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Cultura Zero

por John Wolf, em 05.04.18

 

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Portugal sofre de pseudo-elitismo crónico. O mito sagrado da cultura tem servido fetiches de diversa ordem, mas sobretudo para invocar poderes sobrenaturais e reclamar dinheiro dos contribuintes. Em nome de causas maiores, do bem público e do dever do Estado, um conjunto alargado de "estruturas" (termo querido da Catarina Martins) tem recebido, a fundo quase perdido, somas interessantes para tirar o povo da sua ignóbil miséria cultural. São estes agentes em missão de salvamento que resgataram Portugal profundo da tirania da estupidez e ignorância. O contínuo endeusamento de uns quantos "grandes", que consubstanciam a máxima "em terra de cegos quem tem olho é rei", é o derradeiro responsável. São esses iluminados, tocados pela magistratura do privilégio da corte de vantagem, das ligações especiais, que foram levados em ombros na luta cultural de classes levada a cabo pelas Esquerdas, ditas titulares exclusivas das artes performativas e do seu integral entendimento. No entanto, o modelo (falido, falhado) não se localiza na régua ideológica ou partidária, nada tem a ver com a Esquerda ou a Direita. É problema de fabrico. É uma patologia respeitante à matriz estatutária do país que distingue despudoradamente a superioridade cultural de uns e afasta a mediocridade avultada de outros. Confirmamos a eternização dos mesmos jogadores. São eles; políticos-poetas, escritores-aclamados, críticos-intocáveis, actores-consagrados, cantoras-diva e encenadores-inamovíveis que degeneram a possível e desejável alteração das regras, do modelo. São esses mesmos, próximos da poltrona do funcionalismo público, que não desejam grandes sacudidelas. Para eles, a cultura deve estar divorciada do mercado, porque o público nada sabe e portanto não saberia distinguir uma ópera bufa de uma simples libertação de gases. Os agentes ditos culturais não entenderam pelo menos duas coisas: a arte é sinónimo de ruptura e desequilíbrio. E os empreendimentos culturais financiam-se de um modo social, sem ser necessariamente socialista, mas intensamente escrutinado em função dos valores investidos e do retorno qualitativo e expectável das obras de arte apresentadas. Neste capítulo das artes e da cultura, da programação e dos modelos de financiamento, poucos o sabem fazer como os americanos. Ora vejam este exemplo e descubram as diferenças. Isto é apenas dinheiro dos contribuintes. Mais nada.

publicado às 16:23

Refugiados de Portugal

por John Wolf, em 23.05.13

Portugal está a assistir a acontecimentos peculiares, com uma carga dramática intensa e com laivos de ironia histórica. Está a viver a descolonização daqueles que resultaram da descolonização dos anos sessenta e setenta. Parece que estamos a reviver a demise do império ultramarino sem ter de ir além-mar. O descalabro que está a acontecer, está à distância de um autocarro da Carris, à distância de um bairro cada vez menos de periferia. Os Portugueses, que foram enviados para o desterro, que emigraram, também foram descolonizados de sua casa. Tudo isto é trágico, e coloca numa mesma casa de desespero, nativos, colonos, e imigrantes. A séria crise que se nos atravessa, serve também para destapar as graves falhas de sucessivos governos, no que concerne à integração daqueles provenientes das ex-colónias. Por outro lado, os neo-colonizadores do norte da Europa ainda não perceberam que estão a criar um fenómeno que há alguns seria impensável nos territórios de uma Europa "civilizada". Em breve, a expressão que será empregue pela primeira vez na União Europeia, será refugiados europeus. Em cada um dos países afagados pela mão áspera da Troika, os cidadãos desses países já vivem a condição plena de refugiados. Procuram fugir da perseguição dos governos que elegeram. As comunidades provenientes de ex-colónias Portuguesas, que depositaram confiança na pátria de acolhimento, estão a braços com um dilema adicional. O regresso aos seus países de origem, se realizado em grande escala, decerto que esmagaria as parcas estruturas que começam a ser erguidas naqueles países emergentes que carregam passados históricos complexos, pejados de destruição e da falta de instituições democráticas, no seu sentido mais profundo e consolidado. A Austeridade já não é apenas Europeia. É já  um fenómeno que se sente em diversos países Africanos, pelas ondas de choque que se fazem sentir na vida de cidadãos provenientes das ex-colónias Portuguesas. Essas comunidades não conheceram outra coisa senão Austeridade, mesmo quando a Austeridade ainda não tinha sido inventada. Sempre viveram com grandes dificuldades e marginalizados pelo mainstream político. Agora assistimos à africanização da Austeridade. Quando pensamos em Portugal, realizamos um exercício enorme. Portugal tem o mundo todo contido em si. E Portugal tem compatriotas espalhados pelos seus quatro cantos do mundo. A grande estratégia nacional tem obrigatoriamente de incorporar esse sentido universal. Pelas razões atrás referidas, e outras que não cabem nesta discussão, o papel de Portugal é importantíssimo no quadro Europeu, e por essa razão há que dar forma à sua voz, de modo a que possa condicionar o desenho dos anos futuros, da Europa e do Mundo. Temo, porém, que os lideres nacionais não sejam capazes de vislumbrar a mudança de paradigma a que estamos a assistir. Juntemos a esta equação Portuguesa, as matrizes contidas em França, na Alemanha, em Espanha, na Turquia e na Grécia, e verão que estamos a braços com um desafio de proporções incalculáveis. O Conselho de Estado a que (não!) assistimos demonstra a infantilidade e inconsciência dos nossos governantes. Algo muito mais profundo está em causa que torna irrelevante coligações e a fita-cola que desejam usar. O país fracturado não pode ser reparado com ligaduras, mas também não pode permanecer engessado em atavismos.

publicado às 09:42

FMI assume novo falhanço

por Pedro Quartin Graça, em 05.01.13

Christine Lagarde: "Não termos previsto a inconstitucionalidade de algumas medidas foi uma infelicidade"

Em entrevista exclusiva ao Expresso, a directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) assume, de novo, outro falhanço de previsão do FMI. Ou, no fundo, a reconfirmação pública de que os pseudo"especialistas" em economia e finanças têm, afinal, "pés de barro". Nada que não se soubesse e que não tivessemos repetidamente denunciado ao longo dos últimos meses...

Também publicado aqui.


publicado às 08:52

FMI assume falhanço

por Pedro Quartin Graça, em 04.01.13

An amazing mea culpa from the IMF’s chief economist on austerity:

      "Consider it a mea culpa submerged in a deep pool of calculus and regression analysis: The International Monetary Fund’s top economist today acknowledged that the fund blew its forecasts for Greece and other European economies because it did not fully understand how government austerity efforts would undermine economic growth."

Um documento muito e tristemente revelador este, uma análise de Olivier Blanchard (e de Daniel Leigh), intitulada Growth Forecast Errors and Fiscal Multipliers. No fundo, a confissão pública, em mea culpa, do falhanco das políticas adoptadas. Para que conste e se reflicta por cá. Será que Vítor Gaspar o leu?

publicado às 09:04






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