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Em 1975 o país fervilhava de paixões e sedição descarada. Subitamente desapareceu então uma boa quantidade de equipamento de campanha, neste caso as G-3 que tinham prestado os seus bons ofícios em todas as frentes no Ultramar. Logo houve quem pronunciasse a copcónica tolice de estarem as armas em boas mãos. Sabia-se de imediato ao que se referia, pois dado o contexto, tudo era de prever, como aquele assassinato à porta do RAL 1 foi um marco de tudo aquilo que mais tarde se passou.
Agora desapareceu nada misteriosamente uma quantidade muito mais importante de armas de guerra, entre elas os pouco ou nada temíveis lança-granadas que aqui e ali vamos vendo em filmes de acção, seja ela fictícia à Rambo 21 com sequelas previstas, ou bem real nos telejornais que nos contam muito ao de leve e com apertada censura, do que tem ocorrido em todo o Próximo Oriente. Felizmente podemos ficar todos bastante tranquilizados, pois não desapareceram facas de degola, mas à falta delas, umas tantas inofensivas granadas ofensivas e milhares de munições de praticamente inócuo calibre 9mm, incapazes de perfurar um tanque Leopard II A6, valha-nos Nosso Senhor. Do mal o menos e tal como malissimamente parece estar a ser sugerido, encolhamos então os ombros e sigamos em frente, até porque factos semelhantes têm ocorrido noutros conhecidos países da NATO.
Provavelmente a poderosa cerca de arame farpado foi estoicamente trabalhada de modo a abrir uma brecha tão grande como a frente do Mosela e o talhe de foice das Ardenas em 1940. Provavelmente o detector de presença - existia? -, foi sabiamente avariado há uns anos sem que disso alguém tivesse dado conta. Provavelmente a vídeo vigilância estava desactivada devido a uma falta de cassetes vhs. Provavelmente eram conhecidas as rotinas das patrulhas e como estas eram feitas. Tudo provável e alegadamente, tal como o esquema vigente há muito nos habituou para o que quer que seja e as Forças Armadas com os seus mais altos representantes, poderem uma vez mais fazerem a carantonha moita-carrasco.
É praticamente certo de que jamais teremos novidades acerca deste negligenciável assunto de início de verão, a tal silly season.
Parte hoje mais uma missão das F.A.P. para o Kosovo, um local mal afamado pelas razões que todos conhecem e a maioria prefere ignorar. Esperemos que desta vez impeçam crimes como aqueles facilmente identificáveis no filme que aqui fica.
Não se trata de uma missão em qualquer espaço da lusofonia. Após 1974, além de todas as bravatas jamais cumpridas, também nos prometeram que jamais as F.A.P. seriam enviadas para fora do âmbito da defesa do espaço português stricto sensu mas, condescendamos, reinterpretemos isto à luz da realidade da CPLP.
Parem de nos comprometer e em consequência, de nos envergonhar.
Nem vale a pena comentar esta situação, que acontece no mesmo país onde os responsáveis muito falam da importância do mar português, da Zona Económica Exclusiva, da Plataforma Continental, e de salvaguardar os seus recursos. Os factos falam por si.
Mas isto lembrou-me o sucedido, num certo dia de 1925, com o meu tio-avô António, então comandante do Grupo Independente de Aviação de Bombardeamento (a mais importante unidade da aviação do Exército, sobretudo pela importância decisiva que poderia ter em conflitos internos) quando comunicou (não para pedir autorização mas tão simplesmente para informar) ao Comando da Arma de Aeronáutica dando conta, sucintamente, do seguinte:
- Bombardeiros em condições de voar: zero.
- Stock de peças para os reparar: zero.
- Combustível: zero.
- Verba disponível para peças e combustível: zero.
- Stock de munições: suficiente.
- «Mandei toda a gente para casa atendendo ao moral da unidade e para evitar males maiores.»
Ou seja, era melhor que fossem todos para junto das mulherzinhas antes que começassem a ter ideias e a fazer disparates.
No início dos anos 20, um aristocrata alemão propôs-se instalar um sanatório na Madeira que, além dos seus atractivos terapêuticos, contava com uma magnífica vista sobre o Funchal. Um projecto que foi muito bem visto pois traria turistas endinheirados à capital madeirense. No entanto, e antes de dar a sua aprovação, o governador do Funchal resolveu sondar a opinião de Lisboa pois desconfiou que os ingleses pudessem não gostar de ver alemães na Madeira. O que de facto era verdade: o embaixador britânico logo disse ao Governo ser absolutamente contra, pois era evidente que o verdadeiro interesse do sanatório era vigiar a presença de navios de guerra britânicos que escalassem a ilha e justificar a presença de cidadãos alemães. Os alemães sabiam muito mas os ingleses também não eram ingénuos. E, como naquele tempo o embaixador de Sua Majestade mandava e o Governo Português não tinha outro remédio que não obedecer, o sanatório não foi autorizado.
Isto a propósito do excelente post do Nuno Castelo-Branco, sobre o qual faço dois comentários.
Primeiro, e numa altura em que já se fala na possível implantação de uma base naval russa em Chipre, espero que por fim os crédulos na intrínseca bondade do investimento estrangeiro, qualquer que ele seja, aprendam que o dinheiro tem pátria, que os investimentos não se explicam apenas por interesse empresarial e que são assuntos que envolvem Política Internacional e Geopolitica, e não apenas Economia. E que finalmente percebam qual o verdadeiro interesse da Rússia na compra dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, apesar do estado caótico em que a empresa se encontra. A indústria naval russa não precisa de Viana do Castelo para nada (embora não diga que não ao seu portefólio de projectos e à tecnologia); mas tem sido um objectivo de sempre de Moscovo obter pontos de apoio à Marinha Russa em mares quentes, para obter a liberdade de acção que a geografia russa não permite. Um estaleiro competente na costa atlântica seria sem dúvida um trunfo importante, sobretudo quando a Marinha Russa adquire navios com vocação expedicionária e para manter uma presença naval longe das suas costas.
Antes de embarcar em vendas precipitadas a estrangeiros, é preciso que quem decide trate de se informar devidamente sobre a situação, nomeadamente junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Ministério da Defesa, para compreender todas as implicações que um investimento estrangeiro envolve, de forma a não meter o país em grandes problemas. Já basta terem entregue a electricidade portuguesa ao Partido Comunista Chinês.
Segundo, não houve dúvida por parte dos comentadores em geral em qualificar a proposta de confiscar parte dos depósitos nos bancos cipriotas como qualquer coisa de tresloucado. E com razão, porque de facto era algo de irresponsável e tresloucado. Mas que dizer, no actual quadro estratégico (no Mediterrâneo e Norte de África em particular), da intenção do Governo de cortar em um terço as capacidades das Forças Armadas, já de si bastante abaixo das necessidades de um país como Portugal? Também temos direito às nossas medidas tresloucadas, não é?
Segundo o chefe dos sargentos, todos os cenários "estão sobre a mesa". A preocupação aparenta ser a desarticulação das Forças Armadas, embora tal processo há muito tenha sido iniciado, talvez até aquando da cretina decisão de extinção do SMO. Poucos protestaram.
Gostávamos que os irados sargentos, sabendo que o país se encontra sob o regime de protectorado, nos respondessem a esta questão: de onde pensam eles que vem o dinheiro que até hoje tem pago os seus salários, pensões, direitos de assistência médica, etc?
Para que os possam tomar a sério, os militares deviam publicamente apresentar uma alternativa às bastante questionáveis propostas de reestruturação da F.A. Sem isso, tudo o mais não passa de partidite a soldo.
Após aquela desastrosa tirada das "sinergias com Espanha", o sr. Aguiar-Branco disse umas verdades. Terá de nos avisar com qual dos hemisférios cerebrais prefere trabalhar, pois contentamo-nos com aquele que hoje o fez falar. Por vezes ele é um dos tais comentadores que agora increpa desabridamente.
Habituou-nos a entrecortar as suas declarações por vinte e quatro horas de silêncio mediático. Anda também obcecado com a já enterrada questão do 5 de Outubro, coisa felizmente morta há uns oitenta ou noventa anos. Não vale a pena insistir num assunto que no velho e sábio dizer popular, "há muito esticou o pernil".
Surge então a ameaça velada do fim da democracia, como se esta apenas pudesse viver e medrar sob a batuta de um maestro que por mero acaso, deverá sempre pertencer à agremiação de confiança. Sem isto, há um implícito reconhecer de indignadas razões para o desabar de qualquer saraivada de oteleirices que bem conhecemos e que o país ainda hoje pesadamente paga no âmbito político e económico. Embora Mário Soares apenas o sugira de forma indiscreta - "sont tout le monde de la societè portugaise (...) qui est contre le régime" (sic) - , a chantagem militar é latente e estrepitosamente explode naquelas alturas em que o rancho, entendido este no sentido mais lato, é colocado em questão pelos medos de alguns ou pela ânsia dos "direitos adquiridos" de outros mais.
Surgem agora como os "guardiães do Estado", as sentinelas da "democracia" - qual delas? - e da "soberania nacional". Se é vera a intenção, todos teremos o pleno direito de colocar algumas questões, talvez endereçando-as aos Estados Maiores dos três ramos das Forças Armadas, ou tão simplesmente, à organização dos diligentes e plutónicos sargentos que como agora se tenta fazer crer, farão a "nova revolução". Se na época dos nossos bisavós, os generais surgiam como o bicho-papão que dava a comer peixe-espada às veleidades do sistema liberal, a coisa foi irreversivelmente decaindo, delegando-se em hábeis capitães ultrajados pelas investidas igualitárias dos milicianos, os afanosos trabalhos revolucionários. Como o plano é fatalmente tão inclinado como as encostas do Evereste, parece que hoje em dia desponta a hora dos plutónicos sargentos. Imagina-se que "Nova República" ou "Novo Estado" dali sairá. Vai ser bonito, olá, se vai. Calcula-se!
Aqui deixamos uma sucinta lista, a necessária meia dúzia de questões a colocar aos raladíssimos militares, ou melhor, à ruidosa "classe" de plutónicos sargentos e tímidos superiores hierárquicos:
1. Por onde andavam quando se tratou da delegação da soberania nacional que durante séculos a fio se exerceu sobre os territórios ultramarinos? Por um momento que fosse, escutámos militares minimamente preocupados com a inegável desonra de que se revestiu a apressada retirada daquelas paragens? O que tiveramos militares a dizer acerca do alijar daquilo que os seus precursores conseguiram ao longo de séculos e já agora, do escandaloso abandono das populações que nas F.A. portuguesas confiavam?
2. Onde estavam as Forças Armadas quando os governos decidiram a adesão à então CEE, sem que alguma vez a população - o tal "povo" de que se sentem estrénuos defensores - fosse elucidada para uma posterior e irrecusável consulta de legitimização? Tais banalidades apenas bacocamente servem a povos atrasados como o da Noruega?
3. Alguma vez se escutou o mais leve queixume pela eliminação do SMO, esse já antigo e eficaz recurso que em dias de ameaça externa, poderia levantar um povo em armas? Quantos portugueses com menos de trinta e cinco anos saberão manejar uma G-3? Ficaremos então sujeitos à boa vontade de aliados de ocasião?
4. Onde estavam os zelosos militares, quando o sr. Cavaco Silva afiançou que o país não tinha de se pronunciar pelos acordos de Maastricht, dada a falta de preparação popular para a tomada de decisões? Não se sentiram minimamente perplexos por este ostentoso desprezo para com os soberanos direitos do vulgo?
5. Os atentos militares tiveram algo a dizer aquando dos acordos de Schengen? Decerto não devem ter reparado que essa abertura de fronteiras implicou a factual abolição das mesmas, assim como a completa subalternização da autoridade do Estado sobre o seu território internacionalmente reconhecido.
6. Desde quando é que os responsáveis militares ergueram as suas vozes contra o malbaratar dos recursos da nossa agora inexistente marinha mercante, colocando o país numa extrema e escandalosa dependência externa? Não nos referimos apenas a questões de comércio, mas à própria segurança nacional. Lembrar-se-ão os Estados Maiores daquilo que em termos materiais implicou a retirada da soberania nacional para o Rio de Janeiro?
7. Alguém terá dado conta dos protestos castrenses pela súbita e pessimamente preparada adesão ao Euro, decisão que logicamente teve claras implicações na perda da soberania e delegação de poderes nas mãos de directórios em tudo estranhos aos seculares interesses de Portugal?
Agradecemos o pleno esclarecimento.
Enquanto a Espanha tem assinalado com pompa e circunstância o bicentenário do que designa como a sua Guerra da Independência, enaltecendo o seu esforço e exagerando o seu contributo para a derrota da França Napoleónica, em Portugal as comemorações do bicentenário das Invasões Francesas têm estado quase exclusivamente a cargo das Forças Armadas, e gozando de pouca ou nenhuma divulgação e visibilidade. Não faz qualquer sentido que assim seja, já que Portugal foi um dos vencedores daquela que foi, até então, a maior guerra a que o mundo assitiu, abrangendo o continente europeu e extendendo-se para além dele (campanha napoleónica do Egipto, conquista da Guiana Francesa por Portugal), tendo dado um contributo relevante para a vitória dos Aliados. E, no que toca a História, convém que Portugal saiba sempre marcar a sua posição caso contrário outros aproveitarão a oportunidade para revisionismos.
Quando, há uns anos, se deu início às comemorações dos 200 anos das Invasões Francesas, teve lugar em Lisboa um seminário internacional reunindo historiadores militares dos países envolvidos: Portugal, França, Espanha, Reino Unido e Brasil (que no momento das invasões foi elevado a reino e para onde foi transferido o governo e a capital). A perspectiva britânica era de que a Guerra Peninsular tinha sido uma vitória britânica, fruto da qualidade dos exércitos de Sua Majestade e do génio do general Arthur Wellesley (Duque de Wellington), numa campanha em que as tropas portuguesas tinham tido um papel digno mas de mero coadjuvante (as referências era feitas em tom de nota de rodapé...) Por seu turno, na perspectiva francesa, as invasões são ainda hoje referidas como as Expedições: não se tratava de invadir ninguém mas antes de combater o inimigo inglês, libertar os povos das trevas do Ancient Régime e implantar as luzes da Revolução Francesa. Não tardou muito a que tais pontos de vista tivessem resposta portuguesa e espanhola, dando a perspectiva dos invadidos. Recordo-me de ver, na pausa para café, o representante francês a "ferver" com o que tinha acabado de ouvir, vendo que a memória que dos Pirinéus para cá se guarda da ocupação francesa não é melhor do que a que os franceses guardam da ocupação nazi. Duzentos anos depois, as memórias e as feridas continuavam surpreendentemente presentes, e tinha bastado alguma arrogância e convencimento - e quiçá a ideia errada que o Português tudo perdoa, tudo aceita - para o revelar.
Duzentos e dois anos depois da derrota francesa frente ao Exército Anglo-português entrincheirado na Linhas de Torres, chegou às salas este filme português, proposto pela Câmara Municipal de Torres Vedras para comemorar o bicentenário do acontecimento que colocou a povoação do Oeste nos anais da História Militar mundial.
Mais do que uma reconstituição histórica e um filme de guerra, é sobretudo um relato sobre como a guerra (no caso, a Terceira Invasão Francesa) foi vivida por pessoas de todos os géneros, cujas vidas foram alteradas pelos acontecimentos: portugueses, ingleses, franceses ou cidadãos de outras nacionalidades que, por uma razão ou por outra, cá estavam na altura. Tudo isto tendo como pano de fundo a retirada estratégica do Exército Anglo-português e das populações para trás das Linhas de Torres Vedras, levando a cabo a política da terra queimada: uma estratégia que para muitos portugueses implicou passar fome para poder reconquistar a Liberdade e Independência. Serve para lembrar às gerações actuais o que significa para um povo passar por uma guerra e uma ocupação, no exemplo do maior suplício por que o Povo Português passou em toda a sua história.
É um filme de qualidade a todos os níveis, de que destaco a prestação do numeroso e competente elenco. Será emitido futuramente na versão de série de TV mas aconselho vivamente a vê-lo no cinema.
Estão de parabéns Paulo Branco (que produziu), Carlos Saboga (que escreveu), Raul Ruiz (que pré-produziu) e Valeria Sarmiento (que realizou). Está de parabéns o cinema português.
Site oficial do filme: http://www.linesofwellington.com/pt/linhas_wellington_home.php
Site oficial das Comemorações do Bicentenário das Linhas de Torres Vedras: http://www.linhasdetorresvedras.com/
Aguiar-Branco deseja umas forças armadas e uma política de Defesa partilhadas com Espanha. Ou de como um Ministro da Defesa revela que pouco ou nada sabe de Política Externa Portuguesa e, em particular, da História desta.
Um ataque bem tímido. Dado o número de generais, as Forças Armadas parecem dimensionadas para um efectivo geral de tempos de guerra generalizada, com um mínimo de 250.000 homens em combate. Ou seja, o actual número de generais equivaleria a umas quinze divisões "das antigas do tipo WWII", no mínimo.
Aqui está o resultado das poedeiras do aviário de há uns trinta anos. Compreende-se, a segurança do esquema vigente (também) depende disto.
Imagine-se o que seria se qualquer outro elemento das Forças Armadas dissesse um décimo do que disse o bispo Januário sobre o Governo.
Quem defende a liberdade de expressão e o direito de opinião do bispo das Forças Armadas, esquece-se - ou não sabe - que os militares estão formalmente impedidos de tomarem posições políticas: não têm esse direito, não têm essa liberdade de expressão. O ministro Aguiar-Branco colocou a questão nos devidos termos: deve esclarecer se é bispo das FA ou se é comentador político. Se é major-general para receber os famosos 4400€ de pensão e carro com motorista, então também o é para obedecer ao Regulamento de Disciplina Militar e sofrer as sanções por a ele desobedecer.
Escusado será dizer que não estou a ver este ou outro governo a querer mandar um bispo cumprir pena num presídio militar, mas o mínimo que a situação exige é que a hierarquia católica que se defina sobre este político de batina. E já não falo do que se pode interpretar da passividade e do silêncio do Cardeal Patriarca sobre as declarações do camarada Januário sobre o Governo. Se não se demarca, significa que subscreve-as?
Adenda: hoje, a Conferência Episcopal Portuguesa demarcou-se das acusações, afirmando que foram feitas a nível individual e não exprimindo o entendimento da CEP.
Tendo como fundo uma guitarrada retintamente espanhola, a RTP24 passou um pequeno número anunciando a elevação das Fortificações de Elvas a Património da Humanidade, designando a localidade como um "ponto de união entre Portugal e Espanha". Mais um disparate a juntar a outros que ininterruptamente consegue produzir.
Além do valor patrimonial do monumento, existe aquele outro mais importante e que sem qualquer dúvida salienta a firmeza da luta pela Independência Nacional, coisa negregada por muitos agentes do poder político submetido a caprichos individuais do enche-bolsos a que chegou o Estado a que nos habituámos.
No próximo Domingo, 1 de Julho, comemoram-se 60 anos sobre a fundação da Força Aérea Portuguesa. A FAP resultou da fusão da Aeronáutica Militar (pertencente ao Exército, fundada em 1912) e da Aviação Naval (da Marinha, fundada em 1917), razão pela qual este ano também se assinala um século de aviação militar em Portugal.
Lamentavelmente, e devido à situação financeira, as comemorações serão muito aquém da ocasião e do que inicialmente estava planeado, que incluia um festival aéreo internacional, o Tiger Meet 2012, reunindo esquadrões de forças aéreas de países aliados e amigos (tal como sucedeu em 2002, em Beja).
A comemoração principal terá lugar na Base do Montijo (B.A. nº6), que estará aberta ao público. Outras bases estarão abertas ao público em Julho e Agosto, podendo o programa completo ser consultado no site da FAP.
Parabéns, FAP!
PS. Hoje, 29 de Junho, é o aniversário do Regimento de Comandos, como bem lembra João Gonçalves: fazem meio século. Audaces Fortuna Juvat.
Há noventa anos, o abjecto regime da I República tinha na GNR a sua guarda pretoriana, armada até aos dentes com metralhadoras e canhões de tiro rápido. Hoje é voz comum a alegação de serem as Forças Armadas uma mera empresa que faz o serviço de protecção dos detentores do poder, sejam eles quem forem. Nada mais existe de perigoso.
Embora possa desagradar a alguma gente formatada pelo ravismo dependente do subsídio, de uma coisa poderão estar certos: no caso da instauração da Monarquia, será desejável o imediato restaurar do Serviço Militar Obrigatório. Esperemos que compreendam.
Mais uma tolice de Otelo. O homem fala de perda de "alta" soberania - poderá ele dizer-nos do que se trata? -, como se as suas brincadeiras pós-adolescência num passado já distante, não tivessem sido determinantes para o estado a que chegámos. Como sempre desdenha abertamente de eleições e "acha" - é um achista militante e ajuramentado - que ..."esta ligação constitucional das Forças Armadas ao povo" implica uma aventura que o remeta para os tempos em que ainda não usava fraldas anti-incontinência.
Pior ainda, gaba-se da descolonização que tanto deu à querida URSS e Cuba - mas ..."sem ponta de neocolonialismo nosso" -, permanecendo cego perante as pesadas consequências que esta trouxe à antiga Metrópole e muito mais graves ainda, aos países saídos do antigo Ultramar. Claro que certa camaradagem cravista, sempre disposta a bravatas de saguão de messe à conta, é perita em saber fazer pela vida. Se alguns capitães-barrigas tinham por péssimo hábito o desvio de géneros destinados às frugais mesas da soldadagem em esforçada campanha nos matos, outros tinham sonhos mais altos, imaginando-se quais Neros de lira junto ao peito, ateando fogos aqui e ali. Mais espertos, souberam reciclar-se e é vê-los hoje sempre de partida ou chegada nas salas do aeroporto da Portela. Montaram os seus rendosos camelots em Angola e ou Moçambique, bem cientes da protectora "solidariedade de classe" dos páchiças que sem o esperar, se viram subitamente alçados ao despótico poder total, poder esse que jamais qualquer Governador-Geral português um dia imaginou poder existir.
O tolo quer um golpe de Estado. Imaginem se em vez deste, tivesse sido um daqueles oficiais "do antes" a atrever-se a uma exigência destas? Decerto já estaria numa situação paralela a Tejero de Molina. No mínimo.
...ou então anda muita gente em estado de "esfurricado", devido às tripas em revolta. A propósito do mal-estar militar e de um atrevidismo pêcêpeiro numa certa camada da hierarquia, eis que surge a notícia do abrir dos cordões à bolsa, incorporando-se mais uns 4.000 soldados. Vão declarar guerra a quem?
No passado sábado, a já habitual festa de aniversário de um amigo, desta vez propiciou o auscultar da opinião de alguns militares convidados. Jovens contratados, têm opiniões acerca da situação do país e melhor ainda, atrevem-se a colocar problemas e aventam possíveis soluções. Para surpresa de quem os quis escutar, nem uma palavra acerca de regalias, hospitais, prémios de carreira ou promoções que têm saturado os noticiários. Não houve uma única menção a contas bancárias ou a remunerações por prestação de serviços, mas um claro mal-estar pela manipulação da opinião pública formatada para nas Forças Armadas verem mais um sindicato ou grupo de pressão egoísta. Este é um erro fatal que poderá finalmente a levar a actos cujas consequências são ainda impossíveis de prever. Nota-se que a permanência numa instituição militar, levou-os a uma perspectiva completamente diversa daquela a que todos nos habituámos nas conversas de café ou sala de visitas e se pudesse resumir o tema a uma palavra, esta seria sem qualquer dúvida, Portugal.
É desnecessário aqui deixarmos as considerações tecidas acerca do momento político e dos seus agentes, fáceis de adivinhar por qualquer leitor. Tendo o debate origem nas missões das Forças Armadas no estrangeiro - com algumas fortes reservas que são bem conhecidas pelos mais atentos -, logo a conversa evoluiu para a actual posição do país no mundo e sem surpresa, todos os militares destacaram a extrema importância do embrião de uma ainda muito incipiente comunidade que é a CPLP. Aí está o seu interesse, em quase perfeito paralelismo com a necessidade de uma profunda revisão do papel das Forças Armadas do Estado e a necessidade de uma clara opção política pelo espaço Atlântico e um sintomático ..."nada de mais Kosovos e Bósnias". Cai assim, a sempre levantada questão corporativa que parece obcecar os comentadores políticos. Sendo aqueles militares pertencentes à arma terrestre, verificou-se a unanimidade quanto à prevalência que os meios aeronavais deveriam ter nessas renovadas Forças Armadas Portuguesas e a sua articulação com aquelas outras pertencentes à nossa esfera de influência cultural. O Brasil foi sempre citado como uma prioridade e este vector é tão mais surpreendente, quando se verifica a idade dos "contratados" de serviço. Parece que em pouco mais de um ano, a convivência nas instituições militares, foi susceptível para rapidamente levar à consciencialização do actual estado em que se encontra o país. As palavras foram duras, embora obedecessem sempre ao formal respeito pela hierarquia civil de quem se sentem totalmente separados.
Naturalmente surgiu a questão do regime e um dos mais interessados intervenientes, com um já invejável leque de interesses, pesou o problema, colocando-o no âmbito da reforma do sistema e sem qualquer espanto, consagrando a fórmula monárquica como perfeitamente desejável e exequível. Por uma vez "advogado do diabo", considerámos a dificuldade da tarefa, apontando o controlo da imprensa, os interesses instalados, a propaganda de mais de um século e o hábito que dita a norma. Pelos vistos, não são escolhos de maior, porque a resposta foi seca e recorreu a uma pessoana citação que aqui deixamos noutro dizer:
-"Primeiro há que fazer a coisa, depois o nosso povo irá conhecê-la e estimá-la".
Parece simples e este post aqui deixado em 2008, é perfeitamente actual .
"As forças armadas perderam prestígio quando os militares passaram a ter vergonha da farda. Há razões para a vergonha. O nosso exército já mal sabe marchar - aquela ordem unida é uma vergonha - e quando abre a boca é para emular a Intersindical. Assim não dá !
As Forças Armadas são o garante da nação, cabendo-lhes defender por todos os meios as fronteiras, a honra, a unidade e o futuro do país. São a última reserva de tudo, não devem servir políticos, regimes, partidos, pois estão acima do acidental e representam o permanente. É isso que se lhes pede."
Cinco de Outubro de 1910: ficaram em casa. Móbil? Dinheiro, desinteresse pelas juras à Bandeira Nacional, à Consttituição e ao seu Comandante-em-Chefe. O descrédito total.
Vinte e oito de Maio de 1926: saíram à rua. Móbil? Fome, violência nas ruas, o país ameaçado de tutela externa e perigo de alienação do império colonial.
Vinte e cinco de Abril de 1974: saíram à rua. Móbil? Dinheiro, promoções. As lendas e narrativas acerca da liberdade, foram o argumento que escondeu a realidade.
2012: ?
* Não podemos ignorar os sucessivos cortes na dotação das F.A., quando estas servem de respaldo às políticas dos sucessivos governos que pretendem protagonismo extra-fronteiras. Compreendemos as reivindicações, mas o que se torna surpreendente, é este eterno condescender com o imparável aviltar da posição de Portugal no mundo, o achincalhar assumido da História de Portugal ministrada pelo poder civil nas escolas, o rebaixar da integridade do país no quadro da pretensa U.E., o não protesto perante as constantes e ininterruptas perdas da soberania. A isto as F.A. não reagem de forma perceptível e a redução da sua intervenção política a questões relacionadas com dinheiro e regalias, abre o caminho ao descrédito. Não existem umas F.A. capazes dos sobressaltos patrióticos que garantam a perenidade deste Estado-Nação. Cremos mesmo que uma tomada de posição visível nas ruas tal como ocorreu em algumas das datas acima mencionadas, colocaria a população numa posição de total desconfiança quanto aos propósitos dos militares. Em suma, as F.A. não podem reduzir-se a uma sucursal da Intersindical.
Muito se tem escrito acerca dos acontecimentos daquele já distante Dezembro de 1961. Em Portugal, a discussão gira em torno dos militares revoltados pelo injusto tratamento dispensado pelo então regime vigente. Se por um lado lhes exigiram o obrigatório sacrifício que a escolha daquele serviço impõe, por outro, não lhes foram fornecidos os meios mínimos para uma defesa consistente, mesmo que simbólica.
A situação internacional era para os americanos péssima, dados os recentes acontecimentos em Cuba, a escalada da guerra no Sudeste asiático, a corrida ao armamento nuclear, a sempre presente chaga isarelo-árabe e os tumultos independentistas em África, muitos deles provocados pelos próprios EUA. Kennedy, proveniente de uma família de bastante discutível reputação e alianças que lhe daria o poder na Casa Branca, temia a China maoísta, não olhando a meios para agradar à "maior democracia do mundo", a Índia das castas e da segregação. O velho preconceito anti-colonial pautava toda a política externa americana, mesmo que a assunção dessa posição prejudicasse os próprios aliados dos EUA e a posição do Ocidente nos territórios extra-europeus, essenciais à segurança das rotas comerciais e à defesa militar. Quando nos anos 20 e 30 os EUA ainda possuíam as Filipinas como pouca disfarçada colónia arrebatada à Espanha, as administrações - nomeadamente a de Roosevelt - dedicavam-se a encontrar em África e na Ásia, possíveis líderes locais que fizessem passar os territórios coloniais para a esfera de interesses norte-americanos e disso mesmo o próprio Churchill se aperceberia durante as conversações tripartidas que durante a II Guerra Mundial, manteria com o presidente americano e o ditador Estaline.
Os americanos sabiam que a Índia preparava o ataque ao Estado Português da Índia e apoiaram-no sem sofismas. Constava que Salazar e Mao negociavam secretamente, no sentido de tornar impossível esse avanço sobre as possessões portuguesas, aproveitando Lisboa a conhecida realpolitik política chinesa da presença sem o directo exercício da soberania, aliás manifesta em Macau. A ser verdade este persistente rumor, a instalação dos chineses em Goa teria repercussões muito vastas, especialmente nos territórios portugueses de África, onde mais tarde, a China tornar-se-ia conhecida por exercer um grande esforço no fornecimento de armas aos inimigos de Portugal. Como teria tal política ter sido possível no caso de um acordo "entre cavalheiros" de Lisboa com Pequim? A hipótese dessas negociações carecem da confirmação que só os arquivos diplomáticos poderão um dia relevar, mas a posição norte-americana foi sempre hostil a Portugal e disso não existe a mais pequena dúvida, até porque logo no início de 1961 e em Angola, a UPA iniciara a guerra com um devastador ataque às populações negras e brancas da Província Ultramarina, UPA esta criada, municiada e financiada por entidades apertadamente ligadas ao governo de Washington.
A Salazar restavam-lhe várias opções:
1. Desistir e imitando os franceses, entregar o Estado da Índia a Nova Deli, atitude impensável dada a vontade da população local e mais importante para o regime, a própria posição integracionista que o governo fazia escutar na ONU.
2. Promover um referendo em todo o Estado da Índia, solução aliás sugerida por um importante sector dos círculos mais influentes de Goa. Talvez fosse a opção mais curial e mais temida por Nehru, mas criaria um precedente que poderia ser reivindicado como solução primeira para o alienar do património ultramarino. Isso o regime jamais aceitaria, pois Portugal nem sequer possuía as necessárias instituições - após a morte de Carmona, uma hipótese ignominiosamente sabotada por Marcelo Caetano - que no caso britânico, conduziriam ao fortalecimento da Commonwealth.
A opção militar era a mais previsível, dado o Direito Internacional e a doutrina oficial da II República. Neste caso, os militares deveriam ter sido dotados de equipamento e de unidades capazes para uma defesa, mesmo que o termo "simbólica" significasse uns tantos dias de resistência, capazes de inflingir graves perdas aos atacantes e criar um terrível problema político a uma teoricamente "pacífica" Índia, que além de cultivar um estado latente de guerra com o Paquistão - tácitamente aliado dos portugueses - poucas semanas depois, era completamente derrotada pelos chineses no breve conflito nos altos dos Himalaias.
A posição de Lisboa foi precisamente oposta, exaurindo os arsenais e os quartéis de equipamento e homens capazes para tal missão de um sacrifício quase suicida. Munições caducas, nem um único tanque, poucas bocas de fogo, nenhum material anti-aéreo e anti-carro, péssimas transmissões, quase nenhumas armas automáticas - a Mauser era a regra na infantaria local - e nem uma única unidade naval moderna. O glorioso Afonso de Albuquerque estava só, tinha um quarto de século e jamais havia sido modernizado para um combate contra unidades modernas. A Armada possuía alguns meios muito mais eficientes e que inutilmente fundeavam na Metrópole ou em Moçambique. Nada se fez para essa almejada resistência "à Estalinegrado" e surgiria mais tarde, o escusado argumento da certeza do ataque indiscriminado dos indianos ás zonas civis, bombardeando e massacrando a população. Mas não era isso mesmo que Lisboa deveria esperar, provocando uma rápida reacção política por parte da opinião pública mundial? Não contou Portugal - mercê dos incansáveis esforços de Franco Nogueira e do MNE - com o voto favorável na ONU, condenado Nehru e a Índia?
O tratamento que mais tarde seria dado aos militares repatriados, careceu de qualquer tipo de tino político, pois em vez de o regime os fazer desfilar com todas as honras Avenida da Liberdade abaixo - culminando as honrarias com aquela que se tornaria na sacramental cerimónia no Terreiro do Paço -, tratou-os de uma forma tal, que despoletaria os profundos ressentimentos que chegam até aos nossos dias. Consistiu esta atitude num erro crasso, até porque o terrorismo em Angola e a política assumida da defesa do Ultramar, exigia, pelo contrário, a máxima atenção às Forças Armadas, especialmente naquilo a que para elas é mais relevante: a manutenção da honra e o seu reconhecimento como o essencial braço armado da nação.
O ataque a Goa, Damão e Diu, poderá ser visto como um esquecido episódio da Guerra Fria, não hesitando os EUA em sacrificar um aliado incómodo e com o qual mantinham acrimoniosas relações, dados os interesses de certos sectores lobistas financeiros, económicos e políticos norte-americanos. A política de Washington era definitivamente a mesma que Roosevelt prosseguira nos anos trinta, procurando substituir as antigas potências coloniais e criando os seus próprios potentados locais, sendo o caso Mobutu, apenas o exemplo mais flagrante. Embora numa realidade completamente diferente, factos idênticos ocorreriam quando da invasão indonésia a Timor Oriental - com o beneplácito da administração Ford-Kissinger - num momento em que as Forças Armadas Portuguesas eram pasto de convulsões intestinas que as desprestigiaram por várias gerações e cuja infausta canga, sobre elas ainda pesa de forma esmagadora.
De facto, a II República teve graves responsabilidades quanto ao desfecho do infeliz episódio. A culpa não se deve á política em si, mas à forma em que por vezes esta se reveste e que como é confirmada no vetusto mas bem realista dizer dos círculos diplomáticos, fazê-la através da opção do empunhar de armas. No caso da Índia Portuguesa, os militares tiveram chouriços em vez de granadas e paus de vassouras como sucedâneos de metralhadoras.
Erro de Salazar.
Desfilando diante de populares, alguns dos quais mostrando a Bandeira azul e branca, os militares cumpriram mais um 10 de Junho institucional. Com a presença de Cavaco Silva e do 1º Ministro cessante, o ritual foi comedido, sem grandes exibições de uma força que em boa verdade, há muito se perdeu.
No seu discurso o Presidente apelou à união de esforços, declarando ser este o momento preciso para se ver a alma de um povo. Hoje já se viu essa manifestação de querer e de desafronta, mas num local muito afastado das rotineiras e sempre envergonhadas celebrações oficiais. No sentido daquilo que António Barreto disse, a cerimónia do 10 de Junho que a TVI transmitiu em directo, não foi pasto de ódios políticos ou egoísmo partidário. Foi uma celebração do Portugal uno.
No Mosteiro dos Jerónimos realizou-se a cerimónia do 10 de Junho histórico e bem simbolicamente, a liturgia foi presidida por D. Ximenes Belo, um herói de um Portugal maior. Cercado pelos seus antigos companheiros de armas, S.A.R. o Duque de Bragança, foi o símbolo que representa este país que teimosamente quer ser independente.
As condecorações esta manhã vistas nos Jerónimos, não são recompensa por amizades, serviços prestados a uma causa uninominal ou prémios a fidelidades de oportunidade. São medalhas merecidas no campo de honra e sem qualquer conotação de Partido ou de regime. É este, o Portugal que mais importa.
Hoje tivemos Rei.