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Rui Tavares — o deserdado político

por John Wolf, em 20.02.24

Rui Tavares, dentro da tradição falida dos marxistas, avança com uma proposta que equivale a um assalto à mão armada. A "herança social" — designação livre do deserdado político Tavares, é uma afronta à ideia de geração de riqueza e a sua transferência geracional. Os portugueses devem sentir esta ameaça como credível. Quando o estado socialista falha, a solução passa por subtrair a quem árdua e eticamente acumulou um pé de meia. As grandes fortunas que Tavares fantasia não caíram de paraquedas. Foram fruto de vidas intensas, de planos que implicaram sacrifícios, mas sobretudo de uma visão estratégica — algo de que carece Tavares. A medida punitiva proposta traduz-se no confisco alheio, na desconsideração pela inevitabilidade capitalista dos seus camaradas. A loucura do seu plano de roubo tem implicações comportamentais graves. O cidadão, instigado pelo medo da perda, terá mais propensão a gastar tudo no imediato: chapa ganha chapa gasta. Estará mais inclinado a desconsiderar a descendência, a abandoná-la à porta da escola pública ou do centro de saúde que existe num reino de utopia de dinheiros arrestados. Se o Tavares tivesse juízo teria congeminado algo exequível como um plano de promoção para a razoabilidade dos investimentos do Estado. Porque, em última instância, este tipo de pensamento de carteirista é fruto de uma tripla falência: a falência do Estado, a falência do governo e a falência cognitiva de extremistas, de esquerdistas radicais. Tudo isto sugere algo acontecido sob os auspícios de um regime do século passado — o roubo odioso e o saque vil de cidadãos abastados. 

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publicado às 12:47

Sobre os patuscos liberais lusos

por Samuel de Paiva Pires, em 28.10.18

Se dúvidas tivesse (dissipadas já há muito tempo), o meu post anterior, partilhado por aí por um libertário indígena e comentado por mais uns ditos liberais e libertários portugueses que me presentearam com os mimos que a sua tribo habitualmente reserva para todos aqueles que não alinham na sua ortodoxia simplista e própria de seres intelectualmente grunhos, acaba por servir para comprovar, mais uma vez, que muitos dos putativos liberais cá do burgo só o são quanto à dimensão económica, não hesitando apoiar declarados fascistas e candidatos a ditadores, seguindo na esteira do pior de Friedrich Hayek, Milton Friedman e dos Chicago Boys que formularam as políticas económicas de Pinochet e o apoiaram, justificando-se Hayek com a possibilidade de transição democrática num país cuja economia entretanto prosperasse. Ou seja, validam, mais uma vez, algo que há muitos anos venho escrevendo: não são liberais clássicos. Um liberal clássico, nos dias hoje, como explicam Eric Voegelin e John Gray, é um conservador no sentido anglo-saxónico, um defensor da democracia liberal e dos valores a esta subjacentes, nunca poderá apoiar um aspirante a ditador. Aliás, esta possibilidade arrepiaria Adam Smith, Edmund Burke ou Karl Popper. Claro que, para perceberem do que estou a falar e as suas próprias contradições, os nossos patuscos ditos liberais e libertários precisavam de ler coisas que não se compadecem com a simplicidade panfletária a que estão habituados e que permeia as suas diatribes e concursos de ortodoxia. Aliás, fiquei bem esclarecido a respeito da ignorância e do fanatismo de que sofrem quando, excepcionalmente, acedi a explicar um post meu em que me referia a várias ideias bastante conhecidas de Hayek, Oakeshott, Ortega y Gasset, Bertrand Russell e Popper que o meu interlocutor e os seus compagnons de route na caixa de comentários desconheciam em absoluto, o que, em vez de os tornar mais intelectualmente humildes, apenas reforçou o seu fanatismo em torno do que diziam ser um pensamento próprio (de grunhos, claro). Não há como não continuar a dar razão a Alçada Baptista, para quem "Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas,” e por isto mesmo há que continuar a lutar, na senda de Fernando Pessoa, contra a ignorância, o fanatismo e a tirania.

publicado às 20:28

Sobre as eleições no Brasil

por Samuel de Paiva Pires, em 28.10.18

Por estes dias, diversas pessoas enveredaram por uma perigosa equivalência moral entre corrupção e fascismo, para justificarem a sua abstenção (no caso de Fernando Henrique Cardoso), apelo à abstenção (nos casos de Assunção Cristas e José Manuel Fernandes), ou apoio declarado a Bolsonaro (caso de Jaime Nogueira Pinto). Ora, ao contrário do que escreveu José Manuel Fernandes, Haddad é mesmo um mal menor em relação a Bolsonaro, e não, corrupção e fascismo não são dois males maiores equivalentes. Sem entrar em grandes teorizações, direi apenas que a corrupção é inerente à condição humana e ao estado de sociedade, permeia qualquer sociedade e qualquer regime político, democrático ou não, embora, claro, em diferentes graus. Isto é uma observação factual, não qualquer tentativa de justificação ou desculpabilização da corrupção, até porque acredito que é moralmente desejável reduzi-la ao menor grau possível. Ainda que seja compreensível que muitos brasileiros estejam cansados da corrupção que grassa no país em resultado do exercício do poder político pelo Partido dos Trabalhadores, quem acredita que Bolsonaro irá eliminar a corrupção está iludido e enganado a respeito da condição humana e do que é a política, especialmente se acreditar que um regime autoritário, fascista, é conditio sine qua non para proceder a uma "limpeza" da corrupção no Brasil. Já que a memória histórica de boa parte dos brasileiros (e não só) parece olvidar que também durante a ditadura militar brasileira existiu corrupção (e em tantas outras ditaduras por este mundo fora), ou que os regimes autoritários são, também eles, permeados por este fenómeno, então que atentem no índice de percepção da corrupção da Transparency International para perceber uma coisa bastante simples: os países cujos regimes políticos são democracias liberais são os menos corruptos do mundo, ao passo que os regimes autoritários são precisamente os mais corruptos. Posto isto,  sugiro ainda que perguntem às vítimas de qualquer regime autoritário ou totalitário, os mortos, os presos políticos, os torturados, os exilados, os perseguidos, se preferem viver num país com corrupção mas em que haja liberdade  (de pensamento, de expressão, de informação, de associação) ou num país cujo regime político imponha a censura ao pensamento divergente do pensamento único, a tortura, os trabalhos forçados e a morte por critérios tão arbitrários e desumanos como a mera discordância política ou diferenças de qualquer tipo (raciais, nacionais, de orientação sexual).  

publicado às 12:38

Comunismo e fascismo

por Samuel de Paiva Pires, em 11.06.16

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Roger Scruton, Fools, Frauds and Firebrands:

It is testimony to the success of communist propaganda that it has been able to persuade so many people that fascism and communism are polar opposites and that there is a single scale of political ideology stretching from ‘far left’ to ‘far right’. Thus, while communism is on the far left, it is simply one further stage along a road that all intellectuals must go in order not to be contaminated by the true evil of our times, which is fascism.

It is perhaps easier for an English writer than it is for an Italian to see through that nonsense, and to perceive what it is designed to conceal: the deep structural similarity between communism and fascism, both as theory and as practice, and their common antagonism to parliamentary and constitutional forms of government. Even if we accept the – highly fortuitous – identification of National Socialism and Italian Fascism, to speak of either as the true political opposite of communism is to betray the most superficial understanding of modern history. In truth there is an opposite of all the ‘isms’, and that is negotiated politics, without an ‘ism’ and without a goal other than the peaceful coexistence of rivals.

Communism, like fascism, involved the attempt to create a mass popular movement and a state bound together under the rule of a single party, in which there will be total cohesion around a common goal. It involved the elimination of opposition, by whatever means, and the replacement of ordered dispute between parties by clandestine ‘discussion’ within the single ruling elite. It involved taking control – ‘in the name of the people’ – of the means of communication and education, and instilling a principle of command throughout the economy.

Both movements regarded law as optional and constitutional constraints as irrelevant – for both were essentially revolutionary, led from above by an ‘iron discipline’. Both aimed to achieve a new kind of social order, unmediated by institutions, displaying an immediate and fraternal cohesiveness. And in pursuit of this ideal association – called a fascio by nineteenth-century Italian socialists – each movement created a form of militar government, involving the total mobilization of the entire populace, which could no longer do even the most peaceful-seeming things except in a spirit of war, and with an officer in charge. This mobilization was put on comic display, in the great parades and festivals that the two ideologies created for their own glorification.

Of course there are diferences. Fascist governments have sometimes come to power by democratic election, whereas communist governments have always relied on a coup d’état. And the public ideology of communism is one of equality and emancipation, while that of fascism emphasizes distinction and triumph. But the two systems resemble each other in all other aspects, and not least in their public art, which displays the same kind of bombast and kitsch – the same attempt to change reality by shouting at the top of the voice.

It will be said that communism is perhaps like that in practice, but only because the practice has betrayed the theory. Of course, the same could be said of fascism; but it has been an important leftist strategy, and a major component of Soviet post-war propaganda, to contrast a purely theoretical communism with ‘actually existing’ fascism, in other words to contrast a promised heaven with a real hell. This does not merely help with the recruitment of supporters: it reinforces the habit of thinking in dichotomies, of representing every choice as an either/or, of inducing the thought that the issue is simply one of for or against.

publicado às 19:22

Grécia e o grande conflito europeu

por John Wolf, em 28.06.15

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A ruptura negocial de Tsipras com os parceiros europeus remete o drama grego para outro patamar de preocupações. Será no plano interno daquele país que os verdadeiros perigos serão expostos num primeiro momento. A toada nacional-esquerdista, imbuída de patriotismo helénico, poderá facilmente descambar para um Estado fascista. Se o povo grego votar em Referendo a aceitação do pacote de ajuda que arrasta mais Austeridade, Tsipras deve, democraticamente, se demitir, mas tenho sérias dúvidas que o faça dado o seu perfil de intransigência. A partir desse momento vislumbram-se alguns cenários mais drásticos. A saber; um golpe militar com a instituição de um regime de coronéis; a convocação contrariada de eleições em virtude da dissolução do governo e a ascensão de uma força nacionalista; a eclosão de um conflito armado com um vizinho regional com o apoio logístico e ideológico da Rússia; um ou vários assassinatos políticos; ataques terroristas de falanges políticas gregas dispostas a acentuar a dissensão interna e intimidar a comunidade internacional. No entanto, as instituições convencionais da política europeia restringem-se a consternações de ordem económica e financeira e os media insistem que é a política que move as diversas partes envolvidas. Enquanto pensam em controlar os danos decorrentes da corrida aos bancos a que já assistimos fora do horário normal de expediente, outras ramificações devem ser tidas em conta de um modo muito sério. A União Europeia para além de estar a braços com uma crise económica, social e financeira de um dos seus estados-membro, terá de encarar desafios de ordem geopolítica para os quais não está devidamente apetrechado. A Política Externa de Segurança Comum é um dos outros pilares da construção europeia que carece de uma estrutura sólida e eficaz no seio das consternações externas de uma Europa comum. Por essa razão, a opção transatlântica ainda merece grande consideração. Os EUA jogam desse modo na sombra do tabuleiro da política europeia. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) deve, face aos desenvolvimentos da situação na Grécia, pensar nas implicações decorrentes do agravamento da crise europeia. Embora haja uma tendência inata, resultante da paz longa do pós-segunda Guerra Mundial, para pensar na normalização do quadro de relações, a verdade é que ao longo da história da humanidade, a estabilidade política e económica tem sido a excepção e não a norma. Tempos difíceis aproximam-se a passos largos e de nada serve deitar as culpas a uns ou a outros. A história é isto mesmo. Irrascível, mas explicada por modelos racionais.

publicado às 08:03

A iconoclastia política numa Europa ferida

por João Pinto Bastos, em 19.11.13

Há iconoclastias que alguns, pressurosamente, tendem a proscrever, sem sequer se darem ao trabalho de reflectir, com alguma calma, sobre as diversas variantes que as ditas temáticas iconoclastas, desrespeitadoras das convenções reinantes, oferecem amiúde. A ascensão da extrema-direita em alguns países europeus é, a este propósito, um exemplo paradigmático da tolice atrás sugerida. Arruma-se tudo num cantinho higienicamente depurado, ofertando ao grande público um conjunto de análises assépticas, supostamente isentas dos vícios antidemocráticos abundantemente existentes nos agrupamentos políticos etiquetados com o labéu da extrema-direita neofascista. Que fique desde já claro, para que não sobre qualquer desdouro na minha reputação, que não me revejo na globalidade das propostas aventadas pelos movimentos políticos enxertados nesta família política. Todavia, faltaria à verdade se dissesse que, nos movimentos políticos em questão, não há nada de aproveitável. Fixemo-nos no exemplo mais saliente, e, porventura, o mais polémico, constituído pela Front National, liderada por Marine Le Pen. Esqueçamos, também, por momentos, as diatribes "pétainistas" reminiscentes dos tempos de Vichy ou as arcabuzadas políticas anti-imigração, alarvemente preconizadas pelos dirigentes deste partido. Deixando, portanto, tudo isto de lado, detenhamo-nos, com afinco, na abordagem feita pela FN às principais questões da actualidade política europeia. Para quem acredita, como é patentemente o meu caso, que a política europeia padece de múltiplas disfunções, criadas, em grande parte, pelo centralismo excessivo cupulado em Bruxelas, é quase uma redundância sublinhar o acerto das posições políticas defendidas pelo séquito de Le Pen. Desde a inserção no euro até à devolução de certas prerrogativas e competências pertencentes à eurocracia, a assertividade da FN não tem, como muitos estupidamente têm escrito e bradado aos sete ventos, falhado o alvo. E é aqui, no terreno minado da Europa política, que é forçoso dar guarida a vozes alternativas que recordem o básico: que o Estado-Nação, não obstante o planismo globalizador teorizado por certas notabilidades ignorantes, ainda é uma realidade, e que o centralismo autoritário, corporizado numa Bruxelas gorda e autista, é um remédio que só aditará desgraça ao mal já existente. É por isso que as vozes dissonantes são, em determinadas circunstâncias, o único meio à disposição do povoléu para forçar as elites governantes a uma mudança. Não será, com certeza, com uma Le Pen ou um Geert Wilders, que a Europa alterará a senda de inanição a que vem sendo sujeita pelas suas elites dirigentes. Não será, também, com uma direita que recusa dialogar e que vive enfronhada num passado militaresco fascizante, que a Europa florescerá. A solução é de outra ordem, e radica, fundamentalmente, na credibilidade e no reconhecimento de que a história não morreu. É nisto que está a salvação de uma realidade política que não deixou, por obra e graça de meia dúzia de espantalhos merdiaticamente construídos, de existir. Provavelmente, não serão os bandoleiros do extremismo político da direita a resolver o problema, mas será, decerto, com a contribuição dos mesmos que, para o bem e para o mal, a Europa deslanchará da crise.

publicado às 00:28

 

1 - Folgo em ver que, como o Miguel Botelho Moniz salientou, o Tiago Mota Saraiva parece já ter aprendido que comunismo e fascismo são duas faces da mesma moeda. Não perdeu, contudo, uma certa ignorância e/ou má-fé, na medida em que afirma que o liberalismo é igual ao fascismo. A isto, só se pode oferecer sugestões de leitura e uma grande dose de bom senso, coisa que não abunda entre comunistas. Talvez começar por um bom manual de Ciência Política e/ou História das Ideias Políticas seja uma boa ideia. Se depois quiser mais sugestões, o Tiago sabe onde me encontrar.

 

2 – Diz o Tiago que os meus posts (PatéticoPatético (2)Patético (3); Patético (4)), não têm conteúdo. Referindo-me ao ponto anterior e ao título, mas que espécie de conteúdo é que pode ter algum texto destinado a debater com indivíduos irracionais que defendem a ideologia mais criminosa da História, que estes possam compreender e não deturpar e manipular como fazem a todo o momento? O meu tempo é demasiado precioso para me perder em debates espúrios, mas se o Tiago quiser, pode sempre começar por este meu texto, ou pelo que encontrará no fim deste post, da autoria de John Gray. Cada qual tem que procurar por si o conhecimento. Infelizmente, há quem não o procure, não exerça a dúvida, e se deixe apenas ficar pela doxa e pelo dogmatismo. Mas, novamente, se quiser sugestões de leitura, o Tiago sabe onde me encontrar.

 

 3 – Já o João José Cardoso, à semelhança do Renato Teixeira, dispara completamente ao lado. Só realmente quem não me leia ou conheça (e obviamente ninguém tem obrigação de me ler – só se poupa a umas valentes secas se não o fizer), pode confundir-me com alguém de extrema-direita e/ou defensor de ditaduras. De resto, ler The Undiscovered Self, de Jung, talvez ajude a perceber porque ser comunista pode ser um sintoma de insanidade. A este respeito, num texto a que aludi no ponto anterior, classifiquei há cerca de 2 anos os comunistas em três grupos: estúpidos, ignorantes e tenebrosos. A vanguarda, que de estúpida ou ignorante costuma ter pouco, pautando-se mais pela má-fé e manipulação, recai no terceiro grupo: Por último, na primeira categoria, a das mentes tenebrosas, incluem-se todos aqueles para quem a verbosidade pseudo-científica do comunismo faz sentido, embora em parte possam ser ignorantes, caso desconheçam os postulados teóricos e práticos da ideologia que dizem defender; estúpidos, ao acreditarem que o comunismo faz sentido; ou então completamente tenebrosos e perigosos: sabem muito bem o que é o comunismo, conhecem os efeitos das suas várias experiências reais, e ao contrário dos da segunda categoria, acham que os fins justificam os meios, não hesitando em relativizar milhões de mortos, demonstrando um total desrespeito pela vida humana. São sanguinários em potência, que num sistema que lhes permitisse dar largas às suas crenças, não hesitariam em voltar a repetir e agravar o tipo de atitudes que caracterizaram a União Soviética ou o PREC. Consideram Cuba um país magnífico, têm Fidel Castro e Hugo Chávez como referências e chegam ao dislate de considerar a Coreia do Norte uma democracia. Não hesitariam em sacrificar milhões de pessoas para alcançar os supostos benefícios que o Apocalipse traria. Têm ainda por hábito as práticas do negacionismo e manipulação da História, tentando escamotear a realidade e moldá-la aos seus propósitos, tal como George Orwell ilustrou na famosa distopia intitulada 1984.

 

4 – Num comentário, diz o Renato que “O comunismo não é o que foram os regimes estalinistas. Essa confusão devia estar, há muito, esclarecida.” Este muito badalado argumento, além de banal é também inválido. O estalinismo é consequência directa do leninismo. E só quem não saiba o que Lenine ou Trotski pensaram ou fizeram pode esgrimir o argumento para enganar os mais desprevenidos de que “aquilo não foi comunismo.” Foi comunismo, sim, em todo o seu esplendor, com todas as consequências do utopismo do pensamento marxista, e levado a cabo por indivíduos que teorizaram e acreditavam na utilização do Terror para os fins do comunismo. Não é possível dirigir uma economia centralizada e um regime político anti-democrático sem utilizar a coerção, a força. Talvez se lessem Hayek, percebessem como funciona uma ordem de organização ou made order e por que é que, aplicado a um regime político, este tipo de ordem se torna totalitário e necessita da utilização da força e da violência para se manter. Para que não digam que vão daqui sem conteúdo, deixo umas passagens de A Morte da Utopia, de John Gray:

 

«O terror do tipo praticado por Lenine não pode ser explicado pelas tradições russas nem pelas condições que prevaleciam no tempo em que o regime bolchevista chegou ao poder. A guerra civil e a intervenção militar estrangeira criaram um ambiente em que a sobrevivência do novo regime estava ameaçada desde o início; mas o pior do terror que desencadeou foi dirigido contra a rebelião popular. O objectivo não era apenas ficar no poder. Era alterar e remodelar irreversivelmente a Rússia. A partir dos jacobinos, na França do fim do século XVIII, passando pela Comuna de Paris, o terror tem sido usado deste modo sempre que uma ditadura revolucionária se inclina para atingir metas utópicas. Os bolchevistas visavam tornar bem sucedido na Rússia um projecto iluminista que tinha falhado em França. Ao acreditarem que a Rússia tinha de ser construída segundo um modelo europeu, não eram originais. No que se distinguiam era na sua convicção de que tal exigia terror e nisso eram discípulos confessos dos jacobinos. Sejam quais forem os outros fins que possa ter servido – como a defesa do poder bolchevista contra a intervenção estrangeira e a rebelião popular -, o uso do terror por Lenine decorreu do seu empenho nesse projecto revolucionário.

 

 

 

publicado às 21:08

Rob Riemen, O Eterno Retorno do Fascismo:

 

«Albert Camus e Thomas Mann não foram decerto os únicos a compreender depressa, mal a guerra terminou, o que todos ansiamos esquecer: o bacilo fascista estará sempre presente no corpo da democracia de massas. Negar este facto ou dar outro nome ao bacilo não nos tornará resistentes a ele. Pelo contrário. Se queremos combatê-lo eficazmente, teremos de o chamar pelo seu nome: «fascismo». Além disso, o fascismo nunca é um desafio, é sempre um problema porque desemboca inevitavelmente no despotismo e na violência. E chamamos perigo a tudo o que provoque estas consequências. Negar a existência de um problema ou, pior ainda, de um perigo é praticar a política da avestruz. Quem não aprende com a história está condenado a vê-la repetir-se.»

publicado às 13:26

Olha uma galinha com dentes

por Samuel de Paiva Pires, em 16.01.12

Ver um burguês comunista chateado por os jornais não chamarem fascista ao recentemente falecido Fraga Iribarne, quando aos facínoras comunistas nem sequer são capazes de chamar ditadores, é daquelas coisas que me fazem rir logo pela manhã. Tudo farinha do mesmo saco, mas eles fingem que não, como se ainda fossem capazes de enganar alguém com dois dedos de testa.

publicado às 12:46

Forte aposta no fascismo

por Nuno Castelo-Branco, em 24.11.11

Seja de que maneira for, pretendem abarrotar as contas virtuais, naquela prestidigitação de números de convenção. Pouco lhes importa se os seus actos levem milhões à ruína, ao desespero dos sem-abrigo, à fome. Saltos de trampolim nas compras de dívida pública, são um alto risco que parece valer a pena correr, desde que os juros subam a alturas estratosféricas. 

 

A Alemanha sofreu ontem um revés na sua tentativa de colocação de títulos no "mercado". Os especuladores não estão minimamente interessados em juros considerados "irrisórios", pois 1,98%, mesmo que garantidos por uma economia forte, não lhes chega. Querem mais, sempre mais, mesmo que no fim o apontado "motor da Europa" gripe, levando todas as peças componentes do mesmo à sucata. Para cúmulo da infelicidade, a laboriosa Alemanha do Ruhrgebiet e das fornalhas, das linhas de montagem e da maquinaria de renome, desloca para a Ásia empresas de alta tecnologia e está a dar lugar a uma outra realidade, a dos "serviços". Uma mega-Singapurização em curso. Sabem o que isso significará? 

 

Conhecemos o caminho onde este tipo de desvarios conduz. Como é evidente, não se esperam Duces ao estilo de Mussolini, nem paradas à luz de tochas. Os tempos são outros, a composição étnica dos países-membros da U.E. é hoje bem diversa daquela que existia há oitenta anos, assim como os meios de informação e comunicação entre as gentes. Mas há sempre a possibilidade de uma alternativa Putin na ordem política europeia.

 

Para os indefectíveis das soluções fortes, dos homens providenciais e da diluição dos milhões de eus num quase furtivo colectivo erguido no altar do "bem comum", a esperança renasce. 

 

Mário Soares repesca do seu ex-camarada do PSI, Benito Mussolini, a acusação à plutocracia, mas feito o balanço nas contas finais, sabe-se quem sairá inelutavelmente esmagado: precisamente aqueles que investem na ruína dos indefesos. No louco delírio do encher de bolsos, os especuladores estão a investir num novo fascismo que os liquidará sem dó nem piedade. Lembram-se do Soros "asiático" dos anos 90? Os seus émulos de agora, nem sequer têm nome e multiplicaram-se como vírus, mas é quase certa a chegada de uma vacina para a maleita.

publicado às 12:05

O fascismo de braços cruzados

por João Pedro, em 13.05.09

Parece que agora estar de braços cruzados em outdoors de campanha eleitoral passou a ser uma forma de fascismo. Doravante, quem estiver em momento de pausa e de braços cruzados será imediatamente denunciado pela virtuosa União de Resistentes Anti-Fascistas. Acho muito bem: afinal de contas é uma posição ligada ao ócio, e, por consequência, à burguesia exploradora e inimiga do trabalho. Espera-se que no seu próximo artigo Boaventura Sousa Santos desenvolva os tópicos sobre o novo Fascismo-Braçocruzadismo. Revolução sempre! Braços cruzados nunca mais

publicado às 15:02

 

(imagem tirada daqui)

 

Ontem tive a oportunidade de trazer à colação um assunto que do ponto de vista estritamente académico e científico me preocupa. Não sou politicamente correcto e gosto de  fazer corresponder os conceitos às suas aplicações precisas, algo que, infelizmente, é cada vez mais difícil de conseguir. Alguns dizem que foi um acto de coragem, outros dizem que de estupidez. Como não presto reverência a nada nem ninguém a não ser à minha própria consciência, prefiro continuar a viver com essa em paz na minha busca pela verdade enquanto tento espicaçar os espíritos mais adormecidos para que questionem cada vez mais as certezas absolutas que por aí vão pairando.

 

Num auditório com cerca de um milhar de pessoas, perante o Professor Adriano Moreira, o ex-Presidente da República Mário Soares e Odete Santos, argumentei (tentei explicar, em vão, pois fui interrompido) que nunca houve fascismo em Portugal, ao que Odete Santos retorquiu com algo que não ouvi e que arrancou uma salva de palmas à plateia. A mesma plateia que não foi capaz de aplaudir como eu o fiz de pé o ex-Presidente da República quando em resposta à minha interpelação considerou que estando na academia, sendo nós estudantes de ciência política, temos que ter a noção que do ponto de vista dessa (e acrescento eu, do ponto de vistra estrito), não se pode dizer que o Estado Novo tenha sido fascista. Não deixa de ser irónico ter sido Mário Soares a compreender-me e fazer a minha defesa,  para logo depois se divertir a colocar os dogmas de Odete Santos em cima da mesa, enquanto esta ia tentando mascarar as atrocidades cometidas pelo mundo fora em nome de uma ideologia - em minha opinião, um dos tipos de atitude mais indecente que se pode ter. Quando o pai da democracia em Portugal vai ao encontro daquilo que os mais intelectualmente honestos sabem, que mais será necessário dizer? Aqui fica, mais uma vez, um aplauso e um agradecimento pela corajosa atitude que também o ex-Presidente da República teve ontem em nome do rigor científico.

 

Por isto, aqui deixo parte do que escrevi há tempos no post "Fássistas!!!":

 

Agora, Salazar era tudo menos fascista, era um tradicionalista, conservador, integrista que pretendia manter a população calma, contrariamente à excitação que o fascismo advoga se provoque nas massas, e ainda que tenha utilizado instrumentos emprestados de regimes fascistas, como a censura e a repressão que, obviamente, porque sou um humanista, um liberal e politicamente incorrecto, me repugnam e repudio veementemente, foi o próprio Salazar quem reprimiu os que realmente eram fascistas, os nacionais-sindicalistas de Rolão Preto.
 
Basta atentar em dois breves parágrafos da obra de Paxton (Penguin Books, 2005) para perceber o que aqui escrevo:
 
The Estado Novo of Portugal differed from fascism even more profoundly than Franco’s Spain. Salazar was, in effect, the dictator of Portugal, but he preferred a passive public and a limited state where social power remained in the hands of the Church, the army, and the big landowners. Dr. Salazar actually suppressed an indigenous Portuguese fascist movement, National Syndicalism, accusing it of “exaltation” of youth, the cult of force through so-called direct action, the principle of superiority of state political power in social life, the propensity for organizing the masses behind a political leader” – not a bad description of fascism.” (p. 217)

Fascism may be defined as a form of political behavior marked by obsessive preoccupation with community decline, humiliation, or victim-hood and by compensatory cults of unity, energy, and purity, in which a mass-based party of committed nationalist militants, working in uneasy but effective collaboration with traditional elites, abandons democratic liberties and pursues with redemptive violence and without ethical or legal restraints goals of internal cleansing and external expansion. (p. 218)

 

(...)

 

Ora, na sociedade portuguesa criou-se o mito de que qualquer coisa que mexa à direita é automaticamente fascista. Seria o mesmo que eu ser intelectualmente desonesto e achar que tudo aquilo que mexe à esquerda é comunista, que é precisamente o outro totalitarismo do século XX que a par com o fascismo e nazismo vitimou milhões de pessoas, ideologias essas completamente incompatíveis com a prática da democracia liberal, da qual sou acérrimo defensor e simultaneamente crítico para com as imperfeições desta. E como há tempos me disse um professor meu, o espírito lusitano não é compatível nem com a prática do fascismo nem com a prática do comunismo real. Tentem implementar um regime assente em qualquer uma dessas ideologias e logo verão a reacção dos portugueses.

 

(...)

 

É pena que muita gente só consiga ver o mundo a preto e branco, um mundo em que aqueles que não se enquadram nos rótulos vigentes causam confusão nessas pessoas, um mundo em que os que são acérrimos defensores da liberdade de expressão  e preferem caminhar no seu próprio caminho individual são vistos com desconfiança, um mundo em que há uma crescente falta de correspondência entre o conteúdo dos conceitos e os contextos em que são aplicados, para além de uma total falta de autenticidade e honestidade intelectual.

 

E porque é que eu me presto a preocupar-me sequer com este tipo de coisas? Porque tenho a clara sensação que Orwell está presente entre nós. Aqui e agora o duplopensar e a novilíngua são uma realidade que nos está claramente a levar no caminho da escravidão e servidão. É que tal como disse ontem na minha breve interpelação e a que o Professor Adriano Moreira anuiu com a cabeça, a sociedade portuguesa tem-se tornado escrava dos que se dizem combatentes contra o fascimo, que assim se sentem legitimados perantes os outros para levar a cabo os seus intentos, mesmo que esses sejam de uma perigosidade atroz para a democracia, não permitindo aos jovens agir verdadeiramente em prol do futuro do país. De salientar que a respeito do futuro do país, é imperativo definir verdadeiramente o tal novo conceito estratégico para o país de que o Professor Adriano Moreira tem vindo a falar ultimamente, especialmente se não queremos tornar-nos um estado exíguo.

 

As palavras, as ideias, o discurso, nada disso é neutro. A análise e desconstrução do discurso é importantíssima para perceber de onde é emanada a legitimidade num regime político. Mas num regime político cuja legitimidade tem erros de vício na sua base, é especialmente dever da academia e de todos aqueles que se dizem amantes da liberdade (que se o são então são liberais, e não comunistas ou socialistas),  não se vergarem perante quem nos quer levar no caminho da servidão. Pena que muitos prefiram torcer a quebrar, até porque sabem que se forem "anti-fascistas" caem nas boas graças e prebendas do regime. Basta ter ouvido ontem um aluno de ciência política a dizer que não interessa se houve fascismo ou não porque isso é apenas uma questão de semântica, para perceber que este não entende nada do que supostamente anda (ou deveria andar) a estudar. Relembrando algumas das aulas de Ciência Política que tive, é elementar que a invenção da democracia foi feita no sentido de deixarmos de ter um dono. Para sairmos da oikos para a polis. Logo, só há democracia na polis, só há política em democracia, e a democracia não pode ter donos, a democracia é de todos e de ninguém em particular. Finalizo, portanto, com algo que escrevi há tempos a respeito dos donos da democracia no nosso país:

 

 

Estamos cada vez mais reféns dos que se dizem "democratas" quando na prática o são muito menos do que muitos daqueles que acusam de ser "fássistas", "comunas" (sim porque a maior parte dos que se dizem comunistas nem sequer leram qualquer dos seus alegados "ídolos" e só têm uma visão distorcida da história, não sabendo por isso que a prática real do comunismo é incompatível com o conceito de democracia), "neo-liberais" ou outros quejandos epítetos. Isto é demasiado perigoso, é o que tem permitido que a democracia electiva, iliberal e/ou de cariz autoritário tenha vindo a conquistar diversos países, veja-se o caso da democracia populista venezuelana.
 
E sendo assim, concluo apenas com uma frase do Henrique Burnay:
 
Falar em nome da defesa da Democracia porque dá jeito é o que põe em causa a Democracia. Mas, claro, nada disto é para levar a sério.

publicado às 19:05

Fássistas!!!

por Samuel de Paiva Pires, em 23.03.09

 

(Mural datado de 1975. Fotografia de Henrique Matos picada daqui)

 

Por estes dias, foi-me dito que o Estado Sentido é por algumas pessoas visto como um blog de "fássistas". Já não é a primeira nem a segunda vez que me dizem que por aí se diz à boca cheia que somos "fássistas". Não que eu tenha quaisquer problemas com o epíteto, já estou habituado a que me chamem "fássista", mas há qualquer coisa de muito errado na sociedade portuguesa no que diz respeito à ciência política, mesmo naqueles que deveriam perceber alguma coisa dessa. É que, logo para começar, nunca houve fascismo em Portugal - façam lá favor de se despir de preconceitos, toda a gente sabe que há por aí muitos "anti-fascistas" porque assim lhes convém para continuar nas graças do regime cuja legitimidade ainda em grande parte se baseia na luta "anti-fascista" (não se preocupem em arranjar algo melhor e depois admirem-se se isto cair de podre) e procurem ser intelectualmente honestos e academicamente rigorosos, é ler as obras do Professor Jaime Nogueira Pinto, ou para aqueles que preferem os estrangeiros, é ler The Anatomy of Fascism de Robert Paxton. Nunca poderei é sequer pegar numa obra que para aí anda sob o título de O nosso século é fascista porque o seu autor não saberá sequer o que é o fascismo.

 

No que à minha pessoa diz respeito, e porque falar de fascismo em Portugal é falar de Salazar, permitam-me uma breve nota esclarecedora. Nunca escondi a minha admiração por Salazar, muito pelo contrário, é pública e tem-me muitas vezes granjeado o tal epíteto de “fássista”, o que, tendo em consideração o meu sentido de humor e gosto pela ironia, tem uma certa piada e dá-me um certo gozo em muitas situações, até porque quem me lê e/ou conhece bem, sabe que sou um ferrenho adepto da liberdade de expressão, logo nunca poderia ser fascista. Sendo um estudante de Relações Internacionais e tendo como uma das minhas áreas de estudo preferenciais a Política Externa, julgo, ter algum sentido de Estado (daí o trocadilho do nome do blog, que inicialmente era para se chamar mesmo Sentido de Estado), coisa que vai faltando a grande parte das elites políticas cancerosas do actual regime e que Salazar tinha para dar e vender. Aliando-se esse sentido de estado de Salazar a um tremendo pragmatismo, cálculo realista e execução eficaz em matéria de Política Externa, bem como a um génio financeiro que permitiu sanear e colocar ordem nas finanças públicas e restante aparelho estatal português, parece-me apenas normal considerar Salazar como um grande estadista.

 

Agora, Salazar era tudo menos fascista, era um tradicionalista, conservador, integrista que pretendia manter a população calma, contrariamente à excitação que o fascismo advoga se provoque nas massas, e ainda que tenha utilizado instrumentos emprestados de regimes fascistas, como a censura e a repressão que, obviamente, porque sou um humanista, um liberal e politicamente incorrecto, me repugnam e repudio veementemente, foi o próprio Salazar quem reprimiu os que realmente eram fascistas, os nacionais-sindicalistas de Rolão Preto.

 

Basta atentar em dois breves parágrafos da obra de Paxton (Penguin Books, 2005) para perceber o que aqui escrevo:

 

The Estado Novo of Portugal differed from fascism even more profoundly than Franco’s Spain. Salazar was, in effect, the dictator of Portugal, but he preferred a passive public and a limited state where social power remained in the hands of the Church, the army, and the big landowners. Dr. Salazar actually suppressed an indigenous Portuguese fascist movement, National Syndicalism, accusing it of “exaltation” of youth, the cult of force through so-called direct action, the principle of superiority of state political power in social life, the propensity for organizing the masses behind a political leader” – not a bad description of fascism.” (p. 217)


Fascism may be defined as a form of political behavior marked by obsessive preoccupation with community decline, humiliation, or victim-hood and by compensatory cults of unity, energy, and purity, in which a mass-based party of committed nationalist militants, working in uneasy but effective collaboration with traditional elites, abandons democratic liberties and pursues with redemptive violence and without ethical or legal restraints goals of internal cleansing and external expansion. (p. 218)

 

Apenas admiro Salazar por aquilo que teve de bom, assim como o repudio por aquilo que teve de mau, ou seja, a repressão, a censura, a PIDE e o tal resistir aos ventos da história, portanto, praticamente tudo aquilo que se passou no pós-II Guerra Mundial. E não deixa de ser curioso o culto a Salazar nos últimos anos, os imensos livros que utilizam o seu nome para vender, livros como um recente em que até se diz que Salazar afinal era maçon.

 

Ora, na sociedade portuguesa criou-se o mito de que qualquer coisa que mexa à direita é automaticamente fascista. Seria o mesmo que eu ser intelectualmente desonesto e achar que tudo aquilo que mexe à esquerda é comunista, que é precisamente o outro totalitarismo do século XX que a par com o fascismo e nazismo vitimou milhões de pessoas, ideologias essas completamente incompatíveis com a prática da democracia liberal, da qual sou acérrimo defensor e simultaneamente crítico para com as imperfeições desta. E como há tempos me disse um professor meu, o espírito lusitano não é compatível nem com a prática do fascismo nem com a prática do comunismo real. Tentem implementar um regime assente em qualquer uma dessas ideologias e logo verão a reacção dos portugueses.

 

No que a este blog diz respeito, não se pratica a censura (moderação de comentários), não temos uma linha editorial, sempre fomos um projecto despretensioso e em que cada qual está à vontade para falar do que bem lhe aprouver, apenas sendo responsável pelas suas opiniões aquele que as expressa, temos pessoas de esquerda, de direita, monárquicos, republicanos, católicos, agnósticos, liberais, conservadores, liberais-conservadores e pessoas que não se revêem sequer em qualquer destes rótulos. Digam-me, haverá blog mais plural na blogosfera lusa?

 

O Estado Sentido tem vindo a crescer em número de visitas e consequentemente em termos de âmbito de intervenção, o que muito temos a agradecer aos nossos amigos, leitores e comentadores. Parece que isso anda a chatear muita gente, uns que nos devem achar muito liberais, outros que nos devem achar muito conservadores, e à maior parte dos quais deverá fazer uma confusão tremenda a maior parte das coisas que escrevemos por aqui com pontos de vista tão diferentes, mas será que não encontram nada mais original para nos denegrir? Até porque, bad publicity is always good publicity, mas "fássistas" já está um pouco ultrapassado. Dou prémio a quem conseguir propor o epíteto mais original!

 

É pena que muita gente só consiga ver o mundo a preto e branco, um mundo em que aqueles que não se enquadram nos rótulos vigentes causam confusão nessas pessoas, um mundo em que os que são acérrimos defensores da liberdade de expressão  e preferem caminhar no seu próprio caminho individual são vistos com desconfiança, um mundo em que há uma crescente falta de correspondência entre o conteúdo dos conceitos e os contextos em que são aplicados, para além de uma total falta de autenticidade e honestidade intelectual. Perdoai-lhes Senhor que eles não sabem o que dizem.

publicado às 01:28

Papá, o que é o Fascismo?

por João de Brecht, em 05.01.09

 

 

A palavra “fascista” é usada com muita frequência hoje em dia, não só no mundo da política, mas também na nossa vida social e profissional, se o pai ou a mãe não nos deixam sair até tarde, são “fascistas”, se o patrão não nos deixa sair mais cedo é um “fascista”, se o Benfica perde um jogo, o árbitro é um “fascista”.
Mas de facto o que é o Fascismo?
É uma doutrina baseada num ditado romano que dizia que um império só se pode manter quando funciona como um facho (conjunto de paus, que são fáceis de partir individualmente mas impossíveis quando atados e unidos). O movimento fascista foi criado em 1919 em Itália pelo nosso conhecido Benito Mussolini, defendiam um regime totalitário e corporativista, opondo-se ao liberalismo, socialismo/comunismo e ao ideal democrático. Um sistema que defendia a violência como base essencial da educação (quanto mais me bates, mais rijo fico). Apesar da errónea concepção de racismo que lhe é atribuída, ao contrário de Hitler, Mussolini não era a favor de genocídios e práticas desse género, apesar de haver alguns casos de xenofobia e violência com etíopes e outras minorias em Itália.
Houve fascismo em Portugal?
Sim, mas o único movimento fascista foi aquele liderado por Rolão Preto, curiosamente este foi ilegalizado pelo homem a quem chamam fascista, António de Oliveira Salazar. Apesar de algumas semelhanças entre os regimes italiano e português, no fundo tinham um funcionamento administrativo e actuação internacionais completamente distintos. Por isso há pequenas fórmulas que devem ser decoradas:
If Ien
N  F  C  En
Legenda:
If _ ideal fascista
Ien_ ideal do Estado Novo
En_ Estado Novo
N_ Nazismo
F_ Fascismo
C_ Caudilhismo
(Não ponham no mesmo saco berlindes de cores diferentes)
 
O que é um fascista para o PCP?
Para o Partido Comunista e para outros tantos, um fascista é todo aquele que não concorda com o ideais marxistas, por exemplo, se o Moita Flores não cede um pavilhão ao PCP para um comício em Santarém é considerado um fascista, se alguém sai do partido revoltado com alguém que está acima dele na hierarquia, é considerado um fascista, se alguém vai trabalhar como todos os outros camaradas para a festa do Avante, mas em vez de levar ciganosport tiver uma camisola da Pepe Jeans, é um fascista. São contra o MacDonalds mas já se imaginaram num país em que a comida rápida fosse servida num MacLenine? E se calhasse um Estaline aos garotos no Happy Meal? Como sabemos foi com a palavra fascista que o PCP conseguiu calar uma parte da oposição durante o Verão Quente, o nome fascista era aplicado com a maior das facilidades e tinha um carácter ainda mais pejorativo do que tem hoje. O boicote de vocabulário tornou-se na principal arma comunista até aos dias de hoje; prova disso é que eu próprio, sendo defensor de muitos dos ideais esquerda já fui chamado de fascista por não concordar com certos aspectos do marxismo! Já agora gostava de saber como é que eles classificam duas personagens da história… Francisco de Assis e D. Nuno Álvares Pereira, ambos riquíssimos que abdicaram de tudo para abraçar uma vida de pobreza, serão fascistas? Vieram de seio endinheirado e além disso eram católicos…
Cassete vermelha, cassete vermelha…
 
Vamos ser racionais e chamar as coisas pelos nomes, chamar fascista a Salazar é o mesmo que chamar António à Antonieta, apesar de ser parecido, há muitos aspectos que se distinguem. Na política devemos ser rigorosos com as terminologias usadas, correndo o risco de nos tornar facciosos e quando isso acontece perdemos toda a credibilidade no discurso, e isto é tão certo como os hábitos de higiene do Mao Tse Tung serem inexistentes ou como o facto de Marx ter sido um burguês!
 
P.S.: O Samuel está a fazer um artigo sobre o Fascismo que com toda a certeza completará os tópicos “Fascismo” e “Fascismo em Portugal”

 

publicado às 02:47

E o que eu tenho andado a fazer

por Samuel de Paiva Pires, em 27.11.08

Estou, finalmente, depois de já muitas vezes o ter prometido, a preparar um longo post, que ainda vai demorar uns dias, sobre o Fascismo. Vão aguardando...

publicado às 00:11

Resposta a indignados "antifascistas"

por Nuno Castelo-Branco, em 20.08.08

 

O tema Salazar continua a sua senda de controvérsias, despertando paixões arrebatadas ou demencial repulsa. Decorridos precisamente quarenta anos desde o fim do seu consulado como Presidente do Conselho de Ministros, é estranhamente difícil proceder a qualquer tipo de consideração - julgamento seria pretensiosamente descabido -  acerca das políticas prosseguidas durante as diversas fases do regime do Estado Novo. Como já suspeitava, o post relativo ao posicionamento de Portugal na II Guerra Mundial, ocasionou algumas reacções via e-mail a que me vejo obrigado a responder de forma sucinta. 

 

1. João Leitão.

Este nosso leitor acusa-me de "criptofascismo", como se a minha pobre pessoa tivesse algo a perder no campo dos negócios ou vida social. Enfim, esse alegado cavernicolismo cerebral é facilmente conectado com hipocrisia ou carácter ínvio e de duvidosa credibilidade. São estas grosso modo, as suas palavras.

O fascismo teve o seu tempo e surgiu num contexto económico, logo político e social, que é bem conhecido. Consistiu numa lógica reacção - e para muitos dos seus entusiastas - , num refúgio perante ameaças que se vinham acumulando desde meados de oitocentos. Como bem sabe, a ordem social do liberalismo, com o seu edifício constitucional de liberdades instituídas por Lei, permitiu a ascensão de sectores sociais ao poder, acelerou as grandes transformações  na indústria e comércio, libertou os espíritos de peias  tacitamente aceites durante séculos. Essa ordem burguesa, garantindo a forma representativa de governo, reconheceu também e de forma bastante clara, a perenidade das instituições tradicionais, das quais hoje, as monarquias belga e espanhola são lídimas representantes. O papel do Chefe do Estado foi salvaguardado, a Igreja - para os crentes e para os não crentes - foi considerada respeitosamente como legado de um passado que permitiu os novos e ansiosamente irrequietos presentes. O negregado "sistema liberal oitocentista" viu eclodirem novas formas de manifestação artística e a sua transposição às grandes oportunidades oferecidas pelas maravilhosas inovações tecnológicas da revolução industrial, desde os químicos, à electricidade ou à construção em ferro. Desta forma, torna-se compreensível a estupefacção perante a emergência de sectores iconoclastas desse alvorecer da Belle Époque - 1848 e 1871 foram alguns dos mais audíveis sinais de alarme - e na profícua sementeira nacionalista do bonapartismo, foram colher o alimento ideológico que evoluindo também mercê dos condicionalismos impostos pela situação política internacional, fizeram irromper o fascismo. Na realidade, este movimento não obedeceu nem surgiu ao  sabor do desejo ou impulso deste ou daquele Chefe, mas sim, foi lentamente evoluindo ao longo de décadas, cristalizando-se sob este nome, na Itália de Mussolini. É certo que os horrores da revolução bolchevique precipitaram a sua tomada do poder como partido organizado aliás, à semelhança dos seus congéneres vermelhos. Não me alongando, o fascismo teve a sua época.

Em Portugal, nunca existiu Fascismo tal como o italiano ou alemão. Mesmo o caso alemão pode ser considerado como uma variante mais identificável pela forma ritual, que pelo verdadeiro conteúdo da ideologia racista ao movimento inerente, ambições de colonização dentro do espaço europeu e total repúdio pela ordem diplomática/internacional consagrada pelos Tratados e pela tradição. O regime do Estado Novo obedeceu à imperiosa necessidade de saneamento de uma situação absolutamente caótica e hoje dificilmente compreensível pela nossa sociedade. Habituados a uma prolongada paz social, à praticamente ausente inflacção e a uma já resignadamente aceite forma de rotativismo - tal como acontecia na Monarquia -, é quase impossível imaginar a situação vivida pelos nossos avós e bisavós, onde a coacção, o medo, as perseguições e uma ameaçadora miséria, faziam-nos desejar a instauração de uma "situação de normalidade".

O caso do posicionamento de Salazar perante a guerra, é paradigmático daquilo que o interesse nacional sempre foi, é e continuará a ser, acima de qualquer luta partidária ou ideológica. Muito provavelmente teria sido a política de uma Monarquia Constitucional que não tinha caído em 5 de Outubro de 1910. Teria sido também a única política de uma 1ª república que tivesse a duvidosa oportunidade de se regenerar e "viver habitualmente", isto é, sem a recorrente violência nas ruas e nos espíritos. A nossa neutralidade perante a Guerra, foi benéfica e honrosa e se o João Leitão se interessar, poderá consultar aquilo que as diversas chancelarias, desde a alemã à britânica e italiana, tinham a dizer da política portuguesa. Quando das negociações do armistício italiano de 1943, Lisboa foi o local privilegiado para os contactos entre a Casa de Sabóia - a soberania - e os Aliados e não são segredo para ninguém, as movimentações lisboetas dos diplomatas do rei Miguel da Roménia e do regente Horthy da Hungria. Se escolheram Portugal como porto seguro para a saída de uma situação catastrófica, isso quer dizer algo, pois poderiam muito bem ter optado pela consagrada neutral Suíça ou pela social-democrática Suécia. Quanto a estes neutrais, sabe bem que foram activos colaboradores do esforço de guerra do Reich, pois a par do vital minério de ferro sueco, a Wehrmacht foi abundantemente servida de munições suíças e suecas, canhões Bofors suecos, etc. Este comércio foi muitíssimo mais comprometedor que o envio de conservas e de umas toneladas de volfrâmio ou de alguns produtos coloniais, aliás com o pleno conhecimento dos ingleses. Não, Portugal foi eleito como ponte entre dois mundos desavindos e a figura austera de Salazar foi uma referência.  Quanto ao alegado - o J.L. diz mesmo Sieg Heil! - de Salazar perante a Alemanha, muito se pode dizer, desde as negociações para as Lajes - um tremendo desastre para os U-Boot -, até às múltiplas distinções de que foi alvo por parte dos britânicos que o condecoraram durante a guerra pelas mãos do próprio irmão do rei Jorge VI  e o nomearam doutor Honoris Causa pela mais prestigiada universidade inglesa. Portugal seria também, um membro fundador da NATO, afinal um prolongamento da Grande Aliança anglo-americana de 1941-45. 

Nasci muito depois do fascismo ter sucumbido em Roma ou se preferir, na Chancelaria de Berlim. É um mundo ou uma forma de estar e organizar gentes e mentes que nos são hoje tão remotas, como o próprio oitocentismo liberal, com o qual, apesar de tudo, ainda temos muitas afinidades nos nossos comezinhos quotidianos de consumismo ou sobrevivência. Estamos aqui a dialogar por isso mesmo e é bom que disso o João Leitão não se esqueça.

 

2. Maria José Lopes 

 

A cartilha da "colaboração portuguesa" com a Alemanha nacional-socialista, tem para si - uma assumida comunista -, algumas características que decerto lhe agradarão. O seu partido, logo após a assinatura do pacto Molotov-Ribbentrop, dedicou-se durante dois anos, aos mais desabridos ataques à posição inglesa no conflito, omitindo convenientemente os intuitos claramente expansionistas de índole imperial do Reich. Se por milagre conseguir encontrar e ler alguns exemplares do Avante! (1939-41), ficará edificada com o conteúdo da prosa claramente pró-Eixo (nas entrelinhas, pois isso convinha aos tutores soviéticos) e com um pouco de sorte,  deleitar-se-á com a opinião de um certo trânsfuga que dá pelo nome de Álvaro Cunhal. 

O seu "partido irmão francês", o PCF,  forneceu o núcleo duro da colaboração durante o drôle de guerre e do seu seio sairiam os fundadores - Jacques Doriot, por exemplo -  do PPF, a sucursal do NSDAP em França. Para não falarmos dos embaraçosos e conhecidos casos de sabotagem comunista nas fábricas de material de guerra, preciosa ajuda moral e material à Alemanha.

Como curiosidade e apesar de se encontrar nos antípodas da sua paixão política, a própria Dinamarca, com um governo socialista, colaborou com o Reich sob o regime de ocupação, sem que as autoridades democráticas de Copenhaga vissem nisso qualquer problema. Pelo contrário, furtaram-se desta forma à administração de um gauleiter  ou de um Reichsprotektor nomeado por Berlim. E muito mais há para dizer e principalmente, quanto à descarada colaboração soviética-alemã antes de Junho de 1941.

 

A sua última preocupação: saber se eu tinha sido membro de alguma "organização fascista" do Estado Novo.  

Como já caracterizou apressada e alarvemente o Estado de Novo de "fascista", terei que ceder nesse ponto tão crucial para o julgamento da minha insignificante pessoa. Sim, de facto fui, como todos os meninos a partir dos seis anos de idade, membro da MP de Moçambique, que, caso lhe seja facto desconhecido, era uma organização de cariz marcadamente cívico e que nivelava pela igualdade todos os seus membros, fossem eles brancos, negros, indianos, mestiços ou chineses. Graças a esse alegado "fascismo", existia a Caixa Escolar para os mais carenciados. Graças a esse "fascismo" tínhamos aquilo a que hoje risonhamente - porque se trata de facto de uma farsa - se chama OTL's. Existiam actividades tão diversas como ginástica, escultura, pintura, música, teatro de fantoches, modelismo, canoagem, aulas de natação, caminhadas, campismo, etc. Jamais tivemos qualquer aula de doutrinação e o mais longe que os monitores foram, consistiu na promoção da ideia de igualdade dos portugueses de todas as raças, como então se dizia. Tudo isto nos remete para um outro universo bem conhecido (?) da Maria José Lopes, para os "Pioneiros" dos países comunistas, onde a par das actividades lúdicas que mantinham as crianças longe da ociosidade, existia a lavagem cerebral e o incentivo patriótico à denúncia dos seus. Mais lhe digo, para seu final contentamento, que ainda possuo alguns elementos daquele uniforme que me ficava tão bem: o cinto e o emblema em tecido, da camisa (pendão de D. João I). Console-se com este crime.

 

* Para conhecer um Salazar inédito para muitos, recomendo a leitura do livro que surge na imagem.

 

 

publicado às 11:34






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