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Eis

por John Wolf, em 05.07.25

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Eis-me, John August Wolf. Eis — Tristeza não tem fim, felicidade sim. O meu pai, John Howard Wolf, partiu a 20 de fevereiro deste ano. Mas antes, em Novembro de 2024, tive o privilégio da sua presença na defesa da minha tese de doutoramento (Ph.D.) na Nova School of Law em Campolide, Lisboa. A toga que trajei, a mesma por si utilizada na sua defesa de Ph.D., há mais de 50 anos na Universidade de Pittsburgh, havia também sido envergada pelo meu avô e seu pai, Howard August Wolf, quando fora agraciado com um doutoramento honoris causa nos anos 60 do século passado. Este cordão académico é mais do que um mero laço de (con)descendência e de titularidade, de geração em geração. É uma corrente ética e moral, com firmes alicerces na ideia da superação da nossa insignificância perante um mundo que se nos avassala sem misericórdia. E o senhor meu pai partiu intensamente amargurado pela paisagem disfuncional de uma ordem global em célere desagregação. O défice de civilização não é um fenómeno de pertença exclusiva a uma nação. O mal é uma doença degenerativa, um choque existencial que obriga à reescrita de pressupostos tidos como sagrados, intocáveis. Conceitos como ideologia, paradigma, crença, humanidade ou verdade perderam o seu valor intrínseco e a sua expressão facial. O mundo obitou-se, desistiu da genética positiva, como se o fim da história coincidisse com a perversão do futuro. Os atos vis oscilam numa balança que não corporiza a ideia de justiça ou de equidade. É esta a sina que sentimos, de um modo mais dermatológico ou no âmago da coluna política fissurada. A perda não é qualificável, assim como a dor que não é congnoscível. O torpor é uma vibração que atravessa os fusos humanos, percorre os vasos que canalizam a esperança que muitos dizem ser a última a querer morrer. E somos obrigados. Somos obrigados à arqueologia de razões, em busca de argumentos, de axiomas falidos que ditaram outros declínios, porque quisemos sempre imperar quando deveríamos singrar.  A melodia sincopada navega o luto em luta, o esforço quiçá infrutífero que apenas nos levanta do chão naufragado para tornarmos a tombar com a mesma récita auspiciosa que passa de pais para filhos, e de filhos para tribos inteiras, num ritual bélico que almeja a obliteração da escuridão — que imagem críptica adequada. Mas não é o fim em si, nem a intromissão. Perguntemos; que deuses invocaremos para retornarmos à terra enrolados num imenso manto de pudor? Eis. Eis-nos. Earth.

publicado às 19:16

A anormal normalização do estado de excepção, em que a razão da força é superior à força da razão, é sintomática do amorfismo que tolhe qualquer eventual sobressalto cívico da sociedade de uma dita democracia que já nem soberana é. O mesmo é dizer que o maquiavelismo dos "fins justificarem os meios" tem servido apenas os fins dos amadores aprendizes de príncipe, sendo responsável pela alienação da autonomia de um país, pela revolta calada de um povo e pelo alheamento de muitos indivíduos da vida pública. Talvez emigrar nunca tenha feito tanto sentido como hoje, servindo o propósito de nos exilarmos voluntariamente para, como alguém me disse há tempos, salvarmos o Portugal que vai dentro de nós.

publicado às 20:12






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