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Um grande post que me deixou à beira de um ataque de riso, de José Mendonça da Cruz, de que destaco os seguintes parágrafos:
«A segunda notícia vem-nos aqui da nossa terrinha, mais propriamente de Aveiro. Em Aveiro, depois de acolhida pela vereadora da cultura local, uma senhora das Caldas, Umbelina de sua graça, expôs no mercado um caralho. O caralho da Umbelina não é como o da foto. É verde liso e esmaltado, em grés, e tem a altura de uma pessoa, descontando o sopé que são os colhões. Vem em peças e depois monta-se.
As vendedeiras do mercado e os clientes não gostaram. E mesmo quando a putativa artista explicou que o seu caralho se inspirava na loiça das Caldas, responderam galhardamente que a artista putativa levasse, então, o caralho para donde o trouxe. Foi tal a pressão, que a vereadora da cultura desistiu, mandando desmontar o caralho, depois de explicar - assim situando o nível da coisa - que tinha valido a pena porque causou grande «debate psicológico» e despertou «as consciências». E o caralho lá foi para a casa do caralho, que é o estúdio da Umbelina nas Caldas.
Ora eu, que, repito, sou um ignorante e , como tal, incapaz de avaliar estas intervenções, registo todos esses clamores sobre a coragem dos artistas, os abalos de consciências e as obras de ruptura com as quais o mundo pula e avança. E gostava mesmo que putativos artistas perseverassem no risco, fossem mais longe na coragem, abalassem mais certezas e desencadeassem sobre si debates muito mais que «psicológicos». Gostava que a Umbelina retratasse, sei lá, Maomé com um cordel no rabo que, puxado, o faria exibir o que a louça das Caldas tradicionalmente exibe. Gostava que o americano, seguindo a sua especial inclinação, retratasse o profeta, sei lá, de colete de couro sobre o tronco nu e entoando YMCA reboladamente. »