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O amadorismo ganha requintes anedóticos

por Samuel de Paiva Pires, em 10.09.12

Orwell não faria melhor: «Governo cria linguagem para justificar medidas de austeridade - Em quatro folhas A4, constam os ensinamentos dirigidos aos gabinetes ministeriais. São normas para responder às perguntas, da imprensa sobretudo, sobre as medidas de austeridade anunciadas.»

 

O documento pode ser encontrado aqui.

publicado às 16:36

Contra a novilíngua do acordês

por Samuel de Paiva Pires, em 06.02.12

Que um estado ocidental, que se diz demo-liberal, se arrogue a autoridade de violentar a sociedade e os indivíduos que a compõem, redesenhando, sem mandato para tal, uma instituição que não lhe pertence - a língua -, parece ser algo que nem nos meus sonhos mais grotescos conseguiria imaginar. Às vezes ainda tenho dificuldade em acreditar que aquilo que se passa seja real. Ler este artigo de André Abrantes Amaral recordou-me que já Orwell, na sua intemporal distopia, tratou de temática semelhante, a que se referiu como novilíngua.

 

Entretanto, continuo a não perceber como é que este repulsivo acordo vai avançando com um envergonhado silêncio ruidoso e opressivo por parte de quem nos governa. A desculpa de que é um acordo internacional não colhe. Ainda que o princípio de pacta sunt servanda seja um imperativo através do qual os estados se dão ao respeito na arena internacional, não é menos verdade que a política externa, embora seja assunto que à esmagadora maioria dos portugueses não interesse sumamente,  é, ou pelo menos deve ser, reflexo de consensos generalizados na sociedade. Ora, se, como é mais do que audível e visível, a esmagadora maioria dos portugueses é contra este acordo, alguém me explica porque continua o Governo a fazer ouvidos de mercador, perante tamanha revolta em face deste acto digno de um regime totalitário?

 

Leitura complementar: Contra o processo de apagamento da identidade portuguesa em curso, de que deixo aqui o parágrafo em que me refiro ao A.O.:

 

Não pretendo estender-me numa análise do género da que muitos têm feito, e bem, sobre as incoerências linguísticas do próprio acordo ou os errados critérios e interesses que o norteiam, como Pedro Mexia salientou num excelente artigo publicado no Expresso de 14 de Janeiro de 2012. E não o pretendo fazer porque, antes de mais, fazê-lo é aceitar a existência do próprio acordo. É aceitar que o estado é dono da língua. É aceitar que, sem que ninguém lhe tenha conferido esse mandato, o estado se pode arrogar a possibilidade de fazer o que quer com a língua. No caso em apreço, é aceitar que o estado pode convocar um grupo de alegados iluminados e permitir-lhes redesenhar a língua de milhões de pessoas a seu bel-prazer. Escapa a estes iluminados, provavelmente herdeiros da filosofia cartesiana que incorre no racionalismo construtivista – um ignóbil produto da modernidade que inspirou totalitarismos assentes no princípio de que é possível desenhar ou redesenhar uma sociedade complexa a partir de cima, ou seja, do aparelho estatal – uma coisa tão simples quanto isto: a língua é uma das instituições humanas originada e desenvolvida espontaneamente, i.e., através da interacção de milhões de indivíduos ao longo do tempo. A língua originou-se através da natural evolução humana e é por via das interacções que se registam numa comunidade ou sociedade que se vai modificando, de forma lenta, gradual e sem coação estatal. A língua não é produto nem pode ser apropriada por um aparelho cuja fundação é posterior ao momento de origem da língua da sociedade de onde aquele emana. Sinto-me ultrajado com este acordo e pela violentíssima forma como o estado tem avançado para o impor. Raras vezes tenho sentido uma revolta tão grande, uma revolta que cada vez mais me custa calar e que é, com toda a certeza, partilhada por milhões dos meus compatriotas. É difícil, mas não impossível, resistir ao rolo unidimensionalizador da única instituição que detém o monopólio da força legítima. Mas não resistir é aceitar a coação estatal num domínio que é nosso, dos indivíduos e da sociedade, dos portugueses, não do estado. E é por isto que sou terminantemente contra a existência de qualquer acordo ortográfico. Este ou outros (e sim, sei que se fizeram vários ao longo do século XX e sempre por razões políticas). Não discuto os critérios do acordo porque, por uma questão de princípio, este nem sequer deveria existir.

publicado às 12:59

Mário Crespo - 2009

por Samuel de Paiva Pires, em 15.04.09

Mário Crespo, que estará na próxima semana presente no ISCSP enquanto orador nas Jornadas de Ciência Política, mais uma vez, brilhante e inspirado:

 

 

"Estava um dia frio e límpido de Abril e os relógios batiam treze badaladas" e eu dei comigo a pensar: 'Se calhar o melhor é passar um pano encharcado em creolina sobre isto tudo e deixarmo-nos de coisas porque a melhor política é o trabalho e qualquer dia… toca-me a mim'. Do Ministério do Amor já tinham vindo sérias admoestações. Recordam-se do zelador da justiça que, questionado por um jornalista mais impertinente sobre se o "Grande Irmão" poderia ser constituído arguido, respondeu: "Olhe, até você pode ser constituído arguido"? E não é que foi mesmo! Só na última semana foram uns três! Tudo isto para que não haja dúvidas que na "Oceânia", como foi dito, "não é qualquer director de Jornal com as suas campanhas" ou "uma qualquer televisão quem governa". Quem governa na Oceânia é "quem o povo escolhe". Por isso, estes três (e brevemente serão mais) obviamente foram entregues ao Ministério do Amor (um deles já foi ouvido) e agora vão de certeza parar à Sala 101 onde "confrontarão os seus piores receios" até aprenderem a amar sem reservas quem tanto bem lhes faz e a quem tanto devem. Tem que haver uma punição exemplar por esta ingratidão dos que não reconhecem o imenso trabalho que tem sido feito pelo Ministério da Abundância na "distribuição de rações". Como é que os amigos não os denunciaram (como foi feito, e bem na DREN)! Então o Ministério da Verdade não tinha já decidido dar mais um ano de completo bico-calado sobre tudo! E eles (e elas) a pisar cada vez mais o risco contando coisas! Falam de pressões sobre o próprio Ministério da Verdade! Subornos no Ministério da Abundância e, sacrilégio ultrajante, sugerem que há corrupção a alto nível! Qual nível? Ao nível do topo do "Partido Interno"! Como é que se pode dizer uma coisa destas e esperar fazê-lo com impunidade, aqui na Oceânia onde a Abundância é inigualável, e a paz e a justiça nas ruas é garantida por dez mil novos disparadores Glock-19 de 9mm! O Ministério da Verdade já exortou à serenidade com um brilhante anúncio na Rádio e na TV informando que as manifestações de rua são "contra" os cidadãos. E eles não quiseram acreditar! E mesmo no Período do Grande Silêncio decretado pelo Ministério da Verdade divulgaram coisas como se quem mandasse na Oceânia fosse um "qualquer Director de Jornal com as suas campanhas" ou "uma qualquer televisão", quando todos sabemos que quem manda é "quem o povo escolhe". Por isso vamos passar a esfregona bem encharcada em creolina sobre tudo isto e, com o Grande Silêncio garantido pelo Ministério da Verdade, com os desviantes na "Sala 101" a aprenderem a estar calados quando os mandam, o povo sereno votará e escolherá quem quer que continue a mandar na Oceânia. As listas para o "Partido Interno" já estão quase prontas. Depois vêm as do "Partido Externo". Nessas, os descontentes ao verem como ficam os jornalistas que o Ministério da Verdade vai levar à Sala 101, aceitarão de vez o Grande Silêncio e terá "chegado o grande momento. Salvar-nos-emos, seremos perfeitos."

PS: As frases entre aspas, mais inspiradas, são do 1984 de George Orwell. As menos inspiradas são de 2009. Quanto ao mais, como Marx diz no Capital, "muda-lhes os nomes e esta é a tua história".

publicado às 23:31

Geórgia e os Neocons

por Paulo Soska Oliveira, em 20.08.08

Transcrevo aqui uma excelente peça de contra-informação ocidental, redigida por Paul Craig Roberts.

 

Paul Roberts - Ex-secretário assistente do Tesouro na administração Reagan. Foi editor associado da página editorial do Wall Street Journal e editor colaborador da National Review. É co-autor de The Tyranny of Good Intentions.

 

 

 

 

The Neocons Do Georgia
Humanity's Greatest Enemy?

 

The success of the Bush Regime’s propaganda, lies, and deception with gullible and inattentive Americans since 9/11 has made it difficult for intelligent, aware people to be optimistic about the future of the United States. For almost 8 years the US media has served as Ministry of Propaganda for a war criminal regime. Americans incapable of thinking for themselves, reading between the lines, or accessing foreign media on the Internet have been brainwashed.

 

As the Nazi propagandist, Joseph Goebbels, said, it is easy to deceive a people. You just tell them they have been attacked and wave the flag.

It certainly worked with Americans.

The gullibility and unconcern of the American people has had many victims. There are 1.25 million dead Iraqis. There are 4 million displaced Iraqis. No one knows how many are maimed and orphaned.

Iraq is in ruins, its infrastructure destroyed by American bombs, missiles, and helicopter gunships.

 

We do not know the death toll in Afghanistan, but even the American puppet regime protests the repeated killings of women and children by US and NATO troops.

 

We don’t know what the death toll would be in Iran if Darth Cheney and the neocons succeed in their plot with Israel to bomb Iran, perhaps with nuclear weapons.

 

What we do know is that all this murder and destruction has no justification and is evil. It is the work of evil men who have no qualms about lying and deceiving in order to kill innocent people to achieve their undeclared agenda.

 

That such evil people have control over the United States government and media damns the American public for eternity.

America will never recover from the shame and dishonor heaped upon her by the neoconned Bush Regime.

The success of the neocon propaganda has been so great that the opposition party has not lifted a finger to rein in the Bush Regime’s criminal actions. Even Obama, who promises “change” is too intimidated by the neocon’s success in brainwashing the American population to do what his supporters hoped he would do and lead us out of the shame in which the neoconned Bush Regime has imprisoned us.

 

This about sums up the pessimistic state in which I existed prior to the go-ahead given by the Bush Regime to its puppet in Georgia to ethnically cleanse South Ossetia of Russians in order to defuse the separatist movement. The American media, aka, the Ministry of Lies and Deceit, again accommodated the criminal Bush Regime and proclaimed “Russian invasion” to cover up the ethnic cleansing of Russians in South Ossetia by the Georgian military assault.

 

Only this time, the rest of the world didn’t buy it. The many years of lies--9/11, Iraqi weapons of mass destruction, al Qaeda connections, yellowcake, anthrax attack, Iranian nukes, “the United States doesn’t torture,” the bombings of weddings, funerals, and children’s soccer games, Abu Ghraib, renditions, Guantanamo, various fabricated “terrorist plots,” the determined assault on civil liberties--have taken their toll on American credibility. No one outside America any longer believes the US media or the US government.

 

The rest of the world reported the facts--an assault on Russian civilians by American and Israeli trained and equipped Georgian troops.

The Bush Regime, overcome by hubris, expected Russia to accept this act of American hegemony. But the Russians did not, and the Georgian military was sent fleeing for its life.

 

The neoconned Republican response to the Russian failure to follow the script and to be intimidated by the “unipower” was so imbecilic that it shattered the brainwashing to which Americans had succumbed.

 

McCain declared: “In the 21st century nations don’t invade other nations.” Imagine the laughs Jon Stewart will get out of this on the Daily Show. In the early years of the 21st century the United States has already invaded two countries and has been beating the drums for attacking a third. President Bush, the chief invader of the 21st century, echoed McCain’s claim that nations don’t invade other nations. http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/7556857.stm

 

This dissonant claim shocked even brainwashed Americans, as readers’ emails reveal. If in the 21st century countries don’t invade other countries, what is Bush doing in Iraq and Afghanistan, and what are the naval armadas and propaganda arrayed against Iran about?

 

Have two of the worst warmongers of modern times--Bush and McCain--called off the US/Israeli attack on Iran? If McCain is elected president, is he going to pull US troops out of Iraq and Afghanistan as “nations don’t invade other nations,” or is President Bush going to beat him to it?

We all know the answer.

 

The two stooges are astonished that the Americans have taught hegemony to Russians, who were previously operating, naively perhaps, on the basis of good will.

Suddenly the Western Europeans have realized that being allied with the United States is like holding a tiger by the tail. No European country wants to be hurled into war with Russia. Germany, France, and Italy must be thanking God they blocked Georgia’s membership in NATO.

 

The Ukraine, where a sick nationalism has taken hold funded by the neocon National Endowment for Democracy, will be the next conflict between American pretensions and Russia. Russia is being taught by the neocons that freeing the constituent parts of its empire has not resulted in their independence but in their absorption into the American Empire.

Unless enough Americans can overcome their brainwashed state and the rigged Diebold voting machines, turn out the imbecilic Republicans and hold the neoconservatives accountable for their crimes against humanity, a crazed neocon US government will provoke nuclear war with Russia.

The neoconservatives represent the greatest danger ever faced by the United States and the world. Humanity has no greater enemy.

 

Dá que pensar...

 

O original pode ser encontrado aqui

 

publicado às 08:49

"Não há ninguém acima de lei"

por Samuel de Paiva Pires, em 06.07.08

(imagem tirada daqui)

 

É Pinto Monteiro quem o afirma. Teoricamente assim é, tal como todos seremos  iguais perante a lei, mas como diria um certo grupo de porcos de um certo livro, todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que outros.

publicado às 03:22

Há cento e cinco anos (2)

por Samuel de Paiva Pires, em 25.06.08
Querida Cristina, pegando na efeméride que nos traz, lembro os 5 posts que escrevi há 2 meses: "Relembrar Orwell" - 1, 2, 3, 4 e 5.

publicado às 16:02

Há cento e cinco anos

por Cristina Ribeiro, em 25.06.08
nascia na Grã-Bretanha (Índia Britânica, concretamente) aquele que seria um escritor com uma visão muito certeira do que nos estava reservado para o futuro, que é afinal o nosso presente: George Orwell.

publicado às 11:20

Relembrar Orwell (5)

por Samuel de Paiva Pires, em 16.04.08
«Mas tornou-se igualmente claro que o aumento global da riqueza ameaçava destruir a sociedade hierárquica - e isso, num certo sentido constituía, só por si, a destruição desta. Num mundo onde toda a gente poucas horas trabalhasse, não lhe faltasse comida, vivesse em habitações com frigorífico e casa de banho e tivesse automóvel ou mesmo avião, as formas mais óbvias e talvez mais importantes de desigualdade teriam desaparecido. No dia em que a riqueza se generalizasse, ela deixaria de conferir distinção. Sem dúvida, em abstracto, seria viável uma sociedade onde a riqueza, no sentido de posse de bens e luxos, fosse equitativamente distribuída, enquanto, por seu lado, o poder continuaria nas mãos de uma pequena casta privilegiada. Mas na prática tal sociedade não poderia manter-se estável por muito tempo. De facto, se todos tivessem igual acesso ao lazer e à segurança, a grande maioria dos seres humanos, que normalmente vivem embrutecidos pela pobreza, instruir-se-iam e aprenderiam a pensar pela sua própria cabeça; a partir daí, cedo ou tarde concluiriam que a minoria privilegiada não desempenhava qualquer função, e acabariam com ela. A longo prazo a organização hierárquica da sociedade só seria viável assentando de novo na pobreza e na ignorância.»

Esta é a pièce de résistance desta curta série. Não precisa de grandes explicações. É irónico notar como autores tidos como idealistas e que servem de base a grande parte da esquerda, como Platão (não estou a dizer que Platão era de esquerda, atenção, Platão pode ser tanto de extrema-esquerda como extrema-direita), ou Rousseau, que falaram de educação das massas e igualdade entre todos, foram eles próprios os desmontadores de tais falácias, que Orwell tão bem sumariza neste trecho.

Tudo isto se apresenta tão clarividente que chega a ser absurdo como a maioria das pessoas teima em não o entender.

publicado às 03:25

Relembrar Orwell (4)

por Samuel de Paiva Pires, em 16.04.08
«Nos grandes centros da civilização, a guerra manifesta-se pela escassez constante de bens de consumo, e pela explosão ocasional de bombas podendo causar largas dezenas de mortos.»

Isto nem precisa de muita explicação. A explosão ocasional de bombas é utilizada em guerras em nome da religião, da etnia, da raça ou da cultura, fenómeno intrinsecamente relacionado com o terrorismo enquanto forma de manter uma nova ordem mundial (como aqui mostrei).

Por outro lado, os bens de consumo constituem o elemento central do mercado mundial, entre os quais poderemos incluir desde o petróleo e matérias-primas até aos produtos finais, constituindo-se principalmente os recursos naturais como fonte primária de futuros conflitos de grande escala. A guerra económica é feita pelas multinacionais, transnacionais e Estados como forma de demonstrar o seu poderio, na lógica do enriquecimento e da conquista de poder nos diversos paralelogramas de forças de geometria variável que complexificaram as Relações Internacionais no fim do século XX, o que Keohane e Nye previram nos anos 70 com a teorização acerca da interdependência complexa, concretizada a partir da Queda do Muro de Berlim, através da desmilitarização da questão securitária, com o alargar do conceito de segurança a inúmeras outras áreas, e com a centralização do combate na lógica liberal da competição económica, onde até os alemães sabem que o actual Reich não pode ser baseado no conflito armado, ao contrário do que Kissinger tem previsto, mas sim na portentosa demonstração do seu poderio económico enquanto potência destinada a influenciar de forma determinante o sistema internacional.

publicado às 03:13

Relembrar Orwell (3)

por Samuel de Paiva Pires, em 16.04.08
«A guerra, porém, já não é essa luta desesperada e devastadora das primeiras décadas do século XX. É um combate de objectivos limitados entre contendores sem capacidade para se destruírem uns aos outros, nem causa material para se digladiarem ou qualquer divergência ideológica genuína a separá-los.»

A incapacidade dos contendores para se aniquilarem é sem dúvida uma previsão concretizada pela coexistência pacífica baseada na doutrina da Mutual Assured Destruction, o tal pacto tácito entre EUA e URSS para manter a ordem durante a Guerra-Fria, apenas desestabilizada quando os EUA decidiram montar um sistema de defesa anti-míssil.

Porém, se durante esse conflito, a divergência ideológica era premente e reflectia-se nas organizações militares respectivas de cada bloco, Pacto de Varsóvia e NATO, certo é que a ideologia do comunismo foi diminuída ao seu indispensável, e até os chineses procuram demonstrar como é necessário o capitalismo para o desenvolvimento de uma alegada sociedade igualitária (trata-se de mais um excelente instrumento de propaganda). De tal forma, a nova ordem económica mundial baseada no liberalismo condiciona de forma determinante a superestrutura política, tal como Marx havia previsto, que os conflitos há muito deixaram de ser entre ideologias (pode-se é arguir como Huntington faz, por uma lógica de Choque de Civilizações, onde a cultura, civilização e religião são os elementos determinantes do conflito, mas isso são contas de outro rosário).

E até numa analogia doméstica em termos da Teoria das Relações Internacionais, pode-se verificar que deixaram de existir verdadeiros conflitos ideológicos no seio das sociedades democráticas liberais ocidentais. Mais ainda nos países do norte da Europa, onde a política aperfeiçoou-se de tal forma que perdeu a sua carga ideológica e passou a estar ao mais directo serviço dos cidadãos, numa lógica de funcionamento pela e para a causa pública, quase remetida ao nível da gestão e administração (talvez nem seja assim tão mau voltar à oikos como alguns julgam, quando na polis não nos conseguimos entender).

publicado às 03:01

Relembrar Orwell (2)

por Samuel de Paiva Pires, em 16.04.08
«Desde que há documentos escritos, e provavelmente já desde o fim do Neolítico, existem no mundo três categorias de pessoas: a Alta, a Média e a Baixa. Estes grupos têm-se subdividido das mais diversas formas, foram-lhes atribuídos variados nomes, e a sua proporção numérica, bem como as atitudes recíprocas, variaram de época para época; a estrutura fundamental da sociedade, porém, nunca se modificou. Mesmo depois das maiores convulsões, das mudanças aparentemente mais irreversíveis, acabou sempre por restabelecer-se idêntico modelo (...).»

Desesperadamente pragmático, é uma constatação de uma realidade imutável ao longo dos séculos, que já Rousseau havia demonstrado (como aqui mostrei). Até os comunistas sabem que é impossível mudar isto, por mais que se considere a consciência de classe, por mais que se considere a revolução socialista na lógica evolucionista linear da sociedade, é e, profeticamente arrisco, sempre será assim. A vida em sociedade pressupõe a desigualdade. Mais do que pressupor, fomenta-a, pois essa é o seu motor de desenvolvimento e estabilidade.

publicado às 02:54

Relembrar Orwell (1)

por Samuel de Paiva Pires, em 16.04.08
(imagem tirada daqui)

George Orwell, pseudónimo de Eric Arthur Blair, é provavelmente um dos mais famosos escritores do século XX. Pela sua experiência no conflito ideológico que foi a Guerra Civil de Espanha entre 1936 e 1939, acerca da qual escreveu cartas e relatos, mas, principalmente, pelas suas duas obras primas, o Triunfo dos Porcos (Animal Farm é o título original) e 1984. Hoje apeteceu-me relembrar uma das mais fantásticas peças de explicação da dinâmica da sociedade internacional, sob a égide realista do sistema internacional endemicamente anárquico e conflitual, resumida sob um poderosíssimo slogan:

Guerra é Paz
Liberdade é Escravidão
Ignorância é Força.

É extraordinário notar como a sua teoria do Big Brother talvez não se tenha realizado completamente, mas as suas previsões não deixam de certa forma de ser análogas ao que se vai vivendo nesta nossa terráquea Torre de Babel, de que passamos a dar conta nos posts seguintes, com uns breves trechos de 1984.

publicado às 02:19






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