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Não são apenas os colossos financeiros que devem nutrir a nossa desconfiança. Não são apenas os bancos de Wall Street e as agências de rating que devem ser o alvo da nossa preocupação. Vivemos num mundo de fusões e aquisições, de intervenientes cada vez maiores que detêm o controlo sobre o nosso dinheiro, sobre as nossas ideias e sobre as nossas preferências. Sirvo-me do mais recente exemplo de gigantismo que está prestes a subjugar ainda mais o nosso mundo; a fusão das duas maiores agências de publicidade do mundo para se tornarem na maior de todas. Os mercados, e em particular os consumidores, estarão deste modo ainda mais à mercê de uma força irresistível, uma espécie de cartel do champô e da pasta dentífrica. É isso que está em causa num ambiente de défice democrático, onde a força de uma minoria esmaga as aspirações dos pequenos, as liberdades individuais. O mesmo sucede no meio editorial - também estamos sujeitos a uma lavagem, embora neste caso seja mental, cultural. Os principais grupos editoriais do mundo decidem o que os neurónios do resto do mundo devem consumir. Numa sala pejada de executivos, decisões importantes são tomadas para acalmar os ânimos, domar os leitores mais irreverentes - os potenciais destabilizadores de sistemas de poder. São estes grupos de comunicação que formatam o nosso modo de pensar, de reinvindicar. São estes monstros que decidem por nós o que é válido e o que deve ser obviado. Embora os editores se afirmem como intelectualmente independentes, em abono da verdade não passam de agentes de interesses dissimulados em literatura light, parágrafos inofensivos - para não causar muito dano. Nesta época de convulsões, em que apontamos baterias a políticos e banqueiros, seria bom que não perdêssemos a perspectiva, a vista dos actores que jogam no mesmo tabuleiro de controlo e opressão. A liberdade intelectual já não é o que era. O pensamento e a reflexão profundos estão ao serviço do bottomline, do saldo positivo. Estes monstros apenas têm uma coisa pregada na mira da balança; o lucro. A qualidade é um tema secundário, não tem importância, desde que se possam embalar as expectativas cada vez mais baixas de indivíduos levados na incoerência. Uma corrente onde não abunda massa crítica, espessa.