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Anda todo o país a discutir peanuts. José Sócrates está contente. Conseguiu pôr toda a gente a falar de uns trocos, mais uma vez colocando na linha da frente um dos seus séquitos, a Ministra Alçada - que ainda consegue ser mais disparatada que a sua antecessora. E usando a velhinha e demagoga oposição moral entre "público" e "privado", que em grande parte nos tem trazido neste caminho para a servidão, conseguiu ainda dar uma nova causa aos seus apoiantes, que andavam muito calados por Cavaco ter ganho as Presidenciais, reforçando a coesão entre estes. Entretanto o país vai-se afundando. Gostamos mesmo do acessório e de ser enganados. Temos o PM que merecemos.
Quem escute o termo, de imediato pensará num preconceito dirigido aos menos bafejados pela fortuna e de facto, os bem instalados assim designavam uma mole informe de gente, onde se amontoavam os pobres, os malcriados, os violentos desordeiros e um ou outro desgraçado contra quem se alimentava um ódiozinho de estimação.
A palavra caiu em desuso, pois os novos tempos apontavam-na como labéu dirigido aos acima citados, muito bem limpando-os de uma injusta infâmia que provinha antes de tudo, da carência material dos visados. O aburguesamento desejável e de elementar justiça, parecia ter remetido a "escumalha", para aquele rol de expressões caducas e tão raras como retrosaria, escalfeta ou sanefa.
Uma injustiça, este desterro da "escumalha". Ela existe como "classe" e bem ao contrário daquilo que se pretendia, aí está, invadindo os nossos dias com a insofismável força do seu poder de adaptação às situações que se lhe apresentem, para eternamente vingar.
Vem isto, a propósito do que está a acontecer no Reino vizinho.
Em Espanha, os últimos trinta anos testemunharam um período de visível renascimento de uma certa ideia de grandeza. Uma transição pacífica, a concessão de autonomia regional no seguimento da velha tradição interrompida quando no século XVIII Filipe V aboliu os antigos fueros, o ímpeto modernizador da economia e mais importante ainda, um ordenamento constitucional que permite a existência de um invejável modelo parlamentar. Em termos comparativos, aquilo que para a República Portuguesa significa o claro insucesso no seu edifício estatal, em Espanha isso quer dizer precisamente o oposto que se plasmou num êxito reconhecido em todo o mundo. De facto e apesar da crise, o Reino de Espanha está a viver os seus melhores dias desde os tempos do iluminado rei Carlos III. O monarca indicado pelo general Francisco Franco, apenas surpreendeu quem não consegue perceber o que está subjacente à própria ideia da Monarquia, aliás décadas antes imaginada pelo Conde de Barcelona, presuntivo sucessor do deposto Afonso XIII. João Carlos I foi exemplar na sageza das decisões tomadas durante o período de transição e ao casal real - a rainha Sofia é por si, uma verdadeira força - se deve em grande parte, a solidez de uma democracia de longe mais completa, que aquela que em Portugal insiste em permanecer atolada num imenso lodaçal de misérias várias. A simples constatação da duração dos mandatos governamentais num e noutro país, dispensa qualquer considerando supérfluo.
Em 1982, uma estranha conspiração tentou derrubar o novel regime e o papel do monarca revelou-se decisivo, granjeando-lhe a simpatia planetária. O desenvolvimento económico e as autonomias, normalizaram o país em termos institucionais, garantindo o progresso material e satisfazendo muitas das aspirações dos diversos grupos que compõem o Estado. Os chamados republicanos, ínfima minoria ridicularizada em cartoons e gags humorísticos nas variedades televisivas e anedotas de um público sempre en fiesta, viu diminuindo ano após ano, o número daqueles que saudosistas da quimera, nela insistiam. Carrillo da República se afastou e o mesmo se passou com o PSOE, onde nos seus comícios a roja y gualda ondeia de forma tão entusiástica, tal como a tricolor se expõe no Arco de Triunfo da Étoile. A Monarquia existe, porque representa a Espanha. De facto, a Monarquia é a Espanha que ainda surge em todos os mapas.
Assistindo ao debate de ontem à noite, que passa a esta hora na RTP2, com vários deputados, noto que o jugular João Galamba usa um piercing numa orelha. Quando é que se tornou normal esta falta de sentido estético, inadequada às instituições estatais que gozam de um protocolo de indumentária tradicional, ainda que tácito? Não é por nada, mas retira-lhe logo qualquer seriedade que queira ter.