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As redes sociais são, em certas circunstâncias, o palco privilegiado de alguns fenómenos virais intrinsecamente nojentos. Digo nojentos porque quem os protagoniza e incita são pessoas que, no fundo, não têm vida própria. São, em boa verdade, autênticos pistoleiros da imoralidade própria e alheia. Vem isto a propósito da vida privada de Manuel Maria Carrilho e Bárbara Guimarães. O que se passa na intimidade destas duas personalidades públicas não me interessa rigorosamente nada, que fique desde já muito claro. Já o mesmo não poderá dizer, por exemplo, Fernanda Câncio. Ler, como ontem li no Twitter da dita jornalista de fofoquices, que Carrilho é um "bandalho" (a convivência com Sócrates produz autênticos fenómenos do entroncamento) porque espancou, supostamente, a célebre apresentadora (já houve alguma condenação judicial nesse sentido, caríssima Fernanda?) dispensa quaisquer comentários. Não sei se Carrilho bateu ou não bateu em Bárbara Guimarães, nem isso, como referi há pouco, me interessa, o que sei é que o boato maledicente e o despudor malcriado, irrompem a uma velocidade titânica, manchando reputações com uma facilidade incomum. Dizia Virgílio que o boato se propaga com muita rapidez, e, de facto, não há nada que ilida essa ideia. O que me horroriza é a ligeireza com que, no espaço público, se destroem reputações com base em imputações veiculadas para a imprensa, sem que tenha havido, previamente, qualquer condenação judicial. É assim que se bestializa a liberdade.
travada nas proximidades do castelo de Guimarães, a qual foi o ponto de partida para o nascimento de um condado independente de Castela, depois chamado de Portucale,
um vídeo sobre aquela que a Tradição chamou Berço da Nação.
Ontem , regressava já do trabalho, deparei com o cartaz com a equipa que actualmente gere os destinos da minha aldeia, Santa Cristina de Longos - e, diga-se de passagem, o tem feito bem: as monstruosidades, a começar pela estrada municipal, e continuando no caos urbanístico, numa aldeia que podia ser um colírio para os olhos, fica por conta da Câmara, mas essa é outra história -; o espanto ficaria para hoje de manhã, quando ia para o mesmo local de trabalho: o cartaz tinha sido removido da estrutura metálica, sem dúvida por adversários políticos, cujos cartazes estão expostos há já um mês, intactos. É com gente desta que a tal de " democracia consolidada " conta? Estamos, então, conversados.
Neste mês de Agosto de 1983 vou com o pai e a Alice visitar a XVII Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura, a acontecer em Lisboa, com o tema « Os Descobrimentos Portugueses e o Renascimento Europeu ».
Depois de termos ido ver outros pólos ( Convento da Madre de Deus, Casa dos Bicos...), era a vez de visitarmos o Museu Nacional de Arte Antiga. Numa das salas, cujas paredes estavam cobertas por grandes tapeçarias, disse a guia tratar-se das Tapeçarias de Pastrana, que narravam os feitos de D. Afonso V em Arzila, e serem aquelas umas cópias perfeitas das originais encontradas em Pastrana ( Castela ), cópias essas que tinham ido para ali, para a exposição, mas que normalmente as poderíamos encontrar no Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães.
Troquei um olhar com a minha irmã, como se nos disséssemos - viemos aqui encontrar uma coisa que não sabíamos estar mesmo ao nosso lado...
E lembro este episódio, numa altura em que tenho entre mãos o fac-simile de um exemplar da Revista da Faculdade de Letras, de Lisboa, que discorre sobre «Portugal e as Tapeçarias Flamengas ». Aí se relata a troca de argumentos entre Reinaldo dos Santos, um dos Fundadores da Academia de Belas- Artes de Lisboa, e Afonso de Dornelas, que fundou o Instituto Português de Heráldica, sobre a origem das tapeçarias, e o porquê de terem sido encontradas em Espanha...
Conclui o artigo que " Parece não existirem ainda conclusões definitivas e irrefutáveis acerca das Tapeçarias. Contudo, ninguém duvida hoje em dia do seu grande valor artístico e histórico ".
viera para Guimarães, para aí ingressar no Exército, acabando porém por escolher a região para morada definitiva, ao construir nos arredores da cidade - Nespereira - a Casa do Alto.
Era, na época em que comecei, por via dos estudos secundários, a frequentar a cidade, esta Livraria Raul Brandão uma das duas principais, e, por certo, a mais apelativa, tendo em conta as grandes montras, que sempre ostentavam as capas mais atraentes, os títulos mais reluzentes. Por ela passava todos os dias, e nela demorava o olhar, mas só calhava de lá entrar quando uma amiga, a quem o pai abrira uma conta mensal determinada, ia aí comprar os livros da Biblioteca das Raparigas, em que o nome de Odete de Saint-Maurice se destacava: foi a altura de ler, depois que ela os tivesse lido, « Colégio de Verão », « Sou Uma Rapariga do Liceu », ou « Setembro Que Grande Mês ».
Até que um dia, essas montras tantas vezes olhadas, se encheram de papéis a anunciarem a liquidação total, e descontos tão altos que os livros seriam quase dados. Foi então aquela fartura que muitas vezes, embora nem sempre, se segue à fome.
Como acontece com todas as lendas, esta será uma das muitas versões, saídas da nebulosa que o tempo deixou adensar: uma menina recolhida pelos tios, numa casa senhorial de Creixomil, Guimarães, conhecida pela sua bondade, mas também pelo grande amor que nutria pelas flores.
Numa daquelas emboscadas, com raízes em querelas políticas, em que, também por cá, o Século XIX foi fértil, preparavam-se os inimigos do senhor da casa para o matar, e assim cuidaram fazer, só que, por motivos de todos desconhecidos, a menina ocupara o lugar do tio na carruagem.
Conta-se que desde então, nas noites de luar de Maio, as flores, mormente as, de entre todas preferidas, camélias, choram, lembrando a Menina do Costeado.
9 de Março de 1833-9 de Agosto de 1899
Neste dia a Fundação que leva o seu nome premeia os melhores alunos do Concelho. O meu pai e irmãos mais velhos beneficiaram da generosidade desse Homem, que preferiu se instituísse este prémio a que se lhe erigisse estátuas...
pedaços da vida em Guimarães de meados do século XIX.
que vem à baila aquele que é o ponto de partida para tais festejos- A Noite do Pinheiro, aquela que é dedicada não só aos actuais estudantes, mas também aos antigos, entre os quais me incluo.
Andava ainda no Liceu quando comecei a fazer parte da multidão de jovens e de não tão jovens, que enchia as ruas da cidade: era uma altura em que, mandava a tradição, só aos homens era permitido tocar, em uníssono, os bombos e caixas, os quais chegavam ao fim com a pele em frangalhos, de tanto a massacrarem as baquetas.
Meados de Novembro começavam já a ouvir-se os toques, num treino para que, chegado o momento, nenhum tocador fugisse ao ritmo, para que ninguém destoasse.
Nos primeiros anos jantávamos, o grupo de amigos, em casa de cada um, os de fora da cidade, como eu, na casa de um deles, para depois, em hora combinada, nos juntarmos para aquecermos a noite, que se quer bem fria, com uns cálices de Vinho do Porto- íamos então para a rua, esperar o cortejo de carros de bois, que transportava o Pinheiro, sempre muito grande, saído do Terreiro do Cano, junto do Campo de S. Mamede, para se dirigir ao de S. Gualter, onde era enterrado,depois de percorrer as várias ruas.Os toques dos bombos eram uma constante...
Quando passei a ex-nicolina, foi a vez de me juntar aos mais velhos- alguns sexagenários já- no Jantar Nicolino, no Restaurante Jordão, que agrupava ex-alunos de várias gerações, num convívio único....
A ementa era sempre igual: rojões à nossa moda,e papas de serraulho, acompanhadados por um vinho verde carrascão ( que no meu caso dava lugar ao vinho tinto maduro). No fim servia-se a aletria, e as castanhas assadas finalizavam o repasto.
Estávamos prontos para enfrentar o gélido da noite, sem que ninguém dispersasse, e então era ver a vontade com que os mais velhos atacavam os tambores, de maçaneta em punho...
para ir ao meu único Baile Nicolino, numa noite de 7 de Dezembro, no ano em que fui finalista, mas acho que teria gostado.
Foi no Ginásio Maior do Liceu, e culminou aquela semana de festejos que vivi com uma maior intensidade do que nos anos anteriores. Sabia que as coisas iam mudar, e a vida de estudante liceal iria dar lugar ao de Ex-Nicolina. Teria sempre O Pinheiro.
que as Festas Nicolinas atingem um dos seus pontos altos- As Maçãzinhas.
Há nesta festividade alguma similitude, ainda que longínqua, com os Torneios e Justas Medievais- munidos de compridas lanças, encimadas de fitas de várias cores, solicitadas às amigas já nos inícios de Novembro, os estudantes presenteiam as damas, que se encontram nas varandas da cidade, com pequenas maçãs; por sua vez, estas retribuem o gesto cavalheiresco com pequenos presentes, que atam à mesma lança, depois de aceitarem o corado fruto.
a Igreja festeja o Santo que, nascido em fins do Séc. III, na Ásia Menor, terá sido Bispo de Mira, na Turquia, já no Séc. IV.
Tendo sido o primeiro Santo a preocupar-se com a educação, é S. Nicolau o Patrono dos estudantes, mas porque foi grande protector das crianças, e afamada a sua generosidade, bem cedo o seu nome foi associado ao Natal e à distribuição de presentes.
E foi no dia 5 de Dezembro que, nas escadas do Liceu de Guimarães, ouvi o meu primeiro Pregão Nicolino.
Um dos alunos mais velhos, a cavalo, de mascarilha, e segurando o estandarte da Academia, declamando um longo texto em verso, depois de o ter já feito pelas várias ruas da cidade, em que dá conta das reivindicações estudantis e faz uma crítica social, tudo em tom irónico quanto basta.
Seguia-se o momento em que se dirigia às raparigas de Guimarães, sempre num registo bem disposto, e até elogioso.
Tudo isto no maior dos silêncios, a que se seguia uma explosão de aplausos.
« Distintos Professores deste Liceu Central
Não vos zangueis connosco, nem tomeis a mal
Que a gente se divirta assim todos os anos,
Ao menos uma vez...Vós não sereis tiranos.
Se vos queixais de nós, façamos hoje as pazes
Porque vós afinal, também fostes rapazes »
( Excerto do « Pregão Nicolino », de 1921, coligido por Lino Moreira da Silva in «Guimarães e as Festas Nicolinas » )
Insere-se este «Dia do Pregão» num vasto conjunto de festividades com que os estudantes de Guimarães homenageiam o seu Santo Patrono, São Nicolau, que terá sido Bispo de Mira, na Turquia, no séc. IV: uma semana de folguedo, que se inicia com a Noite do Pinheiro, no dia 29 de Novembro, e termina com o Baile Nicolino, no dia 7 de Dezembro.
«No séc.XVI, deu-se em Guimarães um acontecimento decisivo para as Festas Nicolinas- a instauração da Universidade da Costa ( 1537-1543 ). Com professores e até alunos vindos de fora-Lovaina, Paris, Salamanca....(...) É a partir desta altura que começam a levantar-se, de modo consciente e deliberado, as Nicolinas, enquanto Festas dos Académicos de Guimarães.».
Mas S. Nicolau já era « muito venerado entre nós durante a Alta Idade Média, quando capelas e altares lhe eram dedicados. Concretamente em Guimarães, ele era celebrado na Igreja da Colegiada pelos populares e pelos Estudantes, de quem era Santo Protector »
Alberto Sampaio. Aqui.
descia a Falperra, lá por alturas da igreja de Santa Maria Madalena dei comigo a pensar que alguma coisa estava diferente. Olhei melhor e reparei que a zona estava limpa dos eucaliptos que até há bem pouco tempo grassavam no monte, e me faziam soltar uma praga, sempre que por ali passava.
Será que quem tem responsabilidades nesse campo está a acordar finalmente, deixando que num lugar daqueles apenas se vejam as árvores autóctones, o sobreiro e o carvalho?
Oxalá!