da perda da auto-percepção já estão presentes neste jovem. O rapaz tem muita garganta, mas não sabemos muito mais. Sabemos que repete diversas vezes a expressão númerica em língua europeia: sixty-five. Para já não passa de um Bugalho e um par de botas.

publicado às 19:24

Macron Bonaparte

por John Wolf, em 27.02.24

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Para atenuar os efeitos nefastos na mioleira, gerados pela verborreia incessante de políticos em campanha e comentadores de serviço em Portugal, hoje volto-me para outro personagem toldado por manias de grandeza europeia. Macron Bonaparte, que ambiciona ser o lider da Europa, não se inibe de produzir declarações no mínimo inflamatórias e que colocam em risco nações europeias. Ao sugerir a ideia de colocação de soldados de países europeus no teatro de operações da Ucrânia, fala como se já houvesse um consenso militar, como se já existisse um exército da União Europeia, como se a Europa não dependesse da sombrinha protectora dos EUA e por extensão da NATO — e como se a Rússia não existisse. Um lider que produz este género de declarações, esconde algo mais dramático na manga. A França que se encontra a braços com uma revolta agrária, é sobretudo uma sociedade fracturada, dividida e guetizada, fruto da realidade islâmica e de décadas de pilarização. Macron encontra assim um modo de incendiar a casa europeia, uma vez que França representa o maior exemplo na Europa de como a integração falhou. Não me refiro à integração europeia — que também padece de males, mas da sua própria sociedade, da qual os cidadãos mais abastados fogem para encontrar refúgio em Portugal, no bairro agora conhecido por Champs d´Ourique.

publicado às 20:05

Programa para hoje

por Samuel de Paiva Pires, em 24.06.21

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A última sessão do conjunto de webinars Presidência Portuguesa: As ‘5 Europas’ realiza-se no dia 24 de junho pelas 18h através da plataforma zoom.

A "Europa Global": Nós e os Outros, será uma discussão sobre a inserção internacional da UE, o relacionamento com vários parceiros económicos e políticos, desde o Reino Unido e os EUA ao espaço Indo-Pacífico e continente africano.

O webinar conta com a participação de Ana Gomes (Embaixadora) e Nuno Severiano Teixeira (FCSH/UNL). A moderação será realizada pela Investigadora do CAPP, Professora Doutora Maria João Ferreira.

Seguem os dados de acesso ao Zoom:

Link Zoom: https://videoconf-colibri.zoom.us/j/86842479021?pwd=ZWZxY1RwbU1ha3Z6NytueU1EL2V4UT09
Meeting ID: 868 4247 9021

Contamos com a vossa presença!

publicado às 14:13

O Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP) do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas - Universidade de Lisboa promove um ciclo de webinars subordinado ao tema "A Europa em tempos de (Des)União: Reflexões e Prospetiva". As sessões serão realizadas via Zoom, estando sujeitas a inscrição prévia através deste formulário. Podem encontrar mais informações no site do CAPP

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publicado às 11:36

Do eterno retorno

por Samuel de Paiva Pires, em 30.03.20

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Patrik Ouředník, Europeana:

E em 1918 espalhou-se por todo o mundo uma gripe a que chamaram espanhola e que matou mais de vinte milhões de pessoas. Os pacifistas e antimilitaristas disseram mais tarde que estas também foram vítimas da guerra porque tanto os soldados como a população civil viviam em condições higiénicas miseráveis mas os epidemiologistas diziam que a gripe tinha matado mais gente em países que não tinham sido atingidos pela guerra em ilhas do Pacífico na Índia ou nos Estados Unidos e os anarquistas disseram que estava bem assim porque o mundo está podre e no caminho da perdição.

Mas outros historiadores disseram que o século XX na realidade tinha começado mais cedo que se tinha iniciado com a revolução industrial que perturbou o mundo tradicional e que a culpa era toda das locomotivas e dos barcos a vapor. E outros ainda diziam que o século XX tinha começado quando se chegou à conclusão que o Homem descende do macaco e havia quem dissesse que descendiam menos do macaco que outros por terem evoluído mais depressa. Depois apareceu gente que se pôs a comparar as línguas e a perguntar-se quem tem a língua mais evoluída e quem está mais longe no processo civilizatório. A maioria achava que era o caso dos Franceses porque em França acontecia todo o género de coisas interessantes e os Franceses sabiam conversar e usavam conjuntivos e condicionais passados e brindavam as mulheres com sorrisos sedutores e as mulheres dançavam o cancã e os pintores inventavam impressões. Já os Alemães diziam que a verdadeira civilização tinha de ser frugal e próxima do povo e que tinham sido eles a inventar o romantismo e muitos poetas alemães escreviam sobre o amor e nos vales andavam as brumas. Os Alemães diziam que eram eles os porta-estandartes naturais da civilização europeia porque sabiam fazer a guerra e o comércio mas também organizar convívios populares. E que os Franceses eram arrogantes e os Ingleses presunçosos e que os Eslavos nem tinham língua que se prezasse e que a língua era a alma da nação e que os Eslavos não precisavam nem de nação nem de Estado porque tais coisas só haveriam de lhes fazer mal à cabeça. E os Eslavos por sua vez diziam que isso não era verdade que na verdade tinham uma língua que era de todas a mais antiga e que isso era fácil de provar. E os Alemães chamavam aos Franceses COMEDORES DE LESMAS e os Franceses tratavam os Alemães por CABEÇAS DE CHUCRUTE. E os Russos diziam que toda a Europa estava em plena decadência e que os católicos e protestantes tinham estragado a Europa até ao tutano e propunham-se correr com os Turcos de Constantinopla e em seguida anexar a Europa à Rússia em nome da salvação da fé.

publicado às 15:39

A crítica é a alma das democracias liberais

por Samuel de Paiva Pires, em 16.09.19

Hoje escrevo no Observador sobre como o processo de crítica imanente é central nas democracias liberais e na competição entre estas e potências revisionistas não-democráticas, como a China e a Rússia, que visam subverter a ordem internacional liberal. Aqui fica uma passagem:

A superioridade, nas mais diversas áreas, das sociedades demo-liberais em relação às não-democráticas resulta em larga medida deste processo de crítica que opera através da liberdade de expressão, do debate público, da concorrência e da inovação, permitindo às sociedades corrigirem o seu rumo com base nas experiências passadas, mudando de forma gradual, reformista ou evolucionista, não de forma revolucionária, como frequentemente acontece em sociedades fechadas.

(também publicado aqui.)

publicado às 00:41

Esta semana podem encontrar um artigo da minha autoria no Prisma, nova plataforma de slow journalism do Jornal Económico, em que viso contribuir para o debate sobre a política externa portuguesa na era de turbulência em que vamos vivendo, marcada pela crise do euro, crise dos refugiados, Brexit, Trump, Putin, Merkel, populismo, eurocepticismo, fundamentalismo islâmico e uma União Europeia à procura de perceber o seu futuro.

publicado às 22:31

Catalunha! Bem-vinda à Europa

por John Wolf, em 27.10.17

 

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Os Estados Unidos perderam a Guerra do Vietname. O Presidente John Fitzgerald Kennedy foi assassinado. O muro de Berlim caiu. O que têm em comum estes três eventos? O desfecho de cada um foi determinado pela vontade humana. De nada valeram constituições, escaladas militares ou a construção de vedações. O mesmo sucede na Catalunha. Olhemos com rigor para o que sucede, e para além dos tratados redigidos em Madrid. Esqueçamos Bruxelas e a União Europeia. O povo, mesmo que desunido, é quem mais ordena. Assistimos chocados, do conforto da nossa poltrona de superioridade intelectual e civilizacional, à História. Ao desenrolar de eventos que polvilham o cenário dinâmico da história política da Europa, mas também do resto do mundo. Sempre assim foi, e decerto que assim continuará a ser. No seio da Europa da União, da paz imaginada por Schuman e outros estadistas no rescaldo da segunda Grande Guerra, registamos agora algo inédito com consequências potencialmente surpreendentes, violentas. Madrid, se quiser fazer valer os factores de coesão da união espanhola, terá de implementar medidas de coacção que em muito transcendem a estrutura administrativa e política forjada em documentos validados por assinaturas. Não creio, dado o extremar de posições, e a efectiva Declaração de Independência da Catalunha, que exista uma mecânica possível de reversibilidade, de regresso ao status quo anterior. Prevejo o uso de força de Madrid, numa primeira fase moderada e, numa segunda fase, na sequência da contra-resposta dos independentistas de facto, um agudizar dos métodos repressivos e uma escalada da resposta da Catalunha. Não esqueçamos que Espanha detém um legado que facilita a disposição das peças no tabuleiro. O regime de Franco aperfeiçoou os métodos, que com a revolução foram metidos na gaveta, mas que não foram inteiramente esquecidos. A Europa pode muito bem ganhar mais uma república, mesmo que a UE não venha a somar ou a subtrair um membro - o artigo 155 não parece valer grande coisa.

publicado às 15:15

Merkel, a Jamaicana

por John Wolf, em 25.09.17

 

A Alemanha é a imagem quase perfeita do estado de arte política da Europa. Os resultados das eleições federais devem ser interpretados à luz de considerações trans-germânicas. Sabíamos de antemão que a questão da imigração e dos refugiados seria a linha divisória para afastar ou aproximar eleitores. O partido Alternativ für Deutschland (AfD) estreia-se deste modo no Bundestag com uma presença assinalável (12 a 13% com uma expressão parlamentar na ordem dos 90 membros). Merkel pode extrair vantagens desta situação se souber apaziguar os ânimos exaltados daquele partido, mas também de um espectro alargado da população que emprestou o seu voto ao AfD. Schulz, que admitiu a derrota, nem tentou sequer colocar em causa a "vitória" da CDU, mas ao afirmar o fim da coligação, declara que o desejo da SPD é liderar a oposição. A expressão Jamaicana do possível arranjo de coligação, integrando o FDP e os Grüne, terá forçosamente de significar a negociação contínua e tensa de soluções políticas de governação. Por outras palavras, a CDU de Merkel poderá inclinar-se mais à direita, arrastando o FDP, e com um teor menos intenso os Grüne e o partido Die Linke. Schulz, socialista de gema, ainda acredita nas eleições regionais para inverter o declínio do seu partido, mas fala irresponsavelmente e com alguma perda de sentido da realidade - nos territórios da ex-Alemanha de Leste, o AfD é a segunda força política, e não o SPD. Dito de outro modo, seja qual for o amor à camisola de cada um, o AfD contaminará os discursos e a orientação de uma panóplia de políticos e partidos. Os socialistas, que alimentaram o sonho de paz social e prosperidade um pouco por toda a Europa da União, terão de acordar para uma nova fase de realismo político. A Catalunha ou o Brexit fazem parte do mesmo ADN mutante de nacionalismos, sem referir os casos flagrantes da Húngria e da Polónia. Num caso está em causa a fragmentação de uma centralidade política e no outro caso a secessão de um Estado-membro da União Europeia, sem ajuizar sequer sobre o grau do que sucede nos outros países acima referidos. Temos deste modo um novo desenho endémico na Alemanha. Embora não possamos falar de um conflito bipolar e ideológico na Alemanha, registamos, sem escamotear a verdade, a afirmação dos anseios de uma boa parte da população. A bandeira do AfD é mais intensa do ponto de vista sociológico e existencial do que o estandarte ideário de um Die Linke ou de os Grüne.  As causas clássicas da Esquerda são menos de "vida ou morte" e por essa razão não conseguem instigar vontades de um modo tão acultilante ou emocional, irracional. Se não estou em erro, e assumindo a pré-condição de preservação do poder político a todo o custo, veremos até onde irá o SPD e de que quadrante partirá Angela Merkel para este seu quarto e derradeiro mandato.

publicado às 10:15

Catalunhex

por John Wolf, em 21.09.17

 

Não é preciso ser constitucionalista ou estudioso de sistemas políticos para entender o que sucede na Catalunha. Basta olhar para a história e aceitar que são precisamente conflitos e rupturas que estão na origem de Estados, e que a base nacional tem sido o fundamento para a sua fundação, tendo em conta o que resulta desse marcador importante que é a Paz de Westfália de 1648. Por mais que o governo central de Madrid tente proibir a consulta popular à independência da Catalunha, a mesma não deve depender de autorizações "excêntricas", ainda que legitimadas pelo poder político - nenhum governo, dada a sua natureza integracionista, autorizaria um movimento secessionista (seria uma contradição de génese política). Assistimos, deste modo, à sindrome do gato escaldado pelo Brexit. Madrid não quer que aconteça o que sucedeu em Londres. A Monarquia Constitucional de Espanha e o governo que dela resulta, consagrada como modelo de Democracia de pleno direito, demonstra de um modo preocupante que certas práticas de censura e controlo dos tempos de Franco ainda continuam válidas. Não se pode admitir, que na dita Europa civilizada, embalada pela União Europeia, a perseguição política aconteça. A Catalunha é uma das jóias da coroa, um contribuinte importante para o PIB espanhol e é sobretudo essa dimensão económica que está em causa. Não existe nada de romântico ou lírico na união de regiões "à força", de territórios e gentes que perseguem outros sonhos. Se o referendo não acontecer de um modo pacífico, rapidamente a situação evoluirá para o caos e a expressão ainda mais violenta do que aquela até agora registada. Se porventura chegarem à mesa de negociações da independência, quero ver qual será o preço que o governo de Madrid exigirá, qual o valor em causa e quais os demandantes que se seguirão. A Europa das Regiões, essa bandeira agitada para dar ares de descentralização do poder político, tem agora um belo exemplo para hastear. A Catalunha é uma nação. E existem muitas outras por essa Europa fora.

publicado às 16:47

Catarina Martins, comissária do não

por John Wolf, em 13.09.17

 

Catarina Martins deve fazer as malas e sair da União Europeia. Julga que o projecto europeu é um Airbnb - ora ficamos uma semana ora nem por isso. O Bloco de Esquerda deve assumir as suas responsabilidades perante o governo que viabilizou - a Geringonça que, goste-se ou não, é pró-europeu. Se é o aprofundamento da integração o caminho a tomar, então um Ministro Europeu das Finanças (ou da Economia) faz todo o sentido. Será uma visão holística que permitirá alinhar sistemas dísparos (e tantas vezes contraditórios) que polvilham a paisagem política e administrativa dos países-membro da União Europeia. Imaginem um sistema pan-europeu de Segurança Social e um Sistema Europeu de Saúde que serviria para aproximar o modo como os cidadãos da União Europeia são tratados. Catarina Martins sofre de miopia ideológica. Não consegue ver para além de Gaspar ou Albuquerque. Ao criar os cargos em questão, transferir-se-ia uma parte do ónus das assimetrias para a centralidade europeia. Deixaria de fazer sentido aquele discurso de periferias desalinhadas e o atribuir de culpas em exclusivo aos governantes "locais". Chame-se a isto, ou não, aproximação a uma Federação, a verdade é que o cidadão comum, dotado das suas ferramentas de percepção, sabe comparar regimes tributários e níveis de rendimento. E há mais que se relaciona intensamente com o princípio de liberdade movimento de pessoas, bens, capitais e serviços. São cada vez mais os que adoptam residências excêntricas, longe dos países de origem. São cada vez mais os que emigram, e nesse sentido, uma função niveladora seria o desejável. No entanto, Catarina Martins não pode ser visionária. O Bloco de Esquerda tem no seu ADN algo de contraditório à ideia de progresso. Diria mesmo, se me tapassem os olhos com uma venda, que aquele partido era conservador, ortodoxo, fundamentalista, retrógrado, desconfiado, desprovido de optimismo, descrente no homem (e na mulher), pessimista....querem que continue? Catarina Martins não defende os interesses dos portugueses. Defende outra coisa qualquer.

publicado às 14:28

Maycron, e a nova Europa

por John Wolf, em 11.06.17

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Emmanuel Macron acaba de demonstrar que é possível reinventar a ordem política. La Republique en Marche, o partido inventado há pouco mais de um ano, está muito bem encaminhado para conceder ao presidente da República Francesa os poderes parlamentares necessários para governar sem sobressaltos. Theresa May, por seu turno, terá de encontrar o equilíbrio operacional para levar por diante o seu projecto "independentista". Para não cair fora da matriz europeia que começa a ganhar novos contornos nucleares, terá de ter algum cuidado na gestão da pasta Brexit. Uma abordagem excessivamente fundamentalista afastará o Reino Unido do "maior" mercado comum do mundo e permitirá à França uma reafirmação política no quadro do eixo repartido com a Alemanha. O calcanhar de Aquiles de May pode muito bem ser a ruptura que poderá vir a promover com a redifinição do conceito de globalismo britânico. A sua teimosia ideológica, que atinge um dos princípios basilares da União Europeia (UE)  - a liberdade de circulação de pessoas -, pode muito bem vir a derrubar a alegada "continentalidade europeia" dos britânicos: se forasteiros não entram em Londres, os britânicos também poderão ser barrados por Schengen. Enquanto processos eleitorais não decorrem na Alemanha, esta nação pode observar com atenção o fenómeno político nas suas mais diversas variantes europeias. A Merkel, que muitos davam como acabada, saberá ponderar os perfis de Macron e May. Muitas vezes a espera sintetiza a melhor das acções. A Europa, não nos esqueçamos, é mais sinónimo de atavismos do que de evoluções sistémicas. As revoluções políticas ainda não aconteceram em pleno no seio da UE, e parece que assim continuará a ser. É o burocratismo que domina os processos. Essa mentalidade, encravada na derme da UE, também contaminou os procedimentos internos dos seus países-membro. As negociações são a imagem de marca da Europa, mas os resultados são assimétricos. Não existem imitações nem replicações. Por mais que queiram aplicar a fórmula geringoncional à solução britânica, aquela não será bem sucedida. Conseguem imaginar uma geringonça-sombra do governo de sua majestade? Eu não consigo.

publicado às 20:24

Um olho em Le Pen, outro em Macron

por John Wolf, em 04.05.17

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Ontem assistimos a mais um episódio da recorrente novela de mediocridade política. O debate dos candidatos presidenciais Le Pen e Macron confirmou as nossas piores expectativas. O nível foi baixo. Discutiram multas de estacionamento, divergiram sobre o regime de comparticipação de armações para óculos graduados, fizeram acusações pessoais, usaram expressões como mentirosa ou estúpido, mas acima de tudo apagaram da nossa consciência política a profundidade filosófica de Rousseau, Montaigne ou Tocqueville. Citaram De Gaulle, Clemenceau - apenas faltou convocarem Dreyfuss. Enfim, foi um espectáculo que relativizou as minudências da campanha presidencial americana. A Europa já não pode olhar com desdém para a estatura política americana - esteve ao mesmo nível - e estou a ser simpático. Agora venha o diabo e escolha. E não fará grande diferença porque existe um pequeno detalhe que parece escapar aos entusiastas de duelos ideológicos cerrados, de combates apaixonados alicerçados na grande tradição. As eleições de domingo não são de perto nem de longe as mais determinantes para a França e, por arrasto, o resto do mundo. Será em Junho que a porca torce o rabo. Quando houver eleições para a assembleia nacional. Como tanta coisa francesa que os outros têm dificuldade em entender, a sua constituição é de natureza híbrida, combinando elementos do sistema presidencial norte-americano e factores de democracias parlamentares. O presidente francês nomeia o primeiro-ministro, mas este apenas pode ser despedido pela assembleia parlamentar. Enquanto o artigo 50 passa a fazer parte do léxico quotidiano dos britânicos,  o artigo 49 dos franceses (que não tem nada a ver) faz parte do seu sistema há muito tempo - o primeiro-ministro francês pode tomar iniciativas legislativas, mas se as mesmas forem chumbadas em sede de assembleia parlamentar, cai o governo. A este processo chamamos de guilhotina. Perguntemos então, porquê tanto alarido em torno das presidenciais francesas? Em boa verdade, há muito em jogo. Em primeiro lugar, formalmente Macron não detém ou não passará a deter maioria parlamentar "líquida" (caso seja ele a ganhar, ou para os mesmos efeitos práticos Le Pen). Ou seja, sem deter um partido com história e presença, terá de negociar a solução com prospectivos colaboradores e mais que prováveis adversários. Quando um presidente não dispõe dessa maioria parlamentar (como decerto será o caso), assistiremos a um processo de "coabitação" que trucida o executivo em partes assimétricas. Tal já aconteceu de 1986 a 1988, de 1993 a 1995, e ainda de 1997 a 2002. No entanto, um presidente pode dissolver a assembleia parlamentar e convocar eleições, mas não me parece que tal seja a intenção de Macron caso venha a ser eleito presidente. Podemos então concluir, independentemente dos resultados de domingo, que os cenários de gestão presidencial, e implicitamente de governo, estarão fortemente inquinados. Os partidos de Macron e Le Pen apenas controlam 3 dos 577 assentos parlamentares e, face a essa condicionante, terão de pedalar muito nas semanas que se seguem para granjear o apoio para a causa maior de governação que a nação francesa exige e a Europa deseja. Vai ser interessante.

 

publicado às 09:54

Ver Le Pen e navios passar

por John Wolf, em 24.03.17

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A ver vamos quem ganha a corrida. Se o festival europeu da canção populista ou se a melodia da traição de Trump. Falamos de Democracia, naturalmente. Em qualquer um dos casos, os processos decorrem de prerrogativas firmadas em Constituições e materializam-se quer em processos eleitorais ou mecanismos de controlo. Afastemo-nos por alguns instantes da contaminação ideológica e concentremo-nos nas liberdades e garantias. Em França, Le Pen tem o direito inalienável de se propor como solvente do dilema existencial daquele país. Nos Estados Unidos (EUA), Trump, que já se senta na cadeira do poder, é agora obrigado a rever algumas premissas de sustentação. Na grande competição de legitimizações, os lideres efectivos ou prospectivos não se livram dos mecanismos de controlo. Nessa medida, os EUA  levam a vantagem. Trump não pode abandonar o dólar americano e iniciar um Americexit. Está preso nessa federação consolidada e responde perante o FBI. Le Pen, por seu turno, pode rasgar sem dó ou piedade o Tratado de Lisboa, o Euro e fazer-se à vida soberana. Nos EUA, a soberania também se exprime na acção da agência federal de investigação que virará o prego caso seja necessário e à luz de evidências de traição que parecem estar a ganhar contornos inegáveis. A União Europeia (UE), com todos os seus salamaleques burocráticos e danças de comissão, pura e simplesmente nada pode fazer. Está de mãos atadas à cadeira da sua própria construção política fantasiosa. Parece-me ser mais um pecado mortal, para além de tantos outros, que a alegada "Constituição" da UE não tenha sequer pensado em mecanismos jurídicos de controlo recíproco. Se houver mão russa nas eleições francesas, os estados-membro da UE ficam a ver navios passar. Até ao momento registámos vontades eleitoriais unilaterais. Foram os britânicos que democraticamente decidiram alargar o canal e cortar o cordão que ligava o Reino Unido ao "continente" e iniciar o Brexit. Mas imaginemos por um instante, integrando no nosso espírito uma extrapolação radical, que a expulsão passa a ser necessidade de auto-preservação da UE. Suponhamos que, volvidos alguns meses, se vem a descobrir a mão invisível de Putin nas eleições em França e que o excelso acervo democrático transparente e idóneo da Europa é posto em causa. O que farão os magníficos Junckers e Dijsselbloems da UE? Será que chamam nomes indigestos aos gauleses? Será que lhes atiram à cara que são uns camemberts malcheirosos e uns míseros flauberistas? E será que ficam a ver Le Pen passar?

 

publicado às 09:42

O problema não são as declarações de Dijsselbloem

por Samuel de Paiva Pires, em 22.03.17

Para lá da deselegância óbvia geradora da indignação fácil, o verdadeiro problema é aquilo que subjaz às declarações do holandês: uma narrativa dominante entre as elites europeias, inclusive entre muitos políticos de países do sul da Europa, que só vê virtudes nos países do norte da Europa e defeitos nos países do sul, no que concerne à sua gestão política e económica, ignorando, propositadamente ou não, que a crise do euro se deve à deficiente arquitectura deste. Permitam-me recuperar o que escrevi em 2014 a este respeito:

 

Começando no estabelecimento da União Económica e Monetária - em que prevaleceu a visão do Bundesbank de um BCE inspirado no seu modelo, centrado quase exclusivamente na estabilidade de preços -, que não era e continua a não ser uma Zona Monetária Óptima, circunstância agravada pela inexistência de uma união orçamental que permitisse uma gestão macroeconómica conjunta, o que a torna propensa a choques assimétricos; passando por uma fragilidade estrutural essencial para a compreensão da crise, segundo Paul De Grauwe, que é a perda da capacidade de os países emitirem dívida numa moeda própria, emitindo-a numa moeda que não controlam, pelo que estão, assim, mais facilmente à mercê dos mercados financeiros e podem ser rapidamente precipitados por estes para um default; e chegando aos anos da crise do euro, em que o diagnóstico da crise da dívida soberana grega foi erradamente generalizado a outros países, conforme Jay Shambaugh sublinha, servindo como justificação para prescrever pacotes de austeridade e reformas estruturais que, per se, não são suficientes para superar os constrangimentos resultantes das fragilidades estruturais da UEM, conclui-se que estas fragilidades não só resultam da perspectiva alemã aquando das negociações que levaram ao seu estabelecimento, como aproveitam actualmente à Alemanha. Hans Kundnani assinala que a actual situação, com um euro fraco (segundo Andrew Moravcsik, a taxa de câmbio real da Alemanha, actualmente, está 40% abaixo do que estaria se o país ainda tivesse o marco alemão), é a ideal para a economia alemã baseada nas exportações e avisa que o narcisismo económico da Alemanha coloca toda a Zona Euro em causa. Assim, a Alemanha está actualmente numa posição muito confortável, com um euro fraco que favorece as suas exportações, tornando-a a economia mais competitiva da Zona Euro, e, em parte em resultado disto, encontra-se de forma indisputada na liderança política da UE, tendo a cooperação entre países soberanos sido relegada em favor de uma dominação de facto por parte de Berlim. Ulrich Beck resume de forma lapidar esta situação em A Europa Alemã: "Como a Alemanha é o país mais rico, agora é ela que manda no centro da Europa." A austeridade imposta erradamente aos países sob resgate financeiro permite à Alemanha manter este status quo em que, nas palavras de Moravcsik, ao "utilizar uma moeda subvalorizada para acumular excedentes comerciais, a Alemanha actua como a China da Europa."

 

(também publicado aqui.)

publicado às 12:46

Wild Orange

por John Wolf, em 03.03.17

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Afigura-se-nos difícil estabelecer um template credível, um modelo operativo que revele algum teor de previsibilidade. Por algum motivo o processo eleitoral holandês tem sido tratado como um jogo de uma liga secundária de interesses. Os olhos postos em Fillon, Macron e Le Pen, a cabeça virada a Brexit, confirma o grande desarranjo europeu. A União Europeia (UE) e os seus ilustres comissários e presidentes de conselho fingem que nada se passa e que os valores nucleares da arquitectura comunitária nunca poderão ser postos em causa por lideres de nações com pouco mais de 8 milhões de habitantes. O valor de face atribuído à geringonça pela UE é semelhante àquele atribuído ao holandês Geert Wilders. Mas os políticos europeus estão equivocados. Não estamos num jogo de soma-zero, em que a saída do Reino Unido da UE se poderá colmatar com a entrada de outros. Ideologicamente, passa-se quase a mesma coisa, semelhante engano. Uma tirada à Esquerda não anula um tiro em cheio à Direita. Contudo convém levar em conta as razões politicamente invocadas. Assistimos, efectivamente, ao fim do espectro ideológico tal e qual como o conhecíamos. Assistimos à caducidade do paradigma de construção política convencional. São sobretudo subtilezas de posicionamento que não têm sido apreendidas no decurso da presente revolução em curso. Podemos confirmar um certo hibridismo volátil, no modo como os pretensos neo-lideres procuram sustentar os seus projectos fazendo uso de elementos materiais e simbólicos de todos os campos ideológicos. Trump, numa óptica analítica, foi ao rancho dos democratas aprovisionar-se das suas ferramentas e, com algum talento, converteu as suas deficiências em força. Nessa medida, e invertendo a extrapolação, a geringonça, se quiser sonhar com alguma continuidade efectiva e honrar a estabilidade vendida por Marcelo, terá, na sua expressão política, de integrar obejctivos de outros terrenos políticos e partidários - sejam adversários  ou concorrentes. No jogo de puxa e empurra, a CGD ou a saga das Offshores são apenas divisas de um conceito de representatividade e disputa de poder mais alargado. O mesmo terá de acontecer nos EUA. Trump, invariavelmente, terá de acomodar os anseios do Congresso, por forma a credibilizar a sua acção. A UE, que tem evitado a federalização do seu projecto, não tem ao seu dispor efectivos organismos de checks and balances - tem sanções e procedimentos por défice excessivo, de índole técnica e financeira, mas, na substância e no espírito do projecto europeu, existe muito pouco que pode fazer. A multiculturalidade não é apenas uma máxima que se aplica aos povos.  A UE alicerçou a sua construção na ideia de diversidade ideológica e política. O que acontecer na Holanda no dia 15 de Março produzirá o mesmo eco de sempre, a relativização da urgência dos dramas que assolam a Europa. Qualquer devaneio do mainstream, perpetrado pela Holanda, será tratado com a mesma indiferença. A laranja, por mais selvagem que seja, não interessa muito aos mercados, à economia, ao dinheiro de quem aposta no melhor retorno possível para o seu investimento. E as casas de apostas têm falhado redondamente.

publicado às 20:46

Aí vêm os bancos americanos!

por John Wolf, em 21.12.16

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Podíamos viver sem bancos? Podíamos viver sem crédito? Podíamos viver sem títulos de dívida? Podíamos viver sem resgates do FMI? Perguntem a Catarina Martins, a Mariana Mortágua, ou ao guru que as conduziu pelos caminhos da verdade - Francisco Louçã. Releio o académico anarco-esquerdista norte-americano David Graeber e o seu pensamento expresso na obra-  Dívida, os primeiros 5000 anos -, a resposta é inequívoca: não. Não, o crédito sempre existiu. O dinheiro sempre foi desigual e para mal dos pecados europeus, na grande competição planetária de instituições financeiras, os EUA estão a dar uma ripada na Europa. Os bancos europeus, se fossem equipas de futebol, estariam bem mais próximas da Liga de Honra do que aqueles lugares que dão acesso aos grandes prémios da UEFA. O Barclays é um brexitário financeiro e o Deutsche Bank tem de pagar uma multa às autoridades americanas - pouca coisa, uns 6 a 7 mil milhões de USD ou Euros (sim, a paridade está bem perto). Nem vou mencionar o banco-barraca CGD por ser irrelevante neste campeonato. O que eu vejo ou prevejo é o seguinte. A administração Trump vai agitar as águas da "normalidade" e tirar partido da letárgica "tradição" europeia. Bastou o pequeno sopro do fechar da torneira de liquidez por parte da Reserva Federal para o dólar americano galgar a marca psicológica dos 1.04 face ao Euro. E isto tem consequências para este cantinho à beira-mar plantado. Os títulos de dívida dos Estados-membros da Europa dependem em larga escala da procura exterior e, no contexto da crise, foi o BCE que substituiu os agentes do mercado que foram incapazes de produzir a procura requerida dos títulos em causa. Se o dólar fortalecer ainda mais significa que a compra de títulos de dívida expressos em Euros se torna mais em conta para essa divisa e, por analogia ao Japão que detém grande parte da dívida dos EUA, a dívida europeia passará a estar nas mãos de entidades bem longe dos centros de decisão europeus. Sim, a UE tornar-se-á refém de bancos de além-mar e arredores. Mas há mais. Os commodities, como o petróleo ou o cobre, são expressos em USD o que dificultará o trabalho de governos de mãos largas que são obrigados a obter dólares para deitar a mão a energia ou vigas de ferro. Eu sei que estou a dar uma grande volta neste texto, mas ainda não percebi, à luz destas singelas considerações, como António Costa e a sua escola irão pagar as extravagâncias anunciadas para a década e para o ano de 2017. Foi o primeiro-ministro que anunciou há dias que o sector da construção precisa de levar um empurrão. E nós sabemos que o chefe do executivo não está a pensar num New Deal à Trump. Está a pensar no sistema político. Está a revalidar a chave socialista que permite enfrentar as tormentas. Foi o sector da construção que aguentou os socialistas em diversos mandatos, mas fez descambar as contas cada vez que houve um seu governo. Foram os lanços e sub-lanços de estradas que inquinaram as contas. Foram as auto-estradas para nenhures que comprometeram orçamentos de Estados. Foram elefantes brancos e outras bestas dispensáveis que descarrilaram Portugal. Enfim, todos sabem o que foi e como foi. Mas ao fim e ao cabo, com  todas estas extravagâncias, perde-se algo de essencial. A genuína ideia de empreendimento, de geração de dinâmicas económicas, a  noção de retorno e acima de tudo justiça social. Assim não funciona. E isto aplica-se a projectos de ordem diversa. Não excluo a Cornucópia e afins. São bons exemplos de erros de intransigência e incompetência em gestão de empresas. Há dias brinquei com a ideia de um Teatro Haitong ou uma Fundação das Artes Altice, mas não estava a brincar. A imagem é boa e serve. Portugal deve rapidamente pensar uma estratégia duradoura. No entanto, o país padece de um problema grave - a falta de visão. E nessa obscuridão lá aparece um velho projecto sacado da mesma gaveta de promessas e avarias. E que tal um novo aeroporto? E lá surge uma OTA de cara lavada para fazer mexer o sector das construtoras. É assim que funciona. Dizem que é teatro. Mas sai sempre caro. Não acreditem. Dinheiro não cai dos céus. E daqui a nada quando os bancos Wachovia ou a Wells Fargo abrirem sucursais na Lapa e no Intendente não roguem pragas ao Durão Barroso e à Goldman Sachs. O cozinhado é da casa. A receita tem dono.

publicado às 15:28

Geringonça, por quem os sinos dobram

por John Wolf, em 07.12.16

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Onde é que eu ia? Ah, muito bem. Já sei. Distraí-me com a Caixa Geral de Depósitos, o desastre aéreo na Colômbia  o apuramento para os oitavos, a meia de elástico da Tadeu e as promoções do Pingo Doce. De maneiras que é assim. Os italianos de Nápoles não foram simpáticos, mas os italianos de Itália também não estão a ajudar - Referendo para que te quero. Antes de começarem a bater no Commerzbank e a chamar nomes aos alemães, lembrem-se que foi inaugurada a época natalícia, que entramos em pleno na época de paz, embustes e promessas grandiosas para o ano que vem. O Banco Central Europeu (BCE) já sabe o que António Costa tem vindo a negar: Portugal é candidato a um dos lugares cimeiros da crise europeia. Daí que Draghi e companhia já tenham ameaçado manter a compra de títulos de dívida nos estados-membro em apuros ao ritmo de 80 mil milhões de euros até ao final de Setembro de 2017. Ou seja, o mercado já está a descontar a crise europeia que parece passar ao lado da geringonça. O timing para se estar no sector da banca não poderia ser melhor para patrões e para detentores de acções de instituições financeiras. O dinheiro fresco ficcionado pelo BCE vai directamente para a toxicodepêndencia monetária de países como Portugal, embora tenha sido pensado para o cliente italiano (não se esqueçam da Grécia). Depois temos as outras autárquicas de arrumação política-monetária - o Brexit efectivo que causará mossas nos planos bi-quinquenais de Costa. E não há nada que se possa fazer para barrar o que se passa para além da Mancha. Que fique esclarecido: as obras de Medina nas artérias de Lisboa não são investimento. Não geram produtividade. São florzinhas de estufa. Os putativos ciclistas que farão uso das vias verdes que estão a ser plantadas, baixarão o colesterol, mas não serão um alívio para o Serviço Nacional de Saúde. Há taquicardias que não podem ser evitadas. Invistam fortemente no Natal.

publicado às 11:57

Costa - o grande ditador de Esquerda

por John Wolf, em 23.11.16

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Costa está todo lançado. Está inspirado. Trump deu-lhe a volta à cabeça. A Europa está a ressacar de 50 anos de promessas furadas de estado social, liberdades e garantias, de pão e paz para todos, casa, carro e férias sem restrições, e agora, que a coisa deu para o torto, os conservadores fazem a festa. Ainda não perceberam que a cenoura à frente do burro já foi charro que deu urros? É o passe infantil da Carris para o menino e para a menina, é o falseamento das prestações devidas ao FMI, e de lenga-lenga a peta maior ou menor, a Esquerda continua a basear o seu guião no mesmíssimo filme que nos conduziu a este estado de arte. A promessa ou ameaça de António Costa permanecer para uma década de governação enferma de diversos vícios democráticos. Assume  a imaculada estância de verdade das suas propostas e concentra na sua figura o sucesso de um país inteiro. Apenas um crápula arrogante pode declarar deste modo despudorado ao que vem - poder fascina-o, o país logo se vê. A época do politicamente correcto acabou em definitivo. A sua confissão de peito aberto lembra regimes autoritários, ditadores que à época não dispunham do beneplácito dos media para ombrear intenções - eram a voz. Portugal prima pela excepcionalidade. Mas não será desta natureza. A Europa está a dar uma guinada forte e António Costa quer ser o cubano do continente. O último a descolonizar-se das balelas que já nos foram cantadas vezes sem conta.

publicado às 10:19

Fillon mignon

por John Wolf, em 21.11.16

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Os democratas franceses nada aprenderam com os mais recentes eventos que abanaram o sistema político norte-americano. A lição de Hillary não foi assimilada. São tantos os participantes a concurso nesse campo ideológico que Marine Le Pen deve estar a esfregar as mãos de contente. Sarkozy jafoste. E agora Fillon mignon apresenta-se com grandes desígnios que se inscrevem nessa velha escola de funcionalismo público, impostos mais ou menos baixos, e depois, como se ninguém reparasse, lá mete um referendo sobre a quota de imigrantes como se a virtude democrática das massas pudesse ser exultada de um modo honesto. Ou seja, defende o que Trump defende, mas não assina o despacho. Remete para o povo essa decisão nefasta. Sacode preventivamente a água do capote do nacionalismo residente na marselhesa. Em plena época de falências do politicamente correcto o filão de Fillon não pega. Nas cidades e nas serras, e nos banlieu, o código de sobrevivência é outro. Os franceses de pleno direito, que em tempos não o eram, são os primeiros a pôr trancas à porta, a barrar a porta a "ladrões" de empregos. E há mais. A alegada moderação de Trump apenas ajuda a consolidar a ideia de que afinal o conservadorismo não se faz equivaler a extremismos proto-fascistas. Vivemos uma época de grandes rupturas. O descarrilamento das instituições clássicas, mas também da linguagem que tarda em se refrescar para acompanhar o novo glossário de intenções políticas.

publicado às 10:51






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