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Tinha até agora rejeitado visceralmente Conan Osíris, que estava em crer ser um troll. Incentivado pela Ana, lá me decidi ouvi-lo e parecem ter razão os que consideram que é um daqueles casos em que primeiro se estranha e depois se entranha. No meio da banalidade musical cá no burgo, sobressai facilmente o seu estilo excêntrico, com letras que inevitavelmente provocam gargalhadas e uma musicalidade que não está ao alcance de todos, não sendo fácil harmonizar todas as influências bem patentes nas suas músicas, de que "Telemóveis" é, porventura, a mais representativa. De resto, um tipo que é capaz de agarrar na xaropada de Celine Dion que serviu de banda sonora à xaropada de James Cameron, vulgo "Titanic", e cantar "Near, far, wherever you are, I believe/ Que ainda vais levar nas trombas", tem o meu respeito. Nunca liguei à Eurovisão, mas faço votos que ele continue a partir aquilo tudo e vá a Israel.
Não vejo as manas Mortágua ou a metediça Catarina Martins no protesto dos imigrantes em frente ao Parlamento. No seu lugar o Bloco de Esquerda mandou um piquete protestar a eleição de Israel no Festival Eurovisão da Canção - foi uma investida que não colheu frutos. O Partido Socialista e o Partido Comunista Português não mexeram um dedo para manifestar a sua oposição ao comportamento faccioso e tendencioso dos seus camaradas de governo - ou seja, deram o seu aval demagógico, mas não a cara. Os "palestinianos" que se encontram em frente à Assembleia da República não votam nem elegem governos de recurso, por isso são uma divisa de fraco interesse. Eu sei que hoje é um dia particularmente sensível com a comemoração dos 70 anos do Estado de Israel a coincidir com a inauguração da embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém. Portugal não se associa ao evento, mas terá de decidir se envia uma Dina ou um Salvador da pátria ao certame da Eurovisão que aí se realizará na edição do ano que vem. São escolhas difíceis aquelas que Portugal está obrigado a tomar na ausência de direitos e garantias herdados do passado. O mundo está a mudar. O Médio-Oriente é a ferida aberta onde a dor da revolução de paradigma mais se fará sentir, mas não confundamos as causas com o rancor ideológico de que se alimentam certos actores de baixa estatura.
foto: John Wolf
A Netta de Israel deve ganhar o certame musical, enquanto Trump achocalha o acordo nuclear respeitante ao Irão. A Alemanha, a França e o Reino Unido, aparentemente fora do baralho da decisão do presidente dos Estados Unidos, acabam por servir o processo com arte e engenho - o pé ocidental, metido na porta de Teerão, não me parece ser fruto de uma escorregadela, de um desacordo flagrante -, serve o guião do copo meio-cheio ou do copo meio-vazio. O que acaba de suceder, enquanto Pompeo assenta arraial na Coreia do Norte, tem o condão de realinhar a política externa norte-americana. Desde Reagan que poderemos traçar uma continuidade, usando uma expressão académica portuguesa - as constantes e linhas de força da política externa, interrompida pelo duplo mandato de Barack Obama. Ou seja, registamos uma espécie de intervencionismo não intervencionista, que descarta o valor de alianças e tratados, mas que não assume por completo o isolacionismo. A denúncia do "Joint Comprehensive Plan of Action (J.C.P.O.A.)" não significa a ausência de movimento. As sanções económicas do nível red alert, deverão, expectavelmente, provocar ondas em toda a região do Médio Oriente, e em particular agudizar as tensões entre a Arábia Saudita e o Irão que já se encontram em zaragata por procuração, quer na Síria quer no Iémen. Não nos esqueçamos que a Rússia já se encontra sob a égide de sanções dos EUA e a Ucrânia recebe armamento para se defender do agressor. No entanto, ontem houve algumas frases de Trump que foram sacadas da era George W. Bush, quando este apresentou o argumento inatacável da existência, sem margem para dúvidas, de armas de destruição maciça no Iraque, para validar uma operação militar de grande envergadura. Desta vez não me parece que Trump venha a invadir o Irão - os outros que paguem a factura. No entanto, ainda não poderemos definir uma doutrina Trump, mas podemos ensaiar um esboço. Donald Trump joga por antecipação, fruto de uma certa imprevisibilidade, alimentado por uma certa carga emotiva, para depois, analistas e afins, tentarem a todo o custo extrapolar um modelo de racionalidade, parente próximo da estratégia, como se esta existisse na íntegra. Em todo o caso, a excentricidade atípica gera efeitos não estimados e fluxos inesperados. Veremos o que Trump resgata da incursão coreana. Encontramo-nos, sem dúvida, na semi-final do festival Eurovisão da geopolítica. Cada um concorre com a cantiga que lhe convém e no fim porventura teremos mais perdedores do que ganhadores. Como diria Nassim Taleb - Trump doesn´t want to have his skin in the game, mas quer a todo o custo que os outros arrisquem o pescoço.
Photo credits: Metro
Percebo muito pouco da poda, mas o novo Pinhal de Leiria não deveria ser chamado de Sobral de Leiria? Leio a notícia, vejo as enxadas, parece um enterro, e referem que grande parte das árvores a plantar será sobreiros e não pinheiros. Falta apenas uma coisa - um desígnio nacional como aquele lançado por D.Dinis (1279-1325), embora tenha sido D.Afonso III (1248-1279) a inaugurar a plantação. Que epopeia de descobertas pode ser promovida pela Geringonça? Capital do Móvel já temos. Ikea já cá está. Ah, já sei! Para evitar incêndios noutras partes, o tal Pinhal de Leiria pode ser um parque temático com diversões, comes e bebes - uma zona franca do fogo que arde sem se ver - um exemplo para gerações políticas futuras de como um governo com uma mão lava a outra. Estas inaugurações com pompa e gala deixam-me sempre desconfiado do bicho carpinteiro. Chaparros.
foto: John Wolf
O efeito Salvador Sobral foi-se. Não havia uma camada de gente, a atirar para a sociologia esperta, que afirmava que o estereótipo do Festival Eurovisão da Canção havia sido derreado pelo maneirismo original e musical da canção vencedora "Amar pelos Dois"? Pois. Parece que essa revolução não serviu de grande lição. Salvador Sobral bem tentou, mas a Rádio Televisão Portuguesa já fechou o casting das apresentadoras do certame. Em vez de enveredarem pelo desvio atípico, quiçá com laivos de bizarria e aberração, contrataram em peso as Doce - Catarina Furtada a não sei quem, Filomena Cautela com isso, Sílvia All Berto e Daniela Ruah! Fora daqui. Em vez de aproveitarem o esforço de Sobral para quebrar tradições e conformismos, quedam-se por um quarteto com pretensões de statement político (são só gajas!), a roçar a saia do feminismo "sai o tiro pela culatra". Imaginava facilmente um Manuel Marques, um ou dois Marcelos ou mesmo o emplastro para se juntar à festa e destoar da convenção deste quarteto. Mas há mais. Enquanto a Daniela Ruah rodopia em inglês, as restantes três terão de fazer um esforço para evitar calinadas em inglês técnico. E para além do mais, quatro mulheres juntas já é um festival.
Barbas por fazer, depilações íntimas ou pêlos no peito inscrevem-se todos no mesmo programa de maquilhagem política da Europa. Mas, de um modo conveniente, as ilações surgem sempre depois do caldo ter sido entornado. Não me parece que tenha havido um esquema gizado por "liberalistas" para levar por diante os ideais ecuménicos de uma União Europeia multi-color, tutti-frutti, aberta ao movimento de bens, serviços, capitais e travestis. Seja qual fôr o âmago da questão, a verdade é que um freak-show também serve para atrair públicos, quiçá investidores. E é isso que está em causa. Para o ano que vem mais uns quantos milhões de espectadores irão sintonizar a antena da Eurovisão, na expectativa de serem surpreendidos com uma proposta ainda mais híbrida, ousada. Em época de descrédito da Europa, de crises sucessivas e fracturas que dividem o Norte e o Sul, a barba "Wurst" de pouco servirá para tapar buracos e pontos negros, mas uma lição pode ser extraída. O público aprecia bizarrias e invulgaridades, e a excentricidade rouba as atenções todas, distrai da falta de qualidade de outras promessas, musicais ou não. Cada reino tem os seus bobos da corte e, se não os tem, deveria pensar nos benefícios que estes podem trazer. Sabemos que no dia 24 de Maio a final da Champions League irá gerar dinâmicas e audiências televisivas assinaláveis, e que imagens de Lisboa irão correr por esse mundo fora. E onde e como é que se pode encaixar uma oferta especial para temperar a ocasião? Não se arranja nada à altura de uma Conchita? Uma figura bordalo-pinheiresca que faça a bola descer à terra? Oh Turismo de Portugal e agências de marketing - toca a mexer, mãos ao trabalho. Vejam lá o que arranjam, mas não nos metam em sarilhos. Portugal deve saber aproveitar todas as oportunidades para extrair valor e dar a volta por cima. Sexo vende, mesmo que não se saiba o que o homem traz por debaixo das sete saias.