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Numa livraria perto de si.
LX vinte e oito - uma chancela da Livros Horizonte
Em directo na TVI24, domingo dia 14, pelas 14h.
Bento XVI definiu a Fé como um Dom da Liberdade.
É uma das definições mais belas que li sobre a Fé. Bela pelo seu conteúdo, pela sua simplicidade , bela porque descomplica uma questão complexa. O seu autor marcou-me pela inteligência, pela cultura , pela timidez e pela sua dimensão intelectual de gigante.
Neste mês de Maio celebra-se Maria e ano após ano, eu pecador confesso, inundo os meus olhos, com as manifestações de fé que os peregrinos anónimos, vão revelando. Só quem lá tenha ido compreende o sentido de Fé que move aquelas almas.
Por a Fé ser um Dom da Liberdade, ninguém obriga ninguém a acreditar, mas também ninguém tem o direito de criticar a Fé de quem a tem.
Tristes os que não tendo Fé tentam cercear diminuir e ridicularizar os que a têm.
Gostaria um dia de ser tocado por essa Fé.
Vergo-me perante Maria na esperança de um dia poder sentir o seu coração de Mãe.
Um país não é uma entidade desligada de si. Existe um todo coerente, a matriz que o define e que crava a identidade na testa dos seus cidadãos. O terço-gigante da Joana Vasconcelos inscreve-se na eterna doutrina cultural que configura a nação - o meu carro é maior do que o do meu vizinho. Quando tudo o resto falta; o conceito, a linguagem, os códigos, a originalidade, a pesquisa profunda de símbolos e rituais, a dimensão literária imaterial, a filosofia, a melodia e o silêncio - o ruído estridente é a única saída. O estrondo da escala mitiga as nuances subtis, a ausência e a sugestão. O terço-rosário habita a mesma clausura de ignorância na arte - colide com o espírito livre que não se deixa algemar. A tríade que governa Portugal agradece a transfiguração do Estado Novo. Não a enjeita. São megalomanias desta natureza que desferem golpes naqueles que duvidam do mistério. A geringonça, embora não o decrete, aprecia as protuberâncias da Joana Vasconcelos. São expressões avultadas como esta que servem de antena para afastar descrentes. Assistimos a uma inversão. Não foi o Estado laico que foi avassalado pelo catolicismo. Foi a Igreja que se rendeu e colocou de joelhos e ao serviço do poder político. Tudo isto parece inócuo e divertido. E é precisamente esse o problema. Não é uma aparição. É real e efectivo.
RIP James Gandolfini. Partiu o conhecido actor e levou consigo Tony Soprano. Será sempre esse personagem que fará parte da memória colectiva. E há razões para isso. São os mesmos argumentos que sustentam a simpatia que nutrimos por várias gerações de mafiosos. Poderia recuar na história cinematográfica e evocar os "Corleones" de "O Padrinho", os "Goodfellas" (não gosto do título em Português) ou "Era uma vez na América". Todos esses Capones, galos de aviários do crime, exalam uma aura de bon-vivant, de quem sabe apreciar as coisas boas na vida. Os detalhes de luxo que exigem dinheiro, muita massa. Roupa e perfumes caros, restaurantes de cinco estrelas, residências faustosas, carros de luxo e uma arraia de seguidores que seguem em tournée para onde quer que eles se desloquem. A cultura de suavização do malfeitor, com terapeutas à mistura e actos de constrição religiosa, contribuíram para suavizar os contornos criminosos da sua actividade. Viramos a cara e não vemos o sangue. Damos a outra face. Os americanos terão sido os inventores dessa fórmula de aceitação social, estilizando a graça dos gatunos, hiperbolizando o seu lado alegadamente suave, atenuando as facadas e as chantagens à queima roupa. É pena que a vida não imite a ficção e que tenha servido para tentar ladrões de bairro que aspiram a voos mais altos. De Hollywood a Wall Street, de Bollywood a Felgueiras, a verdade é que uma geração inteira de Valentins e Fátimas quis experimentar essa vida glamour, de poder, de ostentação, de prestígio, mas felizmente para nós que os corruptos locais não passaram das marcas - violentas. Deixaram-se ficar pela prática insidiosa, mal feita ainda por cima. Mas, ironicamente, foram apanhados e não foram agarrados. Continuam por aí nas suas vidinhas de marisqueira e charuto. Pode parecer que não há relação de parentesco entre Sicília e Portimão, mas depende dos meios empregues. Nalguns casos recorreram ao calibre 38 e noutros ao carimbo para aprovar o licenciamento da obra, e a coisa ficou por aí. E é esse o perigo da cultura contemporânea. A estilização do crime. A transformação do ilícito em algo estético, quase próximo da alegada instalação artística de uma Joana Vasconcelos. A bala tornada bela. Estão a ver o fumo dessa miragem? Quando a mestria reside na alteração dos factos duros e na alteração das percepções, corremos o risco de miopia atroz, de não ver nada. São estes os tempos televisivos que também vivemos. De uma assentada transformamos em benfeitores prevaricadores. Subscrevemos na íntegra a relativização dos aspectos negativos das questões por forma a sermos condescendentes com as nossas próprias distorções. E na hora da morte e reposição na grelha televisiva, lá nos dobraremos em vénias. Na vida teremos de proceder de modo diverso. Esquecer por um instante o perdão, que não pode ser concedido e que nunca poderá ser merecido.