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Cada vez que lamber um selo para o colar na carta, pensará que está a realizar fellatio ao Goldman Sachs e ao Deutsche Bank. O facto de estas duas instituições deterem respectivamente 5 e 2% dos CTT, significa que a empresa é apetecível. O contrário seria uma lástima - ninguém os desejar. Portanto, os patriotas do controlo corporativo ou os apologistas de "O que é nacional é bom", não entendem o que está em causa. Diria mais; não percebem que a economia do mundo é um campo aberto com fogo cruzado de interesses económicos. A Portugal Telecom não se expandiu para além de Badajoz, assumindo posições accionistas importantes em telcoms do Botswana e do Brasil? Pois é. E não haverá outras empresas internacionais onde Portugal pode meter a colher? Essa é precisamente a lógica que esteve por detrás dos Descobrimentos dos séculos XIV e XV. O mundo deve ser redescoberto - economicamente e financeiramente, mas de um modo criterioso. Este preconceito sintetizado na adulteração da frase histórica " the russians, germans, chinese or americans are coming" - deve ser rapidamente substituída por outro chip. Que eu saiba Portugal não tem um fundo soberano, gerido com inteligência, para assumir posições em empresas de interesse e alcance global - mas deveria tê-lo, como por exemplo tem a Noruega. As economias e os sistemas financeiros dos países do mundo estão intensamente interdependentes e o conceito de vantagem competitiva já foi abalroado pela noção que podemos participar no sucesso dos outros. Ainda bem que existem pelo menos duas instituições de vulto que analisaram em detalhe as operações dos CTT e chegaram à conclusão de que se trata de uma empresa com grande valor intrínseco. O oposto seria uma miséria. Os governantes e os simples cidadãos devem afastar do seu espectro essa ideia de controlo. Afinal, a maioria das empresas do Estado português foram geridas com controlo monopolista e veja-se o descalabro que foi. São falências operacionais atrás de bancarrotas. Escândalos de swaps e alavancagem. Primos e enteados nas direcções. Reformas obscenas e não sei que mais. Se existe a possibilidade de haver mais stakeholders que sejam detentores de uma parte das empresas portuguesas, significa que estas estarão sujeitas ao escrutínio e ao controlo dos supervisores presentes nas reuniões do conselho de administração. Devemos olhar para este processo dos CTT como um modo de internacionalização sem sair de casa, uma entrega ao domicílio de importantes meios para suprir as faltas sentidas localmente. Quanto aos selos propriamente ditos, esses podem continuar a ser colados a cuspo. Desse facto não advirá grande mal.
Mal se extingam os últimos focos de incêndios da temporada, Portugal será fustigado por uma outra vaga de indisposições geo-térmicas que também resultam da inacção humana, política. Daqui a nada as chuvas repentinas chegarão e teremos a versão molhada do drama quente do verão. As inundações, que decerto afogarão centros urbanos e povoados ribeirinhos, irão gerar uma outra discussão já conhecida dos portugueses - a limpeza atempada das sarjetas e principais vias de escoamento de águas. Um distinto termo de irresponsabilidade será trazido à baila da navegação à vista, já com as autárquicas atrás das costas - a ausência de políticas de administração e gestão urbanas adequadas. Alguém já viu trabalhos de prevenção a decorrer nas cidades normalmente afectadas pelo rebentamento de águas nas condutas? Alguém já se cruzou com um piquete de intervenção a remover beatas e pasto dos gradeamentos por onde deveriam fluir as águas? Dentro em breve lá teremos os mesmos bombeiros a socorrer os residentes de habitações e os proprietários de espaços comerciais com água pelo pescoço. Há uma linha que separa o bom senso da tragédia líquida. Um país que nem sequer consegue realizar a gestão dos seus elementos naturais, dificilmente conseguirá defrontar outro género de intempéries. Os canais de água que atravessam o território nacional indicam claramente onde residem os maiores perigos e, nos centros urbanos, catástrofes anteriores deixaram marcas mais que suficientes para se colocarem trancas à porta. Estou admirado que o tema não seja politicamente relevante. Ainda não vi nenhum cartaz para as eleições autárquicas que aluda a esse flagelo, servindo-se do medo como principal instigador da inclinação torta dos boletins. Os votos não caminham sobre a água, decididamente. Ou o país já afundou por completo.