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"Vocês querem, pois, desperdiçar todas as suas melhores forças nesta eterna e inútil admiração do passado, da qual vocês só podem sair fatalmente exaustos, diminuídos e pisados?"
Manifesto Futurista, Filippo Tommaso Marinetti
Enquanto Gaspar aposta na enésima investida fiscal contra os exaustos contribuintes, a esquerda portuguesa, no seu onirismo bacoco, permanece embrenhada num passadismo démodé. Como escrevi numa posta anterior, a renovação doutrinária da esquerda portuguesa é uma urgência nacional. Mas tal só será possível quando os nossos progressistas de salão aceitarem alguns factos cuja relevância é de uma clareza meridiana: 1) a manutenção do actual garantismo social sem a devida sustentação económica é inviável; 2) o recurso ao endividamento galopante é o caminho mais célere para o fim do denominado Estado Social; 3) a manutenção do vigente status quo conduzirá inelutavelmente à falência da economia e do Estado; 4) o paradigma do Estado prestacionista faz parte do passado - como diria noutro contexto Thomas Kuhn, estamos perante uma mudança de paradigma inescapável a qualquer observador minimamente atento; 5) o futuro da esquerda passará, inevitavelmente, pela conjugação destes factores, aliando a sustentabilidade económica - isto é, a aceitação do princípio mercantil - à necessária equidade social. As recentes tomadas de posição da esquerda portuguesa, desde a mais moderada até à mais extremista, provam à saciedade o total alheamento da mesma relativamente ao mundo e à vida. Eppur si muove, tudo se move, a economia, a cultura, a sociedade, tudo muda, menos a esquerda portuguesa. Sem a modernização ideológica da esquerda, a III República, no actual figurino constitucional, será insustentável a curto prazo. Marinetti tinha razão: há, aliás sempre houve, muito boa gente que desperdiça as suas melhores forças na apologia inútil do passado, basta olhar para os epígonos mais desvairados da nossa esquerda.