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Capitães de Março

por John Wolf, em 23.02.24

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Foram os capitães de abril que tornaram possível a revolução de 1974. O seu descontentamento em relação ao "processo colonial" terá sido uma das razões que energizou reinvindicações mais profundas, nomeadamente o fim do Antigo Regime e a transição para um regime democrático em Portugal. Em poucas palavras, certamente insuficientes, resume-se a isto. Volvidos 50 anos, escutamos rumores de que os militares iniciarão ações de protesto após as eleições de 10 de março. Existem elementos de analogia política, económica e social que possam equiparar 1974 a 2024? Sim e não. Por um lado, a deteriorização das condições de vida dos portugueses é um factor a ter em conta — o povo não se encontra bem. De que servem todas as liberdades se as garantias no acesso à habitação e a cuidados de saúde são severamente postas em causa? Por outro lado, Portugal já não é um império colonial, mas foi colonizado. Primeiro pelas políticas definidas em Bruxelas e ainda pela febre alta do turismo que aprimorou Portugal para bem receber os estrangeiros endinheirados, deixando na sarjeta os cidadãos nacionais. No meio de este turbilhão de desavenças e desalinhamentos na capacidade de definir uma estratégia de progresso para Portugal, os militares também foram deixados na beira da estrada. Existe assim um elemento simbólico poderoso que emana da intenção dos militares, o protesto, a manifestação pensada para suceder às eleições de 10 de março. A caminho das comemorações de meio século sobre o 25 de abril de 1974, a voz dos militares não pode ser ignorada. Foram os militares de 1974 que interpretaram holisticamente o fenómeno do descalabro societário. Foram os militares que corporizaram a mudança de regime político. Foram os militares que sintetizaram e expressaram o mal estar de professores, de agricultores e de todos os trabalhadores de Portugal. As revoluções não vêm contempladas em constituições ou regulamentos, mas podem eclodir quando certos limites existenciais são postos em causa. Para bem e para mal, a reflexão que se exige em relação aos últimos cinquenta anos e às escolhas deliberadas de políticos deve ser realizada sem constrangimentos ideológicos ou sentidos de revanchismo. É uma questão de sanidade política e de visão prospectiva para um país. Capitães não há muitos, mas também podem ser de março.

publicado às 19:12

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A TVI/CNN quer ajudar o Pedro Nuno Santos, e as emoções são um potente catalisador quando a razão e a inteligência são insuficientes. As lágrimas vertidas em directo são genuínas. Não foram provocadas pela cebola do medo associado à extrema-direita. São pingos da mercearia local. Confecionadas com recurso a aditivos mediáticos cedidos a título de empréstimo pela estação de televisão. Quando a cabeça não tem o juízo suficiente, há que sacar da manga truques para cativar os mais vulneráveis — eleitores e espectadores, e espectadores-eleitores. Pedro Nuno Santos, mais um produto da casa socialista, sabe quão poderoso pode ser o apelo à flor da pele da irracionalidade primária. Ainda faltam mais de duas semanas até ao período de nojo da campanha. Não havendo mais debates ao cronómetro, este é o momento para dar largas à choradeira. Quando desmoronam os putativos edifícios políticos, por assentarem em  frágeis pilares de argumentação, nada melhor do que apelar aos instintos animais, ao espírito selvagem, o mesmo devaneio que alimenta a corrupção ("não vim para a política para enriquecer"). Porque sim; trata-se de uma corruptela de alguidar dos princípios essenciais que devem nortear a intelectualidade política — a força de axiomas racionais que sirvam para sustentar indivíduos, comunidades e sociedades. As lágrimas salgadas que escorrem pelo desnível facial de Pedro Nuno Santos desaguam no farto pasto da pilosidade onde tudo se mistura no engano. E são corrimentos incomparáveis ao verdadeiro luto dos portugueses, aqueles sem médico de família ou casa onde morar. Quando um pretenso gerente chora, quebra o contrato social, readmite o principe e sugere as mesmas lágrimas esguichadas por tantos lideres questionáveis ao longo da história — para défice de indivíduos e nações inteiras. As lágrimas confirmam a falência ética e moral da política. Estar mais longe de estadista e mais perto do estúdio da TVI não é possível.

publicado às 13:13

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Após um interregno de quase seis anos, por razões de ordem académica, tenho alguma dificuldade em reintroduzir-me neste ambiente e redigir um texto digno deste blog. Paradoxalmente, estive ocupado durante este tempo todo com a redação e a entrega da minha tese de doutoramento que espero poder defender em breve. Ou seja, fartei-me de escrever e não menos pesquisar. Mas isso não me habilita particularmente para a tarefa do escrutínio analítico do estado da arte do comentário político em Portugal. As campanhas seguem a todo o gás e os comentadores da praça (com rarissímas exceções) não são mais do que filiais falantes dos partidos de sua eleição. Ou seja, perderam, se é que alguma tiveram, a equidistância analítica objectiva que se exige na e da ciência do comentário político. De um modo despudorado inclinam os pratos da balança, servem-se de figuras de distorção ou simplesmente deixam-se guiar pelas emoções da ideologia desenfreada que os cega. O apelo às emoções que afirmam representar um perigo para a democracia são precisamente as mesmas que já os contaminaram. Se a democracia corre sérios riscos, o comentário político não. O comentariado político já caiu no marasmo que dá azo à perda da credibilidade, que apunhala a objectividade e destrói a possibilidade do contraditório. A espécie de ultra-ortodoxia de género ideológico que destilam não tolera o contraditório e aniquila a possibilidade de estabelecer pontes e consensos. Mas os comentadores não têm culpa. Foram doutrinados pelos gurus que seguem na bruma que tolda o pensamento e a reflexão. Resta saber quais são as contrapartidas esperadas ou os favores que ainda são devidos. Tenham medo, muito medo. O extremismo do comentário político já se encontra entre nós. Está vivo e é pouco recomendável. Não sei o que é preferível: comentário político que não é comentário político, ou silêncio total.

 

publicado às 17:20

A falência técnica do PS

por John Wolf, em 03.01.18

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Sempre apreciei sátiras, mas sou mais fã de ironias do destino. Para esta rábula sirvo-me do falido Partido Socialista (PS), porque este assume-se como lider da pandilha, mas a ilustração pode servir de template para qualquer partido político. Pensavam eles que enquanto o português enchia o bucho com rabanadas faziam passar a Lei do Financiamento dos Partidos. Nada de mais errado. Venham de lá mais hérnias para endireitar as costas dos políticos. Bravo Marcelo. Mas adiante. Vamos ao Largo do Rato. Face à falência do PS, vejo alguns caminhos de salvação. Começemos pela austeridade doméstica; o corte nas despesas e mordomias dos dirigentes socialistas; o acesso a empréstimos bancários mediante a concessão de garantias imobiliárias; a angariação de receitas próprias, designadamente a transformação da sede do Rato em alojamento local com direito a tour político e a oferta de um brinde de campanha. Enfim, é absolutamente deplorável que os partidos estejam nesta situação. Para todos os efeitos, a Geringonça é como uma Troika, e eu esperava mais solidariedade e racionalidade na gestão de meios. O Partido Comunista Português, o grande capitalista imobiliário do panorama partidário, poderia, se fosse mesmo marxista, ceder um edifício ao PS ou conceder um empréstimo com juros bonificados aos seus camaradas de governação. Pensava eu que o Mário Centeno poderia ser um belo patrão das contas internas do PS, mas arranjaram mesmo um Patrão, um tal de Luís Patrão. Tecnicamente falido - dizem eles - uma expressão simpática. Faz lembrar a técnica da força ou a força da técnica. Não interessa. Estão falidos. Venha de lá uma execução fiscal, o arresto de bens, o congelamento de contas - aquilo a que está sujeito o zé ninguém, o cidadão anónimo, filiado na ilusão do fim da Austeridade, a fraude vendida por essa mesma casa arruinada. Marcelo devia aproveitar a deixa e propor a elaboração de uma Lei da Falência Técnica dos Partidos. Chega de perdões. Para magoar, tem de doer a todos. A ironia do destino é a Austeridade que o PS vai ter de administrar a si mesmo. Talvez seja boa ideia pedirem ajuda ao Passos Coelho, que sabe como se faz.

publicado às 11:05

Jantar de beneficência do PS

por John Wolf, em 02.09.16

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O Partido Socialista (PS), falido que está, mas adepto do comunitarismo, deveria realizar um time-sharing com o Bloco de Esquerda (BE) e o Partido Comunista Português (PCP). Se não conseguem pagar a conta da água e luz, deveriam pedir ajuda aos camaradas do seu governo. Deve haver uma salinha livre na Avenida da Liberdade ou uma cave disponível na Almirante Reis (aliás Rua da Palma) para os amigos do Largo do Rato. Seria um verdadeiro exemplo de socialismo partilharem os equipamentos. Ou, em alternativa, sem mudar de casa e abandonar os hábitos, proponho um leilão de históricos do partido. Ou um sorteio para um jantar com Sócrates. Ou uma rifa de uma anuidade para dois meninos no Colégio Moderno. Ou vender em hasta pública antiguidades de Almeida Santos que foi um ávido coleccionador de velharias. Enfim, existe um conjunto de soluções tangíveis que o PS pode adoptar. Mas sabemos muito bem quem irá pagar os devaneios daquela casa desgovernada. Serão os portugueses. Venha de lá essa feijoada, esse jantar de beneficência.

publicado às 14:12

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Se o terramoto do Banco Espírito Santo serviu de mula de carga para todos os fretes político-partidários, o descalabro do Banif, por analogia, também irá servir para embrulhar muita matéria pendente. Para já referem a possibilidade de reciclagem dos CoCos (sim, cocós - dívida convertível) em capital, mas deve haver mais dejectos na calha para arremessar. Será que alguém vai ter a cabeça a prémio por uma caução milionária? António Costa - o nacionalizador por excelência -, vai ter de TAPizar esta bela prenda. Ou seja, tornar-se adepto da solução privada alicerçada no negócio puro e duro. As convicções partidário-monetaristas devem seguir sem mais nem menos pelo cano. Ou então paga o Estado. Ou então o governo salva o banco. Ou então, ou então, ou então. Daqui a nada teremos um Banido Mau e um Banif Bom, porque ideias faltam à congénere socialista. Devem imitar o guião. Embora os socialistas tenham preconizado a mudança do fuso horário político, em abono da verdade, estão a seguir as receitas do governo anterior. Mas o Jerónimo de Sousa está á coca e já avisou que se snifarem em excesso as linhas grossas do neo-liberalismo e do capitalismo porco, as luzes de Natal serão apagadas. Este banifado tem pano para mangas para ser cantado no ano que vem por tordos primaveris.

publicado às 10:40

Tsipras vai para casa com pulseira

por John Wolf, em 13.07.15

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Tsipras não serviu o seu povo. Tsipras não vingou a ideologia. Tsipras não pode ser considerado um herói da Esquerda. Após 6 meses de desgaste, alegadamente conducente à libertação da Grécia, Tsipras regressa a casa com um pacote de Austeridade ainda mais exigente. A teoria dos jogos de Varoufakis não funcionou. Foi uma roleta sem russos. Mas isto é apenas um lado da história. Do outro lado do balcão assistimos a uma Europa vergada pela política de cosmética, do Euro a qualquer preço, da União a qualquer custo. Daqui por 3 meses regressaremos ao mesmo confronto de inoperâncias, a igual défice de confiança e à uber-falência da Grécia. A capitulação grega é completa e deve ser considerada humilhante por aquele país. Veremos como o parlamento se irá orientar. Veremos como reagirá um povo traído em Referendo. Fui e sou adepto da ideia de ruptura, do reset de um país, da reconstrução da efectiva soberania, do regresso ao Drachma. A União Europeia acaba de adiar a inevitabilidade da falência que não pertence apenas aos gregos. O resgate, assim como outras modalidades de ajuda, não passa de uma pulseira que acorrenta não apenas o futuro dos helenos, mas de todo um continente.

publicado às 12:12

A vitória dos neo-liberais gregos

por John Wolf, em 23.06.15

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O governo de Tsipras, em nome da Grécia e do seu povo, não pode cantar vitória. A conclusão de um acordo com os credores não passa de um adiamento de uma falência inevitável. Por outras palavras, trata-se apenas de  política assente no oportunismo e na vantagem limitada. Quanto custarão seis meses de alívio e a falsa sensação de segurança económica e financeira? O futuro dirá de um modo avassalador. O fôlego ganho pela Esquerda vai depender de uma botija fornecida pelo sistema financeiro que tanto foi atacado. Serão os neo-liberais e todas as instituições que gravitam em torno de um sistema financeiro hiperbolizado que terão o domínio da situação e da submissão dissimulada por aparentes sucessos. A política é uma fonte inesgotável de ironias. Serão as instituições financeiras capitalistas assentes na usura e na exploração que irão lançar uma linha de vida aos gregos. Os helenos não seguem o caminho da autonomia política e económica. Acorrentam-se ainda mais aos credores que tanto quiseram sacudir. A falsa dictomia lançada entre a alegada Esquerda e a Direita não passa disso mesmo. Um espectáculo cinicamente apaziguador de ânimos exaltados, diálogos sem expressão genuína, a prospectiva alteração de paradigma adiada até ao próximo pânico. A Europa será fiel a si. A União Europeia enverga a camisola amarela, distribui prémios aos perdedores e reclama para si o estatuto de entidade civilizadora. Os especuladores por esse mundo fora agradecem as benesses dadas pelos políticos. As bolsas disparam, os títulos valorizam, e existe dinheiro sério à mercê do peixe graúdo. Amanhã espero que aqueles que se encontram na fila apresentem também as suas senhas e listas de exigências. Espanha, Itália e Portugal podem ir ensaiando as linhas teimosas de argumentação hegeliana, para atingir a kantiga da paz perpétua que a Grécia afirma alcançar. Deus tende piedade de nós. A tempestade vai ser violenta.

publicado às 10:34

Sócrates e os amigos de ocasião

por John Wolf, em 12.12.14

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O Partido Socialista vai pagar um preço ainda mais elevado pela sua delinquência ética - os amigos não são para todas as ocasiões. Parece que para os lados do Rato a amizade tem outro significado. Já ouvimos vezes sem conta aquelas balelas sobre a separação de águas, a destrinça entre a relação pessoal, de amizade e o que ocorre na vida política, pública. No entanto, as coisas não são assim. Um amigo meu que tenha prevaricado ou cometido uma ilegalidade continuará a merecer o meu respeito se for lesto a admitir a sua culpa e a procurar corrigir os desvios praticados. Já sei o que vão dizer alguns correlegionários: presunção de inocência, inocente até prova em contrário - mais treta menos treta. Das duas uma; ou os amigos aceitam a decadência ética e moral do companheiro (e equiparam-se ao mesmo, são iguais), ou definem claramente no seu espírito uma linha de demarcação. Há ainda uma extensa lista de amigos que irá fazer-se à estrada em direcção a Évora nesta época de Natal das prisões. Nos dias que correm parece haver uma grande falta de espinhas, de colunas verticais - homens capazes de escolher o caminho da correcção, do respeito por valores maiores. Quando a bola começar a rolar com maior intensidade, quero ver como vão descalçar a bota. Afinal não era amigo. Era um mero conhecido. Desculpe, conheço-o de algum lado?

publicado às 14:13

O Grinch que roubou o Verão

por John Wolf, em 23.08.14

Pediram um post sobre férias e descanso? Ora aqui têm. Se quiserem podem me chamar de: "o Grinch que roubou as férias". Estamos na recta final de Agosto. Lançam-se os últimos foguetes. É uma loucura, mas depois acaba tudo abruptamente. Por daqui a alguns dias teremos a operação "retorno seguro"- uma festa organizada pela brigada de trânsito para acalmar os ânimos na estrada. E eis que chegam a casa os milhares de portugueses que gozaram uns belos dias de descanso. Ao abrirem a caixa de correio lá estará a 2ª prestação do IMI por pagar, a quota devida para a inscrição na escola dos meninos, e, como se não bastasse, a revisão da viatura que ficou adiada para depois das férias, saiu bem mais cara do que o esperado: a luz de aviso que acendeu no painel de instrumentos (e que foi ignorada vezes sem conta), afinal tinha razão de ser. A bomba de água do motor berrou e lá vão mais uns 200 euros para reparar a coisa. E todos sabemos, quando elas acontecem, geralmente são umas a seguir às outras. O vizinho de cima esqueceu-se de fechar uma torneira e o tecto da cozinha está uma lástima - caiu estuque e tudo. Que chatice, e ainda por cima, à má-fila salgada, diz que não tem culpa e que não paga pelos danos causados. Que desgraça. Mal tiveram tempo para arrumar a toalha e a tralha, e bate à porta o carteiro com uma notificação da Autoridade Tributária que foi aos arquivos e encontrou uma prestação de 2007 que lhe havia escapado ao controlo - com juros acrescidos, claro está. Era a última coisa que precisavam, mas não acaba aqui. O menino, que apanhou um escaldão de primeira, parece ter uma espécie de alergia, um prurido. É melhor levar o Martim ao médico, e, sem querer, dizem que vão ser necessários mais uns exames. Contas feitas: 235 euros no privado. No centro de saúde, sim senhor, mas apenas com marcação para meados de Novembro. Depois temos mais uns impostos e taxas todas sexy que aí vêm. Uma coisa relacionada com direitos de autor ou actor, ainda não sei bem. Mais uns cortes no salário, e a reserva estratégica detida no depósito a prazo foi-se. A família que gozou as férias nunca pensou ter de tocar nos cinco mil euros de conforto que guardou para dias menos solarengos. E afinal andava tudo equivocado. Os dias menos solarengos são estes, como as semanas escuras que se seguem. Parece um pesadelo. Mas é algo bem pior. É como acordar de um sonho de uma noite de verão e viver um pesadelo. Infelizmente, é este o filme em que participará um país inteiro. A ressaca vai ser dura - sol de pouca dura.

publicado às 15:28

Os cavalos da Cinemateca

por John Wolf, em 05.09.13

Como tantas outras instituições deste país desgovernado, a Cinemateca também faz parte da idiossincrasia nacional de falências e reis na barriga. A instituição que se encontra com a corda no pescoço tem a obrigação de analisar os fundamentos da sua demise. Muitas das razões que explicam a aflição destes poisos de intelectualidade são endémicas, fazem parte da casa, dos seus modos e do costume enraízado na cultura portuguesa que determina que estas instituições devem ser dirigidas por pensadores e letrados que não percebem patavina de gestão das artes, e que por essa razão se fecham em copas. Vem a propósito este post porque em 2007 estabeleci uma ligação fugaz e infrutífera com a Cinemateca e pude confirmar a sua fraca receptividade a parcerias e novas abordagens. Na qualidade de membro da direcção da Sociedade Hípica Portuguesa, entrei em contacto com Bénard da Costa no sentido de se organizar um ciclo (ia dizer festival, mas eles não gostam do termo, faz lembrar feira) dedicado ao tema "o cavalo e o cinema". Na minha proposta enviada por e-mail concedia toda a superioridade à pessoa de João Bénard da Costa. Seria a Cinemateca a única instituição capaz de definir um conceito profundo alusivo a essa relação especial entre o cinema e o equino. Aliás, o cinema - a captação do movimento -, quase que nasce com o cavalo. Desde a infância do cinema o cavalo tem sido uma constante na malha de narrativas, dramas e comédias. Francis Ford Coppola produziu esse filme estético que serve de referência ao simbolismo clássico vertido para os tempos modernos, para uma nova linguagem - "o Cavalo Negro". Enfim, poderia discorrer sobre outros diaporamos que envolvem Bucéfalo, Alexandre o Grande, My Friend Flicka ou o lendário Secretariat, mas penso que já perceberam a riqueza da minha proposta temática. Refiro-me também a épicos literários que antecedem em muitos casos o próprio advento do cinema, e, nessa medida, o projecto seria uma síntese de distintas disciplinas. O ciclo de cinema que propunha aconteceria nos campos do Jockey Clube, no Campo Grande, ao ar livre com o amparo de um anfiteatro, uma bela bancada a lembrar a Belle Époque. Os filmes seriam sempre antecedidos por uma curta exposição sobre as implicações estéticas ou culturais do visionamento, e seguidos por um período de debate aberto ao público. O casamento entre as duas modalidades não poderia ser mais perfeito. A Sociedade Hípica Portuguesa também tem a sua história de glória e lendas (medalhas olímpicas entre outras) e conta com mais de 100 anos de existência, e foi sempre receptiva a tantas iniciativas excêntricas. No entanto, e apesar do meu entusiasmo, a resposta não tardou em chegar. Bénard da Costa foi categórico:"não cedemos material a terceiros". Para meu espanto, sempre o havia tido como um homem de cultura, capaz de se aventurar em novos ângulos de apreciação de um mesmo espólio de natureza eminentemente dinâmica. Mas não foi esse o caso. A resposta foi intencionalmente concebida para afastar, de uma vez e por todas, quaisquer incursões que pudessem colidir com a missão conservadora da Cinemateca, ou melhor, a sua mentalidade conservadora. Este episódio, sem grande utilidade, serve apenas para demonstrar que uma nova atitude (cultura) deve ser desenvolvida para tirar as elites do atavismo que as define, da sobranceria que não serve o interesse cultural nacional. Tenho imensa pena que não se tenha feito lumiere na cabeça do então director da casa magnânima do cinema. Perdemos todos; os leigos, o cinema e os cavalos.

publicado às 11:01

Sintomas da débâcle (2)

por João Pinto Bastos, em 12.06.13

1) A trajectória de subida das obrigações do Tesouro português voltou à carga. A responsabilidade deve ser repartida, mas há nestes dados periclitantes um sinal claro, por parte dos investidores internacionais, de que o clima de bonança propagado pela bazooka do BCE está a terminar. Os desentendimentos no seio da troika, a relutância alemã em aprofundar a união bancária, e a derrapagem económica dos países de "programa" ajudarão, também, à consecução definitiva do desastre anunciado.

 

2) Dilma e Passos reafirmam o aborto acordográfico para 2015. E a sociedade civil portuguesa? Ficará impávida e serena a assistir à destruição da língua a golpes decretistas de gente que não sabe ler nem escrever? Sim, o problema é mesmo esse. Este aborto político só avança porque 1) somos governados por pechisbeques iletrados, 2) a cidadania (?) é um amontoado de indivíduos anestesiados pelo próximo episódio do Big Brother Vip. Como é bom de ver a problemática da língua é um assunto alienígena para esta gente. É penoso observar o soçobrar lento e inexorável do país.

 

3) O 10 de Junho, na sua imensa profusão de inanidades, é o retrato fiel do ocaso desta III República. Uma data que, no fundo, concita o que de pior há no palavrório regimental. Muita empáfia e pouca lisura. Longe vão os tempos em que uma data deste calibre recebia discursos de um Jorge de Sena. Outros tempos, de facto. É, pois, difícil augurar o que quer que seja de um país governado por gente deste jaez. Nunca como hoje foi tão verdadeira a asserção de Rodrigo da Fonseca de que viver entre brutos é muito triste. Portugal é assim. 

publicado às 00:37

As boutades dos alienados

por João Pinto Bastos, em 29.11.12

Das duas, uma. Ou João Proença vive num mundo à parte, ou, o que é bem pior, é intelectualmente desonesto. Creio que a segunda opção é a mais acertada. Afirmar, com toda a fleuma deste mundo, que a UGT desaprova a utilização do fundo de estabilização financeira da Segurança Social como garantia para empréstimos do Estado é decididamente o último grito do anedotário político. Resta perguntar, assim como que à maneira de Baptista Bastos, onde estava João Proença quando o Governo do exilado parisiense dissipou os recursos desse mesmo fundo na garantia de empréstimos do Estado?

publicado às 20:21

Doce negação ou a ignorância que nos tolhe

por Samuel de Paiva Pires, em 19.04.10

 

Fuga para a frente, negação e muita paródia enquanto caminhamos para o abismo de uma decadência anunciada. Eu faço o mesmo, ultimamente, dado o pouquíssimo tempo livre. Raramente vejo notícias ou blogs, limito-me a trabalhar e a ir às aulas do mestrado, que sendo ao fim do dia de trabalho me deixam com pouca paciência para escrever aqui ao chegar a casa, quando ainda tenho que cozinhar,  arrumar e preparar tudo para o dia seguinte, entre as leituras, trabalhos e afins. Qualquer um sabe que se nos abstrairmos do que se passa à nossa volta em termos de notícias, a vida é muito mais tranquila, até porque assim não passamos pelo quase doloroso processo de selecção e destrinça do que é verdadeiro do que não é, considerando-se os vários alinhamentos ideológicos e programáticos dos órgãos de comunicação social e sabendo-se que estes, mais do que informar, enformam e conformam a percepção dos indivíduos em sociedades democráticas avançadas onde a informação prolifera avidamente - não estou a tecer um juízo de valor, apenas e só a constatar um facto, já que é apenas normal que assim seja nos regimes demo-liberais.

 

Ademais, eu posso fazê-lo porque me concentro naquilo que são os meus principais afazeres, quer em termos de produtividade para o país, com o modesto contributo que dou enquanto trabalhador, quer em termos de produção intelectual e aprendizagem ao nível académico. Não advém daí qualquer mal ao país ou à nação. Fico exasperado é quando a maioria dos governantes, responsáveis partidários e detentores de cargos públicos de relevo se deixam embalar na doce cantilena do "no pasa nada", deixando o fechar da porta para quem vier a seguir, característica assaz definidora do carácter português, demonstrativa da falta de sentido de Estado de quem nos vem (des)governando.

 

Contudo, há notícias alegadamente catastróficas que são "não-notícias" e que já há muito vêm sendo adivinhadas por alguns, mais atentos e realmente preocupados com a situação do mundo mas, especialmente, com a situação do país. Não é preciso um Joseph Stiglitz ou um Simon Johnson para nos alertar para aquilo que a maior parte dos intelectualmente honestos e verdadeiramente preocupados com a res publica sabem desde há muito. Medina Carreira que o diga, por exemplo - por momentos esqueço-me que é português, e português que é português e, se político, ou aspirante a tal nas escolas de caciques e mediocridade que proliferam por aí, obtuso e irresponsável, apelida os seus compatriotas como Medina Carreira ou outros que ainda vão tendo algum sentido de Estado como profetas da desgraça, loucos e doidos varridos, deixando vir ao de cima o seu provincianismo ao expressar profunda admiração por uma qualquer sumidade estrangeira que diga precisamente o mesmo.

 

Importa relembrar que, já desde D. Afonso Henriques, a nossa política externa sempre teve como uma das principais características a gestão de dependências externas, deixando para amanhã o salvaguardar das gerações futuras ou o sustentável e equilibrado desenvolvimento do país. Obter dinheiro do exterior para financiar grandes obras e hábitos de vida acima das nossas possibilidades sempre foi apanágio dos portugueses. O conceito de crise depende em muito do contexto e da operacionalização que se lhe dá, mas se há algo que perpassa os quase 9 séculos da História de Portugal é precisamente este conceito. Seja em que vertente for, polítical, económica ou social, já que as três estão interligadas. Nem precisamos de ir muito longe, basta olhar para os dois últimos ciclos de expansão portuguesa (sem lembrar o da expansão para o Norte de África ou o da Índia). Com o Brasil, ouro e tráfico de escravos sustentaram uma economia deficitária em termos de produtividade - ontem, como hoje, e como sempre, aliás -, e com a perda deste, em conjunto com as Invasões Napoleónicas, as Revoluções Liberais e as guerras e crises políticas que se lhe seguiram, ficámos completamente devastados. Tivemos que nos expandir novamente, por necessidade económica essencialmente - ontem, como hoje, e como sempre, novamente - desta vez para África, Império que foi defendido e mantido pelos diversos regimes da monarquia, I República e II República, não sem experimentarmos o amargo sabor de um precursor keynesianismo que teve em Fontes Pereira de Melo o seu principal obreiro, e que nos custou avultados empréstimos cuja liquidação só muito recentemente se deu por terminada. Com a III República, dá-se uma drástica transformação na inserção internacional do país, dando-se particular relevo ao vector europeísta, em detrimento do sempiterno vector atlantista - diga-se de passagem que hoje os dois se complementam activamente na prossecução da política externa - e do isolacionismo que resistiu aos "ventos da mudança", na expressão do primeiro-ministro britânico Harold Macmillan.

 

Na III República, a União Europeia tornou-se o principal quadro de referência não só da política externa como interna, sendo extremamente complicado dividir as duas esferas, a não ser com propósitos meramente académicos. Entre os milhões gastos em infra-estruturas realmente necessárias e outras menos necessárias, aqueles desbaratados em supostos cursos de formação profissional, subsídios à não produção agrícola e outros fins duvidosos, muitos são aqueles milhões que todos os dias entram em Portugal como forma de sustentar os nossos em grande parte irresponsáveis estilos de vida, baseados no crédito, na dívida (quer de indivíduos quer de entidades colectivas públicas e privadas), e no "logo se vê como nos desenrascamos". Portugal pode servir de exemplo em qualquer manual para um país que adira à União Europeia, especialmente consubstanciando a sua experiência no capítulo sobre "O que não devem fazer".

 

E lá vamos, no entanto, caminhando aparentemente despreocupados com o futuro do país. Nisto, não somos diferentes dos gregos, até porque, como referiu Alex Weber, Presidente do Bundesbank (via O Insurgente), estes não se encontram nada preocupados: Weber, citing television footage of Greek demonstrators, expressed concern that sections of the Greek population either don’t care or fail to appreciate the seriousness of the situation their debt-laden country faces.

 

E alguns dos portugueses que fazem parte de um grupo no Facebook intitulado EU NÃO QUERO EMPRESTAR DINHEIRO À GRÉCIA, ELES QUE VENDAM A TAÇA DO EURO'04, também parecem estar na mesma situação. Bem sei que a iniciativa tem um pendor humorístico, mas, note o caro leitor o calibre de alguns dos comentários que por lá se encontram:

 

...e quem nos ajuda a nós??? eles que trabalhem...


Emprestar dinheiro à Grécia é mais uma traição desse Srº Socrates,que vendam a Taça.


Realmente que usem o dinheiro de vend da taça eque quiserem. Mas não o nosso. E já agora. Quem empresta a Portugal? Bem estamos a precisar com tantos Trocas-te!


E a nós quem nos vai ajudar????


daqui a pouco quem vai precisar de dinheiro vamos ser nós, não deve faltar muito!!! frase do momento:" manso é a tua tia pah"

 

Sei que é difícil explicar a qualquer português esta opção. Mas, só por desconhecimento ou ignorância não sabem que não só o dinheiro está directamente relacionado com a quota que detemos no Banco Central Europeu, como se esquecem que este é um precedente que nos dá uma vantagem em termos negociais em futuros contextos diplomáticos em que necessitemos do auxílio da UE, o que espero sinceramente que não aconteça, embora tenha sérias dúvidas - sem esquecer um dos princípios que preside ao projecto europeu, a solidariedade entre os Estados-membros. Além do mais, parecem fazer-se de esquecidos quanto à crise que nos assola, desconhecendo que estamos há muito a ser financiados pela solidez das economias de outros países da zona euro (é que, com uma moeda forte como o Euro, as nossas importações são mais baratas, mas as exportações mais caras, o que provoca um deficit ao nível da balança comercial, que ao longo dos anos tem sido financiado pelos outros Estados-membros), visto que se ainda possuíssemos instrumentos monetários próprios como a possibilidade de emissão ou desvalorização de moeda, há muito que teríamos recorrido a estes, fazendo corresponder a política cambial nacional às nossas verdadeiras possibilidades económicas, com óbvios impactos no nosso estilo de vida - e, aliás, não estamos totalmente salvos de que tal possa acontecer, se formos forçados a sair da zona euro, recuperando estes instrumentos e sofrendo um drástico choque que provocará uma grave crise social.

 

A economia não é a minha especialidade, longe disso, mas não custa nada tentar ser um pouco mais conhecedor, e preocuparmo-nos em tentar entender realmente o que se passa, ao invés de nos divertirmos com demagogias e paródias como se não se passasse nada, até porque "amanhã logo se vê" e de "certeza que alguém nos ajudará", e enquanto continuarem a entrar os milhões advindos dos fundos europeus e das economias europeias mais sólidas lá vamos operando malabarismos contabilísticos e fazendo de conta que está tudo bem, até porque, no fundo, o que interessa realmente é saber "quem é que nos vai dar mais dinheiro".


Entretanto, que tal começarem a preocupar-se realmente com o futuro do país? Aumentar a produtividade, flexibilizar a legislação laboral para atrair Investimento Directo Externo, aceitar que as falências fazem parte de qualquer economia de mercado e retirar peso à intervenção do Estado na economia são apenas algumas ideias (esta última, volto a referir, não deixa de ser irónico que esteja a ser fomentada por um governo socialista, em estado de necessidade). Acabar com as redes clientelares da corrupção era outra, mas esta será alcançada apenas retirando peso ao Estado, simplificando a legislação e desregulamentando. No fundo, se não mudarmos por nós próprios vai ser o mercado e o grau de internacionalização da nossa economia que nos vão obrigar a tornarmo-nos mais responsáveis. Quanto menor o peso do Estado na economia, quanto mais se acentuar o papel dos indivíduos e empresas nesta, forçando-os a ser mais responsáveis na gestão que fazem dos escassos recursos de que dispõem para produzir riqueza, mais hipóteses teremos de fazer face aos maus tempos que se vão avizinhando. Se continuarmos com políticas socialistas e paternalistas, com a ilusão de que o keynesianismo e as obras públicas nos vão salvar, continuaremos apenas a ser maus alunos e a seguir no hayekiano caminho da servidão, ou mesmo da falência.

 

Quando há tempos muitos decretavam o fim do liberalismo, não tiveram a percepção que aquilo que a recente crise financeira internacional veio acentuar foi a falência do socialismo. O liberalismo está bem e recomenda-se. Politicamente, porque as sociedades demo-liberais fundam-se neste. E economicamente, porque o mercado vai funcionando e obrigando as pessoas e os Estados a adaptarem-se a uma realidade internacional e global em mudança acelerada e sujeita a uma crescente complexificação. Adaptação ou falência, eis o nosso dilema.

 

P.S. - Não se espantem se virem no Facebook que aderi ao grupo. Coloquei o link para este post no mural do grupo, esperando, não sei se em vão, que alguns se tornem um pouco menos obtusos e mais conscientes em relação àquilo que os rodeia.

publicado às 22:54

Descobriram a pólvora mas ninguém deu por isso

por Samuel de Paiva Pires, em 29.03.09

 

 

Esta semana que passou a SIC Notícias noticiou que Portugal poderá estar na falência em 2014. Andei à procura e não encontrei mais referências. Ora, recuperando o que escrevi no início do ano:

 

Eu tenho uma "teoria" que carece de fundamentação que é a de que o arrendamento será um mercado muito mais sustentável e proveitoso. Porque as pessoas não se "enforcarão" durante 20, 30 ou 40 anos, porque têm muito mais flexibilidade para mudar de casa em qualquer circunstância (mudança de emprego, desemprego, saída do país) e, principalmente, porque em vez de pagarem ao banco, que por sua vez paga à banca na qual se endividou, o dinheiro mantém-se entre os consumidores, ou seja, com efeitos mais práticos a nível do desenvolvimento da economia real. Mas como eu não percebo nada de economia, isto até pode estar errado.
 
Aos empréstimos das famílias juntem-se os empréstimos das empresas e o panorama começa a não ser o melhor. Se a nossa incapacidade de pagamento dos empréstimos/dívida externa se vier a verificar, creio que estaremos de facto à beira de ter o país vendido aos estrangeiros.

 

E juntando-lhe a enorme dívida externa agravada pelo governo actual, será que é preciso ser um génio da economia para perceber que vamos entrar na bancarrota mais cedo ou mais tarde se continuarmos assim?  Será que toda a sociedade portuguesa prefere continuar a não enfrentar a realidade, a passar ao lado das evidências e a viver apenas pensando no prazer imediato, na satisfação a curto prazo?

 

Esta semana, ainda antes da tal notícia (ou no mesmo dia, se a memória não me falha), tive oportunidade de colocar umas breves ideias/questões ao Dr. Basílio Horta numa conferência no ISCSP, onde discorri brevemente sobre o facto de termos uma máquina estatal que gasta quase 50% da riqueza que o país gera, (o que o Professor António Rebelo de Sousa clarificou dizendo que isso não é necessariamente negativo, desde que tenha um efeito reprodutivo na economia e não seja despesa pública corrente - o que, convenhamos, atendendo ao desmesurado tamanho da pesada burocracia estatal e em muitos casos ineficiente, me causa certas dúvidas) - que em conjunto com uma política de intervenções na economia sem critérios ou accountability (veja-se os casos do BPN e do BPP, sobre os quais muito escrevemos por aqui, as famosas adjudicações directas ou outras que tais negociatas), me parece causar distorções graves no mercado, pois o Governo vai muito para lá da mera regulação, intervindo activamente.

 

Além disto, a legitimidade que tem vindo a ser granjeada em demasia ao papel do Estado pelo tal discurso contra aquele papão, de que todos falam mas que ninguém sabe bem o que é, o neo-liberalismo, causa-me a ligeira sensação que se está a asfixiar ainda mais a já de si frágil sociedade civil e iniciativa privada portuguesa.

 

E só para finalizar, quanto ao sector privado, é elementar que, como explica José Manuel Moreira em "Empresários, mendigos e ladrões" (Leais, Imparciais e Liberais), tão fácil é tornar delinquentes em empresários, visto terem o mesmo tipo de características empreendedoras - "correm riscos, aproveitam oportunidades, planeiam as coisas e, o que é mais importante, avançam com elas" - como o é tornar empresários em "pedintes e saqueadores".

 

Qualquer semelhança com o que se passa em Portugal é pura coincidência.

publicado às 15:10

Sobre a nacionalização no BPN

por Samuel de Paiva Pires, em 03.11.08

Não tenho grande coisa a dizer. Apenas resalvo que, infelizmente, mais uma vez se prova o que venho a dizer e escrever há muito, o mercado e a mão invisível funcionam na perfeição em teoria, porque na prática têm a intervenção de seres humanos, imperfeitos por natureza.

 

Já agora, parece que esta situação de gestão danosa já se vinha arrastando de algum tempo a esta parte, indiciando que a crise financeira internacional não terá relação directa com este fenómeno. Se assim é, mais uma vez se pergunta, para que serve o Banco de Portugal e o cargo ocupado pelo Dr. Constâncio? Depois do escândalo no BCP, aparece mais uma vez demasiado tarde e com demasiada inércia, depois de alguém se ter tornado milionário à conta da gestão danosa. Num país sério alguém como o Dr. Constâncio teria vergonha na cara e demitia-se.

publicado às 22:44






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