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Uma tragédia, como escreveu Chesterton, deve ser encarada com humor. Na mesma linha, acrescento que os azares devem ser colocados em perspectiva, ironizados e relativizados. Mas às vezes penso que gostaria muito de ter fé. Pelo menos sempre suportava melhor certos azares e o absurdo da existência humana no superficial mundo moderno, onde a democracia tende a nivelar tudo por baixo - e não só na esfera política, mas em toda a sociedade - e o nepotismo, o amiguismo e a corrupção são o pão nosso de cada dia. Ou por outras palavras, amar o meu país e vê-lo dominado por F. da P. e medíocres cansa - e é pior ainda quando tenho que calar as f. da p. a que sou sujeito. "Mantém a calma, Samuel, mantém a calma", dizem-me uns amigos. "Fica caladinho, não te prejudiques", dizem outros. Vivemos no país do temor reverencial pelos trapaceiros, um país em que qualquer badameco com um fato e gravata exige ser tratado por "Sôtor", e se tiver uns títulos para brandir, é logo uma autoridade, mesmo que na verdade seja uma fraude que em livre concorrência rapidamente seria destronado por quem verdadeiramente tem valor e não meras presunções de estatuto. Mas isto é uma ilusão. Os F. da P. são muitos e protegem-se uns aos outros, escorraçando aqueles que lhes podem fazer sombra. Como escreveu Sttau Monteiro, vivemos «numa terra onde se cortam as árvores para que não façam sombra aos arbustos.» Manuel Maria Tolentino explica isto de forma mais clara: «O F. da P, ao adquirir poder político, económico ou cultural, transforma-se, invariavelmente, num grande F. da P.»