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Democracia e tradição

por Samuel de Paiva Pires, em 20.09.13


G. K. Chesterton, Orthodoxy

«But there is one thing that I have never from my youth up been able to understand. I have never been able to understand where people got the idea that democracy was in some way opposed to tradition. It is obvious that tradition is only democracy extended through time. It is trusting to a consensus of common human voices rather than to some isolated or arbitrary record. The man who quotes some German historian against the tradition of the Catholic Church, for instance, is strictly appealing to aristocracy. He is appealing to the superiority of one expert against the awful authority of a mob. It is quite easy to see why a legend is treated, and ought to be treated, more respectfully than a book of history. The legend is generally made by the majority of people in the village, who are sane. The book is generally written by the one man in the village who is mad. Those who urge against tradition that men in the past were ignorant may go and urge it at the Carlton Club, along with the statement that voters in the slums are ignorant. It will not do for us. If we attach great importance to the opinion of ordinary men in great unanimity when we are dealing with daily matters, there is no reason why we should disregard it when we are dealing with history or fable. Tradition may be defined as an extension of the franchise. Tradition means giving votes to the most obscure of all classes, our ancestors. It is the democracy of the dead. Tradition refuses to submit to the small and arrogant oligarchy of those who merely happen to be walking about. All democrats object to men being disqualified by the accident of birth; tradition objects to their being disqualified by the accident of death. Democracy tells us not to neglect a good man's opinion, even if he is our groom; tradition asks us not to neglect a good man's opinion, even if he is our father. I, at any rate, cannot separate the two ideas of democracy and tradition; it seems evident to me that they are the same idea. We will have the dead at our councils. The ancient Greeks voted by stones; these shall vote by tombstones. It is all quite regular and official, for most tombstones, like most ballot papers, are marked with a cross.»

publicado às 13:31

A anarquia é apenas "uma grande confusão"

por Samuel de Paiva Pires, em 25.07.13

 

G. K. Chesterton, Disparates do Mundo:

 

«Só há dois tipos de estruturas sociais possíveis: os governos pessoais e os governos impessoais. Se os meus amigos anarquistas se recusam a aceitar regras, terão de aceitar quem os reja. A preferência pelo governo de base pessoal, com o correspondente tacto e flexibilidade, chama-se monarquismo; a preferência pelo governo impessoal, com os seus dogmas e as suas definições, chama-se republicanismo. Recusar reis e credos em geral chama-se parvoíce; pelo menos eu não conheço outra palavra mais filosófica para designar tal posição. A pessoa pode deixar-se conduzir pela esperteza e a presença de espírito de um governante, ou pela igualdade e a justiça comprovada de uma lei; mas tem de ser conduzida por um ou por outra, porque a alternativa não é uma nação, mas uma grande confusão.»

publicado às 12:48

Da domesticidade

por Samuel de Paiva Pires, em 22.07.13

 

G. K. Chesterton, Disparates do Mundo:

 

«Para um homem simples, um homem que trabalha, a sua casa não é o único local sossegado num mundo cheio de aventuras; é o único local criativo num mundo cheio de regras e tarefas fixas. A sua casa é o único local onde ele pode aplicar a carpete no tecto e as telhas no chão, se lhe apetecer. Quando um homem passa as noites a cambalear de bar em bar ou de music-hall em music-hall, dizemos que leva uma vida irregular. Mas é falso: esse homem leva uma vida extremamente regular, subordinada às regras monótonas – e frequentemente opressivas – que vigoram nesses locais. Acontece por vezes que nem o autorizam a sentar-se nos bares; e a maior parte das vezes não o deixam cantar nos music-halls. Um hotel pode ser definido como um local onde a pessoa é obrigada a vestir-se; e um teatro como um sítio onde um homem está proibido de fumar. Só em casa é que um homem pode fazer piqueniques.»

publicado às 18:00

Da impossibilidade do amor livre

por Samuel de Paiva Pires, em 24.06.13

 

G. K. Chesterton, Disparates do Mundo:

 

«A família é necessária à humanidade; a família é (se o leitor assim o quiser) uma armadilha para a humanidade. Só se pode falar de «amor livre» - como se o amor fosse um episódio equivalente a acender um cigarro ou assobiar uma cançoneta – ignorando hipocritamente um facto gigantesco. Suponhamos que, sempre que um homem acendia um cigarro, se levantava dos anéis de fumo um gigante altíssimo, que o seguia por toda a parte qual enorme escravo. Suponhamos que, sempre que um homem assobiava uma cançoneta, chamava um anjo à Terra e depois tinha de andar com um serafim atrás de si por uma coleira. Estas imagens catastróficas são débeis paralelos das extraordinárias consequências que a Natureza anexou à actividade sexual; e é perfeitamente claro, logo desde o princípio, que um homem não pode praticar o amor livre; pois ou é um homem comprometido, ou é um traidor. O segundo elemento que gera a família é o facto de as suas consequências, embora colossais, serem graduais; o cigarro produz um bebé gigante, a canção apenas produz um pequeno serafim. Daí resulta a necessidade de um sistema prolongado de cooperação; e daí resulta a família em todo o seu sentido educativo.» 

publicado às 20:42

Pensar a sério dá muito trabalho

por Samuel de Paiva Pires, em 17.05.13

Um texto ilustrativo do modo de pensar ignorante e arrogante de certos progressistas. Atente-se particularmente no desfecho com um tom de ameaça velada e na auto-satisfação por se fazer parte do "lado certo da História." Supimpa!

 

O erro dos progressistas é estarem aprisionados pelo futuro, desconhecido, enquanto acusam os conservadores de serem reféns do passado, quando é no passado que encontramos os fundamentos da civilização e os elementos que permitem explicar o caminho que temos feito até aqui. Ser progressista é, de facto, muito mais fácil, e não admira que seja o tipo de pensamento dominante na civilização do espectáculo, do efémero e do superficial em que vivemos.

 

Afinal, como salientou Chesterton, «O futuro é uma parede em branco, em que qualquer homem pode escrever o seu nome do tamanho que lhe aprouver; o passado é que já vem preenchido com gatafunhos ilegíveis, como Platão, Isaías, Shakespeare, Miguel Ângelo, Napoleão. Não me é custoso estreitar o futuro à minha dimensão; já o passado tem mesmo de ter a amplitude e a turbulência da humanidade. E a conclusão desta atitude moderna é, no fundo, a seguinte: os homens inventaram novos ideais porque não se atrevem a acometer os ideais antigos. Olham para diante com entusiasmo porque têm receio de olhar para trás. (...) Falam-nos hoje muito do valor da audácia com que um qualquer rebelde ataca uma tirania antiga ou uma superstição antiquada. Mas atacar coisas antigas e antiquadas não é grande prova de coragem, como não é prova de coragem atacar uma avó. O homem verdadeiramente corajoso é aquele que desafia as tiranias jovens como a manhã e as superstições frescas como as primeiras flores. O verdadeiro livre-pensador é aquele cujo intelecto estão tão liberto do futuro como do passado. Aquele que se preocupa tão pouco com o que virá a ser como com o que foi; aquele que apenas se preocupa com o que deve ser.»

 

Leitura complementar: A respeito da co-adopção por homossexuais; Resumo de uma semana horribilis; Mais uma fronteira; Co-newspeak; Teoria da representação; Causas invertidas; Afinal, faz ou não sentido que a direita seja liberal e conservadora?

publicado às 20:52

G. K. Chesterton, Disparates do Mundo:

 

«Em suma, a fé humana racional tem de ser armar de preconceitos num tempo de preconceitos, da mesma maneira que se armou de lógica num tempo de lógica. Mas a diferença entre estes dois métodos mentais é profunda e inequívoca. O essencial desta diferença é o seguinte: os preconceitos são divergentes, enquanto os credos estão sempre em colisão. Os crentes chocam uns com os outros, enquanto os preconceituosos se afastam uns dos outros. Um credo é uma coisa colectiva, e até os pecados correspondentes são sociáveis. Um preconceito é uma coisa privada, e até a correspondente tolerância é misantrópica. É o que se passa com as divisões que nos separam: não se cruzam. O jornal dos conservadores e o jornal dos radicais não respondem um ao outro: ignoram-se um ao outro. A controvérsia genuína, uma controvérsia séria mantida na presença de um público comum, tornou-se hoje uma coisa muito rara. Porque o homem que a ela se dedica com sinceridade é acima de tudo um bom ouvinte. O verdadeiro entusiasta nunca interrompe: ouve os argumentos do inimigo com a mesma atenção com que um espião ouve as combinações do inimigo. Mas, se o leitor tentar manter uma discussão com um jornal que defenda ideias políticas contrárias às suas, verificará que não há meio termo entre a violência e a fuga; que a única resposta que recebe são insultos ou silêncios. O moderno director está proibido de ter aquele ouvido atento que acompanha a língua honesta. Pode ser surdo e silencioso - e a isso chama-se dignidade; ou ser surdo e ruidoso - e a isso chama-se jornalismo contundente. Em nenhum destes casos há controvérsia porque o objectivo dos actuais combatentes partidários é disparar de fora do alcance do tiro.»

publicado às 13:44

 

G. K. Chesterton, Disparates do Mundo (negritos meus):

 

«No contexto das dificuldades pelas quais a Inglaterra passa hoje, esta definição do ideal é uma questão muito mais premente e muito mais prática do que quaisquer planos ou propostas imediatas. Porque o actual caos deve-se ao esquecimento geral daquilo que era o objectivo inicial dos homens. Um homem não exige aquilo que quer, mas aquilo que lhe parece que pode conseguir; as pessoas não tardam a esquecer-se do que ele inicialmente queria e, após uma carreira política vigorosa e bem sucedida, ele próprio se esquece do que queria. O resultado é um extravagante tumulto de soluções de compromisso, um pandemónio de pis-aller. Ora, este género de versatilidade não impede apenas a consistência heróica, impede também um verdadeiro acordo prático. Uma pessoa só consegue identificar a meia distância entre dois pontos se estes dois pontos estiverem imóveis; podemos chegar a um acordo entre dois litigantes que não conseguem alcançar o que desejam, mas só poderemos chegar a esse acordo se eles nos disserem o que desejam. O dono de um restaurante prefere certamente que os seus clientes lhe digam claramente o que querem comer – ainda que seja guisado de íbis ou bifes de elefante – do que se deixem ficar sentados à mesa com a cabeça apoiada nas mãos, entretidos a calcular a quantidade de comida que haverá dentro do restaurante. Quase todos tivemos já de sofrer a presença daquelas senhoras que, devido a um altruísmo perverso, dão mais trabalho que qualquer egoísta: que solicitam insistentemente a parte do frango de que ninguém gosta e atropelam toda a gente para se sentarem na cadeira mais incómoda. Quase todos participámos em festas e excursões onde fervilhava este género de modéstia. É por razões bastante mais básicas que as destas mulheres admiráveis que os nossos políticos – que são homens pragmáticos – mantêm as coisas no mesmo estado de confusão, devido ao mesmo tipo de dúvida sobre as suas reais necessidades. Nada contribui tanto para evitar um acordo como um emaranhado de pequenas rendições. Sentimo-nos desorientados com tantos políticos que se mostram favoráveis a um sistema educativo secularizado, mas que consideram inútil lutar por ele; que desejam impor a total proibição do consumo de bebidas alcoólicas, mas têm a certeza de que não devem exigi-la; que lamentam o ensino obrigatório, mas o mantêm com resignação; e que acham que a lei devia abrir a posse da terra aos camponeses, pelo que votam no contrário. É este oportunismo atordoado e confuso que impede que as coisas se façam. Se os nossos estadistas fossem visionários, talvez se conseguisse fazer alguma coisa na prática; se exigirmos alguma coisa em abstracto, talvez consigamos alguma coisa em concreto. Mas, tal como as coisas estão, não só se torna impossível conseguirmos o que queremos, como se torna impossível conseguirmos sequer uma parte disso, porque ninguém consegue assinalar o que queremos como que num mapa. Desapareceu por completo aquele estilo preciso, duro até, que presidia às negociações. Esquecemo-nos de que para chegar a uma solução de «compromisso», temos, entre outras coisas, de tomar essa atitude rígida e sonora que consiste em nos «comprometermos». A moderação não é uma coisa vaga; é tão definida como a perfeição. O ponto intermédio é tão fixo como os extremos.»

publicado às 12:10

Da dificuldade de definir o bem

por Samuel de Paiva Pires, em 13.04.13

 

G. K. Chesterton, Disparates do Mundo:

 

«Pelo contrário, a grande dificuldade dos nossos problemas públicos reside no facto de algumas pessoas pretenderem recorrer a remédios que, para outras pessoas, são males ainda maiores; proporem como estados de saúde situações que outros designariam decididamente por estados de doença.

 

O Sr. Belloc observou certa vez que a ideia de propriedade lhe era tão cara como os dentes que tinha na boca; já para o Sr. Bernard Shaw, a propriedade não é um dente, mas uma dor de dentes. Lord Milner tentou sinceramente introduzir a eficácia germânica neste país; muitos de nós, porém, preferíamos o sarampo alemão. O Dr. Saleeby gostaria honestamente de contrair a eugenia; por mim, preferia contrair reumatismo.

 

E este é o facto mais notório e o facto dominante da moderna discussão das questões sociais: o facto de a controvérsia não dizer respeito apenas às dificuldades, mas também aos objectivos. Estamos todos de acordo acerca do mal; é relativamente à definição do bem que estamos dispostos a arrancar os olhos uns aos outros.»

publicado às 14:00

Always look on the bright side of life

por Samuel de Paiva Pires, em 22.11.12

G. K. Chesterton, via The Imaginative Conservative:


«The comedy of man survives the tragedy of man. Always be comic in a tragedy. What the deuce else can you do? He is a [sane] man who can have tragedy in his heart and comedy in his head. An inconvenience is only an adventure wrongly considered; an adventure is an inconvenience rightly considered. Man must have just enough faith in himself to have adventures, and just enough doubt of himself to enjoy them.»

publicado às 13:52

Ideal vs. realidade

por Samuel de Paiva Pires, em 09.08.12

Chesterton, via João Távora:

 

"O ideal é sempre um facto. A realidade é que é muitas vezes uma fraude. Continuo a acreditar no liberalismo, tanto quanto sempre acreditei, mais do que sempre acreditei. Embora seja certo que o período de dourada inocência em que acreditei nos liberais já passou."

publicado às 22:26

Dito por um grande homem.

por Cristina Ribeiro, em 30.05.11

"Há grandes homens que fazem com que todos se sintam pequenos. Mas o verdadeiro grande homem é aquele que faz com que todos se sintam grandes."

publicado às 19:34

Da democracia ( tout court ).

por Cristina Ribeiro, em 20.05.11

" Em suma, a confiança democrática consiste no seguinte: as coisas mais profundamente importantes devem ser entregues aos cuidados dos homens comuns; entre elas contam-se as leis do Estado. A democracia é isso; e eu sempre acreditei na democracia.

Onde foram as pessoas buscar a ideia de que a democracia se opõe, seja de que maneira for, à tradição? [ esta ] mais não é do que um prolongamento da democracia no tempo ".

publicado às 22:10






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