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Le frimaire

por João Quaresma, em 26.05.14

Sempre quero ver se, depois disto, ainda vamos continuar a ouvir o argumento que para resolver os problemas dos países europeus precisamos de «mais Europa».

Lindo serviço.

 

publicado às 02:10

Há cem anos

por Nuno Castelo-Branco, em 14.03.14

Rugiam os jornais em Paris, acicatados pelas lojas. De uma vez por todas, era necessário liquidar o mostrengo a beira Danúbio. Onde falharam os Valois, os Bourbons, os Orleães os Bonapartes e duas repúblicas, uma coligação mundial ditaria a lei. Impunha-se a destruição daquela "Babel de povos engaiolados" pela dinastia que um dia saíra de um lugarejo suíço e ousara imaginar um AEIOU que quase se estendera a todo o mundo conhecido. Numa Londres apesar de tudo mais condescendente para com este bloco essencial ao equilíbrio europeu, o império K und K era olhado de forma mais pragmática. Uns anos mais tarde, durante o cacofónico concerto do troar dos canhões, apenas a necessidade da manutenção de uma Entente instável, acabou por fazer com que os britânicos permitissem a derrocada exigida pelos tradicionais inimigos dos Habsburgos. Para cúmulo, era um império católico.

 

Vinda a paz, os mais severos apologistas do princípio das nacionalidades, os franceses e os norte-americanos, logo se dedicaram ao amalgamar de várias massas estatais que em tudo pareciam caricaturas da Áustria-Hungria. A Checoslováquia abarrotava de alemães, de húngaros e ucranianos, não esquecendo um retalho polaco, Teschen. A Jugoslávia seguiu o mesmo caminho, tal como a Polónia e a Roménia. 


A queda do império austro-húngaro representou um colossal desastre para a Europa. Bismarck afirmara que quem tivesse Praga, era dono e senhor de toda a Europa central e bem vistos os factos ocorridos após 1919, podemos incluir toda aquela zona que vai do Vístula, até à fronteira búlgaro-grega. Se alguém disso tiver qualquer dúvida, rememorie tudo o que se passou na Europa durante o período de entre as guerras - hegemonia alemã - e após 1945, quando os T-34 de Estaline ali se instalaram durante quase meio século.

Travadas e perdidas duas guerras mundiais, a fraqueza deste autoproclamado continente que dominara o orbe, impeliu povos e dirigentes a acordarem num modus vivendi que mantivesse a paz e sobretudo, afastasse a hegemonia que agora chegava do leste. Subitamente, toda a Europa ocidental informalmente se tornou numa grande Áustria-Hungria que para espanto de todos, funcionava, era rica, pacífica e um iman de atracção para quem neste bloco ainda não entrara. O próprio sucessor dinástico do Kaiser de Viena, o recentemente falecido  arquiduque Otão de Habsburgo (1912-2011), foi dos primeiros a erguer a bandeira da União, mantendo-se fiel à divisa Viribus Unitis

 

Liquidado o colosso soviético, regressaram em força os princípios outrora descuidadamente enunciados pelo presidente Wilson, ressalvando-se, para provisória tranquilidade geral, um ou dois casos excepcionais. A Jugoslávia logo seguiu o caminho que há muito lhe estava destinado e a Checoslováquia também se normalizou, desaparecendo dos mapas. Ficou a Ucrânia, exactamente com as mesmas fronteiras que o Soviete Supremo lhe concedera. Curiosamente, nos mapas surge com uma configuração parecida com a do desaparecido império austro-húngaro e os seus seiscentos mil quilómetros quadrados quase coincidem com a área ocupada  pela velha monarquia dualista. País da sua periferia, a Ucrânia servia aos russos de Estado tampão, um neutralizado trilho de negócios a percorrer em direcção a ocidente. Como irmãos eslavos, contavam com uma certa solidariedade da antiga Pequena Rússia dos tempos de Nicolau II. Era assim conhecida a Ucrânia nas antigas cartas polítcas europeias, tal como sem qualquer pontilhado surgia nos mapas a Rússia Branca, hoje uma realidade estatal que toma o nome russo de Bielorrúsia. Biela, branca, Rússia Branca, Bielorrúsia. 

 

Em Bruxelas e em Washington, temos zelosos vigilantes da liberdade dos povos. A partilha da Jugoslávia consistiu no primeiro passo das liberdades de conveniente figurino, tal como poucos anos depois aconteceria com a minúscula sobrevivente Sérvia, obrigada a abrir mão do Kosovo. Afinal de contas, os kosovares-albaneses também tinham "todo o direito de dispor do seu futuro". Era esta a lei ditada pela Comissão Europeia e pelo Departamento de Estado d'além-Atlântico.

 

O que foi válido para croatas, eslovenos, bósnios, eslovacos e kosovares, de forma alguma terá qualquer similitude em relação às hordas orientais para além do Prut e do Dniester. A intangibilidade de fronteiras é aqui coisa sacrossanta, tal como relíquia a venerar é o celestial calhau ciosamente guardado na Caaba. 

 

Nada disto é razoável, a menos que finalmente, decorrendo cem anos desde que uma encasacada turbamulta decidiu a futura destruição de um país que em si resumia a ideia de Europa Unida, Bruxelas venha agora reabilitar a memória daqueles regimentos de alemães, húngaros, italianos, croatas, eslovenos, bósnios, romenos, polacos checos e ucranianos que seguindo para as frentes a sul, norte e leste, se ofereceram à metralha dos nacionalismos.

 

Chegou a Primavera e a Madeira apresta-se a receber a habitual enxurrada de turistas. Bem podem agora Merkel, Hollande, Obama e as restantes euro-insignificâncias atreladas irem em procissão até à funchalense Igreja do Monte, depositando uma enorme coroa de flores homenageando Carlos I. Têm um bom pretexto: ao contrário dos nossos duvidosos líderes, este Kaiser já foi santificado por Roma. 

publicado às 15:30

E que tal falarmos de Itália?

por João Pinto Bastos, em 22.02.13

Sim, porque, ao que parece, e pelo que vem sendo noticiado pelos media internacionais, tudo indica que o cenário político italiano tenderá a entrar numa espiral de instabilidade, com a correspondente fragmentação do espectro partidário. Quem pagará as favas de uma Itália desgovernada? Os restantes "porcos", claro está, com Portugal à cabeça e o euro como corolário da destruição descontrolada. Se dermos uma vista de olhos na realidade que espera o italiano médio, veremos que a coisa está mesmo muito preta. Bersani não estimula nem anima, Monti não arranca, Berlusconi, qual Don Juan eterno, voltou à ribalta prometendo a estupidez de sempre, e, last but not the least, Grillo, um palhaço bastante sério, ameaça tornar-se no "juste millieu" que decidirá o futuro da festa italiana - um palhaço que propõe a revisão dos tratados europeus, a renegociação da dívida e a saída do euro, entre outras medidas que, em boa verdade, já deveriam ter sido propostas pelo centrão político que domina as democracias europeias. Com um cenário destes, numa crise económica que teima em permanecer, é de esperar o pior. Há muito que venho tendo como evidente que o euro, uma moeda que tipifica o pior do espírito autocrático da eurocracia, dificilmente perdurará. Porquê, perguntarão os caríssimos leitores. Por uma razão bem singela: com uma união em que ninguém se entende, em que existem, de facto e de jure, 27 tradições económicas, culturais e políticas bem diferentes, juntar tudo isto, sob o mesmo signo político e sob o mesmo tesouro, é uma tarefa digna de heróis, e heroísmo é matéria que manifestamente não existe nos dias que correm. 

publicado às 15:08






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