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O governo de Portugal está tão desorientado que já se guia pela boa ou má exposição solar. Faz sentido que apresentem esta novidade em plena época balnear. A maior parte dos portugueses está a banhos com o cu virado para a lua. Resta saber qual o factor UV do IMI. Deve haver aqui uma coordenação com o ministério da saúde. Ou seja, um T3 com varanda e sol a irradiar pela sala, é mais propenso a cancros da pele do que uma vivenda insalubre - isso deve ser levado em conta. E as caves húmidas não contam para atenuar a carga do novo IMI? E se a salinha de estar aquecer no Inverno, porque está exposta a Marte, não merece um desagravo? A conta do aquecimento de certeza que será mais baixa. E as roulottes de campismo viradas a sul? E olhar para o sol com um par de binóculos? António Costa e seus muchachos devem ter apanhado uma insolação das boas. Está tudo louco. Estão doidos. A neo-austeridade ainda nos vai surpreender muito mais.
Pediram um post sobre férias e descanso? Ora aqui têm. Se quiserem podem me chamar de: "o Grinch que roubou as férias". Estamos na recta final de Agosto. Lançam-se os últimos foguetes. É uma loucura, mas depois acaba tudo abruptamente. Por daqui a alguns dias teremos a operação "retorno seguro"- uma festa organizada pela brigada de trânsito para acalmar os ânimos na estrada. E eis que chegam a casa os milhares de portugueses que gozaram uns belos dias de descanso. Ao abrirem a caixa de correio lá estará a 2ª prestação do IMI por pagar, a quota devida para a inscrição na escola dos meninos, e, como se não bastasse, a revisão da viatura que ficou adiada para depois das férias, saiu bem mais cara do que o esperado: a luz de aviso que acendeu no painel de instrumentos (e que foi ignorada vezes sem conta), afinal tinha razão de ser. A bomba de água do motor berrou e lá vão mais uns 200 euros para reparar a coisa. E todos sabemos, quando elas acontecem, geralmente são umas a seguir às outras. O vizinho de cima esqueceu-se de fechar uma torneira e o tecto da cozinha está uma lástima - caiu estuque e tudo. Que chatice, e ainda por cima, à má-fila salgada, diz que não tem culpa e que não paga pelos danos causados. Que desgraça. Mal tiveram tempo para arrumar a toalha e a tralha, e bate à porta o carteiro com uma notificação da Autoridade Tributária que foi aos arquivos e encontrou uma prestação de 2007 que lhe havia escapado ao controlo - com juros acrescidos, claro está. Era a última coisa que precisavam, mas não acaba aqui. O menino, que apanhou um escaldão de primeira, parece ter uma espécie de alergia, um prurido. É melhor levar o Martim ao médico, e, sem querer, dizem que vão ser necessários mais uns exames. Contas feitas: 235 euros no privado. No centro de saúde, sim senhor, mas apenas com marcação para meados de Novembro. Depois temos mais uns impostos e taxas todas sexy que aí vêm. Uma coisa relacionada com direitos de autor ou actor, ainda não sei bem. Mais uns cortes no salário, e a reserva estratégica detida no depósito a prazo foi-se. A família que gozou as férias nunca pensou ter de tocar nos cinco mil euros de conforto que guardou para dias menos solarengos. E afinal andava tudo equivocado. Os dias menos solarengos são estes, como as semanas escuras que se seguem. Parece um pesadelo. Mas é algo bem pior. É como acordar de um sonho de uma noite de verão e viver um pesadelo. Infelizmente, é este o filme em que participará um país inteiro. A ressaca vai ser dura - sol de pouca dura.
Acabei de regressar de Weimar. Foi a primeira vez que estive no leste da Alemanha que havia sido a Alemanha de Leste. Mas a pequena cidade de sessenta mil habitantes há muito que viajou para o resto do mundo. Weimar é famosa por ter sido a casa de Goethe e Schiller, pela república com o mesmo nome que pôs fim ao império, pela hiperinflação que destruiu economias nos anos 20 ou pela escola de pensamento, design e arquitectura que vai pelo nome de Bauhaus. Mas outros ainda houve que rumaram a Weimar como Bach ou Hans Christian Andersen. Deixemos de fora Hitler que ordenou a construção da varanda que ainda hoje o Hotel Elephant dispõe, para que melhor pudesse se dirigir ao povo na praça do mercado onde o edifício da câmara municipal (Rathaus) se acha instalado. Weimar era um dos seus destinos de eleição e a poucos quilómetros da cidade o campo de concentração de Buchenwald foi construído. Visitei esse local atroz para render homenagem a tantos que pereceram de um modo intencionalmente trágico. No dia em que peregrinei a Buchenwald, centenas e centenas de adolescentes alemães desciam de autocarros vindos de todo o país e ao abrigo de uma missão de preservação da memória colectiva. A Alemanha não deixa esquecer as piores páginas da sua história e os jovens fazem parte desse processo. Mas regressemos a Weimar. Como residente em Portugal não pude deixar de comparar o incomensurável, mas há alguns traços comuns entre a Alemanha de Leste e Portugal. Ambos os países viveram sob regimes autoritários, Stasi para uns Pide para outros, Muro de Berlim para uns, movimento condicionado para outros. Em 1974 Portugal inicia o seu processo democrático e em 1989 a Alemanha de Leste é integrada numa democracia com uma economia consolidada, mas não desprovida de desafios importantes. Eu sei que este exercício pode parecer uma simplificação excessiva, mas a pergunta que assolou o meu espírito durante uma semana de estadia em Weimar foi a seguinte: o que terá acontecido a Portugal para que em 40 anos de democracia se tivesse descarrilado de um modo tão grosseiro? E o que fez a Alemanha de Leste para que em 25 anos se tivesse desenvolvido de um modo tão equilibrado. Weimar é um bom exemplo dessa sensatez e sentimos em cada olhar (daqueles com pelo menos 50 anos de idade) o conhecimento da austeridade que viveram - a dureza de uma vida política e socialmente controlada. Weimar não perdeu as estribeiras com a chegada dos ares da mudança. Carrega o peso do nacional-socialismo de um modo temperado e assertivo. Todos os habitantes desta terra sabiam o que se passava em Buchenwald. Cada um escutava o chiar dos comboios de passagem por Weimar, as carruagens pejadas de desgraçados que seguiam para o campo de concentração. Esse fardo ainda está presente nos dias de hoje e por isso há um certo silêncio de semblante, o incómodo com que se lida de um modo discreto. Weimar não ostenta a opulência que caracteriza a Alemanha ocidental. É tranquila no seu estar e confortada pela intensa matriz intelectual e cultural que a identifica. Não há gritaria na rua em dia de vitória no campeonato do mundo de futebol. Não se escutam buzinas de condutores e quando nos cruzamos com um desconhecido, este diz-nos sempre bom dia - de um modo sincero. A vida em Weimar é mais em conta do que em Portugal e não consigo encontrar explicação para que os mesmíssimos artigos custem metade do preço em Weimar. Trouxe lâminas de barbear da cidade de Goethe.
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Os políticos, e os partidos que os fizeram nascer, gostam de pautar as suas actuações por momentos de espectáculo e eventos em que prometem salvar o mundo de injustiças. Basta chegarmos ao fim do lindo mês de Agosto e lá chamam o Toy Carreira (ou como se chama ele), para animar as hostes reunidas numa Albufeira de segunda categoria que vai pelo nome de Quarteira. Depois há aquelas universidades de Verão, outra contradição académica que vai para o bosque discutir a relação entre a cigarra da política e a formiga trabalhadora. E nesta brochura desdobrável não faço distinções ideológicas. No folheto estão lá todos os partidos e sindicatos. Há algo para todos os feitios e gostos. Uns atrasados e outros do avante, quase sempre em Setembro. Por alguma razão que me escapa, quando marcam na agenda os dias de glorificação sectária, usam uma expressão francesa que vai pelo nome de rentrée. Não sei se é para ser mais chique, ou se é para soar a algo importado, mas a verdade é que lá temos nós de gramar essa reentrada, a entremeada que decorre entre um ciclo de governação e o próximo que se avizinha. Geralmente aparecem em palco uns gajos torradas pelo sol, ainda com dor de cotovelo pelo swing que o golfe impõe. Quando penso nessa brilhantina vem-me à memória um Deus, um João de Deus Pinheiro. Mas há tantos outros com a camisa aberta, a dar folga à gola e aos três primeiros botões da camisa, para gáudio de voyeurs de pelugem, decotes. Nesse auge, regado pela festa na praia do Gigi, sobressai a orgia de convicções, a barriga cheia a clamar pela justiça saciada pelo governo a morder os calcanhares da oposição, ou vice-versa. Este ano, ai daquele político que se aventure a achincalhar com o bronze temperado pelo clima ameno de sudoeste. Este ano não haverá rentrée. Neste início de época de veraneantes teremos uma outra sensação que poderemos baptizar de sortie. Decidi agora mesmo que será isso mesmo. Sortie. Uma saída de cena pouco airosa de todos os que se nos impuseram nos últimos tempos. A saída de emergência. É isso que a malta quer. Os que não vão para fora cá dentro, que não arredam pé da sua desgraça. Que todos eles desembarquem em Tânger e nos libertem da espessa neblina. Este Verão vamos inaugurar um período de nojo, içar no mastro os trapos da indignidade para que se lembrem, aquém e além-mar, da angústia de náufragos, dos que ficaram à beira-mar plantados à espera de melhores dias. Da maré de esperança. Engano de Setembro.
Não sei qual o Q.I. de António José Seguro, mas deve rondar um duodécimo daquele pertencente a Einstein. Um declamador desta natureza decididamente não se pode tornar o primeiro-ministro de Portugal. Como é que ele pode bater o pé e dizer que "se há dinheiro, paguem-se os subsídios". Caro Seguro, não há dinheiro, não há professores e definitivamente não existem lideres partidários à altura dos desafios. Entendeu? Népia. Nicles batatoides. Zero. O país está na bancarrota, será que ainda não percebeu? Foi precisamente este tipo de atitude de desleixo, de paga-se e logo se vê que levou o país ao estado em que se encontra. Há mais; "de certeza que esse dinheiro não é para os portugueses fazerem férias de luxo fora de Portugal". Será que o homem nunca foi a um parque de campismo na sua juventude socialista? E ele fala de serviços de processamento dos dinheiros como se fosse um vírus informático a causa do bloqueio (mental). Isto é que é um lindo serviço. No entender deste mestre de ilusões é tudo uma questão administrativa, porque o dinheiro existe mesmo que não se acreditem em bruxas. Poderemos ainda chegar a determinadas conclusões por via indutiva, aplicando uma simples regra de lógica política que Seguro parece ter afinado e co-adoptado. Ora bem, cá vai. Se há trabalho, criem-se empregos. Se há falta de crescimento, tomem-se vitaminas Centrum. Se estão de férias, não são trabalhadores. Se há desculpas, que sejam das boas. Se o país está a viver uma crise, que vá de férias. É notável como um candidato a chefe de um executivo é capaz de meter tanta coisa no mesmo saco de incongruências. Os trabalhadores estão a viver e a passar dificuldades? Vejam lá se estou a entender bem esta afirmação complexada quanto baste. Por um lado os trabalhadores estão a viver e por outro lado estão a passar dificuldades. Ou seja, é possível viver (por exemplo, da parte da manhã) e passar dificuldades da parte da tarde (a seguir ao almoço, depois do café). Quando Passos Coelho declara a sua vontade de se recandidatar em 2015, parece já contar com o apoio de António José Seguro. O rival do Rato ao dizer calinadas deste calibre ajuda Passos Coelho a marcar pontos no placard. Com estas histórias de espiões e agentes duplos que nos chegam todos os dias no correio internacional, chego a pensar que Seguro é uma toupeira, um actor plantado no seu partido para minar as bases de apoio. No meio destes pleonasmos e números absurdos, quem pagará será o cidadão, os Portugueses que nunca terão descanso. Quanto mais férias, de quinta do lago a Domingo.
Scandale bancaire portugais: les vacances à Rio de Dias Loureiro
Por: Philippe Riès | mediapart 03/01/2013
Ancien chef du Département économique de l'Agence France-Presse, puis directeur des bureaux de l'AFP à Tokyo et Bruxelles, Philippe Riès est chroniqueur économique pour Mediapart.fr
Le président de la République portugaise Anibal Cavaco Silva a décidé de déferrer au Tribunal constitutionnel, c'est une de ses prérogatives, certaines dispositions d'un budget 2013 d'austérité aggravée parce qu'il a des «doutes» sur le caractère équilibré des efforts imposés à la population d'un pays qui va entrer dans sa troisième année consécutive de récession, une situation inédite depuis la révolution des oeillets de 1974. Des doutes?
Au moment même où ce chef de l'Etat à la réputation personnelle plus que ternie se livrait à cette manoeuvre parfaitement démagogique, on apprenait qu'une des principales figures du «cavaquisme», Manuel Dias Loureiro, passait les fêtes de fin d'année au Copacabana Palace de Rio de Janeiro, où une simple chambre coûte quelque 600 euros la nuit. Soit d'avantage que le salaire minimum du pays. Voilà qui devrait suffire à lever les «doutes» de l'occupant du palais présidentiel de Belem.
Détenteur de portefeuilles ministériels clefs dans les gouvernements PSD dont Cavaco Silva était le chef, ancien membre du Conseil d'Etat, ce saint des saints de la caste politicienne portugaise, Dias Loureiro, «protégé» de Cavaco, est une figure centrale de ce qui devrait être un énorme scandale européen, une affaire d'Etat, la faillite de la banque BPN. Cette faillite frauduleuse pourrait coûter au contribuable portugais, celui là même qui resserre sa ceinture d'un cran année après année, jusqu'à sept milliards d'euros, soit près d'un dixième de l'aide financière internationale que le pays a du demander en 2011, avec comme contrepartie le programme de remise en ordre des finances publiques surveillé par la «troïka» UE-BCE-FMI.
L'activité principale des dirigeants de cette banque du «bloc central» (les partis de centre gauche et centre droit qui alternent au pouvoir depuis la chute de la dictature salazariste) consistait à accorder, par dizaines ou centaines de millions d'euros, des prêts à leurs amis, familiers, clients...et à eux-mêmes. Dans un reportage remarquable, le journaliste de la télévision SIC Pedro Coelho vient de révéler, par exemple, qu'une entreprise de ciment de la galaxie Dias Loureiro avait reçu du BPN un prêt de 90 millions d'euros. Une autre personnalité du «cavaquisme» comme Duarte Lima, ancien chef du groupe parlementaire PSD, emprisonné à Lisbonne et soupçonné de meurtre par la police brésilienne, a détourné 49 millions d'euros. Cavaco lui-même avait bénéficié, dans des conditions suspectes, d'une attribution à prix cassé par le patron du BPN José Oliveira Costa, un de ses anciens secrétaires d'Etat, d'actions de la SLN, holding de tête de la banque, qu'il a pu revendre avec une plus value de 140%. En bref, le scandale du BPN est très largement celui du «cavaquisme». Et ce personnage a des «doutes» sur l'équité de la politique d'austérité ?
Ces milliards d'euros sont considérés comme définitivement perdus...mais par pour tous le monde. Quand le scandale a éclaté en 2009, la presse portugaise a révélé que Dias Loureiro, administrateur de la SLN, avait soigneusement organisé son insolvabilité personnelle en transférant ses avoirs à des membres de sa famille ou des sociétés offshore. De quoi payer la chambre au Copacabana Palace, sans doute ?
Et au fait, qui donc Dias Loureiro a-t-il retrouvé pour les fêtes dans cet hôtel de rêve, jadis favoris des vedettes de Hollywood ? Nul autre que Miguel Relvas, pilier de l'actuel gouvernement PSD, ami proche et «père Joseph» du Premier ministre Pedro Passos Coelho. Relvas, dont le maintien au gouvernement est en soi un scandale, alors qu'il a été convaincu d'avoir obtenu frauduleusement une licence universitaire afin de pouvoir porter ce titre de «docteur» dont la bourgeoisie d'Etat lusitanienne est si ridiculement friande.
Comme Armando Vara, ami intime de l'ancien Premier ministre «socialiste» José Socrates qui a placé le FMI sous la tutelle de la «troïka», Dias Loureiro et les «cavaquistes» du BPN, sont l'illustration que la politique professionnelle est bien, dans certaines «démocraties» européennes, le chemin le plus sûr vers l'enrichissement personnel rapide d'une classe d'aventuriers. En Grèce, en Irlande, en Espagne, au Portugal. Et en France ?
C'est la première leçon. La seconde, c'est que les graves dysfonctionnements de systèmes judiciaires eux-mêmes gangrénés par la corruption et les réseaux d'influence permettent à de tels individus de jouir en toute impunité de biens mal acquis. Il est à noter que les responsables directs des désastres bancaires à l'origine directe de la crise financière globale ont joui jusqu'ici aux Etats-Unis et en Europe, à de rares exceptions près, d'une impunité civile et pénale absolue.
Enfin, cerise sur le gâteau, la surveillance bancaire confiée désormais dans la zone euro à la Banque centrale européenne, y sera sous la responsabilité du vice-président Vitor Constancio, hiérarque socialiste portugais et gouverneur de la Banque du Portugal, le régulateur bancaire, quand les «cavaquistes» du BPN se livraient à leurs acrobaties nauséabondes. Fermez le ban !
Gabinete do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais
Despacho n.º 15296/2011
Nos termos e ao abrigo do artigo 11.º do Decreto-Lei n.º 262/88, de 23 de Julho, nomeio o mestre João Pedro Martins Santos, do Centro de Estudos Fiscais, para exercer funções de assessoria no meu Gabinete, em regime de comissão de serviço, através do acordo de cedência de interesse público, auferindo como remuneração mensal, pelo serviço de origem, a que lhe é devida em razão da categoria que detém, acrescida de dois mil euros por mês, diferença essa a suportar pelo orçamento do meu Gabinete, com direito à percepção dos subsídios de férias e de Natal.
O presente despacho produz efeitos a partir de 1 de Setembro de 2011.
9 de Setembro de 2011
O Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais,
Paulo de Faria Lince Núncio.
Num ano em que utilizei praticamente todos os meus dias de férias para realizar a dissertação de mestrado e trabalhar no âmbito de projectos em regime de voluntariado, poder ter uma semana de descanso em Ferreira do Zêzere é uma benção. É para lá que parto daqui a umas horas. Sem computador, sem acesso à net a não ser pelo telemóvel. Até já.
Esta semana, em Ferreira do Zêzere. Sem acesso à net. Até já.
Do saco tiro o livro de Camilo « O Senhor do Paço de Ninães » .Começa o escritor por dizer que " Estamos no Minho, o leitor e eu ". Ora eu tinha-o deixado de manhã bem cedo, mas foi fácil a ele voltar, tão fresco estava na retina, e andar " um quilómetro, em vinte minutos, se não ( parei ) algumas vezes a respirar o acre saudável das bouças, e a ver o pulular dos milharais e a ouvir as toadas das seareiras que cantam. ". Não, acho que demorei mais tempo, não só para este cheirar, ver e ouvir, mas também porque o calor de Agosto pedia que molhasse os pés em todos os riachos que fosse encontrando, que muitos são na " légua andada de Vila Nova de Famalicão até Guimarães ".O espírito voou até lá; o corpo, esse, continuava a sentir o sol de fim de tarde.Na região mais longínqua do país. Os dois, espírito e corpo, haviam de se encontrar, quando guardei o livro no saco.
que nos põem um sorriso nos lábios. O sol escoava-se já por entre as árvores, espalhando em redor uma luz entre o laranja e o vermelho. Olho para o lado, onde uma figueira de grandes proporções, carregada de figos, me chama a atenção, e é-me dado ver um quadro que qualquer pintor gostaria de fixar com as tintas da sua paleta: prestes, talvez, a recolher as ovelhas, que comiam a última refeição do dia, um pastor dormitava debaixo da árvore. No seu regaço, pousava o focinho de um cão, também ele de olhos semicerrados.
Furiosa comigo mesma: lembrei-me de que não trazia a máquina fotográfica.
não sem antes banhar os pés em águas " calientes ", e ir saborear um robalo ao Ferragudo. Desperta em mim a memória de um outro sabor, também ele com cheiro a mar: o do robalo da Mariana, em Afife, e nunca a rubrica "...porque de Norte a Sul " fez tanto sentido.
Antes, uma visita, quase de médico, pelo que resta da vila piscatória, com pequenas casas brancas ao longo do Rio Arade,onde não faltavam as pequenas embarcações prontas para se fazerem ao mar, num crescendo que culmina na Igreja da Senhora da Conceição, cujo adro constitui um miradouro privilegiado sobre toda a região circundante..Só faltava mesmo uma luz acolhedora, que fomos encontrar nos belíssimos candeeiros de ferro forjado.
Claro que fora deste núcleo original uma nova Ferragudo vai surgindo, nem sempre assim pitoresca...
que faz a apologia do viver entre a natureza; benefícios que bem conheço, e de que falo sempre que vêm a talho de foice, pelo que não vale a pena fazer chover mais no molhado.
O que desde logo me chamou a atençâo foi o título do artigo: " Recarregar a alma "; porque foi esta a expressão que, num postal enviado de Margão, há alguns anos já, um amigo escreveu para dar conta do que sentira quando, em férias, e vindo de outra parte da índia, aterrou em Goa. Logo ali sentira a que, depois, já em Portugal, me explicou ser " a marca de Portugal ".
Para sempre indelével.
do clima Algarvio, entre amigos, apetecia-me mesmo era, « Pela Noite Dentro », ouvir, bem alto, uma ópera bem cantada; « La Boheme », talvez.
Pensando bem, só uma algumas árias; « Che Gelida Manina », sem dúvida. Mas o meu velho portátil não deixa. Fazer o quê? Voltar para a varanda, sentir a pequena brisa que entretanto se levantou, sentar-me no meio do silêncio, que só permite o som de uma rela com insónia, e viajar até ao Scala, onde, por certo, terei à espera um Rudolfo que se empenha em aquecer a mão gelada de uma Mimi, frágil, frágil ( mão fria, coração quente, diz-se ).
Vai ser uma experiência única, embora corra o risco de gelar também, esquecida do frio da madrugada.
quando de lá saímos, já a maré estava bem baixa, e o sol quase tocava no mar. Tempo bom, a convidar esticássemos a tarde, não fossem compromissos previamente acertados a mandarem-nos apressar.
Compromissos para os quais um sobrinho, com engenho e arte, conseguiu um adiamento: uma festa depois do pôr-do-sol na praia, essa sim inadiável.
Por aquela hora ouviam-se já acordes de violas.
E, sem associação aparente, o lembrar aquela tarde em Stonehenge, em que,de relance só, pois que ia com hora marcada para encontrar pontuais londrinos, eu que pontual gosto de ser também, vi os preparativos para uma festa assim. Num pôr-do-sol em Agosto assim.
O ideal seria ir de manhãzinha, bem cedo, e voltar quando aparecesse a primeira avalanche de banhistas, assim como fazia quando, mesmo em férias, me deitava cedo, antes de me viciar nisto da « Pela Noite Dentro » blogosférica, e, por isso, acordava cedo também.
Agora, e como melhor alternativa, vou só depois das quatro / cinco horas. Volto já com a praia quase despovoada, mas com o sol ainda a aquecer o corpo. Hora boa para lá estar; e, a julgar pelo tempo que faz agora, não longe do mar que estamos, poderia continuar por lá, e de lá olhar o céu, cheio de estrelas que está. Talvez precisasse, apenas, de uma blusa de mangas compridas.
daquela que todos conhecemos cmo a Princesa do Gilão.
Depois de um reconhecimento da cidade, suficiente para mais, ainda, aguçar o apetite, nascido há já tempos, mas sempre adiado na sua concretização, para nela pousar uns dias, que antecipo de delícias feitos, é frente ao rio que, depois de por ali passar, vai desaguar lá na Ria Formosa, me detenho, numa das hospitaleiras esplanadas, uma boa meia hora.
Mas está quase na hora do jantar, previamente marcado num restaurante de Faro,pelo que há que dizer: até daqui a pouco tempo - espero!- Tavira.
Lá nos espera, com uma cerveja bem gelada, um Xerém de conquilhas, que nunca comera, mas de que fico cliente incondicional. No fim, um pudim flan p'ra ninguém botar defeito
Quando saimos para a rua, uma noite de sonho, com o clima que qualquer um pede a Deus, uma música de Pedro Ayres de Magalhães, Rodrigo Leão, entre outros, enriquecida pela voz de Teresa Salgueiro, leva-nos até à Feira do Livro, onde adquiro alguns livros considerados indispensáveis.
Impõe-se depois uma visita à zona mais alta da cidade - ao Centro Histórico, iluminado com uma linda cor amarela que se solta dos bonitos candeeiros, deixando ver monumentos e casas dignas da capital de uma Região que tem sido para mim uma caixinha de surpresas.
A noite continua cálida e ninguém arreda pé. Ninguém, a não ser os que, como nós, têm vários quilómetros para rolar até chegar a casa...
Pelo caminho penso que este foi um dia de férias muito cheio de coisas boas.