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George Steiner, A Poesia do Pensamento:
«Responsavelmente definido – falta-nos um termo que o assinale –, o pensamento sério é uma ocorrência rara. A disciplina que, juntamente com a abstenção da facilidade e da desordem, o pensamento requer só muito raramente ou nunca está ao alcance da grande maioria. A maior parte de nós não tem mais do que uma vaga ideia do que seja «pensar», transformar em «pensamento» o bric-á-brac, o refugo e o lixo da nossa corrente mental. Adequadamente concebida – quando paramos para pensar no assunto? –, a instauração de um pensamento de primeira ordem é tão rara como a composição de um soneto de Shakespeare ou de uma fuga de Bach. Talvez, na breve história da nossa evolução, não tenhamos ainda aprendido a pensar. Excepto para um punhado entre nós, talvez a designação homo sapiens não passe de uma vanglória injustificada.»
George Steiner, A Ideia de Europa:
«A minha mulher e eu tivemos o privilégio de sermos convidados por Nadine Gordimer para a sua bela casa na Cidade do Cabo durante os maus momentos, os momentos que antecederam a libertação. Ela convidou os chefes do ANC, do Movimento de Resistência Nacional, incluindo os chefes militares, para jantar. Os carros da Polícia estavam estacionados à porta e anotavam os nomes de todos os convidados, mas não tocaram em Nadine. Estava-se completamente seguro. Anotavam simplesmente quem chegava para o jantar. Em toda a minha vida, o meu dom principal tem sido uma falta de tacto assinalável – confesso-me culpado. Assim, perguntei finalmente àqueles três grandes chefes: «Ouçam, a ocupação pelas Waffen SS foi muito má: eles eram muito bons a ocupar. Mas, de tempos a tempos, matava-se um dos sacanas. Vocês não tocaram num homem branco. Nem um. Em Joanesburgo, os números são de treze para um. Na rua, basta fechar os braços para sufocar uma pessoa branca. Nem sequer é preciso ter armas. Treze para um. Que diabo se passa?» Um dos chefes do ANC disse: «Eu posso responder. Os cristãos têm os evangelhos, vocês, judeus, têm o Talmude, o Antigo Testamento, o Mishnah, os meus camaradas comunistas a esta mesa têm Das Kapital. Nós, negros, não temos nenhum livro.»
Foi um momento tremendo, para mim. A herança de Atenas a Jerusalém, de que temos um livro, de que temos vários livros. Aquela foi uma resposta avassaladoramente triste e persuasiva: «Não temos nenhum livro.»
"Como ali disse, «estamos a viver tempos que convidam a que nos "fechemos" dentro de um livro. Não é, pois, por acaso que têm aparecido alguns neste blogue. Essa capacidade de isolamento, essa barreira prodigiosa contra a tagarelice, esse momento único de redescrição do mundo que a leitura ou a música conferem, foi descrita de forma lapidar por George Steiner num intitulado No castelo do Barba Azul - algumas notas para a redefinição de cultura, traduzido pela Relógio D'Água: «os livros bem-amados são a sociedade necessária e suficiente do indivíduo que lê a sós.»"