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Geopolítica à parte, Putin é um mau exemplo. Em Portugal já existe quem queira imitar o judoca russo. A Crimeia pode ficar nos confins do mundo, a milhares de quilómetros da Lusitânia, mas Zeca Mendonça foi lesto a aplicar um golpe à canela do foto-jornalista, como se fosse um Putin de cinturão amarelo, à cobarde. Sim, existe uma relação entre uma coisa e outra. A agressão, estudada à exaustão por Konrad Lorenz, emerge onde menos se espera e de modos deveras excêntricos. O golpe baixo aplicado no tripé do repórter de imagem é difícil de definir. Não sei se existe uma designação para aquele movimento raso, ou se faz parte da disciplina de full-contact. Numa primeira análise, realizada a quente, Zeca quer desferir um ataque invisível. Reparem bem na isenção da parte superior do corpo. Quase que não mexe. Como se as pernas não estivessem ligadas ao tronco do assessor, à cabeça. E é esse o perigo. Quando membros inferiores se autonomizam do corpo ético, do magistério da razão. E sem darmos conta, passamos à animalidade efectiva. Uma coisa é certa, o diminutivo Zeca ou Zequinha assenta que nem uma luva de boxe ao evento registado pelas câmaras de televisão. Mas já apareceram uns quantos a bradar aos céus e a afirmar que o Mendonça é bom rapaz. São todos bons rapazes até levantarem a voz e depois os pés. Serão esses advogados os mesmos que defendem o outro que emergiu no Brasil? Não sei. Mas existe uma relação também do lado dos não-agressores. Uma espécie de perdão conveniente. Uma reserva para a prevaricação dos próprios. Aos fotógrafos recomendo uma grande angular e um certo nível de protecção. Mais ou menos pela altura das canelas.
(foto tirada daqui)
"Parlamento não é a aldeia dos macacos", diz José Lello.
Já eu não tenho tantas certezas. Mas, diria mais que é um circo. Um circo onde meia dúzia de palhaços actuam para muitas outras dúzias que se limitam a bater palmas.
Para além da discussão sobre os voyeurismos dos fotógrafos, da controvérsia sobre a afirmação de Lello de que os computadores são pessoais, apesar de propriedade do Estado, aquilo que é realmente confrangedor é o facto de se ter procedido a uma dispendiosa reforma da AR (às expensas dos contribuintes, claro), para gáudio dos senhores deputados.
Creio que não há semelhante nos parlamentos desta Europa fora. Mais uma vez, Portugal e o choque tecnológico na vanguarda da inutilidade. A questão que se impõe é, para quê os computadores no hemiciclo, que ainda por cima só servem para os deputados se distrairem do que devem ser os seus afazeres normais? Talvez o objectivo seja mesmo esse, distrair os deputados...