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Reformas antecipadas a arder

por John Wolf, em 16.05.16

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A aceleração dos pedidos de reforma antecipada nos últimos 5 meses exige uma interpretação minuciosa. Indica certas aflições. As pessoas entre os 55 e 60 anos já viram governos e mais governos passar-se-lhes à frente. Já sentiram maior ou menor segurança em relação ao seu futuro. Já viveram intervenções do Fundo Monetário Internacional. Já tiveram de apertar o cinto vezes sem conta. O governo de inspiração socialista e natureza solidária não parece instigar grande confiança nos cidadãos portugueses perto da idade de reforma. Os governos socialistas, dada a sua natureza, dependem de um vasto corpo de legionários públicos. Foram esses funcionários que os elegeram à luz da certas promessas salariais e a reposição de privilégios. O actual governo anda um pouco baralhado. Por um lado, sem o declarar, gostaria de pôr a correr as brigadas infindáveis de trabalhadores do Estado e por outro lado irá sentir dificuldades de tesouraria para fazer face à grande demanda de reformas antecipadas. Ou seja, para continuar a merecer o estado de graça dos "seus" eleitores tem de continuar com a conversa do primado do funcionalismo público, mas sabe que tem de atenuar o fardo financeiro das reformas antecipadas. Os contribuintes deste escalão laboral, que já foram enganados vezes sem conta por governos de todas as cores e feitios, ainda têm instinto de sobrevivência. Querem fugir da casa que está prestes a arder. Já toparam as fagulhas. E não acreditam nos bombeiros.

publicado às 09:30

Austeridade de Esquerda não tem nada a ver

por John Wolf, em 02.02.16

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Os governos de Portugal inauguram uma exposição colectiva chamada: "Austeridade de Esquerda - também somos capazes". O governo de António Costa, o governo de Catarina Martins e o governo de Jerónimo de Sousa são os três finalistas do programa - "toma lá disto" -, organizado pela Comissão Europeia. Os três premiados levam para casa mais medidas de austeridade que terão de partilhar com os espectadores. A saber; uma nova contribuição sobre a banca para afastar ainda mais o papão capitalista investidor; um novo imposto sobre produtos petrolíferos que estavam na montra disponíveis para levar com um enfeite de encarecimento; e ainda, o agravamento do imposto automóvel, porque passear ao Domingo já não é a mesma coisa. No entanto, no cabaz falta uma prenda importante: o enxoval presidencial de Maria de Belém que, pelos vistos, será oferecido pelas testemunhas do costume - o povo de Portugal. Nada disto tem piada, mas está pejado de ironia - a Austeridade de inspiração sócio-marxista é de uma estirpe levada da breca, muito pior do que a modalidade normal. Fatal. Afinal os socialistas também são mortais.

publicado às 19:27

O perigo de governos míopes

por John Wolf, em 27.01.16

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De nada serve o Tratado de Methuen assinado entre Portugal e Inglaterra  - o governo de António Costa tem a obrigação de delinear uma série de planos B para a eventualidade de uma saída britânica do Euro e muito mais que consta da ementa do quadro internacional. Mas os políticos, na sua generalidade, apenas conseguem ver um palmo à frente do seu nariz, obviando uma visão panorâmica e integrativa de diversos factores de risco. A saber; (aquele que acabo de referir - o Brexit), a crise dos refugiados, a obliteração do enunciado pelo tratado de Schengen e o seu impacto nos assuntos internos da União Europeia nos planos social e económico, a desaceleração da economia chinesa, o efeito cada vez mais minguado do programa de estímulo financeiro lançado pelo Banco Central Europeu, as ameaças terroristas convertidas em actos pelo Estado Islâmico em distintos endereços do espaço da UE, a quebra acentuada e continuada do preço do crude, as implicações da política externa da Rússia no que diz respeito à ruptura de equilíbrios já de si frágeis (no contexto do (des)intervencionismo americano), a (des)democratização da Húngria e da Polónia com efeitos nefastos e contagiantes no demais espaço da UE, a possibilidade de uma vitória presidencial de Donald Trump e a implementação de uma política externa intensamente agressiva, o conflito sírio e as suas ramificações no espaço do Médio Oriente, designadamente no que concerne à relação entre o Irão e a Arábia Saudita, a iminência de mais uma crise financeira com impacto acentuado, numa primeira fase, nos mercados bolsistas, e num segundo momento na economia real dos países desenvolvidos; as crises em diversos países emergentes como por exemplo o Brasil, e por último, num plano doméstico, mas não menos importante, a desagregação do actual governo de Esquerda colado a cuspo, e apoiado em acordos frágeis e de conjuntura que não produzem propostas que merecem a aprovação da Comissão Europeia. Enfim, o que está em cima da mesa é de facto incontornável, seja qual for o governo em funções. Acontece que António Costa e o seu tesoureiro Mário Centeno estimam os seus extraordinários resultados baseando-se no princípio de ceteris paribus, quando é precisamente o oposto que sucede. A realidade é um difícil alvo em movimento. E não me parece que este governo tenha a visão panóptica para sequer equacionar o sarilho em que está metido. Agarrem-se à cadeira. Não tenham dúvidas. Isto vai estoirar. Lá e cá.

publicado às 18:53

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Enquanto Maria de Belém, Sampaio da Nóvoa ou Marcelo Rebelo de Sousa brincam às presidenciais, e António Costa e Mário Centeno jogam à apanhada do governo, algo muito mais avassalador está a fermentar no caldeirão da economia e do sistema financeiro internacional. Desde 2008 que os bancos centrais, um pouco por todo o mundo, mas em particular aqueles da Zona Euro e dos Estados Unidos, têm vindo a ser utilizados enquanto muleta das economias mais afectadas pela crise de crédito iniciada pela Lehman Bros., fazendo uso de munição mais ou menos convencional, na forma de injecção de liquidez nos mercados de dívida principais ou secundários, e contribuindo simultaneamente para a valorização ficcionada dos títulos transaccionados em bolsa. Findo este período de inflacionamento do valor das acções e a concessão de uma imagem de aparente saúde económica, e à medida que são removidos os mecanismos de estímulo iniciados pelos banqueiros centrais, os aspectos fundamentais da economia vieram à tona para revelar uma certa anemia, ou mais realisticamente, a sua genuína fragilidade. E é precisamente aqui que nos encontramos. As taxas de juro a zero, ou perto do mesmo, não permitem grande margem de manobra aos bancos centrais. Por outras palavras, a munição acabou, e o momento da verdade, do reajustamento da relação entre os mercados financeiros e a economia chegou com alguma intensidade para indicar a expressão de uma verdadeira tempestade de volatilidade. Para além destes dissabores, do domínio económico e financeiro, há que contar com medidas expansionistas e gastos desproporcionais da parte de governos de inspiração populista ou de Esquerda, como parece ser a troupe liderada por António Costa. E Portugal corre, deste modo, perigos reais; a ameaça de um desastre ainda maior do que aquele proporcionado pela natural apetência ideológica de um governo que sustenta a sua acção na ideia de rolling debt, ou seja, a ideia de que a dívida seguinte pode cobrir parte da precedente e assim sucessivamente. António Costa deve julgar que controla as operações, mas, efectivamente, não controla nada. Deve pensar que a época dos banqueiros centrais de mãos largas não tem fim, que representa um elemento crónico na condução da política monetária da Zona Euro. Estas considerações ingénuas e de índole socialista, colocam Portugal na mira de (des)investidores que pressentem a insustentabilidade do projecto governativo nacional. O que já está a decorrer nas bolsas de todo o mundo, indica, sem margem para dúvida, grande turbulência nos próximos tempos. António Costa pode ter conquistado o governo com artimanhas parlamentares, mas o que aí vem estravasa o tamanho da sua esperteza. Para fazer face ao que aí vem, é preciso bastante mais do que um ex-presidente de câmara.

publicado às 21:02

Não batam no ceguinho

por John Wolf, em 26.11.15

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António Costa invocou a democraticidade parlamentar para formar alianças conducentes à formação de um governo alegadamente legítimo e estável. Se aceitarmos o princípio do primado da Assembleia da República, na qual e a partir da qual, a genuína representação se efectiva, então muitas lacunas estarão por preencher. Por exemplo; a representação parlamentar de deputados que defendam os interesses das comunidades portuguesas de origem cabo-verdiana, angolana ou moçambicana. Mas não é essa a linha principal de argumentação deste enunciado. A nomeação da primeira secretária de Estado "cega" implica um princípio de igualdade de representação. Se a Exma. Sra. D. Ana Sofia Antunes é de facto a pessoa mais que competente para assumir a pasta da Inclusão de Pessoas com Deficiência, então, por analogia, e face ao problema da toxicodependência que também preocupa o país, nomear um secretário de Estado toxicodependente talvez fizesse algum sentido. Se buscam indíviduos que possam se esgrimir de razões, por sentirem em primeira mão os desafios da sua condição, então, nessa linha de argumentação, um drogado estará mais que habilitado para propor medidas de combate à toxicodependência. Não sei se me faço entender, mas a política não pode ser apropriada de um modo cínico e intensamente populista. António Costa deve ter alguma noção dos fortes desequilíbrios que caracterizam a matriz social deste país. Por melhores intenções que tenha para nivelar assimetrias, corre o risco de as agudizar por não ser efectivamente inclusivo. Quantos sem-abrigo equivalem a um cego? E quantos génios são necessários para formar um governo?

publicado às 14:25

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Hoje não é o primeiro dia do que resta da vida política do Partido Socialista. António Costa é o primeiro-ministro de Portugal. Fica demonstrado que ser perseverante e ardiloso produz resultados neste país. No entanto, resta saber qual será o preço a pagar no curto prazo. O cepticismo em relação à solidez dos acordos à Esquerda não é um exclusivo dos adversários da Direita. Esse facto transcende noções ideológicas ou partidárias. Tem a ver com dimensões formais e também com a substância que aproxima ou afasta as diferentes forças da Esquerda portuguesa. Mas é também aqui que reside uma boa parte da falha tectónica. O Partido Socialista, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português enfrentam alguns dilemas existenciais, de identidade. Se o que esteve em causa neste processo foi derrubar o governo de coligação a todo o custo, e tendo sido alcançado esse objectivo, não vejo como possam manter a disciplina colectiva necessária à estabilidade governativa quando outras matérias de gestão política corrente venham a lume. Por essa razão estamos perante um governo a prazo. Mas existem outras razões. A não ser que um novo partido nasça a partir deste arranjo conveniente - o Partido Socialista Bloquista Comunista de Portugal (PSBCP). Contudo, para que tal aconteça, cada uma das partes da trapologia política teria de abandonar a sua missão individual e migrar para uma entidade ideologicamente amorfa. A "nova" oposição PSD-CDS tem capacidade para ler o mapa de fissuras do novo governo de António Costa, e certamente que saberá causar algum desconforto ao lançar propostas e temas geradores de hipersensibilidade ideológica. É natural que o faça e é expectável que o faça na qualidade de proponentes da oposição. António Costa, mestre na arte da decepção e aproveitamento políticos, deve iniciar a sua senda de iniciativas legislativas e de governação com matérias de fácil consenso com os seus colegas de extrema-esquerda. Um pouco mais tarde, quando os fundos de gestão corrente começarem a faltar, e a austeridade for apresentada como último recurso, teremos os primeiros indícios de desacatos sem que o PSD ou CDS tenham de mexer uma palha. Existe uma frase em inglês que serve na perfeição para relatar o que está para acontecer. No entanto, acrescento uma nuance à mesma: "it will be a self-fulfilling socialista prophecy". João Soares, que percebe que se farta de cultura, nem precisa de traduzir.

publicado às 18:29






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