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O congresso do Partido Socialista (PS) servirá para comemorar as bodas de geringonça. António Costa tem mesmo de realizar este certame para continuar a exultar as virtudes do acordo alcançado à Esquerda. Mais do que uma operação para enfrentar os desafios que se apresentam a Portugal, o secretário-geral do PS irá falar dos que não estão. Aproveitará para cascar no governo anterior e reafirmar as virtudes intocáveis das medidas de governação já tomadas. Mas a verdade é que os portugueses não dobraram a esquina do mal-estar económico e social. E também não é menos verdade que mais tempos difíceis se avizinham. A jogada de ilusão democrática é bem metida, mas não nos engana. O método da senha que permite a qualquer militante dizer de sua justiça no palanque rosa está pejado de artimanhas. Francisco Assis foi preterido, colocado no turno pouco mediático, lá para a meia-noite, quando estiverem todos arrumados. Ou seja, a censura já é uma doutrina interna. Mas mesmo que todos falassem aos mesmo tempo nos termos mais impróprios, em última instância, António Costa detém o golden share, perdão, o rosy share - o privilégio norte-coreano de escolher a dedo oradores favoráveis. Os camaradas-autarcas terão certamente melhores tempos de antena. Em 2017 teremos essas eleições, que podem muito bem servir para desferir um golpe de misericórdia nos intentos monopolistas dos socialistas. O PS, se quiser honrar o templo sagrado da geringonça, vai ter de se mexer para manter o mesmo pacto de regime nas eleições autárquicas. Este congresso de vida semestral da geringonça não é um seminário com a ambição de transformar Portugal. É uma conferência-campanha para validar e eventualmente estender o prazo contratado com o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português. Será que vão distribuir senhas rosas aos amigos mais à Esquerda? Gostava de escutar Octávio Paz, Pato, é Pato, no congresso do PS.
Os episódios psicóticos, na sua generalidade, têm uma duração limitada. Pouco a pouco, face aos factos incontornáveis da realidade económica e financeira, Catarina Martins parece estar a baixar a bolinha - a sair do transe. Está a cair em si. Insiste na questão do descongelamento de pensões, mas ela sabe que se não alterar o tom das suas reinvindicações, irá ser apanhada a morder a própria cauda. Será igual aos políticos que abomina - aqueles que fazem promessas e depois fazem o oposto. A Catarina Martins apenas tem experiência na gestão de palavras, e isso é declaradamente pouco para alguém com aspirações a executiva-júnior de um quadro socialista. Em nome de um putativo acordo, do calibrar de posições com António Costa, o Bloco de Esquerda (BE) corre os mesmos riscos que afligem o Partido Socialista (PS) - de ser um partido descaracterizado, transgénico, disposto a alterar o seu ADN para lá chegar, ao poder. A ideologia é assim mesmo. É uma ranhosa tramada. Não tolera traições. As testemunhas dessas igrejas férreas entram facilmente em depressão assim que lhes tiram o tapete de sustentação debaixo do corpete. Daqui a nada teremos em Portugal poucos partidos de gema. O PS, pela mão de Francisco Assis, já está a promover uma sangria no seu partido - a cura para libertar o Largo do Rato de espíritos sombrios que deixaram de adorar os valores da sua casa e preferem o oportunismo declarado. O PS e o BE, se não tiverem cuidado, se cederem ao que a realidade política exige, serão iguais ao governo de coligação. Ou seja, farão o que é necessário fazer, porque chegarão à conclusão que não existe alternativa alguma. Os números da administração não são fáceis de somar. A adição de maioria parecia ser favas contadas. Daqui a alguns dias veremos, mas tenho a impressão que no PS já há "traidores" suficientes para forçar a demise de Costa. A política não é um jogo de sono zero. Há que estar acordado. Alguém vai levar uma ripada não tarda nada.
A minha assumida estupidez, impede a imediata percepção dos circunlóquios da alta política nacional. Anteontem, pelas 20.01h, escutei o Sr. Francisco Assis reclamar uma grandiosa vitória eleitoral para o seu partido. Tendo as projecções iniciado a contabilidade com 34%, saldou-se a mercadoria numa folgadíssima hegemonia nacional de 31,5% dos votos expressos, coisa capaz de ter entusiasmado o sr. Seguro a tirar "festivas ilações" do sucesso. Muitos gritos de mudança! - mudança!, vitória! vitória!, palmas ensurdecedoras, mas em eestranho e claro contraste com os semblantes a lembrar Napoleão a bordo do Bellerophon.
Menos de quarenta e oito horas decorridas desde essa réplica da épica batalha de cerco de Viazma-Briansk, eis que surge o Sr. Costa pronto para alijar o actual secretário-geral de quem Sócrates disse ser intocável, porque vencedor. Como o PS é parecido com o PSD. Dir-se-ia mesmo serem gémeos separados à nascença.
Que vtória tão estranha...
Saiu-lhe a sorte grande. Soares escusou-se a participar na arruada Chiado abaixo. Para perda de votos em potência, nesta sexta-feira já bem lhe bastará o narigudo penetra das "inginharias" de todo o tipo.
Entretanto, esquecendo-se do George Bush I que jamais tirámos da memória, Seguro desafia-nos a olhá-lo nos olhos, pois ele "devolverá salários, TSU e pensões".
Read my lips, não era?
Não é necessário ser um ás em finanças ou um guru em economia para perceber que a Europa está à rasca. Se Mario Draghi avança com a possibilidade de ser necessário implementar medidas de estímulo às economias europeias, sabemos que não podemos dormir descansados. Nessa medida, as mais recentes declarações de Pedro Passos Coelho sobre uma eventual subida de impostos em caso de novos chumbos do Tribunal Constitucional, demonstram que o governo tem noção dos perigos que espreitam, e, à cautela, informa preventivamente sobre notícias menos boas. Quem mente, embora de um modo acriançado, é António José Seguro, que caridosamente promete que não haverá despedimentos na função pública e mais austeridade, caso chegue a São Bento. Como os portugueses sofrem de memória curta, sugiro que apontem num bloco de notas os juramentos de Seguro. Porque os problemas que Portugal enfrenta requerem muito mais tempo de terapêutica, vários mandatos em pura alternância partidária, se quiserem. O que Seguro afirma não pode ser; que quando chegar ao poder, e formar governo, não terá mãos a medir para desfazer o que este governo fez, pese embora o grande sacrifício dos portugueses. António José Seguro, cheio de expectativas e boas intenções, alimenta falsamente a esperança dos portugueses. Por daqui a algumas semanas, o cartão vermelho, que provavelmente os portugueses irão passar ao governo nas eleições europeias, empolgará António José Seguro nas suas convicções térreas. No entanto, o cenário pan-europeu não lhe é favorável. Os Hollande da Europa caíram em desuso e é na Direita que a Esquerda tenta buscar votos. Veja-se o exemplo de Francisco Assis, que sem pudor soarista, já pisca o Clio à Direita, embora afirme que segue em sentido diverso, que é um dos delfins da Esquerda. Mas quando estão desesperados, confirmamos que os argumentos válidos serão aqueles que estiverem mais à mão. Por isso não convém acreditar na política, nas linhas contínuas que pintam na estrada para definir faixas de rodagem ideológica. Porque teremos sempre quem ultrapasse todos os limites para chegar ao "seu" destino de eleição.
Nem sequer vale a pena perdermos mais tempo com o zapping, pois os noticiários estão a abarrotar de vir'ó disco e toc'ó mesmo chachismo. O PS diz que o seu caminho não é o que tem sido trilhado pelo governo. Não conseguindo imaginar o que daqueles intelectos sairá como panaceia de todos os males que têm esmagado a "classe média", de uma coisa poderemos estar seguríssimos: não voltaremos aos salários e pensões anteriores a 2011, pois "o PS não é irresponsável". Pelo que parece, os neo-socratistas sub-repticiamente fazem a autocrítica, reconhecendo não ser realista um regresso ao seu próprio passado. Com um bocadinho de sorte, confirmarão a impossibilidade de TGV, novos aeroportos, terceira autoestrada para o Porto, etc.
Sabemos o que isso significa e por acaso, já estamos habituados. Aproveitem o facto de as Finanças ainda não poderem entrar casa adentro à cata de recibos das pratas e porcelanas herdadas das vossas vovós. Convidem os vossos amigos para um lauto jantar à luz de uma vela achetée au Minipreço. Invariavelmente, a ementa consistirá num estaladiço pão de anteontem e água da torneira engarrafada num recipiente de Água do Luso. E já vão com sorte!
Há poucos anos, o país dos concursos elegeu Salazar como "o maior português de sempre". Nas filas dos supermercados, nas conversas de café, nos dizeres do Fábio da TV Cabo, nos pregões da Dª Adozinda da peixaria e da Dª Maria dos Prazeres das hortaliças, "nem com dez Salazares isto ia ao sítio". Pois bem, o PS parece apostado em ajudar o governo, comparando Passos Coelho com o dirigente da 2ª República. O resultado desta inteligente saída pré-campanha, poderá vir a ser ainda mais expressivo do que aquele apontado pela última sondagem.
Tinha feito a promessa de que não dedicaria mais uma linha a José Sócrates, mas como podem constatar, estou a mentir. Para além dos camaradas socialistas, não sei quem mais quererá dar o seu aval e desejar o regresso à vida política do antigo primeiro-ministro. Mas não foram apenas socialistas que o elegeram. Aqueles que vestem outras cores e que se dizem ultrajados pelos feitos do ex-governante, também o colocaram em São Bento. No fundo, todos esses eleitores são muito parecidos com Sócrates. Comprometeram o país, mas não o admitem. Deram a esferográfica ao lider socialista para que este assinasse o memorando com a Troika, mas sob juramento afirmam não se lembrar desse dia. E agora parece que estão prestes a repetí-lo, a conceder-lhe cama e roupa política lavada - nasceu um movimento para relançar o desenhador de Castelo-Branco na vida política activa. No meio da aparente naturalidade de entrevistas, livros, teses de mestrado e o direito ao contraditório, de um modo perversamente subtil, põem inimigos viscerais de Sócrates a dissecar os seus intentos, a grandentrevistá-lo. Acontece que esses antagonistas-jornalistas acabam por revelar que a sua vida anterior apenas se justificava porque Sócrates estava no poder. E esse facto deve ser analisado com grande rigor para entendermos como os jogos se fazem com os jogadores do costume. Um conjunto de negócios e afazeres gira em torno da polémica associada àquele que deu o derradeiro golpe de misericórdia em Portugal. Esse mesmos fazedores de opiniões baratas não chegam a ser abutres - não voam em círculos em torno de uma carcaça. O animal político Sócrates não está em cativeiro e não é uma espécie em vias de extinção. Demonstra aos cínicos que estes devem continuar a sê-lo sem vergonha na cara. Seguro, que desapareceu de cena nas últimas semanas, após a apoteose das autárquicas, vai ser o manjar da antropofagia política que Sócrates irá colocar sobre a mesa. Para distrair, dizem-nos alguns cronistas, que o ex primeiro-ministro aspira a poisos internacionais, que um cargo guterresiano o aguarda, que a sua tese serve para piscar o olho a um organismo mundial - quiçá a Amnístia Internacional. Contudo, o problema não tem nada a ver com amnistia. A questão tem mais a ver com amnésia. Os portugueses parece que desejam sofrer com a mesma dor. Sentem-se familiarizados com o torturador - já o conhecem. Há um certo conforto masoquista nisto tudo - saber de antemão que não haverá supresas. O homem apresenta-se como Deus o colocou sobre a terra, a condição crua que agora revela, a bocalidade em forma de ressurreição. Se os portugueses concedem tempo de antena a uma pessoa que cospe insultos e ofensas, não há muito mais a acrescentar. Para além do mais, não se conhece obra do mestre-engenheiro para além da grandeza do Freeport e os duvidosos Magalhães. As palavras gravosas que dirige a todos que se lhe cruzaram no caminho, serão parecidas com aquelas que dirigirá a quem se lhe atravessar à frente - em sede própria, no Rato. Estamos na fase de pré-qualificação do campeonato de Sócrates. Estes encontros amigáveis servem apenas de aquecimento para um jogador que não hesitará em entrar a pés juntos e em riste. Na fase de grupos em que se encontra, se eu fosse Seguro teria algum cuidado. Mas não deve ser o único a temer o sorteio do play-off - António Costa também deve levar em conta Sócrates. Uma coisa é arrumar Assis e Seguro em dois ou três rounds, outra coisa é entrar na corrida, num mano-a-mano com outro avançado que pretende a titularidade no mesmo clube - Costa que se ponha a pau, que ainda vai sobrar para ele. Os ares de França, os ventos de Le Pen parecem ter inflamado Sócrates e atirado o político para outro estilo. O socialista está cada vez mais parecido com intérpretes extremos que se encontram espalhados um pouco por toda a Europa. A coberto de uma qualquer ideologia de esquerda, Sócrates vai galgando margens e limites para se afirmar como um homem mudado. Um homem alterado pela ingestão de poder. Um regressado com vontade de vingar algo. E essa vendetta nada tem a ver com Portugal. Há algo atravessado na jugular do parisiense e, se não tiverem juízo, os portugueses também pagarão para ver.
De uma penada, um enorme borrão que elimina nódoas que nos levaram a 1910 e mais importante ainda, aquelas outras que contam com mais de duzentos anos.
Francisco Assis abespinha-se contra aquilo que diz ser uma gigantesca campanha de demonização do boulevardier José Sócrates. O verdadeiro caso é outro, porque no preciso momento em que o antigo chefe parlamentar pronuncia o desabafo, o próprio Partido continua a sua gigantesca campanha de branqueamento de tudo o que neste país se foi passando ao longo de mais de duas décadas, cooperante estratégico belenense incluído no rol das malfeitorias. Foi apenas por mera tolice ter sido necessário o resgate internacional, a humilhação de Portugal às mãos dos credores e a actual política da banda gástrica nacional.
Nem Göbbels teria tanta imaginação para a propaganda. Só visto.
Luís Amado, provavelmente o único Ministro do Governo de José Sócrates que é tido em apreço pelas três forças partidárias do arco governamental, que tantas vezes afirmou o fim do neo-liberalismo (assisti a duas em conferências), veio hoje dizer que a "economia portuguesa deve ser submetida a um choque liberal". Posição ingrata esta, a de MNE, em que se viu provavelmente forçado a embalar na onda que tomou forma após a queda do Lehman Brothers, para agora reconhecer aquilo que muitos, entre os quais esses temíveis seres que se intitulam de liberais, já sabem desde há bastante tempo a esta parte. Não deixa, contudo, de ser interessante notar o timing, num rasgo de "vira-casaquismo" que deixa para trás muitos dos que se preparam para o mesmo. Pela falta de consistência e coerência de grande parte dos actores políticos da nossa praça, tem toda a razão o Henrique Raposo: "Liberais-conservadores vão começar a sair debaixo das pedras, numa espécie de milagre de multiplicação ideológica. Vai vir charters de liberais".
E quando é que Francisco Assis vira a casaca e cai na real? Uma pessoa com a formação intelectual de Assis sabe bem (ou deveria saber) que uns 99% do que andou por aí a dizer não passava de patranhas para manter o querido líder no poder, em nome de um pseudo-maquiavelismo há muito prejudicial do tão propalado "interesse nacional". Estamos à espera, take your time. Amado vai na frente mas a prova ainda agora começou.
Muito a propósito do tema que começa a ser amanhã discutido no Parlamento, cai por terra mais um tijolo da duvidosa Linha Maginot da disciplina de voto republicana até hoje preconizada pelo Partido Socialista. A velha máxima do "todos iguais, mas uns são mais iguais que outros" demonstra plenamente a pouca solidez doutrinária e de praxis das organizações alegadamente republicanas. Confirma-se a existência de privilegiados, ou melhor, de gente excepcionalmente apta para fazer o que bem entende.
Consiste esta atitude de Francisco Assis, líder do grupo parlamentar do PS, numa salutar posição de liberdade de voto que todos os partidos deviam adoptar, dignificando as suas funções, independência intelectual e liberdade de escolha. Ao contrário do que se tem afirmado, o exercício deste cargo não é compatível com a existência de estipulados contratuais, como se de uma empreitada se tratasse. As matérias podem ser, como este caso demonstra, objecto de reflexão solitária e a decisão variará consoante a consciência de cada um.
De uma coisa pode ter o dr. Assis a certeza. A instaurar-se uma Monarquia Constitucional neste país, a reforma do sistema eleitoral e a directa relação entre o eleitor e o deputado, tornarão mais ténue a cega obediência às direcções partidárias. É o restaurar do prestígio da democracia representativa e a selecção natural pela qualidade, o almejado mérito.
Entretanto, o país fica a saber mais detalhes acerca das proezas mediáticas de Cristiano Ronaldo, afinal a figura tutelar da vida de dez milhões de criaturas. No fundo, este tipo de temas são aqueles sem os quais ninguém pode viver. A "situação" agradece o interesse.