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Nuno Melo em resposta a Filipe Anacoreta Correia: "O fogo amigo também mata. E o fogo amigo, para ser amigo, tem que ser involuntário. E o teu muitas vezes não o parece."
Esta retórica do amigo e do inimigo não é propriamente original. Explorada por Schmitt em The Concept of the Political, só é pena vê-la transposta para a praxis supostamente democrática de um partido político português, onde seria mais apropriado observar-se o que Aron chamava de institucionalização de conflitos e o que tantos têm realçado como virtudes da democracia, o pluralismo e a tolerância. No entanto, lá vai servindo os seus propósitos, reforçando a coesão interna de um grupo à moda de Bismarck contra Napoleão III, e até nem faltam alusões ao interesse nacional, esse conceito gasto pelo mau uso e prostituído pelo abuso, de que alguns julgam ter o monopólio e não se envergonham de aplicar na retórica primária do "nós" contra "eles", em que se concebe a política não como uma arte de unir contrários pelo consentimento e persuasão, mas apenas como um jogo de soma zero em que se procura aniquilar os opositores através da força e da opressão. Mostra, precisamente, que o CDS é, actualmente, um partido imaturo ao nível da sua democraticidade interna, que lida mal com a divergência, contrariando directamente não só um dos seus fundadores, como muitas das suas alegadas referências ideológicas, de onde destacaria, por exemplo e para não me acusarem de ter um viés liberal ou conservador, Jacques Maritain, para quem o pluralismo era uma característica essencial da democracia cristã.
Leitura complementar: Por um CDS mais democrático; Há quem diga que não há CDS sem Paulo Portas; À atenção de Nuno Melo.
1 - Ao contrário do que muitos jornalistas, especialmente afectos ao Expresso, parecem desejar, não há razão nenhuma para que o Congresso não se realize. Bem pelo contrário, atendendo à periclitante situação espoletada por Paulo Portas, o facto de termos um Congresso, órgão máximo do partido, dentro de poucos dias é até inestimável, pois permitirá desde logo ultrapassar esta situação, quer a nível interno, quer, especialmente, a nível da posição do CDS no Governo.
2 - É falso que Paulo Portas seja o único candidato à liderança. Existem vários potenciais candidatos, os primeiros subscritores das moções globais de estratégia apresentadas.
3 - É verdade, como ontem aqui escrevi, que a moção de Paulo Portas foi invalidada pela demissão do próprio. Isso não significa que as restantes moções, especialmente a moção CDS + à Frente, liderada por Filipe Anacoreta Correia, o tenham sido. Bem pelo contrário, e como o próprio Filipe já fez notar:
«Anacoreta Correia desvaloriza, no entanto, esse facto e considera que quem quiser candidatar-se à liderança pode faze-lo já neste sábado. "O congresso está marcado e há todas as condições para aparecerem outras candidaturas. Basta que o primeiro subscritor de qualquer das moções apresentadas indique um candidato", sublinha o dirigente critico de Paulo Portas. Anacoreta Correia, enquanto primeiro subscritor da moção de estratégia do Movimento Alternativa e Responsabilidade, admite assumir-se como candidato à liderança, e não poupa nas críticas à "irresponsabilidade" da atitude de Portas. Que, nota, contraria tudo o que o líder centrista escreve na sua própria moção de estratégia. "A palavra estabilidade é central na moção de Paulo Portas. Quem votar a favor da moção dele não pode votar nele", frisa.»
«Filipe Anacoreta afirmou esta quarta-feira que a decisão de Paulo Portas é uma “decisão irreflectida, incoerente e totalmente irresponsável". Para o líder da tendência Alternativa e Responsabilidade (AR) do CDS-PP, a demissão do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros "contradiz" o que o presidente dos centristas defendeu na sua moção ao Congresso e "atira o País para uma crise de enorme gravidade", que "põe em causa provavelmente os sacrifícios dos portugueses ao longo destes anos".
Filipe Anacoreta apelou assim ao CDS/PP para que não “caia com o seu líder”. “Há que fazer um apelo aos governantes, aos dirigentes, aos principais responsáveis, para que não se precipitem, dêem a voz ao partido", afirmou.
"Nós temos, por coincidência ou não, um congresso marcado para daqui a três dias, é a reunião magna, e no meu entender é a altura adequada para o partido se pronunciar e para tentar não seguir nesta precipitação para que o líder nos conduziu", sublinhou Anacoreta que não colocou de parte a hipótese de se candidatar à presidência do partido.
Questionado se o partido deve continuar a apoiar o Governo sem Paulo Portas, Filipe Anacoreta respondeu: "Acho que nós temos que fazer todo o esforço para pôr o País acima do partido e as circunstâncias pessoais de cada um subordinadas ao interesse do partido e ao interesse do País. Foi assim que o doutor Paulo Portas sempre afirmou que faria e é isso que nesta altura nós temos também que fazer".»
«Filipe Anacoreta Correia, subscritor de uma moção de estratégia global ao congresso do CDS do próximo fim-de-semana e candidato à liderança do partido, criticou nesta quarta-feira ferozmente a decisão de Paulo Portas de abandonar o Governo, considerando-a “precipitada, incoerente e totalmente irresponsável”.
“É altura de segurar o partido e não permitir que ele caia com o seu líder, por isso entendo que é da maior relevância a realização do próximo congresso e o CDS deve partir para ele com muita confiança e com a certeza de que o partido terá soluções para apresentar e para pacificar o país”, defende Filipe Anacoreta Correia, o rosto do Movimento Alternativa e Responsabilidade, a ala crítica da direcção do partido.
Para este conselheiro nacional, “não faz sentido” adiar o congresso porque isso – argumenta – “seria prolongar a incerteza e a indefinição politica e neste momento isso é crucial para o país”. “O congresso está convocado e entendo que há condições para sua realização e o partido tem de mostrar que é rápido a afirmar estas soluções”, diz o advogado Filipe Ancoreta Correia, reconhecendo que nestas circunstâncias o adiamento seria a “primeira tentação fácil”, mas isso não pode acontecer, “porque isso seria prolongar a incerteza e a indefinição política neste momento crucial para o país”.
Ao PÚBLICO, Anacoreta Correia diz ainda que o “partido tem de ser rápido, porque o país não pode estar suspenso, não pode aguardar por indefinições”. E remata: “É preciso dar a voz ao partido. É tempo de olhar para o futuro”, porque – realça – a “conduta de Paulo Portas à frente do partido prejudica o país”.»
Quando faltam poucos dias para o 25.º Congresso do CDS, a ter lugar na Póvoa de Varzim no próximo fim-de-semana, tenho o prazer de anunciar aqui a moção CDS + à frente, que tem como primeiro subscritor Filipe Anacoreta Correia. Trata-se de uma moção de estratégia global apresentada por um grupo de militantes que pretende contribuir para a pluralidade do debate interno no CDS e propor um novo rumo para o país, sugerindo várias ideias que possam consubstanciar uma reorientação das políticas que têm sido prosseguidas pelo actual governo. É uma moção que se apresenta "ao Congresso com total empenho e forte sentido de responsabilidade, com economia de palavras e centrada naquilo que considera primordial: a afirmação de políticas que devolvam a Portugal a liberdade e a soberania e combatam o flagelo social e económico em que nos encontramos."
Venham conhecer-nos amanhã, Terça-feira, pelas 21h30m, na sede nacional do CDS, onde Filipe Anacoreta Correia apresentará a moção.
Nuno Magalhães esteve há pouco na SIC Notícias a tentar justificar o injustificável. Quer-me parecer que Paulo Portas se meteu e ao CDS num grandessíssimo sarilho cujo impacto se vai prolongar pelos próximos anos. Afinal, Filipe Anacoreta Correia tinha razão:
"O doutor Paulo Portas cometeu um erro político ao ter afirmado de uma forma peremptória oposição a medidas que procurem solucionar o problema da sustentabilidade da Segurança Social e que, dificilmente, poderão não passar por algum tipo de cortes em relação às pensões", afirmou.
Para o líder da Alternativa e Responsabilidade (AR), Portas devia ter sido mais "ponderado e cauteloso" e "corre o risco de cometer o mesmo erro do passado, quando disse que era frontalmente contra o aumento de impostos".
"O CDS poderá estar a contribuir para alimentar expectativas que depois não tem capacidade para satisfazer", afirmou.