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No dia em que licenciaturas fazem mais duas baixas no governo há mais fraudes a lamentar. Uma de lesa as costas e outro de lesa a Pátria. A tadinha da Tadeu reclamou que havia necessidade de haver cabides nas Necessidades, mas ninguém lhe deu ouvidos. Zás, cadeira para que te quero - toma lá jaqueta. E, sem demoras, logo nas horas seguintes, Catarina Martins e a sua gente, também segue caminho análogo. Zás, cadeira para que te quero: para não levantar o traseiro e aplaudir um chefe de Estado convidado pelo povo de Portugal. Sim, convidado pelo povão lusitano alegadamente representado por titulares dos mais altos cargos da nação. Geralmente são os americanos que têm a fama e o proveito de serem uns mal-educados, mas o Bloco de Esquerda quer fazer escolinha. O mais grave disto é que isto é uma espécie de anti-summit. O bem receber português não tem nada a ver com estes tristes. Eu que o diga e em primeira mão. Os estrangeiros são recebidos maravilhosamente. No entanto, o devaneio da anarco-teatral Martins deve ser tratado com o respeito que lhe é devido - ou seja, nenhum. Diz a moçoila que não reconhece teor democrático às escolhas reais que decorrem de linhas dinásticas. Que as mesmas enfermam de bastardia de autoridade. Talvez me possa explicar a Martins qual a ascendência de uma revolução? Um golpe militar é validado por que fonte? Pela fonte divina ou por um riacho cubano que faz jorrar sangue que nunca mais acaba?
Foi a sensatez e sentido das proporções que para nossa desgraça, faltou aos Costas, Bernardinos e Camachos. Durante quatro anos Afonso XIII tudo fez para manter a neutralidade espanhola, sendo por isso mesmo homenageado pelos seus compatriotas e pelos estrangeiros de ambos os campos em combate. O monarca desenvolveu um inestimável serviço junto dos prisioneiros de guerra, estabelecendo contactos, garantindo o correio, vigiando o tratamento ministrado pelos captores, distribuindo o precioso auxílio moral e material. Quando após a sua deposição chegou a Paris e logo em seguida a Londres, foi recebido por multidões agradecidas pelo seu trabalho durante a tragédia que foi a Grande Guerra.
No âmbito do centenário da eclosão da I Guerra Mundial, Filipe VI está hoje em Liège, não se entende bem a razão. Podemos considerar uma explicação para além deste insólito pro forma. Sendo um trineto do Kaiser Guilherme II, talvez a esse facto se deva a sua presença, juntando-se aos descendentes de Alberto I dos belgas e de Jorge V da Grã-Bretanha. Uma foto da família agora não desavinda.
As regras são aquelas que se esperavam após a ascensão ao trono. Oxalá por cá se adoptassem normas de conduta como as agora anunciadas em Madrid e porque não?, uma audição a todas as contas de Belém. Sugere-se uma data de partida para o esmiuçar: 1986.
O Eixo do Mal encerra a grande vantagem de servir como bomba de extracção de todos os dejectos semanalmente expelidos pelo sistema vigente. Poupa-nos o trabalho de pesquisa para um post. O eixo balsemónico tem por norma a escolha de dois ou três casos candentes, ou por outras palavras, as principais vigarices, incompetências ou faltas de juízo protagonizadas pelos áulicos do regime:
1. A reunião do Conselho de Estado que aquele génio encerrado numa garrafa de Agarol considerou interessante, foi coisa tão relevante como uma visita presidencial a um torneio de golfe em Cascais-Quinta da Marinha. Quando pensamos que aquele órgão gloriosamente serviu durante a Restauração e decidiu a salvação da soberania quando transferiu a capital portuguesa para o Rio de Janeiro, fácil é percebermos aquilo que hoje é. Nada.
2. A Intifada no PS, esta semana desenvolvida com uma autodestruição de cartazes e mais algumas sandices protagonizadas por Seguro e pelo piramidal Costa. É interessante verificarmos as cada vez maiores semelhanças entre o PS e o seu predecessor Partido Progressista da Monarquia Constitucional. Em matéria de faltas de tacto, mau perder, urdidura de influências dos finca-pé do esquema vigente, pusilanimidade e descarada inépcia demonstrada em Lisboa, Costa facilmente consegue bater o há quase um século desaparecido sr. Alpoim: eu quero e desejo o poder pelo poder; nada mais. Onde isto poderá chegar, já todos adivinham.
3. O Caso BES, assunto tão sórdido quanto pouco surpreendente, pois há anos todos sabemos ou desconfiamos de algo que agora é evidente. Voltando ao génio do Agarol, é sempre oportuno recordarmos os meandros da ascensão do sr. Sócrates ao cargo de 1º ministro, logo após uma embaixada chefiada pelo então chefe do BES e a consequente dissolução parlamentar decidida como se de um laxante se tratasse. Todos agora se arrepelam pela nomeação da gente do PSD para a gestão do BES, coisa tão expectável como lógica neste regime. Dantes, era normal lermos e ouvirmos protestos acerca das interferências dos banqueiros na política, mas pelos vistos chegou um tempo de vindicta, passando os políticos ao grande sacrifício da gestão daquelas crateras capazes de engolir o país inteiro. Surpreendente é a reacção da nossa gauche a esta escalada PSD, até porque segundo os cânones ideológicos, à direita compete o interesse por esse sector da economia e finança de mercado. Ou pretenderiam o PC e o BE uns tantos lugares naqueles antros da mais desbragada plutocracia? Com o PSD - o PS já lá está há muito - no BES, talvez o regime consiga esconder o que por lá alegadamente se passa há décadas e com isto salvar-se-ão as vidinhas e carreiras de muita gente do hemiciclo e arredores, gauche incluída.
II
A visita dos Reis de Espanha
Já aqui tinha sido dito que para qualquer comentador da nossa praça, antes de qualquer charla a respeito da Monarquia, é sempre necessário recorrer ao cerimonial da ablução republicana. A partir daí, da forma mais alvar podem eles tecer loas á Monarquia, seja ela a belga, a espanhola ou a britânica. Desde que não seja a hipotética portuguesa, tudo muito bem. Nisto existe uma unanimidade em todos os canais televisivos e no caso da TVI24, tivemos hoje o testemunho do jornalista Pedro Anunciação. O homem - "não sou monárquico" but no, but yeah, but no, but yeah - disse duas ou três coisas com algum sentido.
Durante alguns minutos, vi-me transportado para a sede do PPM dos anos 80, então sita na Rua da Escola Politécnica. Foi uma autêntica viagem no tempo, parecendo estar a escutar o Rodrigo de Moctezuma, o Morais Sarmento, o Melo Lapa e alguns anónimos Zekas que por lá pontificavam. A cara, o tom de voz, o penteado e a indumentária, o deslumbramento pelo Espanha, Espanha, Espanha, o desbobinar de nomes de gente bem - mas afinal os Espírito Santo são mesmo gente bem cuja ascendência remonta a Tutmés II, ou o costado da primata Lucy é muito mais credível? - , comezainas, voyages, encontros fortuitos em paraderos nas imediações de Badajoz, etc. A isto e pouco mais se resume aquilo que descobrem "na Monarquia".
De Filipe VI ficamos a saber que é por Pedro Anunciação considerado como monocórdico, algo que que teremos de decifrar na sua decerto elaborada escalpelização daquilo que o Rei de Espanha é como ser humano e homem de Estado. Pois bem, longe de campechanismos, este tom monocórdico parece antes de tudo significar ponderação, prudência e poucos "tu cá tu lá" tão ao gosto do nacional porreirismo que em toda a Península vinga. O jornalista é capaz de estar certo em algo que talvez não tenha considerado: aquilo que os espanhóis mais criticavam em João Carlos I, era precisamente o que a generalidade dos europeus consideram ser características dos próprios espanhóis. Como Filipe VI "sai à mãe", parece que podemos antever muita seriedade e um estrito sentido do dever. Um aborrecimento, portanto.
"Apesar da comitiva e da segurança, não dei por que os reis de Espanha estivessem no hotel. Um Secretário de Estado português teria sido mais conspícuo. Não vi o rei Juan Carlos que não saiu do último andar, excepto no dia em que se foi embora. Mas vi a rainha na varanda comum, a tomar um chá e a discutir com um secretário com muitos papéis não sei que problema. Na mesa do lado, a ler um livro, nunca me distraíram ou incomodaram. Aquela monarquia despretensiosa e bem-educada não me pareceu um perigo para ninguém. De resto, não passa de um símbolo, com algumas funções de representação e, constitucionalmente, sem sombra de poder político. Como em Inglaterra, o rei nem sequer dissolve o parlamento e lê no parlamento os discursos que o governo lhe manda.
Agora, Juan Carlos resolveu abdicar e foi substituído por Felipe VI. Parece que Juan Carlos perdeu o prestígio por causa de uns tantos casos de infidelidade conjugal (que não se percebe como interessam ao Estado) e por causa de uma caçada ao elefante no Botswana, em que partiu uma perna (um genro vigarista no tribunal também não ajudou). Nas cerimónias de sucessão, uns vagos milhares de pessoas gritaram“España mañana será republicana”, provavelmente inconciliáveis da guerra civil (1936-1939) ou anti-franquistas que guardaram uma velha vontade de revanche. Esperemos que nunca aí se chegue por duas razões. Primeira, porque o rei é melhor garantia da unidade do país. E, segunda, porque a República tarde ou cedo criaria um tumulto em Espanha e na Europa.
Um presidente sairia por força de uma das nacionalidades de Espanha que se autodenominam “históricas” (Castela, Catalunha, o País Basco e a Galiza), sendo suspeito aos grupos que ficassem de fora: uma receita infalível para a desordem e o conflito. Pior ainda, a dissolução de Espanha iria inevitavelmente encorajar o separatismo da Escócia e do norte de Itália. De qualquer maneira, não se compreende a ansiedade de um pequeno povo para se fechar na sua pequenez (nós por aqui sabemos bem quanto ela custa) ou o desejo de falar uma língua que ninguém mais fala ou escreve. Esta perversão do paroquialismo, numa economia global e num mundo em que o inglês se tornou de facto a “língua franca”, leva fatalmente ao isolamento e à fraqueza, pelo prazer de uma glória “nacional” sem sentido. A Escócia, pelo menos, quer ficar com a rainha e, de caminho, com a libra."
1. Sendo um dado tão previsível como amanhã ser sábado, os canais televisivos têm demonstrado um misto de fascínio pelo que "cá também poderíamos ter", profunda inveja pelintreira de meia branca e irritação por tudo aquilo que ontem vimos em transmissão directa de Madrid. Os duzentos e poucos símios que apenas não passaram despercebidos mercê dos bons ofícios das Judites de cá e de uma meia dúzia de outros preenche-horários de telejornal, não foram suficientes para estragar uma festa que afinal todos previam. Dizia há umas semanas que os espanhóis - os tais nefandos monárquicos - não precisavam de organizar qualquer manifestação de desagravo, pois esta naturalmente surgiria no dia da proclamação.
Filipe VI desfilou lentamente pelas principais avenidas e praças da sua capital, coisa que em Portugal é impossível desde aquela tarde de 1 de Fevereiro de 1908. De pé, em carro descoberto, não temeu, porque nada deveu ou deve. Estava entre os seus. Gostaríamos de um dia podermos verificar em Lisboa, um simulacro daquilo que o Rei de Espanha fez em Madrid, subitamente deparando com o Sr. ACS descendo a Avenida da Liberdade a bordo de uma viatura descapotável e em data comemorativa à escolha. Também seria interessante vermos o Sr. Soares a pé Chiado abaixo, previsivelmente nada ameaçado por qualquer retornado de boa memória ou um daqueles agora camaradas que há uns vinte e poucos anos lhe desferiram uns sopapos na Marinha Grande. Quanto a Sampaio, esse estará sempre à vontade, tão à vontade quanto qualquer vendedor de castanhas de desconhecida identidade. Saberá alguém distingui-lo num grupo de três peões?
2. O zapping permite-nos avaliar a perspicácia da gente da nossa informação. Claro que todos repararam no facto de Filipe VI ocupar hoje o gabinete ainda há dias pertencente ao seu pai e antecessor no trono. Pela esganiçada conversa das nossas várias Judites, o novo Rei mudou duas ou três fotos.
Também se tornou bastante nítida a mensagem que o Rei enviou ao mundo, mas que infelizmente passou totalmente despercebida aos nossos crânios da informação. Durante anos, João Carlos I trabalhou naquele gabinete onde pontificava o retrato de Filipe, o fundador dos Bourbon de Parma.
Filipe VI já não precisa de a todos indicar um início ou um recomeçar do que quer que seja. A ordem natural está estabelecida e escolheu como mudo vigilante do seu trabalho, aquele que foi o mais capaz dos Bourbon espanhóis. Esta manhã, o retrato de Filipe de Parma tinha sido substituído pelo do seu irmão, o muito feio, honesto, brilhante estadista, austero e grande monarca Carlos III. Esta é uma clara indicação daquilo que o novo Rei pretende ou gostaria de realizar durante um reinado que esperamos longo e frutuoso. Um reinado de profundas reformas, honradez e crescer do poder espanhol na Europa e no mundo.
O Rei Filipe fez uma excelente escolha, este foi um sinal que em tela complementa aquilo que dele ontem ouvimos nas Cortes. Oxalá seja esta subliminar mensagem perfeitamente entendida em Espanha e também - o reinado de Carlos III em muito influiu em Portugal - para cá da fronteira. Neste caso, a periclitante república portuguesa que se cuide.
Os meias brancas da nossa informação especializada em mexericos, dramas, terrores, adenovírus urbi et orbi, pés chatos, naperons sobre a geleira e cachecol do clube emoldurando a TV, andam numa fona com o que nas últimas vinte e quatro horas se passou em Espanha. A gente de Balsemão - João Carlos I deveria ser mais selectivo quanto às amizades que por cá mantém - fala de uma "maré republicana", para logo depois depararmos com a visão de uma modestíssima praça que dá pelo nome del Sol, apinhada com 20.000 pessoas oriundas das sedes habituais. Em Barcelona, foi ainda menos evidente a reclamação da república, reunindo apenas 5.000 furibundos. Tão modestas reuniões, fazem-nos logo recordar a ainda muito recente festança da vitória do Real Madrid que em pouco mais de meia hora, arrebanhou um milhão de entusiastas de "bandeira monárquica" em riste. Perdão, há que chamar-lhe bandeira de Espanha. Por outras palavras, no nosso CRonaldo vale mais que todo o pagode visto nas Puertas del Sol, Ramblas e similares.
Por cá os artifícios são sempre os mesmos vulcões de ranho espirrado por patetas pivotados apontando o dedo a quem para lá da fronteira, vive num país muito mais moderno, justo e progressivo que esta grotesca republica de falsários, incompetentes institucionais, reservistas mentais e reputados gatunos de comenda ao peito. Dir-se-ia que a gente da RTP, SIC e TVI jamais deu conta dos Limites Materiais da revisão constitucional, pecisamente no que estes apontam naquele infamante artigo que proibe os portugueses de reporem no devido lugar, a legalidade histórica e institucional roubada em 1910. Em Portugal, nada de referendos!, pois vigora o princípio do facto consumado, seja este quanto à república, "descolonização", adesão à CEE, Maastricht, adopção do Euro, Tratado de Lisboa, etc. Como a propósito de Maastricht disse um dia o Sr. Cavaco Silva, ..."os portugueses não estão preparados para este tipo de decisões".
Quanto a Espanha, nada de preocupante. As entrevistas feitas in loco já demonstram a falta de convicção e de fibra daquela gente: já não se trata de João Carlos I o tal O Breve de quase quarenta anos de reinado. Já nenhum deles se ilude quanto à entronização de Filipe VI. Agora, a conversa é outra: ..."su hija jamás sera Reina!".
Já cá não estarei para comprovar ou não o dia da proclamação de Leonor I, mas tenho a certeza de que há coisas que dificilmente mudam.
Adenda: no meio de tanta cretinice televisionada, aqui está alguém que merece a nossa atenção.