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Não gosto que me mintam. Não aprecio que dourem a pílula. Não aceito que aproveitem os louros dos outros. Não pactuo com a destruição de obra alheia. Não tolero que inventem estórias da carochinha. Não admito devaneios ideológicos. Não sou solidário com facciosos. Não acredito naquilo que me contam. Não tenho confiança em declarações de sucesso. Não me rendo perante a insistência dos outros. Não integro no meu espírito a ficção que nos querem impingir. António Costa, Mário Centeno, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa podem meter no bolso as casas de propaganda nacional, mas não conseguem enganar todos ao mesmo tempo.
Não existe alguém que acabe de vez com as mentiras sobre a recuperação económica, os excelentes indicadores financeiros e os ainda melhores números respeitantes ao desemprego? O governo de Portugal parece ser a sua própria máquina de propaganda. Não precisa da CNN ou da Reuters. E ainda menos das agências de Ratoing. Mas os números não enganam. Não há nada a fazer. Aqui, ou na Grécia, já que estamos com a mão na massa, a realidade alternativa não é opção. As reformas estruturais iniciadas pelo governo anterior foram sujeitas a medidas de coacção. Não podem sair de casa. Deixaram de ter continuidade. Foram mesmo invertidas. O engrossar do número de funcionários públicos, sob o capote do mito das carreiras, da precariedade e das reformas, irá conduzir Portugal para um descampado de insustentabilidade bem conhecido. Tal como Tsipras, quando a conversa não agrada, a culpa é sempre dos outros. Os gregos dizem não ao FMI, e Centeno diz não à OCDE. Os outros estão sempre enganados. Mas os números não mentem. No longo prazo o cenário é dantesco. Portugal paga o dobro dos juros que pagava em Junho de 2016 no que diz respeito ao intervalo dos 7 anos, ou seja, precisamente o espaço temporal de exercício de poder de uma geringonça a dois mandatos - se o país deixar esse estado de arte acontecer. Por outras palavras, a magistratura financeira deste arranjo de governo já está inquinada no curto e no médio prazo. Dizem que vem aí o dobro ou triplo do número de turistas no verão que se avizinha, e que esses forasteiros irão salvar Portugal. Em suma, não vale a pena fazer a destrinça. Seja o BCE a pagar ou o turista ocidental, as receitas geradas resultam de uma noção excêntrica. E Portugal parece estar sempre arrestado nessa prisão de dependência e vulnerabilidade. Enquanto não houver meia-dúzia de ministros que entenderem isto, mais vale serem enxovalhados numa primeira fila de uma sala de aulas da OCDE.
O que temos. Temos um primeiro-ministro que acredita nas doces palavras de Christiane Lagarde. Aconchegado em Davos, António Costa parece estar a fazer um roadshow das virtudes económicas de Portugal. Fala do tom de voz alterado e simpático da senhora do FMI que agora só diz maravilhas de Portugal. Faz fé na boa-vontade e no lirismo da directora-geral do FMI, como se isso fosse garantia do que quer que seja. Deveria, em vez disso, apanhar Mario Draghi e agradecer a continuação da operação de compra do BCE, no mercado de títulos do tesouro. Gostava de ver o caderno de encargos do governo da república portuguesa no que toca a atrair investimento estrangeiro. Qual a estratégia a médio/longo prazo? Que plano existe para transformar a economia de um país fortemente dependente do sector dos Serviços e do Turismo em algo mais substantivo. Se alguém tivesse que fazer um desenho de Portugal e da sua economia teria certamente algumas dificuldades. Não se percebe qual o peso da economia marginal? Não se sabem ao certo as virtudes financeiras do Processo Marquês e como isso contribuiu para o desenvolvimento do país. São pastas com alguma importância que não foram levadas na bagagem para a estância dos bilionários neo-liberais-bilderbergianos de um sistema capitalista roto e perto de uma ruptura dramática. Em todo o caso - nothing really matters. A mudança, desejada ou não, chega amanhã para plantar tumulto no pobre espírito de pequenos ou grandes ladrões. Isto vai abanar. Há muito que estava para abanar. E Costa reza como se fosse um aprendiz de mezinhas. Sonha com o deficit abaixo dos 2,4% como se fosse um sinal de transcendência, de verdade.
Podíamos viver sem bancos? Podíamos viver sem crédito? Podíamos viver sem títulos de dívida? Podíamos viver sem resgates do FMI? Perguntem a Catarina Martins, a Mariana Mortágua, ou ao guru que as conduziu pelos caminhos da verdade - Francisco Louçã. Releio o académico anarco-esquerdista norte-americano David Graeber e o seu pensamento expresso na obra- Dívida, os primeiros 5000 anos -, a resposta é inequívoca: não. Não, o crédito sempre existiu. O dinheiro sempre foi desigual e para mal dos pecados europeus, na grande competição planetária de instituições financeiras, os EUA estão a dar uma ripada na Europa. Os bancos europeus, se fossem equipas de futebol, estariam bem mais próximas da Liga de Honra do que aqueles lugares que dão acesso aos grandes prémios da UEFA. O Barclays é um brexitário financeiro e o Deutsche Bank tem de pagar uma multa às autoridades americanas - pouca coisa, uns 6 a 7 mil milhões de USD ou Euros (sim, a paridade está bem perto). Nem vou mencionar o banco-barraca CGD por ser irrelevante neste campeonato. O que eu vejo ou prevejo é o seguinte. A administração Trump vai agitar as águas da "normalidade" e tirar partido da letárgica "tradição" europeia. Bastou o pequeno sopro do fechar da torneira de liquidez por parte da Reserva Federal para o dólar americano galgar a marca psicológica dos 1.04 face ao Euro. E isto tem consequências para este cantinho à beira-mar plantado. Os títulos de dívida dos Estados-membros da Europa dependem em larga escala da procura exterior e, no contexto da crise, foi o BCE que substituiu os agentes do mercado que foram incapazes de produzir a procura requerida dos títulos em causa. Se o dólar fortalecer ainda mais significa que a compra de títulos de dívida expressos em Euros se torna mais em conta para essa divisa e, por analogia ao Japão que detém grande parte da dívida dos EUA, a dívida europeia passará a estar nas mãos de entidades bem longe dos centros de decisão europeus. Sim, a UE tornar-se-á refém de bancos de além-mar e arredores. Mas há mais. Os commodities, como o petróleo ou o cobre, são expressos em USD o que dificultará o trabalho de governos de mãos largas que são obrigados a obter dólares para deitar a mão a energia ou vigas de ferro. Eu sei que estou a dar uma grande volta neste texto, mas ainda não percebi, à luz destas singelas considerações, como António Costa e a sua escola irão pagar as extravagâncias anunciadas para a década e para o ano de 2017. Foi o primeiro-ministro que anunciou há dias que o sector da construção precisa de levar um empurrão. E nós sabemos que o chefe do executivo não está a pensar num New Deal à Trump. Está a pensar no sistema político. Está a revalidar a chave socialista que permite enfrentar as tormentas. Foi o sector da construção que aguentou os socialistas em diversos mandatos, mas fez descambar as contas cada vez que houve um seu governo. Foram os lanços e sub-lanços de estradas que inquinaram as contas. Foram as auto-estradas para nenhures que comprometeram orçamentos de Estados. Foram elefantes brancos e outras bestas dispensáveis que descarrilaram Portugal. Enfim, todos sabem o que foi e como foi. Mas ao fim e ao cabo, com todas estas extravagâncias, perde-se algo de essencial. A genuína ideia de empreendimento, de geração de dinâmicas económicas, a noção de retorno e acima de tudo justiça social. Assim não funciona. E isto aplica-se a projectos de ordem diversa. Não excluo a Cornucópia e afins. São bons exemplos de erros de intransigência e incompetência em gestão de empresas. Há dias brinquei com a ideia de um Teatro Haitong ou uma Fundação das Artes Altice, mas não estava a brincar. A imagem é boa e serve. Portugal deve rapidamente pensar uma estratégia duradoura. No entanto, o país padece de um problema grave - a falta de visão. E nessa obscuridão lá aparece um velho projecto sacado da mesma gaveta de promessas e avarias. E que tal um novo aeroporto? E lá surge uma OTA de cara lavada para fazer mexer o sector das construtoras. É assim que funciona. Dizem que é teatro. Mas sai sempre caro. Não acreditem. Dinheiro não cai dos céus. E daqui a nada quando os bancos Wachovia ou a Wells Fargo abrirem sucursais na Lapa e no Intendente não roguem pragas ao Durão Barroso e à Goldman Sachs. O cozinhado é da casa. A receita tem dono.
A Grécia celebra efusivamente. Derrotou a Austeridade. Esmagou o monstro. Escorraçou o papão. O fim das dificuldades e atribulações foi decretado. Meteram tanto medo ao dragão que este nunca mais tornará. Todo o dinheiro do mundo irá cair dos céus e irão viver felizes para sempre. Tsipras e o Syriza conseguiram instigar o delírio político. Assistimos a ficção ideológica. Observamos a arte de tábua rasa. Pelo menos 61% acredita nesta fábula. Na ficção do renascimento, a obliteração de vidas passadas. Ágora, agora. Os gregos decidiram que os restantes estados-membro da zona euro podem ficar no Euro. E nenhuma das restantes nações do concerto europeu será expulsa do Drachma. A Grécia irá salvar os outros países da periferia. A palavra Democracia será partilhada com todos os irmãos da Europa. A patente de auto-determinação ficará livre e ao dispor da humanidade. Oximóron.
Os Europeus têm o péssimo hábito de usar argumentos de antiguidade histórica e tradição sempre que são confrontados com o pragmatismo dos Norte-Americanos. Porque temos 800 anos de história. Porque temos os rituais e os brasões. Porque temos as dinastias. Porque estamos cá há mais tempo. Porque os Americanos são uma amálgama de gente oriunda da mescla europeia. Enfim, um conjunto de patacoadas com pouca utilidade para resolver dilemas. Não esqueçamos o seguinte, para bem e para mal. A Constituição dos Estados Unidos da América (1787) é a primeira do mundo que consubstancia verdadeiramente Democracia na sua forma e na sua substância. Precede a própria Revolução Francesa (1789). Nessa linha de ideias, os americanos poderiam ser sobranceiros em relação ao adolescente Euro - a divisa ainda nem sequer pode conduzir um motociclo ligeiro de 50 c.c. - ainda não fez 16 anos, o dólar Americano tem mais de 200. Um facto curioso que reporta directamente ao processo de construção das comunidades europeias deve ser realçado: o dólar americano precede a Constituição Americana. Ou seja, começou a ser cunhado em 1786, um ano antes do Tratado Constitutivo. O actual turbilhão que a União Europeia enfrenta, deve, por essa razão, servir para levantar algumas questões pertinentes. Uma União Monetária deve preceder uma União Política? E será que efectivamente chegou o momento "We, the People" da Europa? Querem uma verdadeira Federação ou apenas um cartel de poderosos nos centros de decisão da Europa? A Grécia, se for bem aproveitada, pode servir para um profundo processo revisionista das premissas europeias, mas, para tal acontecer, deve saber se purgar dos efeitos nefastos da ideologia, quer de mercado quer de índole política. Ao ver as imagens de milhares de atenienses em frente ao seu parlamento, retenho a ideia de algo maior do que um Referendo, um sim, um não, a continuidade de Tsipras ou a reforma de Juncker. A encruzilhada em que se encontra a Europa também se reporta à ideia de tradição e continuidade, de regresso à "normalidade", quando o que o continente mais necessita é de um novo modelo existencial. As palavras valem o que valem, mas um novo Tratado da União Europeia não seria mal pensado. O default constitucional da Europa salta à vista de um modo flagrante.
Addendum do Prof. Armando Marques Guedes a quem agradeço o "alargamento" do meu texto.
"Vai haver quem não goste de "uma verdadeira Federação"... mas ele há gente em toda a parte que não sabe o que diz. A integração jurídica europeia já é federal. Mas incompletamente, e esse é um dos problemas. Não ter política externa ou política de segurança e defesa é obviamente um preço alto de mais a pagar por pseudo-soberanismos sem quaisquer fundamentos que não os ideológicos.
No princípio do artigo, John, valia a pena empiricamente desmontar a ideia de que, comparada com a Europa, a América é "nova" e "sem história". Há aqui um misto de ignorância e má fé. Os EUA têm todas as histórias europeias dentro, bem como imensas outras, não europeias. logo segundo argumento tem os pés no ar. Baseia-se, apenas, numa ideia de antiguidade e continuidade estadual e nacional que não faz grande sentido. Basta olhar para a ideia de que se trata de um Estado "novo", e comparativamente recente. Ora isto é, factulamente, falso. Os EUA existem desde 1776. Poucos são os Estados europeus com essa provecta idade. A Alemanha data de 1871. A Itália anda por aí. A Polónia, que se foi acendendo e apagando enanto ia mudando de sítio, é de 1920, a Ucrânia de 1921, os três Bálticos ainda mais recentes são, a Noruega data de 1905, a Finlândia dos 1900s, com vais e vens, a Bélgica e a Holanda são recentíssimas comparadas com os EUA, a Sérvia e os Balcãs quase todos são do século XX - finais do século XX, no caso dos 8 ex-ioguslavos e dos 15 ex-URSS, e do século XIX as Grécias, Roménias, e Bulgárias; a Turquia é de 1915, a Áustria de 1919, tal como a Hungria. E não se fale em nações: quase todas estão ainda em processo de construção, veja-se os três maiores, a Alemanha, a França e o Reino Unido. Conversa política de balela. Salvo raras excepções (a Grã-Bretanha, que é de 1707, a França, milenar, Portugal, todos Estados sem grande peso comparativo directo na Europa, se comparados com a recentíssima Alemanha ou com a proverbial Rússia, um império que vai mudando) os Estados europeus são na sua maioria muito, mais mesmo muito, mais recentes do que o é o norte-americano. Gostemos ou não, isto é um facto. A diferença específica dos EUA é que são mais antigos, não o contrário. A especificidade dos EUA é muito melhor vista e interpretável como uma forma de sabedoria dos mais velhos do que como um arremedo de um jovem. O resto são declarações políticas contra-factuais."
Podem agradecer às caixas Multibanco não haver tiros, mortes e sangue nas ruas de Atenas e outras cidades gregas. Se não fossem as ditas caixas, decerto que a fúria da falência iminente transbordaria para outras formas de levantamento - não vai a bem, vai a mal. A tecnologia, já com décadas de existência, está a servir de válvula de escape para milhões de gregos ávidos por lançar a mão às suas poupanças. No entanto, amanhã a história será outra. E no dia seguinte outra ainda. Uma corrida aos bancos não é uma maratona.
A ruptura negocial de Tsipras com os parceiros europeus remete o drama grego para outro patamar de preocupações. Será no plano interno daquele país que os verdadeiros perigos serão expostos num primeiro momento. A toada nacional-esquerdista, imbuída de patriotismo helénico, poderá facilmente descambar para um Estado fascista. Se o povo grego votar em Referendo a aceitação do pacote de ajuda que arrasta mais Austeridade, Tsipras deve, democraticamente, se demitir, mas tenho sérias dúvidas que o faça dado o seu perfil de intransigência. A partir desse momento vislumbram-se alguns cenários mais drásticos. A saber; um golpe militar com a instituição de um regime de coronéis; a convocação contrariada de eleições em virtude da dissolução do governo e a ascensão de uma força nacionalista; a eclosão de um conflito armado com um vizinho regional com o apoio logístico e ideológico da Rússia; um ou vários assassinatos políticos; ataques terroristas de falanges políticas gregas dispostas a acentuar a dissensão interna e intimidar a comunidade internacional. No entanto, as instituições convencionais da política europeia restringem-se a consternações de ordem económica e financeira e os media insistem que é a política que move as diversas partes envolvidas. Enquanto pensam em controlar os danos decorrentes da corrida aos bancos a que já assistimos fora do horário normal de expediente, outras ramificações devem ser tidas em conta de um modo muito sério. A União Europeia para além de estar a braços com uma crise económica, social e financeira de um dos seus estados-membro, terá de encarar desafios de ordem geopolítica para os quais não está devidamente apetrechado. A Política Externa de Segurança Comum é um dos outros pilares da construção europeia que carece de uma estrutura sólida e eficaz no seio das consternações externas de uma Europa comum. Por essa razão, a opção transatlântica ainda merece grande consideração. Os EUA jogam desse modo na sombra do tabuleiro da política europeia. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) deve, face aos desenvolvimentos da situação na Grécia, pensar nas implicações decorrentes do agravamento da crise europeia. Embora haja uma tendência inata, resultante da paz longa do pós-segunda Guerra Mundial, para pensar na normalização do quadro de relações, a verdade é que ao longo da história da humanidade, a estabilidade política e económica tem sido a excepção e não a norma. Tempos difíceis aproximam-se a passos largos e de nada serve deitar as culpas a uns ou a outros. A história é isto mesmo. Irrascível, mas explicada por modelos racionais.
Aproveitem bem. Pode ser um dos últimos fins de semana normais. Ide ao "coma como um bruto no piquenique do Continente" lá para os lados do Parque do Eduardo o sétimo, ou estiquem a banha toda na Praia da Caparica e vejam a bola logo à tarde. Está tudo bem - uma maravilha. Dia 5 de Julho veremos como é que elas são: se o povo grego tem amor à camisola do Euro e está disposto a aguentar com ainda mais Austeridade e a libertar Tsipras do ónus do desastre (o homem lava as mãozinhas com muita arte, e dizem que tem andado a ler o Príncipe de Maquíavel, enquanto Varoufakis revê Schelling). A Catarina Martins e a Esquerda, ilustradas por poetas e pragmáticos, pode voltar a tatuar no antebraço a estrofe: o povo é quem mais ordena. Teremos a expressão plena de Democracia na sua terra Natal. Hitler também foi eleito democraticamente, mas isso fica para depois dos estilhaços do Syriza serem varridos do Syntagma e aparecerem outros totalistas. O povo grego já foi exposto ao medo, mas ainda pode experimentar o terror. No dia 5 de Julho serão as massas a definir a relação de forças de um enredo intransigente: com ou sem Euros, com ou sem bailouts, com ou sem extensões, com ou sem perdões de dívida, com ou sem Austeridade, a odisseia grega não será editada, convertida em romance épico. Para todos os efeitos, os europeus encontram-se entre a espada e as espaldas aventuristas daqueles que prometem não arredar pé do sacrifício de um povo. Os rituais de autoflagelação, são isso mesmo, prerrogativas daqueles que juram ter o direito de esfolar o seu próprio gato. Tsipras também dirá que o seu povo está bem e "que só queimou um bocadinho o pêlo".
O governo de Tsipras, em nome da Grécia e do seu povo, não pode cantar vitória. A conclusão de um acordo com os credores não passa de um adiamento de uma falência inevitável. Por outras palavras, trata-se apenas de política assente no oportunismo e na vantagem limitada. Quanto custarão seis meses de alívio e a falsa sensação de segurança económica e financeira? O futuro dirá de um modo avassalador. O fôlego ganho pela Esquerda vai depender de uma botija fornecida pelo sistema financeiro que tanto foi atacado. Serão os neo-liberais e todas as instituições que gravitam em torno de um sistema financeiro hiperbolizado que terão o domínio da situação e da submissão dissimulada por aparentes sucessos. A política é uma fonte inesgotável de ironias. Serão as instituições financeiras capitalistas assentes na usura e na exploração que irão lançar uma linha de vida aos gregos. Os helenos não seguem o caminho da autonomia política e económica. Acorrentam-se ainda mais aos credores que tanto quiseram sacudir. A falsa dictomia lançada entre a alegada Esquerda e a Direita não passa disso mesmo. Um espectáculo cinicamente apaziguador de ânimos exaltados, diálogos sem expressão genuína, a prospectiva alteração de paradigma adiada até ao próximo pânico. A Europa será fiel a si. A União Europeia enverga a camisola amarela, distribui prémios aos perdedores e reclama para si o estatuto de entidade civilizadora. Os especuladores por esse mundo fora agradecem as benesses dadas pelos políticos. As bolsas disparam, os títulos valorizam, e existe dinheiro sério à mercê do peixe graúdo. Amanhã espero que aqueles que se encontram na fila apresentem também as suas senhas e listas de exigências. Espanha, Itália e Portugal podem ir ensaiando as linhas teimosas de argumentação hegeliana, para atingir a kantiga da paz perpétua que a Grécia afirma alcançar. Deus tende piedade de nós. A tempestade vai ser violenta.
Digam o que disserem, nada mudou. Se a Grécia chegar a acordo com os credores, apenas significa que a Austeridade será prolongada, incrementada. São analistas deste calibre que constituem um perigo público. Os aspectos fundamentais da economia grega não se alteram mesmo que libertem os fundos exigidos. O problema será apenas agravado e adiado. A Grécia, assim como tantos outros países do ocidente, é um drogado em busca da próxima dose de heroína. Podem passar cheques e mais cheques de 100 mil milhões de euros que a crise não será atenuada. A bolha da conveniência política tarda em rebentar, mas quando estoirar não quero estar por perto. Tsipras vai ser hasteado na praça pública. Vamos ver como descalça a bota. Como vai explicar aos compatriotas que afinal não deveria ter prometido o que quer que fosse? Afirma ser o revolucionário que rasga os contratos com os opressores, mas vai embarcar em nova ronda de austeridade. Vai eternizar a relação helénica com os senhores do capital fresco. Lamento muito. Prometia ser um dia auspicioso, mas será apenas um dia igual a tantos outros.
O dia de amanhã pode ser igual aos restantes, mas a Grécia pode de facto determinar o futuro da Europa. Na qualidade de extra-comunitário, passageiro da aventura unionista do continente, torna-se-me relativamente fácil ver as falhas e as lacunas do projecto europeu. A União Europeia (UE) não é uma união do espírito dos povos e dificilmente aspirará a se tornar numa federação. Não foi concebida a partir de uma pirâmide de valores sustentáveis. Foram os mercados que determinaram os tratados e os regulamentos. Foi a ideia de uma bloco económico competitivo que esteve por detrás dos sucessivos momentos de aprofundamento comunitário. E na senda dessa cegueira de ganhos e proveitos, os pilares de justica comunitária e de uma política externa e de segurança comum foram obviados. Para já, são as finanças dos países da zona euro que têm servido para acentuar divergências ideológicas e alimentar considerações de ordem geopolítica. Aguardo com expectativa a coragem ou não dos decisores europeus. Se a Europa, no seu desdobramento institucional corporizado no Banco Central Europeu, na Comissão Europeia, no Eurogrupo ou no Fundo Monetário Internacional, cede à chantagem grega, então será inaugurado o início do processo de desagregação da UE. Uma conquista de Tsipras servirá de mote para os demais demandantes da zona euro e enfraqueçerá a centralidade política da Europa. A Grécia sai a ganhar. A Rússia tira proveito. Por outro lado, se a UE mantiver a intransigência da sua posição, deve contar com uma nova fronteira geopolítica na Europa. A Grécia encostar-se-á ainda mais à Rússia, sendo que estes dois países partilham estirpes distintas de austeridade. Ou seja, têm bastante em comum para forjar uma aliança firme de párias. Pela parte que me toca, deixarei de respeitar as instituições europeias se estas se deixarem torcer pelas ameaças de caos que Tsipras tão ideologicamente postula em nome da Democracia que apenas ele parece entender. Em todo o caso, a Europa, a partir de amanhã, deixará de ser o que era, ou o que nunca foi.
Amanhã é o primeiro dia do resto das nossas vidas - bem que podia ser o título da canção para acompanhar o filme de Tsipras e a lenda da Grécia no Euro. Mas antes de continuar a insistir no lirismo desta saga, convém sublinhar o seguinte respeitante a uma eventual saída grega do Euro. Em primeiro lugar, a mesma já está a decorrer. Há largos meses que milhares de milhões de euros têm vindo a fugir daquele país. As quantias detidas em depósitos bancários têm vindo a diminuir a um ritmo assinalável, mas não significa que tenham sido apagadas do balancete da economia europeia. Bem pelo contrário. Esses dinheiros foram transferidos para outros destinos onde o Euro é a divisa oficial. Por outras palavas, os outros países da Zona Euro têm beneficiado com este processo de letargia política e monetária. A máxima tempo é dinheiro serve na perfeição para diagnosticar metade do problema - a saída de capitais da Grécia e não o inverso. Segundo as últimas confissões de fontes oficiais, a haver uma saída grega, Tsipras e o que restar do seu governo, terá todo o interesse em infligir os maiores danos possíveis aos países da zona Euro - os únicos responsáveis por todos os males e aflições da nação helénica. De fonte de inspiração para revoluções ibéricas e não só, Tsipras passará a ser o arguido principal de algo mais gravoso - o semear de caos e dissensão na Europa. Nem vou arrastar outras nuances de vendetta, como o abraço fraterno a Putin e a clara demarcação em relação ao projecto de construção da União Europeia. Poderemos afirmar, com pouca margem de reserva, que um desfecho dissidente da Grécia, servirá em última instância para o início de algo negativo - o redesenhar de fronteiras ideológicas acentuadas. A traição da Esquerda será o mote para o avanço de propostas ultra-conservadoras um pouco por toda a Europa. Nessa medida, Tsipras pode ser chamado à liça como obreiro da ascensão de regimes deploráveis, nacional-facciosos. A Esquerda revolucionária que invoca a libertação esclavagista poderá bem ser a responsável pela morte do consenso, as facadas dadas na Europa que ostenta os falos maiores da Democracia. Não esqueçamos por um instante sequer que estes lideres foram eleitos. Emanam da opção terrena, da escolha livre e iluminada de quem acredita em ilusões, mas que encontrará no seu caminho um destino mais penoso. Legítimo, dirão alguns, mas pesaroso.
António Costa evoca as glórias do Bloco Central (PS/PSD) liderado por Mário Soares nos anos 80, e esse facto deve servir de bitola para interpretar as suas intenções e a sua base ideológica. Deve pensar Costa que os portugueses são idiotas. Foram pactos de regime dessa natureza que promulgaram a falsa rotatividade do poder - ora mandas tu, ora mando eu. Foi esse arranjo que possibilitou a distribuição mais ou menos equitativa dos meios necessários para implementar verdadeiras redes de influência e a apropriação dos meios económicos para os membros dos respectivos partidos. Para além dessa evidência, o "regresso" ao conceito de bloco revela a incapacidade em pensar prospectivamente e de um modo inovador. Os blocos são coisas do passado. Houve um Bloco de Leste, e mais recentemente um segundo que conheceu a ruína, quase idêntico etimologicamente - o Bloco de Esquerda. Diz ainda o secretário-geral do Partido Socialista que foi Soares que salvou o país e hasteou a bandeira da recuperação. Mentira. Foi o FMI que também esteve cá nessa ocasião e que não deixou o afogamento nacional suceder. Não sei que tipo de dividendos Costa pretende extrair deste ângulo de abordagem ao poder, mas arrisco dizer que sente que não são favas contadas, que as legislativas não estão no papo absoluto, absurdo. Ao envolver o Partido Social Democrata na antecâmara das considerações, obriga esse mesmo partido a exercício semelhante. Ou seja, a uma declaração ténue de uma nota de intenções sobre constituições de sociedades gestoras de poder. Porque no fundo é disso que se trata. Uma empresa política repartida por quotas a que alguns dão o nome de bloco para soar a luta sindical, a levantamento de operários - demagogia central. Portugal, lamentavelmente, tornou-se refém do seu legado. Torna a encontrar as mesmíssimas sementes que a conduziram ao descalabro, à colheita rara de ideias caducas. A montanha pariu um bloco.
A tão propalada saída limpa do programa de assistência não altera a substância dos factos. Portugal continuará endividado por muitas décadas; o desemprego estrutural não baixará dos 10% e o crescimento económico será ténue, senão insignificante, nos anos que se seguem. Para já, as contas do país beneficiaram do choque fiscal que foi aplicado às empresas e aos contribuintes portugueses. A ideia de que "a casa está arrumada" foi vendida, como seria de esperar, de acordo com um calendário político preciso: eleições europeias a semanas de acontecer e legislativas ao virar da esquina. O governo, ao oferecer a ilusão de retorno à normalidade financeira, à soberania e à independência nacional, assemelha-se a outro diletante - António José Seguro. Este último, presente no outro canto do mesmo ringue de boxe fala desalmadamente sobre as condições do presente, mas omite como será o futuro. E os tempos que se seguem (parecidos com estes) irão traí-lo, caso chegue ao poder cheio de garra e entusiasmo socialista. A inversão das condições económicas e sociais que o governo anuncia e a oposição sugere quando chegar ao anti-governo, colocam Portugal numa situação particularmente difícil. O país está efectivamente à mercê da inconsciência e do engodo de lideres presentes ou futuros. Seria preferível que apresentassem aos portugueses a verdade nua e crua, ou pelo menos uma boa parte dela. As décadas que se seguem serão condicionadas pela vigilância apertada do FMI. Ao passarem a vistoriar Portugal de seis em seis meses, concedem uma margem de manobra ligeiramente melhor, mas não largam a trela. Retiram o açaime, mas continuam a dar ordens ao Bóbi - fica, senta, quieto! O Marcelo Rebelo de Sousa também é outro tonto a ter em conta. Vê-se mesmo que não lê as obras todas que despeja em frente à Judite, porque se lesse, seria mais sensato e não diria calinadas: «os portugueses não vão ficar altos e loiros como os finlandeses, nem ricos como os alemães». Quais são os portugueses que desejam ser como os finlandeses ou os alemães? Os portugueses são o que são, para bem ou para mal, e continuarão a sê-lo pelo menos por mais 800 anos. Nessa lógica temporal, anacrónica e histórica, os portugueses deveriam desejar ser como os chineses. Ou seja, perspectivar a grande história que se estende milenarmente. Sem dúvida que serão décadas duras as que se seguem, mas as mesmas devem ser entendidas como um acidente de percurso de um país com oito séculos de história. Contudo, seria bom que aprendessem como os erros, mas tenho dúvidas. Há uma tendência inata para repetir os mesmos.
Nem sempre se pode fiar no que diz Cavaco (o que diz Cavaco?), mas desta vez o Presidente da República fala a verdade. Os efeitos (e as medidas) do programa de ajustamento far-se-ão sentir até 2035. E o chefe de Estado partilha este aviso porque em breve estará disponível para estar do outro lado da barricada, precisamente no mesmo campo onde a FMI ou o Banco Mundial têm as suas sedes - os mesmos que condicionam a vida portuguesa. Estará Cavaco Silva a piscar o olho a futuros patrões? Mas, mesmo assim, atingida essa data do calendário, apenas 75% dos dinheiros emprestados serão honrados. Alguém terá de responder pelos restantes 25%. No entanto, este discurso aterrador pode ter tido um efeito positivo - se não vai a bem, vai a medo. O PS já se mostra disponível para debater algumas questões com o Governo, ou, para todos os efeitos legislativos, o PSD. Será que o tal consenso nacional pode emergir a partir de um efeito pavloviano desta natureza? Será que lentamente começam a perceber que o salvamento do país é uma questão que tem de envolver todas as partes sem excepção? Em 2035, Cavaco Silva terá mais ou menos 100 anos de idade. Será, para todos os efeitos mais velho que a soma do Antigo Regime e dos 40 anos de Democracia em Portugal. Mas existirá melhor figura para ser o portador destas péssimas notícias? Penso que não. A haver alguém com o perfil certo para entregar este telegrama, essa pessoa é Cavaco Silva. Os outros, a caminho de Belém ou não, como Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa ou Guterres, decerto que prescindirão das verdades que comprometem seriamente as suas candidaturas. E é com isso que teremos de contar. A política que subalterniza o interesse nacional e o sentido de emergência que deve permear todas as instituições e figuras de Estado. Não será o caso, certamente.
Os três eleitos, Vitor Gaspar, José Luís Arnaut e Álvaro Santos Pereira, não tarda nada serão queimados na fogueira da inveja e maldizer. Não é o sonho de qualquer cidadão nacional chegar longe, o mais longe possível de Portugal? Pois bem, aqui temos exemplos de relevo, a prova de que o país tem massa crítica muito apreciada para além de Badajoz. Faça-se o exercício, difícil convenhamos, de demarcar estes profissionais da sua procedência partidária ou governativa, porque não foi isso que esteve em causa nas suas candidaturas ou nomeações. A mesquinhice política doméstica não tem importância em Wall Street, Paris ou Washington. Quem manda naquelas casas quer lá saber de Oliveira do Bairro ou São Bento. O que está em causa, é que há alguns anos, muitos se queixavam que Portugal não tinha influência alguma no tabuleiro internacional, que a pobre nação ibérica não estava predestinada a ter representantes em organismos de importância acrescida. Mas isso tem vindo a mudar, para bem ou para mal, com os casos de Freitas de Amaral na presidência da Assembleia-Geral das Nações Unidas em anos recentes, com Guterres na UNHCR e (sei que ainda me vão bater por isto!) Durão Barroso na Comissão Europeia. Eu sei que estes senhores também se inscrevem na lista de criticáveis, mas, em abono da verdade, foi o pavilhão de Portugal que foi hasteado, e não o de Espanha (por exemplo). Dito de um modo distinto, este é um país onde ainda reina a expressão canina: preso por ter cão, preso por não ter. Quando não havia vivalma lusa lá fora, era um queixume constante, uma humilhação, e agora, quando em simultâneo vários delegados são colocados, soa logo o alarme de protesto de um coro de invejosos, de gente que parece não apreciar os feitos dos seus concidadãos. Na minha opinião, Portugal deve rapidamente esclarecer o que pretende quando aplica uma compressa destrutiva a conquistas importantes. Enquanto o resto do mundo observa a competência técnica dos portugueses, os compatriotas que permanecem em terra, lançam logo o rumor do tráfico de influências, do jogo de bastidores e prevaricação. Eu preferia olhar para a situação de um modo distinto. Quantos mais portugueses altamente qualificados se colocarem a milhas e em cargos de relevo, melhor, porque estarão em posição de alterar percepções e juízos. E é precisamente isso que o país (sob um programa de assistência) necessita. Precisa que agentes destacados para o efeito promovam a ideia de que Portugal vai dar a volta. A retoma ou a saída da crise pode não ocorrer no mesmo fôlego, na mesma circunstância, mas, para todos os efeitos, estes emigrantes podem dar um contributo importante, tendo em conta as instituições onde irão trabalhar; instituições que moldam uma boa parte dos destinos económicos e financeiros do mundo. O que mais poderia Portugal desejar neste momento particularmente difícil da sua história? Não nos esqueçamos que o FMI é um dos sócios da Troika e que a Goldman Sachs tem culpas no cartório da crise. Por essa razão, será positivo ter lá malta infiltrada para perceber como as coisas se fazem, para de seguida as fazerem como deve ser. Em defesa dos interesses de Portugal.
O primeiro post do ano é uma coisa tramada. Mais logo Cavaco Silva também será confrontado com um dilema existencial: que mensagem de "amo novo" deve ser veículada aos portugueses? Se for excessivamente optimista muitos dirão que a disciplina social-democrata contagiou a sua "alegada" isenção, e que está descaradamente alinhado com o governo (eu sei, já deu mostras das suas preferências do modo como colocou o Tribunal Constitucional ao serviço da nação). Se apresentar um quadro escuro, mais negativo que positivo, estará a demarcar-se da possível falência do executivo que anunciou a retoma como sendo firme e inquestionável, e estará desse modo a dar um empurrão a Seguro e companhia. Por essa razão o discurso de Cavaco Silva será intencionalmente um produto híbrido e pouco esclarecedor. Igual a si. Um político de carreira, mas sem coragem política para criar dinâmicas de transformação. Ou seja, sem o desejar, o que sair da sua boca também se adequa ao nível de incerteza reinante, às dúvidas internas (e às europeias) e ao seu perfil político. Há tantas variáveis a ter em conta neste ano "sabático" (sabático por ainda não ser a doer como será o ano de 2015 com as legislativas). As eleições europeias vão agitar as águas e já começaram a criar comichão (já houve uns arrufos entre a Edite Estrela e o Nuno Melo em 2013, sobre currículos e a importância de se ser celebridade ou não no Parlamento Europeu). Depois temos o teste de regresso aos mercados com a emissão de dívida em Março, que marcará o nível da boia financeira ou do afogamento económico do país. O resgate ou não, suceder-se-á, pelo que uma fórmula será decerto inventada para que ninguém perca a face - quer a Troika, quer o governo da república. Um novo termo financeiro e económico será inventado. Medidas cautelares, intervenção, medidas complementares ao orçamento de Estado, resgate ou salvamento migrarão para num novo conceito operacional, uma nova "palavra do ano" que envolverá, na minha opinião, e lamentavelmente, um peso acrescido sobre os ombros dos contribuintes portugueses. Esse facto fiscal, incontornável de acordo com os proponentes, será aproveitado por Seguro para continuar a bater na mesma tecla de desagrado e a avançar com promessas infundadas de salvamento material e ideológico da nação. Seguro apenas passará a "falar" verdade se o quadro da centralidade europeia for alterado de um modo substantivo, se Draghi e companhia enveredarem por verdadeiras medidas de estímulo da economia, mas infelizmente, o caminho parece ser de abandono de taxas de juro de referência baixas. O que acontecer em Portugal, irá, nessa medida, depender de um novo alinhamento da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu, que devem começar a percepcionar o FMI de um modo cauteloso, uma vez que o fosso que separa a Europa dos EUA se está a aprofundar. Os EUA estimam um crescimento na ordem dos 3% para 2014. O FMI também é um braço armado da política económica e financeira dos EUA, mas os europeus parecem ser lentos na apreciação desse facto. Tomam-no como amigo inquestionável. Quanto às outras forças chamadas de Esquerda, como o Bloco de Esquerda, o prospectivo partido de Rui Tavares e a CGTP de Arménio Carlos, parece que não se entenderão com facilidade e irão permanecer de pé atrás para tentar perceber que alinhamentos são possíveis ou mais vantajosos para os seus intentos. Não me parece que uma nova coligação à Merkel seja possível em Portugal em 2015. Não faz parte da cultura local as cedências em nome do interesse nacional. Os partidos em Portugal são como os adeptos de futebol que matam e esfolam pelos seus clubes, mas que nem por isso apreciam a bola. Assim sendo, e lá para 2015, um governo de retalhos com participantes do CDS, PS, PSD e da Esquerda não me parece exequível. Enfim, não esperem pela luz com a mensagem de ano novo de Cavaco Silva, mas ela corresponderá em larga medida ao que Portugal é e ao que teima em preservar.