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O Guia Eleitoral publicado pelo Observador deveria ser distribuído nas praias com as bolas de Berlim. O lindo mês de agosto é o mais indicado para leitura descontraída, seja qual for o género, prosa ou ficção. Os partidos políticos e forças afins são lestos na divulgação do seu mapa de intenções, mas a grande maioria dos temas apresentados carecem de fundamentação. Ou seja, é tudo muito bonito, mas não explicam grande coisa sobre como irão alcançar as faustosas metas. Em abono da verdade factual do exercício, o guia deveria ser rebaptizado. Chamar-lhe-íamos de bom grado "gula eleitoral". Por exemplo, o Partido Socialista (PS), no que toca a matéria de Investimento Público, refere sob o título de "compromissos principais" que será dada prioridade a investimentos seletivos e complementares que permitam valorizar o investimento de base já realizado. O que significa esta afirmação? Que darão continuidade a obras iniciadas por outros governantes ou que retomarão a sua linha ideológica própria de argamassa e betão? E no quadro de Justiça o PS nem sequer retira consequências da salganhada em que se viu metido Sócrates. O mesmo escrutínio e grau de exigência também deve ser aplicado aos outros partidos e as suas promessas. No entanto, deve recair sobre a principal força de oposição o ónus da argumentação sólida, da sustentabilidade e exequibilidade. Até ao momento o PS não tem conseguido convencer Portugal da sua capacidade, da sua elevação no contexto da emergência nacional. Também não soube aproveitar o período de defeso para explorar uma outra linguagem. Não soube credibilizar-se junto da sociedade civil, daqueles que querem lá saber de filiações partidárias. Para falar a verdade crua e dura, António Costa já é considerado um lider decepcionante dentro do próprio partido. Chavões como: o que prometemos fazemos, já não funcionam. Para além de tudo o mais, a aposta nos mesmos obreiros que conduziram Sócrates ao poder, parece ser uma fórmula questionável - a campanha mal arrancou e deixa muito a desejar. A máxima "em equipa vencedora não se mexe" não serve para grande coisa. Nem é isso que está a ser feito. A equipa socialista está agarrada a preconceitos antigos, a velhas glórias fora do prazo de validade. E Portugal tem de dar um salto em frente. Pelo andar da carruagem, quedar-nos-emos pela mesma carruagem - e o mérito será daqueles que não colocam o carro à frente do populismo conveniente - a instigação de instintos primários de hordas de eleitores enebriados nas festas que polvilham Portugal de sol a norte.