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A chegada dos gangs boulevard

por Nuno Castelo-Branco, em 23.07.08

 

 

Os acontecimentos violentos entre etnias diferentes, trouxeram à realidade comezinha do quotidiano, o potencial paiol em que os subúrbios das grandes cidades europeias se vão irreversivelmente transformando. Se em França - Paris é a imagem de marca para o melhor e para o pior - os problemas decorrem de uma evidente coligação - africanos negros e magrebinos e alguns brancos banlieu - de todos aqueles que se renderam à subcultura do gang organizado e que actua através da mais directa coacção física, em Portugal os focos problemáticos vão alastrando a todas as zonas circundantes das duas principais cidades. Aqui, os conflitos vão atravessando todas as fases que caracterizam a passagem ao estádio da insegurança final. A péssima solução de confinamento que o regime permitiu ou impôs, aliada à desastrosa ausência de uma verdadeira política de reordenamento territorial que liquidou todas as esperanças de encorajamento do necessários equilíbrio entre o norte e o sul e entre as zonas costeiras e o interior - é necessário reler Ribeiro Telles -, tem permitido a criação de grandes cidades satélites que não o sendo formalmente, consistem numa inegável realidade que desafia qualquer estudo sociológico e de planificação urbana. A palavra desastre é decerto a mais apropriada para caracterizarmos a situação.

 

Num primeiro estádio, os clãs vão-se organizando na base da sua origem étnica, como é compreensível e lógico. Disputam o espaço da zona de controle e residência, para logo depois, passarem a atacar na cidade propriamente dita, seja ela Lisboa ou o Porto. As zonas de actuação são aquelas que oferecem maior possibilidade de lucros rápidos e seguros, como os centros de diversão nocturna ou de passeio. Aqui vão estabelecendo os seus entrepostos de venda de produtos ilícitos, definindo as áreas de faina de cada grupo, inicialmente evitando contactos susceptíveis de conduzir a uma intervenção mais decidida da autoridade. A organização assenta não apenas na venda das drogas sociais, como também, passadas as horas de maior tráfego de noctívagos, em assaltos pontuais a transeuntes isolados.

 

Numa segunda fase - e esta varia consoante a disponibilidade de stocks de produtos consumíveis -, assiste-se a um crescendo de rixas mais ou menos violentas a que os noticiários fazem crónica menção. O território parece reduzido, a necessidade de proventos vai-se concentrando cada vez mais em chefes bem identificados e pelos grupos reconhecidos como tal. É a actual situação que se vive no Bairro Alto, onde o descaramento da venda de drogas às claras a toda e qualquer pessoa, se tornou na imagem de marca da zona de lazer da capital. A isto, acrescentemos a para muitos imperceptível demarcação de limites através do flagelo dos graffiti, com mensagens lubliminares apenas compreensíveis para alguns iluminados. A violência vai-se tornando habitual e os meses de maior afluxo turístico (Junho-Setembro), assistem a um autêntica invasão por bandos facilmente reconhecíveis e que traficam em plena luz do dia. Não é possível convencer alguém de que as autoridades não sabem quem são, como actuam e onde podem ser encontrados os meliantes. Todo o percurso entre o início da Rua da Rosa (pela D. Pedro V)  e a Diário de Notícias, é pontilhado por autênticas emboscadas feitas pelos comerciantes de cavalo, branca, pastilhas, etc, que perseguem quem entra no Bairro, propondo insistentemente aquilo que têm para vender. Há zonas de brancos, outras de ciganos e um pouco por todo o lado - e em número mais reduzido - de negros, à porta de bares, salões de jogos, discotecas e restaurantes. Esta é a verdade que os "politicamente correctos"  da esquerda e da direita insistem em negar.

 

A terceira fase é previsível, pois a constante extensão de novas zonas ditas de "habitação social", trará a infalível e final coligação de todos aqueles que hoje aparentemente só encontram motivos de mútua hostilidade. É a fase boulevard, com o ataque generalizado à propriedade urbana e até suburbana, assaltos recorrentes nos transportes públicos com o uso de violência física extrema e situações que raiam a insurreição. É previsível e inevitável, com as consequências políticas que se conhecem. Tempos promissores se avizinham para os extremistas do quadro político-partidário, enquanto os bem pensantes de uma certa "esquerda do condomínio de luxo", comodamente discutem a transcendência das limpezas étnicas  camufladas de mises au pas, da dupla Estaline-Trotski, numa qualquer amena jantarada à beira Tejo.

publicado às 18:05

A república dos gangs ou a cegueira do regime

por Nuno Castelo-Branco, em 12.07.08

 

 

À noite, sento-me muitas vezes diante do computador e faço o clic para um programa de jogos de táctica e de estratégia, com cenários de campanha e outros, menos interessantes, de guerrilha urbana. É um passatempo como outro qualquer e oferece a vantagem de aprender qualquer coisa.

 

Este fim de semana iniciou-se com um tiroteio como há muito não se via em Portugal. Parecia termos recuado à ominosa 1ª república dos Costas e dos Bernardinos, onde bairros e profissões gostosamente se massacravam a tiro, fazendo do lazer uma escola de partisans para o que o porvir do regime propiciasse. 

 

Existem centos de milhar de armas "de caça" legalizadas e o governo parece disponível para estudar a hipótese de uma certa liberalização do porte de armas de fogo, ditas de defesa pessoal. Continuo a pensar que as armas devem ser privilégio exclusivo das forças policiais e de defesa da soberania, ou sejam, as forças armadas.

 

Sou totalmente contra actividades que impliquem a chacina de animais, onde malucos e disfuncionais descarregam variadas frustrações, no abate de seres indefesos e essenciais à preservação do equilíbrio de uma natureza já muito devastada pelo bicho homem. Ilegalizava a caça, pura e simplesmente. Desarmava os pretensos "combatentes das coutadas", esvaziava os arsenais particulares. Cada rusga das forças de segurança, implica a captura de vultuoso material de guerra, onde não faltam metralhadoras ligeiras, espingardas e pistolas militares e por vezes, granadas ofensivas. Não teremos que esperar muito para surgirem os primeiros LOW ou TOW.

 

Vivemos um período eivado de incertezas. Em cada casa as dificuldades económicas são o reflexo daquilo a que se passa na macro-economia nacional. As mentes andam turvas, o tom do vozear popular atinge já as fronteiras ida insurreição latente. O descrédito das instituições do Estado é total e do primeiro titular dos órgãos de soberania, até ao mais ínfimo subsecretário de Estado, todos são amplamente confundidos numa amalgama de desrespeitoso desprezo, sem que se vislumbre remédio para o mal.

 

Liberalizem ainda mais o porte de arma. Verão no que dá.

publicado às 20:43






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