Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Montaigne, Essays, "Of Experience":
We must learn to endure what we cannot avoid. Our life is composed, like the harmony of the world, of contrary things, also of different tones, sweet and harsh, sharp and flat, soft and loud. If a musician liked only one kind, what would he have to say. He must know how to use them together and blend them. And so must we do with good and evil, which are consubstantial with our life. Our existence is impossible without this mixture, and one element is no less necessary for it than the other.
Albert Camus, O Mito de Sísifo:
«Para um homem afastado do eterno, a existência toda inteira não passa de uma imitação desmedida sob a máscara do absurdo. A criação, é a grande imitação.
Esses homens começam por saber, e depois todo o seu esforço consiste em percorrer, engrandecer e enriquecer a ilha sem futuro a que acabam de acostar. Mas primeiro é preciso saber. Porque a descoberta absurda coincide com uma paragem, onde se elaboram e legitimam as paixões futuras. Mesmo os homens sem Evangelho têm o seu Monte das Oliveiras. E também no deles não se deve adormecer. Para o homem absurdo já não se trata de explicar e de resolver, mas de sentir e de descrever. Tudo começa pela indiferença clarividente.»
Escreveu Fernando Pessoa, no Livro do Desassossego, «E sobretudo, por amor de Deus, não tomemos a sério nada do que fazemos. Façamos uma antedescoberta da futilidade do que fazemos.» Se tudo o que fazemos é fútil, se a vida não tem sentido e, sendo assim, dos acasos que nos sucedem não podemos retirar lições, já que são apenas isso, acasos, ainda que pareçam ligados entre si e se revistam de um amargo sabor irónico que nos faz pensar nas palavras de Chesterton a todo o momento, e se esses acasos, especialmente quando são fruto de injustiças gritantes, nos roubam os sonhos e nos compelem no sentido da mera existência - por oposição à vivência - então a afirmação com que Camus principia O Mito de Sísifo ganha ainda mais força: «Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio.» Escreveu Unamuno que os portugueses são um povo de suicidas. Ouvi hoje de manhã, na Antena 1, que o número de suicídios em Portugal aumentou. Provavelmente por causa da crise. O que se me afigura uma cobardia. Pôr cobro à vida por questões financeiras, por já não se conseguir viver ao mesmo nível de outrora, é próprio de espíritos fracos. Já colocar cobro à vida em virtude de um abalo existencial, é outra história completamente diferente. Surge então uma outra questão: onde é que se arranja coragem para tal? E mesmo que se consiga arranjar coragem, apresenta-se-nos ainda uma derradeira questão: e os outros que cá ficam? É que o suicídio é um egoísmo. E talvez seja nos outros que cá ficam que podemos encontrar o sentido da vida.
Leitura complementar: Do sentido da vida.
Se Hayek tem razão quando considera que a vida não tem outro propósito para além da sua própria existência, então Camus terá razão em considerar o suicídio como o único problema filosófico verdadeiramente sério. Nestes estranhos tempos em que vivemos, o "perigo de todo os perigos", como assinalou Nietzsche, é "nada mais ter sentido." E talvez seja por a vida não ter sentido que, segundo Oscar Wilde, a maioria de nós limita-se a existir, não vivendo. Se assim é, só podemos escapar ao absurdo da existência da vida pelo suicídio ou pela esperança, como Camus aponta. Não lhe escapando, somos compelidos no sentido da revolta, que surge "do espectáculo do irracional a par com uma condição injusta e incompreensível." "Eu revolto-me, logo existo", escreveu o filósofo francês. Alguns dirão que calar a revolta será sinal de maturidade. A mim afigura-se-me antes como um suicídio do pensamento. E eu ainda prefiro continuar a viver, mesmo que tenha que me submeter para sobreviver. Até um dia.