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Tenho de ter alguma atenção. Os amigos são amigos dos seus amigos, e não necessariamente amigos da ética e dos valores que devem nortear as nossas sociedades. Não faço parte do clube dos amigos Disney. Não andei a dar palmadinhas nas costas e a obter favores de proximidade. Estou à vontade. Sou um bastardo dessas sortes de salão, um desfiliado da amizade de décadas de grémio. O que diria Fernando Pessoa da união de facto dos 38 consagrados que se inscrevem na pauta em defesa do bom nome de Inês Pedrosa? Não teço comentários sobre o desempenho da escritora nem sobre a direcção da casa Fernando Pessoa. Não é isso que está em causa. Bastou-me mencionar a "possibilidade" de Marcelo Rebelo de Sousa puxar cordelinhos para prolongar a excepcionalidade da Cornucópia e seu mentor, para que prontamente fosse designado de "achinquilhador". Prontamente atiraram-me à cara que desconhecia os 43 anos de arte e saber. Não quero ver a lista de desassossego dos macróbios da terra para não ficar ainda mais enojado. Reporto-me aos factos. Houve favorecimento de um companheiro? Houve dinheiros atribuídos em virtude de "contratos" que não obedeciam ao normativo vigente? Houve lesados directos por não terem tido às mesmas condições de acesso a um expectável concurso? Em vez de buscarem o silêncio e a penitência, os 38 artistas que fazem parte do casamento, são homónimos da mesma prevaricação. Nada em Pessoa é insignificante. Nem essa nuance burocrática. E ele avisou-nos em tempos idos, em vida e depois de desfalecido. De pouco serviu.
Queria começar com a gravata perdida do ministro que passou revista aos militares, mas tropecei nesta outra modalidade de descontração. António Costa contrata amigo a preço simbólico? Se isto não configura tráfico de influências, favorecimento e dumping, Sócrates também não é amigo de Dilma. Portugal continua igual a si: o país das amizades, das borlas, dos favores, do fico a dever-te qualquer coisa, do depois acertamos contas. Enfim, a falência ética em todo o seu esplendor de quem não pode merecer o respeito do povo de Portugal. Quanto à gravata e o nó que deixa na garganta. Estamos a falar da instituição que assegura a defesa de um país. Estamos a falar das forças armadas que alicerçam a sua escola na disciplina, no rigor e nas hierarquias de comando. Estamos a falar num código de conduta que corresponde a uma tradição que não pode ser enxovalhada. O exemplo do chefe deve ser descartado sem demoras. Mina uma gama alargada de princípios que orienta a instituição militar. A gravata, assim como o contrato que Costa firmou com o seu melhor amigo, devem ser do género pro bono. De graça, sem ter piada alguma. Mas por alguma razão estamos a registar cada vez mais deserções. As chefias militares estão abandonar a geringonça. E não tarda muito, quando as ilusões caírem por terra, a Catarina Martins também abandonará o cangalho. O que julgam que significou a viagem de 24 horas de António Costa à Grécia para posar com Alexis Tsipras? Foi precisamente para defender o interesse nacional. O interesse nacional dos acordos com o BE e PCP atados com cordel feito num desenlace que ainda vai engravatar todos os portugueses.
Estão surpreendidos? A Câmara Municipal de Lisboa (e as restantes autarquias) deve (m) ser virada (s) ao avesso. Por um instante apenas ponham de parte os partidos e a política. Concentrem-se na ideologia de mercados e dinheiro. Na religião das influências. No sector profissional da troca de favores. Estão chocados com os alegados favorecimentos da autarquia ao Grupo Espírito Santo? Pois, não deviam estar. Sabemos como as coisas funcionam. Imaginem uma enorme orgia com convidados de todos os parâmetros económicos e sociais. Um enorme lóbulo de amigos e compadrios, arquitectos, empresários, escritores, poetas, intelectuais, fazedores de opinião, jornalistas, advogados, construtores, gestores de resíduos sólidos, responsáveis de outdoors, directores de agências de comunicação, donas de quiosques e refrescos - tudo misturado numa bela caldeirada de vantagens para quem está no poder e não só. É disso que se trata. Venha de lá essa sindicância, a investigação levada a cabo por instâncias judiciais. O que é realmente impressionante é ter havido tanto silêncio durante tanto tempo. Alguém colocou uma tampa firme sobre a panela. Pelos vistos há limites para a pressão que se aguenta. Quero lá saber de timings e calendários eleitorais. Está a acontecer agora? Ainda bem. Portugal e Lisboa merecem melhor.