Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
- Mummy, porque razão vocês, os velhos, estão a roubar-me o futuro?
- Roubar-vos o futuro? Já te digo quem teve o futuro roubado.
- O teu trisavô Randolph que morreu com vinte e dois anos em Ypres, desfeito por uma granada alemã. O teu trisavô Andy que passou por Arras, por Paschendale e esteve enterrado na lama da Flandres durante três anos até ser internado devido a gases, ficando cego de um olho. É aquele senhor da pala que está em várias fotos a sépia, aquelas que há uns dias disseste “bem podias vendê-las!” O teu trisavô Robert que veio da Austrália e ficou sem uma perna em Gallipoli e depois foi evacuado para Inglaterra, ali se casando com a tua trisavó Maggie, a enfermeira que conheceu e dele tratou no hospital. Viveram todos eles os difíceis anos vinte e passaram pela crise de 1929 e as suas filas de desempregados.
- Yes, but…
- Quanto aos teus quatro bisavós, também te posso dizer qualquer coisa. O teu bisavô Peter foi evacuado em Dunquerque e depois teve de servir na DCA que defendeu Londres durante o Blitz de 1940. Daí seguiu para o norte de África e fez toda a campanha da Líbia, passou por El Alamein, foi capturado na Itália e passou dois anos na Silésia, Alemanha, como prisioneiro de guerra. Sabes onde fica a Silésia? Pela tua cara, claro que não…
O teu bisavô John serviu na RAF, fez a Batalha de Inglaterra e foi depois destacado para servir no porta-aviões Ark Royal no Mediterrâneo, aí tendo perdido a vida quando o navio foi torpedeado. É aquele senhor da foto sobre o sideboard, o da Victoria Cross.
O teu bisavô Tony foi embarcado na defesa da marinha mercante que fazia a ligação do Reino Unido ao Canadá e EUA, correu enormes perigos devido à campanha submarina da Kriegsmarine e acabaria por ser destacado para o exército e participar no D Day, na Operação Market Garden, acabando a guerra como um dos motoristas de Montgomery e assistindo à rendição dos nazis na charneca de Luneburg. Dali seguiu para Berlim, para servir nas forças britânicas de ocupação, uma cidade em escombros onde conheceu a tua bisavó Elke com quem tanto te pareces e que como refugiada, miraculosamente sobrevivera à evacuação da Prússia Oriental, vendo o resto da família morrer esmagada sob o dilúvio de bombas e granadas soviéticas. Lembras-te de quando em pequeno foste connosco num cruzeiro no Báltico e com ela desembarcámos em Kalininegrado e pela última vez ela viu a fachada da sua casa? Nunca esquecerei aquela visita a uma aldeia do interior, abandonada e em ruínas… o desespero dela para ali sentada durante horas, olhando para o vazio. Morreu pouco depois, claro que já não te recordas.
O teu bisavô James serviu durante anos como descodificador da Enigma em Bletchley Park, enquanto todas as outras tuas bisavós, ou ficavam em casa a tomar conta dos teus avós, ou prestavam serviço nas fábricas, na Home Guard, na Cruz Vermelha, na Intendência das Forças Armadas ou nas nurseries do Estado. Passaram pela fase da reconstrução, num horizonte infinito de fome, ruínas e penúria que durou mais de vinte anos. Mesmo assim, meteram mãos à obra e juntamente com os franceses, alemães, belgas, holandeses e tantos outros, construíram essa Europa que agora vês. Todos eles votaram yes em 1975.
- Yes, fine, but…
- But, nada! Quanto aos teus dois avós, também tenho algo para te contar. Enquanto o teu avô Tim participou na Campanha do Suez e daí foi depois destacado para a Malásia e Hong Kong onde conheceu a tua avó Anne, o teu avô Tom mentiu na idade e enfrentou os Mau Mau no Quénia, ali sendo ferido e acabando por morrer num hospital militar em Nairobi, cidade onde eu e os teus tios nascemos.
- I know all that but I…
- Espera, ainda não terminei, shut up!
Quanto a mim e ao teu pai, também tenho algo para te dizer. Quando da independência do Quénia, fui evacuada com a tua avó que já estava viúva, juntamente com teus tios que mal sabiam andar. Viemos para Londres onde acabei por conhecer o teu pai uns anos mais tarde. Ele estava então destacado na Royal Navy e fez a Campanha das Falklands como piloto de helicópteros, transportando grandes placas de metal que atraíam os mísseis argentinos, os Exocet vendidos e fornecidos pelos nossos aliados franceses. Foi condecorado pela própria Rainha!
- Estou farto de ouvir essa história de pedaços de lata brilhante no casaco, mas, mummy, o que são mísseis Exocet?
- Se não sabes vai à Wikipedia, deve existir uma página sobre isso.
- Fiz horas extraordinárias para te dar tudo aquilo que a sociedade da tecnologia proporcionou: para não te sentires diminuído em relação aos teus amigos mais ricos, ofereci-te sempre os mais avançados telemóveis, enquanto ias colocando os outros naquela gaveta onde ainda estão. Comprei-te os IPAD, os Iphone que perdeste, os computadores de mesa sempre em actualização e todos os gadget e tablets quando te via e ainda vejo a olhar intensamente para uma montra. Comprei-te sempre as roupas que querias. Paguei-te as férias em vários resorts do Mediterrâneo e sempre com sucesso apaziguei o teu pai furibundo e farto das tuas bebedeiras, raves abroad, festas trance e pedinchices quanto a todas as play-stations & games que agora tens para ali atiradas e esquecidas no armário do teu quarto. Com grande sacrifício comprámos aquela pequena flat em Albufeira, no Algarve onde passas for free fins de semana com os teus amigos da bola e da cerveja. A propósito, porque te recusas a ir connosco? Fechámos os olhos às dúzias de viagens de um dia na Ryan Air para ires assistir aos jogos do Manchester United em toda, toda a Europa e várias vezes por ano. Olha, nunca te dissemos, mas quase morremos de vergonha por nós, pelos teus avós e pelo teu país quando foste preso no sul de Espanha por hooliganismo. No meu trabalho nunca souberam. O teu pai meteu-se num avião, pagou a um advogado espanhol e foi resgatar-te, estavas todo esmurrado, lembras-te?
Depois, decidimos fazer mais um empréstimo ao Barcklay’s para que pudesses aproveitar o Erasmus na Polónia. No serviço as minhas colegas gozavam comigo a propósito desse programa, fazendo trocadilhos com outra palavra que decerto conheces. Aproveitaste? Vida difícil a tua…
- Fuck off!, I hate all of you!, you cannot understand young people! (sob)
- Yeah, yeah, toma lá 30 Libras para ires com os teus amigos ao pub ver o jogo Inglaterra-Islândia...
José Pacheco Pereira (destaques meus):
«As "Assembleias populares" dos "indignados" são mais um dos sinais do grau zero da política dos dias de hoje. Para além do absurdo de ver cem pessoas, que depois se reduzem a umas dezenas, a tomarem-se a sério, se é que isto não é uma contradição nos seus termos, como se estivessem a governar o país, sem suscitar o ridículo geral, há quem escreva entusiasmado sobre aquele Petit Guignol, como se de um soviete se tratasse. Acresce o orwelliano tique de se chamarem "assembleias" quando são ajuntamentos ad hoc, em que ninguém representa ninguém, nem muitas vezes se representa a si próprio dado que está em estado de transe induzido, e de usarem o nome de "populares", quando, se aquilo é o povo português, eu quero emigrar para as Desertas.
Tenho pena que não tenha havido uma transmissão directa na televisão das "Assembleias Populares", e que os jornalistas, tão atentos à manifestação e à coreografia, se tivessem esquecido de ouvir os intervenientes na "Assembleia", o que seria um excelente revelador do estado daquela arte. Para além dos escassos oradores espontâneos, que não falam a linguagem do clã, terem sido desprezados, ignorados e maltratados, - um cego foi lá propor que bastavam cinco pessoas para empancarem os torniquetes das entradas do metro para se poder viajar de graça, um dos militares anónimos que fez o 25 de Abril foi lá falar das "conquista da democracia" (vaias) e pareceu aos assistentes muito "político", - o resto foi uma sucessão de discursos exaltados e muitas vezes conflituais entre participantes sobre procedimentos e o que fazer a seguir. Outro orador explicou que "eles é que deviam estar lá dentro (na Assembleia da República) porque eles é que representam o povo". Palmas. Um quadro do regime anterior ao 25 de Abril, apresentando-se como tal, veio também explicar que era preciso "defender a verdadeira democracia". Outro, teve o cuidado de dizer que ia para casa dormir mas não delegava o poder de decidir o que se ia fazer em ninguém porque ele é que era senhor do seu voto e queria exercê-lo pessoalmente. Quando voltasse, claro. Em suma, um festival.
A verdade sobre tudo isto é simples: as "Assembleias populares" dos "indignados" são uma das maiores fantochadas políticas que por aí andam.»
Como é que uma licenciada em Relações Internacionais, líder do movimento Geração Parva, agorinha mesmo na RTP-N é capaz de afirmar tamanha alarvidade como "o povo é soberano e têm que nos ouvir senão vão continuar a aplicar medidas de austeridade sem o nosso consentimento", sabendo que não existe tal entidade moral como "o povo" mas apenas indivíduos e que 80% dos eleitores que foram às urnas em Junho passado votaram nos partidos que assinaram o acordo com a troika? Haja paciência para tanta parvoíce junta. Como escreve o Rodrigo Moita de Deus no 31 da Armada, "O limite na indignação é achar que se pode mudar nas ruas o que ficou decidido nas urnas."
Estas manifestações fazem-me recordar as 5 leis básicas da estupidez humana enunciadas por Carlo Cipolla:
1) Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos em circulação;
2) A probabilidade de que certa pessoa seja estúpida é independente de qualquer outra característica da mesma pessoa;
3) Uma pessoa estúpida é aquela que causa dano a outra pessoa ou a umgrupo de pessoas, sem retirar qualquer vantagem para si, podendo até sofrer um prejuízo com isso;
4) Pessoas que não são estúpidas subestimam sempre o potencial nocivo das pessoas estúpidas; esquecem-se constantemente que a qualquer momento, em qualquer lugar e em qualquer circunstância, tratar ou associar-se com indivíduos estúpidos, invariavelmente, constitui um erro caro;
5) Uma pessoa estúpida é o mais perigoso tipo de pessoa que existe.
A minha indignação, Miguel Castelo Branco:
«...por ver as falsas elites - aquelas que nunca tiveram um contratempo; que têm sempre um amigo no tal concurso público; que passaram décadas a martirizar o orçamento do Estado com reivindicações, regalias e subsídios; que pediam direitos especais e favores; que enchiam os departamentos do Estado mas não trabalhavam; que achavam natural sair do país duas ou três vezes por ano para ver a tal exposição em Paris ou para se queimarem nas praias dos Brasis e das repúblicas Dominicanas, sempre servidos por criados; que nunca pensaram que o tal "socialismo" iria ser alimentado ad eternum pelos contribuintes europeus; que se mostraram ufanos por serem europeus, conquanto mantivessem os vícios de um regime social fundado na cunha, no absentismo laboral e no emprego sem trabalho; que se diziam das esquerdas e progressistas, mas renderam-se ao mais desbragado consumismo (três carros por família, computador novo cada ano, casa na cidade, casa no campo, casa na praia, cartões de crédito); que tudo fizeram para cortar os laços que nos prendiam ao mundo (o espaço português); que retiraram dos pedestais os homens que fizeram grande Portugal e descerraram estátuas a bandidos, desertores e inimigos do país; que nos idos de 74 e 75 (logo após o tal vinte e tantos da Silva) foram MRPP's ferrenhos e mais tarde tomaram de assalto os capitalistas PPD e PS; que continuam a querer a Constituição da desgraça (...) - tenham o atrevimento de pedir mais.
Tanto barulho para nada, Francisco Mendes da Silva:
(...)«Nos tempos de Fidel, a esquerda não andava para aí a pedinchar aos governos burgueses: pegava em armas e tomava o poder. Ponto. Mas isso era quando a esquerda tinha uma ideia de como organizar a sociedade. Era uma ideia errada, como tragicamente se viu, mas era algo que se podia identificar e discutir. Agora, exposta a invalidade dos seus pressupostos históricos, e na penúria de alternativas que lhe dêem uma nova razão de ser, sobram estas charadas de fim-de-semana.»(...)
Estou indignadíssimo, LA:
«Com quem ajudou a que o resultado do esforço de quem trabalha, investe, poupa e paga impostos tenha sido malbaratado durante décadas. Estou indignado com muitos dos que hoje, esta semana, este ano, descobriram este adjectivo. Tivessem memória e estariam indignados com as escolhas que fizeram, quando puderam optar e votaram nas utopias e falácias que lhes ofereciam sem etiqueta de preço. Tivessem memória e lembrar-se-iam dos muitos que sempre avisaram que chegaríamos a este estado de penúria se não se tentasse atalhar caminho noutra direcção. Faço, por isso, minhas as palavras que ouvi há pouco a um exaltado manifestante: “tenham vergonha, pá!”. Indignados ou não, serão os mesmos de sempre a pagar a factura deixada pelos incompetentes que saciaram a ambição de poder e as suas clientelas penhorando o dinheiro dos contribuintes.
Da luta à indignação, Helena Matos:
(...) «A extraordinária simpatia que este movimento colhe junto dos jornalistas leva a que uma simples noite passada ao relento por estas desocupadas e abonadas almas – não vão dizer-me que eram trabalhadores e pobres aqueles ditos indignados que acamparam no Rossio em Lisboa ou nas Portas do Sol, em Madrid, pois não? – seja transformada num acto de resistência. E sobretudo explica por que se evita perguntar-lhes não apenas do que vivem e como têm tanto tempo e dinheiro para viajar e acampar, mas sobretudo o que pensam. (...) Eu diria que chegou a hora não de os ouvir, porque não se tem feito outra coisa, mas sobretudo de lhes perguntar o que querem. Qual é esse objectivo pelo qual se propõem organizar-se até o atingir? O que é essa “mudança global” que defendem? E se os outros não estiverem de acordo? Creio que é mais do que tempo de, em termos de informação, se deixar de tratar este movimento como um acampamento de Verão ou um festival de excêntricos alternativos. Esta gente tem propostas políticas. Por sinal muito perigosas.»
Indignem-se. Mas longe destes "indignados" e outros "ocupas", José Manuel Fernandes:
«Tenho pena que os organizadores das manifestações de amanhã, 15 de Outubro, não tenham convocado também uma concentração para o Funchal. Convocaram para Angra do Heroísmo, mas não para a ilha de Jardim. Uma lástima. Tinha real curiosidade de ver quem apareceria. Talvez aparecessem os 1,7 por cento que votaram domingo no Bloco de Esquerda (menos do que os que votaram no Partido da Terra ou naquele que defende os animais), por certo com cartazes a dizerem que representam 99 por cento do povo. Ou talvez não. Talvez aparecesse o próprio Alberto João Jardim, garantidamente mais eloquente do que os “indignados” a defender “o povo” (desde que da Madeira) contra os banqueiros e contra Wall Street, contra a troika e contra a austeridade de Passos Coelho. (...) Há algo de assustador nesta ideia de que juntando umas centenas de pessoas numa “assembleia popular” em frente à Assembleia da República se está a realizar um debate mais democrático e mais genuíno do que os realizados na casa da democracia, tudo numa espécie de reedição serôdia (e por gente de barriga cheia) dos sovietes de Petrogado nos idos de 1917. (...) O nosso problema não é, ao contrário do que dizem os manifestantes, falta de democracia: é os mecanismos democráticos favorecerem as maiorias, e as maiorias só agora terem começado a perceber que o contrato social do pós-guerra é insustentável. Porém, mesmo sendo insustentável, ainda beneficia essas maiorias. Basta pensar que os reformados ou quase-reformados de hoje dificilmente aceitarão diminuir os seus benefícios pois eles são palpáveis, ao mesmo tempo que os jovens de hoje ainda estão demasiado longe das suas reformas para perceberem que já não as terão. É por isso que é tão difícil formar maiorias democráticas favoráveis às mudanças necessárias.
É bom sonhar, mas a política faz-se com os pés na terra. Pelo que todos os que dizem querer manifestar-se contra tudo o que o capitalismo causou de mal ao mundo livre devem começar por lembrar-se que, sem capitalismo, não haveria mundo livre. E que sempre que se quis acabar com o capitalismo também se acabou com a liberdade.»
Como o individualismo metodológico ainda não chegou a um país onde muitos cientistas sociais são marcadamente positivistas e marxistas, há sempre um sociólogo pronto a dar explicações para os fiascos da esquerdalhada como a fraca afluência de gente indignada: «Elísio Estanque, sociólogo, na qualidade de indignado e de estudioso dos fenómenos sociais: "As pessoas ainda estão paralisadas pelo dramatismo das medidas anunciadas".»
Regista-se pouca afluência de indignados nas cidades portuguesas. Então mas estes não eram "o povo", "os 99% sem voz", os que defendem a "democracia verdadeira" contra a "subserviência ao grande capital" e não sei que mais? Não passam de marginais rousseaunismos e marxismos anacrónicos e arrogantes, travestidos de modernismos ipodescos e blackberryescos que a realidade tratará de colocar no devido lugar: o caixote do lixo da história. Divirtam-se e aproveitem para jantar no Café de S. Bento ou no XL, beber uns copos no Foxtrot, Tertúlia ou República, e quem sabe até dar um pézinho de dança na Lontra, que ao menos assim o vosso tempo não será perdido em vão.
No DN: «Os organizadores do protesto Geração à Rasca fizeram ouvidos de mercador aos apelos de Passos Coelho para serem evitadas as convulsões sociais e já agendaram um novo protesto. A luta está marcada para 15 de Outubro, data limite da entrega do Orçamento do Estado.
Com o anúncio de cortes como nunca se viu nos "últimos 50 anos", como prometeu Passos Coelho, ficou lançado o mote para novas vagas de mobilização social. "Razões para sair à rua não vão faltar", disse ao DN João Labrincha, um dos rostos da manifestação de 12 de Março. O "programa ambicioso de cortes" e o aumento do IVA sobre o gás e a electricidade são políticas que, segundo Labrincha, vão contra a "vontade expressa de Passos de manter a coesão social".»
Estes jovens ainda não sabem de que cortes se trata e em que áreas serão, mas já estão a reivindicar sabe-se lá o quê. Mais, começaram nos últimos dias a ser dados bons sinais pelo Governo - extinção da Parque Expo e o fim de várias concessões rodoviárias - enquanto todos vamos aguardando pelo anunciado relatório sobre os institutos, organismos e empresas estatais a extinguir, e pelo Orçamento Geral do Estado para 2012, mas estes jovens comunistas e bloquistas (sim, só os tolos e quem não conhecesse os organizadores do protesto é que podiam achar que este não tinha orientação política) com a típica mentalidade de quem quer continuar a viver da teta do Estado - ou melhor, do dinheiro dos outros - como se esta nunca acabasse, já estão a planear protestos. Vivem alheados da realidade. Não são a geração à rasca. São mesmo a geração parva.
1 - Uma manifestação que junta pessoas de todo o espectro ideológico, pessoas alegadamente sem ideologia ou partido político, pessoas que foram lá pela sua própria razão pessoal (desde os jovens desempregados, aos descontentes com Sócrates, passando pelos descontentes com todo o regime e pelos que nem sabiam por que razão estavam ali), mas que, de uma forma ou de outra, acharam por bem manifestar o seu descontentamento com a situação geral do país, não é uma manifestação . É o Festival do Avante.
2 - Uma manifestação que leva gente a exultar com este confrangedor manifesto, que nada propõe para o país, não é uma manifestação. É uma estupidificação.
3 - Uma manifestação com um elevado grau de organização - parem lá com a alarvidade de dizer que foi uma manifestação espontânea - que não consegue ser consequente, que não concebe uma única proposta a não ser as que as premissas do manifesto deixam adivinhar - de índole estatista - que não tem sustentação e coerência interna, e cujos organizadores se refugiam no argumento de que não se acham no direito de propôr seja o que for, mas antes querem que os políticos façam algo para mudar a situação, não é uma manifestação. É uma capitulação perante o Estado e perante aqueles que nos têm vindo a (des)governar. Até dou de bandeja que seja positivo o elevado civismo a que assistimos, a expressão geral de descontentamento e a alegria que perpassou a mesma. Mas esta apenas reforça a legitimidade do Estado, no sentido de os governantes intervirem ainda mais na sociedade com políticas de boas intenções, que a mais das vezes levam a resultados imprevistos e não necessariamente satisfatórios - veja-se a actual situação que o país vive.
4 - Uma manifestação que proporciona um espectáculo em que muita gente verbaliza as verborreias desconexas que há muito tempo vinha contendo, não é uma manifestação. É um falhanço do regime. A incapacidade da maior parte dos jovens da minha geração de ter um método, um processo de alcançar os objectivos que pretendam (se é que pretendam alguns), e a incapacidade de serem donos da sua própria vida - criem uma empresa, emigrem, façam por singrar na vida - e de não ficarem à espera do Estado-paizinho, demonstra o generalizado falhanço do sistema de educação, e os efeitos nefastos do assistencialismo (importantíssimo ler isto).
5 - Uma manifestação em que muitos participantes repetem até à exaustão a falácia de pertencerem à "geração mais qualificada de sempre", não é uma manifestação. É uma presunção de estatuto artificial que devia envergonhar qualquer um dos seus vociferadores. A verdade é que somos a geração mais certificada de sempre. O que não quer dizer que sejamos a mais qualificada ou competente. A geração dos nossos pais e avós teve cursos muito mais exigentes e que lhes conferiram muito mais competências do que os actuais cursos conferem. E os que nem cursos superiores tinham, possuem na generalidade mais competências do que nós. Nas últimas décadas generalizou-se e massificou-se o ensino superior, diminuindo-lhe a qualidade. Alardear uma certificação formal, que na maioria das vezes deixa adivinhar uma confrangedora capacidade de trabalho, método e competência, não é uma manifestação. É uma demonstração de snobismo pseudo-aristocrático.
6 - Uma manifestação em que o principal mote da mesma é uma geração que, não tendo um método ou capacidade de pensar (ponto 5), não fala no que realmente contribui para a actual situação, como por exemplo, a rigidez da legislação laboral e a idiótica lei das rendas, que não está minimamente preocupada com o estapafúrdio endividamento externo a que o actual (des)governo nos submete (ah pois, não querem saber de política, não é verdade?) e para a qual a resposta ao estatismo socialista dos últimos 37 anos é mais socialismo (ler isto), não é uma manifestação. É uma receita para a desgraça.
Muitas pessoas andavam a precisar desta manifestação. Há já demasiado tempo que vinham contendo toda a verborreia que hoje finalmente soltaram.
Há uns meses, escrevi um texto sobre o Avante, por muitos lido, divulgado e criticado. Neste, entre várias outras coisas, critiquei aqueles que, não sendo comunistas, também contribuem para o PCP através da participação nesse ajuntamento colectivo, desculpando-se muitos com o "vou lá só pelo convívio" e coisas do género. Acaba, portanto, por ser uma festa com pessoas de todos os quadrantes políticos.
Ora, este ano o Avante chega mais cedo. A preceder todos os festivais musicais de Verão e festas partidárias, eis que no Sábado, 12 de Março, iremos assistir a uma gigantesca libertação de libido e adrenalina, da esquerda à direita. Le Bon e Freud explicaram como se comportam as massas, descrevendo os processos psicológicos que ocorrem nos indivíduos que as compõem. Resumidamente, o que acontece é uma perda de discernimento e da vontade própria individual, dissolvendo-se os indivíduos numa massa, acabando estes por regredir até um estado mental primitivo onde predomina o inconsciente, que permite aceitar sem entraves as ideias que passam dos líderes para a massa. Freud explica este processo pela regressão da libido, em que cada indivíduo acaba por estar relacionado com os outros através de laços libidinais. A massa adquire desta forma um sentimento de invencibilidade, precisamente pela regressão mental que ocorre, sendo extremamente sugestionável, pelo que tão facilmente pode ser heróica quanto criminosa.
Posto isto, o que me parece é que Sábado irá ocorrer uma grande festarola, com efeitos semelhantes a uma vitória do Benfica no campeonato, que vai deixar muita gente contente. Ora vejamos:
1) Será uma iniciativa que estimulará a economia: operadores de transportes públicos e gasolineiras vão ter uma facturação acrescida ao normal; tipografias, serigrafias e empresas de publicidade já estarão a ter uma facturação elevada com a produção de panfletos, t-shirts, bandeiras e afins; cafés, restaurantes e tascas vão ganhar imenso com a venda de cervejas durante a manifestação e de jantares a seguir a esta; os bares do Bairro Alto, Cais do Sodré e Santos vão ter uma noite em cheio, assim como as discotecas; pensões e hotéis também sofrerão um aumento de reservas.
2) Os jovens contestatários vão libertar a sua adrenalina e libido, quer pela participação na manifestação, quer pelas actividades sexuais que acontecerão a seguir a esta;
3) Membros do BE, PCP, PNR e outros grupos que se têm colado a esta manifestação, vão também libertar as suas frustrações e sentimentos revolucionários, na senda de Marx, Lenine, Trotsky ou Hitler e Mussolini, tendo como recompensa a sensação de fidelidade aos seus líderes ideológicos;
4) A PSP e o SIS vão encarar isto como um treino em que colocarão em prática muitos dos seus instrumentos e técnicas, oleando as respectivas máquinas e deixando os respectivos funcionários com um sentimento de dever cumprido pela imposição da sua autoridade;
5) José Sócrates vai inventar umas medidas quaisquer e dizer que as manifestações fazem parte da festa da democracia; Cavaco Silva vai continuar a ladainha de incentivo à contestação por parte dos jovens; os bloquistas e comunistas que verdadeiramente estão por trás da manifestação sentir-se-ão realizados, ao mesmo tempo que não percebem que a aparente contestação é uma forma de reforço da legitimidade do regime e dos governantes actuais.
6) Por último, e talvez o ponto mais importante no meio desta parvoíce toda: Lisboa e Porto vão ser as capitais europeias do sexo. No fundo, a quebra de adrenalina no fim da manifestação será compensada com a libido libertada posteriormente, acordando toda a gente com um rasgado sorriso e uma sensação de que realmente revolucionaram alguma coisa, quando tudo permanecerá na mesma.
Se querem mudar as coisas metam-se na política, disse Isabel Stilwell. É isso mesmo. Mas se alguns destes jovens alguma vez mandarem neste país, avisem-me que é para eu pedir asilo político à Suazilândia.
Meia dúzia de parvos estão a mostrar como a minha geração pode mesmo, na generalidade, ser apelidada de parva, no Prós e Contras. Mandam umas patacoadas generalistas, entusiasmam-se como quem lê Le Bon avidamente, não propõem nada para alterar a situação não da geração, mas do país. Mais, armam-se em palhacinhos com piadas, risos e palmas. É isso pessoal, continuem assim que "agora sim, damos a volta a isto".
Giros, os comentários que tem gerado o editorial da Isabel Stilwell. Diz a jornalista, a propósito da música dos Deolinda, que “se estudaram e são escravos, são parvos de facto”. São parvos de facto.
Educação é formação, não é só mandar abaixo shots de bibliografia erudita. Educação é formação de carácter, tanto mais a nível universitário. Carácter é também “estar apto a reconhecer e a aproveitar os desafios e a ser capaz de dar a volta à vida”. Educação não é, seguramente, isto.
Não faltaram à festa as virgens ofendidas, muito escandalizadas (com o nome da jornalista, essencialmente), a destilar o seu veneno por entre insultos gratuitos de uma grosseria inqualificável. São parvos de facto.
Trabalhar, lamento informar, não nos torna escravos. É a forma como se encara o trabalho que separa os homens e as mulheres das bestas infantilizadas pela resignação à vitimização. Afeminada indulgência a tão fácil tentação.
Proponho a leitura e meditação da seguinte passagem, de um artigo que encontrei recentemente e me pareceu interessante:
“só há uma maneira de dizer basta: passando activamente a ser parte da solução. Acreditem que estamos à espera que apliquem o que aprenderam para encontrar a saída. Bem precisamos dela.”