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Se nesta vida tudo pode e deve ser avaliado, não vejo razão para que os governantes e os parlamentares sejam poupados. Se os professores estão a ser avaliados, os políticos também deveriam sentar-se numa carteira com a esferográfica preparada, e ao toque preciso de um Timex, lançar-se ao exame que se lhes colocam à frente. As eleições não deveriam ser o único momento de aprovação ou reprovação de candidatos à ocupação de tão importantes cargos públicos. O teste deveria abranger todas as matérias relevantes para o exercício da função governativa ou legislativa. A saber; ciência política e direito constitucional, ética e moralidade, psicologia de massas, civismo e retórica, abnegação e causas públicas, exploração e interesses particulares, tráfico de influências e opinião pública, estatística e interpretação falaciosa de números, métodos quânticos e atalhos, corrupção e higiene oral, verdade ou consequência, regimes autoritários e coligações, oposições e utopias, ideologias e consensos, partidos e acordos de circunstância, conselhos de administração e reformas, pensões e turismo de terceira idade, mandatos e nomeações, amizades e conveniências, títulos académicos e equivalências, processos históricos e revoluções, reformas de Estado e tribunais constitucionais, comissões europeias, FMIs e bancos centrais, e por último, uma secção dedicada ao tema do status quo. E uma vez confirmada a sabedoria dos visados, dormiríamos todos mais descansados.
A pergunta é simples: quem quer ser professor por um dia que seja? Quem deseja acartar injustamente com os pecados e os défices dos outros? - A educação que não foi dada aos alunos pelos papás e pelas mamãs. A má criação que escoa directamente da sarjeta para a sala de aula. Quem quer trabalhar de acordo com modelos que não se adequam ao perfil cultural do país? Como podem constatar, tinha colocado uma pergunta que afinal se desdobra em muitas sem resposta. Desde que eu me lembre, os professores tiveram sempre mobilidade e não era pouca. Era imensa, de norte a sul do país. Quem não conhece o professor de Trás-os-Montes colocado no Algarve? Aqueles que tiveram de abandonar as suas famílias e prescindir de uma ideia de continuidade na residência, o sonho de viver na terra de origem. A profissão foi quase sempre malentendida pelos governantes de Portugal. Houve até quem a quisesse canonizar elevando a missão educativa a acto de fé, a bandeira de partido. Lembram-se de Guterres e a sua paixão? E houve outros como Roberto Carneiro que foram também cardeais da causa. Estou certo que mesmo que pagassem uma tarifa tripla a prospectivos docentes, não seria líquido que aceitassem o emprego. Por vezes não há dinheiro que chegue para pagar os ultrajes. Conseguem imaginar leccionar na franja da sociedade uma qualquer disciplina do programa curricular, quando no fundo estão a operar a múltiplos níveis que deveriam ser tratados por psícólogos, técnicos de reinserção social e polícias? Os professores levam para casa tantas horas extraordinárias que deixaram de ser horas, considerações de ordem pedagógica, trabalhos de casa, e, para além dessa normalidade, são obrigados a sacar da sua consciência para levar a bom porto uma barca tempestiva repleta de repetentes de um sistema caduco. Não existe repelente que consiga afastar dos professores os pesadelos, o stress, a insónia antecipada pela semana que se segue. A outra questão que coloco: quem quer ser manifestante por um dia apenas? Quem deve caminhar ao lado dos professores, se grita em nome dos docentes e de Portugal? Vou directo ao assunto. Se António José Seguro sente o mesmo ardor no peito que Guterres sentiu, então deve estar nas ruas, lado a lado com aqueles que alegadamente foram intimidados pelo governo, mas o lider socialista, se não está em Roma com o Papa, está noutro encontro ecuménico. No meio destes confrontos e da greve aos exames nacionais que se avizinha, os alunos irão agravar ainda mais a sua débil condição de aprendizagem. Na Segunda-feira provavelmente irão regredir na sua capacidade de expressão em língua portuguesa, a que se seguirão mais murros nas restantes disciplinas. Resta saber se os milhares de alunos devem ser tidos enquanto moeda de troca, ou se chegará o dia em que os próprios alunos se manifestam, para rejeitar de uma assentada, e em simultâneo, os políticos e os professores. A linha ténue que separa a sustentabilidade cognitiva e pedagógica do país, do perfeito caos, está a ser pisada. Qualquer dia para haver alunos nas salas de aulas teremos de ter uma requisição estudantil. Repito a pergunta: quem quer ser presidente do conselho directivo? Quem quer ser presidente? Quem quer Portugal?
O que é uma greve selvagem? Muitos dos leitores já terão, certamente, feito essa pergunta. A definição é muito simples: greve selvagem é toda aquela greve que é levada a cabo espontaneamente pelos trabalhadores, sem o concurso e o apoio do(s) sindicato(s) a que os mesmos estão adscritos. Pois bem, perante isto cabe perguntar o seguinte: como qualificar uma greve, planeada de antemão pelo próprio sindicato ou sindicatos, que prejudica a prestação de serviços fundamentais à população? Dito de outro modo, como qualificar uma greve que prejudica, deliberada e premeditadamente, a feitura dos exames nacionais - não, isto não são peanuts - por banda dos alunos? Talvez seja chegada a hora de adaptar o conceito supra mencionado. É que, bem vistas as coisas, há greves selvagens promovidas pelos próprios sindicatos. Mais: há greves selvagens que, no fundo, são financiadas por todos nós, cidadãos contribuintes. O "welfare" sindicalista resulta sempre nisto: abuso, compadrio e selvajaria social.