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Após o meu post sobre este assunto, e tendo em consideração estes dois posts do Pedro Correia, bem como um outro post de Luís Menezes Leitão, pemitam-me apenas salientar um elemento que não terá ficado claro no meu post, mas que lhe subjaz: a humilhação a que Portugal foi sujeito ao fazer-se representar pelo Primeiro-Ministro e pelo Presidente da República em Timor. É que a este respeito estou de acordo com o Pedro Correia em toda a linha. Foi absolutamente humilhante estarmos representados ao mais alto nível, especialmente quando Brasil e Angola não estiveram. Distancio-me, assim, de alguns opinadores que talvez tenham estômagos de betão, caro Pedro. Mas é precisamente por sentir a humilhação, e atendendo à transformação da natureza da CPLP, que creio que devemos adaptar-nos aos novos tempos de forma a que possamos defender melhor os nossos interesses e não andar meramente a reboque de Brasil e Angola.
Havia de cá voltar o Duarte Pacheco Pereira e logo o seu enervado descendente ficaria com as orelhas a arder.
Os comovidos mega cefalópodes do comentório sabe-tudo, têm-se desunhado com o habitual argumento da "não existência de laços históricos" entre Portugal e o território que forma a actual Guiné Equatorial. Várias vezes dei comigo a responder-lhes diante do ecrã, aconselhando-os a uma sumária pesquisa que não demoraria mais que uns escassos minutos. "Toda a gente sabe" que Fernando Pó e Ano Bom foram possessões portuguesas até bem perto do final do século XVIII. Por alguma razão D. João II intitulou-se Senhor do Corisco, venera que hoje em dia pertencerá ao Sr. Obiang.
Para cúmulo do azar dos embarbichados, Portugal alienou a soberania em troca de benefícios territoriais no Brasil, consolidando o domínio sul-americano que hoje é a principal potência da CPLP, o tal Estado sucessor que naturalmente tem a devida proeminência na organização que não pode limitar-se a ser um "centro de afectos" e de charlas saudosistas. Há que ver para além dos sundowns enriquecidos com croquetes, pastéis de bacalhau, chamuças e baji purís.
Embora os nomes de D. Maria I e de Carlos III sejam para os mega cefalópodes, tão estranhos como os de qualquer monarca da Coreia pré-japonesa, nem por isso deixam de ser os que surgem como signatários dos dois Tratados - Santo Ildefonso e do Pardo - que consumaram a transferência daquelas ilhas para a Coroa espanhola e em troca, para benefício de Portugal, de territórios que hoje integram o Brasil. Aqui está um argumento persuasor que graciosamente lembramos aos nossos amigos brasileiros, decerto agradecidos por aquela auspiciosa permuta.
Eis mais uma desculpa airosa para o ingresso da Guiné Equatorial, betões, comes e bebes , gases e petróleos incluídos. Pois sim, berrem à vontade.
Pese embora seja perfeitamente possível e compreensível alinhar tanto pela posição pragmática que enforma este post do Nuno Castelo Branco, como pela posição idealista resumida nestes dois posts do Pedro Correia, sendo já um facto consumado a adesão da Guiné Equatorial à CPLP parece-me que talvez pudesse ser útil atentar na forma como Portugal foi encostado às cordas e acabou por não ter alternativa a pactuar com este desfecho, para o qual contribuiu decisivamente a pressão exercida por Angola e Brasil. E isto porque foi um processo demonstrativo de que a CPLP está, efectivamente, a transformar-se, a alterar a sua essência, não sendo despiciendo referir que possui o potencial para se tornar um importante bloco económico internacional, com os devidos reflexos no que à influência geopolítica concerne.
Talvez fosse boa ideia relegar para segundo plano o idealismo de uma comunidade ancorada na língua - o que os restantes membros da CPLP já fizeram -, e concentrar esforços em recuperar alguma influência política no seio da CPLP. E isto pode-se fazer, para contentamento de muitos, recorrendo precisamente à tão propalada - como se fosse novidade ou invenção recente - diplomacia económica. Para não voltarmos a ser apanhados na curva, o mínimo que o governo português - o actual e os próximos - pode fazer é concentrar esforços em alargar a organização a países com os quais temos boas relações económicas e políticas e que poderão ter interesse em fazer parte da CPLP, em particular pelas oportunidades de negócios que a organização representa.
Se o Senegal já é observador associado há uns anos, se Albânia, Ucrânia, Venezuela e Taiwan têm interesse em fazer parte da CPLP, torna-se essencial compreender precisamente a oportunidade que a CPLP pode representar para a economia portuguesa. O mesmo é dizer que deixemos de ser anjinhos e joguemos com as mesmas armas de Brasília ou Luanda. Assim de repente, relembraria apenas que há mais África para lá dos PALOP, que há América Latina e Ásia onde somos estimados e que também há países europeus que poderiam perfeitamente ser membros de pleno direito, atendendo ao precedente aberto com a adesão de um país onde não se fala português. Se não o fizermos, Angola e Brasil continuarão a alargar a organização atendendo essencialmente aos seus interesses e negociando o acordo de Portugal com migalhas. Já vai sendo tempo de termos uma política externa que não ande a reboque de idealismos ingénuos ou dos interesses de terceiros.
Apesar do nome, a CPLP não é apenas uma comunidade liguística.
Aqui estão mais uns tantos preciosismos próprios das entradas e saídas dos embaixadores do Grande Siècle. Sem perucas empoadas, sem moscas cuidadosamente colocadas pelo rosto, sem bengalas de retorcidos castões encomendados em Paris, mas com as mesmas meias brancas - desta vez de pano turco substituindo a seda -, carnicões no nariz, pelo a saltar para fora do pavilhão auricular e dentes amarelos de broa.
Apesar do nome, a CPLP não é apenas uma comunidade liguística.
Para único e exclusivo consumo interno, parece ser este o caso dos amuos, surpresinhas e melindres que os media veiculam para contentamento dos pacóvios do actual regime. Tudo isto serve para preencher uns minutos de "tempos de antena de opinião pública" e algumas vozitas dos barbichas das indignações do "hoje há caracóis". As besteiras saídas da reaparecida boca de José Carlos de Vasconcelos - "a CPLP é uma comunidade linguística", quer acreditar este pobre diabo dos anos setenta! - sintetizam as demais. Ouvirmos o confortado João Soares indignar-se com ditadores, conhecendo-se as efusões com que sempre acolheu sobas que mandaram e à farta massacraram no antigo Ultramar, apenas confirma a excentricidade de toda a panóplia de magarefes das notícias.
Apesar do nome, a CPLP não é apenas uma comunidade liguística.
Agora, consumado o facto da adesão da Guiné Equatorial à CPLP, os gnomos que regem as nossas vidinhas fixam-se em questões menores, resumindo-se o diplomático chilique a uma foto "antes do tempo" e a uma boliqueimada grosseria protagonizada pelo senhor Cavaco Silva. Pelo que a SIC está a proclamar, o presunto cavalheiro não aplaudiu o ingresso daquele país africano, consagrado na cerimónia. Apenas o "Chefe" do Estado português se eximiu à mais elementar e inócua cortesia. Enfim, é o que temos, esta gente que se beijocou e quis aparecer em fotos com Kadafi, condecorou Ceausescu com a Ordem de Santigo e Espada, elogiou o Gauleiter vermelho Honnecker, emperna com os Castro em todas as Cimeiras Ibero-Americanas, permitiu todo o tipo de dislates ao Samora, a Neto e Luís Cabral, bajulou Brezhnev e tantos outros. Já alguém ouviu Cavaco Silva admoestar os EUA quanto à existência da Pena de Morte, roubalheiras e negócios sujos em África, no Médio Oriente, na América latina, uso e abuso do nosso espaço áreo e outros factos que todos conhecemos? O que terá o belenense comensal dito ao presidente chinês aquando da sua visita? Falou-lhe nas inacreditáveis execuções públicas perpetradas em estádios de futebol, ou a EDP bem vale umas tantas valas comuns? Alguma vez puxou as orelhas ao embaixador dos aiatolás, fazendo-lhe advertências quanto aos enforcamentos em guindastes, lapidações e fuzilamentos a eito? A propósito da aplicação da sharia, terá Cavaco Silva recomendado a Paulo Portas umas conversas com os anfitriões sauditas?
Não vale a pena tentarem disfarçar o que sucedeu. Na CPLP, as decisões são tomadas por unanimidade, daí o pouco interesse prático das carinhas contristadas. Fez-se o que tinha de ser feito. Quem tem achincalhado Portugal, é o próprio regime em todas as etapas já percorridas. Ou será necessário lembrarmos as cantorias e hossanas em torno de gente que por disparate metropolitano, foi colocada no poder na maioria dos países africanos de "expressão portuguesa"?
A Commonwealth britânica tem o seu Mugabe - por mero acaso há uns tempos recebido em Lisboa -, enquanto os franceses pouco se ralam com o espantoso desfilar de títeres espalhados por toda a África central. Títeres que subornaram Giscard, compraram Mitterrand, traficaram com Chirac e que sempre contaram com a zelosa assistência militar de Sarkozy e do pudinesco Hollande. Nós, portugueses, somos especiais e assim há que escorraçar Obiang, ou melhor, a população que ele governa.
Apesar do nome, a CPLP não é apenas uma comunidade liguística.
Como ontem muito bem disse o embaixador Martins da Cruz (TVI24, pelas 11 da noite), estamos entregues a paroquialismos. Nada que não se resolva com umas concessões de exploração de petróleo, compra de dívida pública, salvação de um ou dois bancos, venda de resorts turísticos e de condomínios de duvidoso luxo pladurado e iluminado a LED, contratos com as betoneiras do regime e outras habilidades cá do burgo. Como se lá fora - e cá dentro - não fosse bem conhecida a única e obsessiva natureza da república portuguesa...
Apesar do nome, a CPLP não é apenas uma comunidade liguística.
Uma tremenda derrota para os sabichões relativistas do "comentoriorismo" televisivo, os das t-shirts do Che e dos cursos de férias em Washington.
Aqueles que jamais disseram coisa que se ouvisse acerca de regimes como os dos irmãos Castro e que com toda a bonomia bem convivem com bolivarianismos, daniéis orteguismos dos anos 80 e evomoraleirices, abespinham-se com o regime de Obiang. Não sendo de molde a provocar grandes entusiasmos de partilha de experiências de vida, o sistema vigente naquele país fronteiro a S. Tomé e Príncipe não se diferencia de sobremaneira daqueles que durante décadas vigoraram nos principais Estados africanos da CPLP. Alguém se recorda hoje do sanguinário, prepotente e totalmente inepto regime de Samora Machel e dos morticínios Por Bem dos governos de Agostinho Neto? Não, não convém recordar essas ninharias, para mais da autoria de grandes libertadores e de excelsos amigos do povo português.
Toda a publicidade televisiva anda em torno do total desrespeito pelos Direitos Humanos e descarado nepotismo do esquema Obiang, dois argumentos suficientes para impedirem o ingresso da Guiné Equatorial na CPLP. Verdade? É verdade. Perguntemos então aos indignados que andam pelo PSD, PS e PC, a opinião acerca do que desde 1975 se tem passado em Luanda e Lourenço Marques, perdão, Maputo. Não é preciso entrarmos em detalhes, todos compreendem o que queremos dizer. Alguns nomes de filhos, filhas e parentes por inerência, sempre efusivamente aguardados na Portela, significam babados negócios e compinchagens com a gente do regime de Lisboa. Veremos se o caso BES não significará mais umas tantas concessões aos aguardados salvadores.
A Guiné Equatorial não é um país onde se fale o português, aqui está o segundo argumento do rol. Verdade? É verdade, mas o que dizermos então de Timor Leste, onde decorrida mais de uma década desde a auspiciosa independência, pouco tem sido feito para estender o português à condição de língua franca? Qual o esforço feito pelas autoridades portuguesas quanto a este assunto de interesse nacional? Onde está o aproveitamento da "válvula de escape" para professores jovens e desempregados? Onde? Os indignados que nos esclareçam.
A entrada da Guiné Equatorial na CPLP, representa antes de tudo, uma verdadeira oportunidade para o exercício da persuasão das suas autoridades. Os ditadores vão e vêm e como dizia o santarrão Estaline a respeito dos alemães, "o povo fica". A pertença deste país à organização da lusofonia - e correspondentes vertentes da economia, educação, segurança e intervenção poíitica no concerto internacional -, implica a aceitação de regras aceites pelo regime e decerto não tardarão sensíveis modificações na situação geral, tanto política, como económica e social.
Portugal tem relações diplomáticas com Cuba? Tem, são excelentes e assim deverão continuar a ser, gostem ou não gostem os nossos aliados americanos. Portugal aceita as credenciais dos embaixadores do regime dos aiatolás? Certamente e bem longe vão as indignações contra o governo do grande Xá Reza Pahlavi. Portugal cultiva profícuas relações com a Arábia Saudita, China, Cuba, Qatar, Paquistão? Sim e com todos anseia estabelecer proveitosos negócios. Não existem por aí uns tantos Bernardinos que não estão seguros de a Coreia do Norte "não ser uma democracia"? Pois é mesmo assim.
Seja então bem-vinda a Guiné Equatorial. Contabilizando factos nas imediações da vasta região um dia genericamente conhecida por um certo povo como a Costa da Mina, retoca-se agora mais uma das páginas do nosso álbum de recordações históricas. Desta vez, com uma quase garantida perspectiva de benefícios mútuos, multilaterais. Desta vez e ao contrário de Samora, Neto ou do guineense Luís Cabral, é mesmo Por Bem.
Bem a propósito daquilo que aqui disse, eis um muito simples, esclarecedor e oportuno post do João Miranda. Ora comparem e vejam as coincidências. A marcar uns pontos mais por Angola*, apenas faltará contabilizar a maciça limpeza étnica pós-1974/75 e a frutuosa guerra civil que chacinou para cima de 1 milhão de angolanos, para nem sequer mencionarmos o que se passa em termos de negocieiras luso-angolanas. Bem privadas, por sinal. Nada de especial...
Angola | Guiné Equatorial |
Tem petróleo | Tem petróleo |
É uma ditadura com eleições | É uma ditadura com eleições |
A única eleição presidencial realizada até ao momento foi em 1992. Não houve 2ª volta, ninguém foi eleito. | Teodoro Obiang tem sido reeleito de 7 em 7 anos desde 1982 |
José Eduardo dos Santos está no poder desde 10 de Setembro de 1979. Por um mês não é o ditador mais antigo da África subsariana | Teodoro Obiang está no poder desde 3 de Agosto de 1979. Por 1 mês é o ditador mais antigo da África subsariana |
A família do presidente controla os grandes negócios. | A família do presidente controla os grandes negócios. |
Corrupção generalizada | Corrupção generalizada |
Violação dos direitos humanos | Violação dos direitos humanos |
Está do lado português do Tratado de Tordesilhas | Está do lado português do Tratado de Tordesilhas mas territórios foram cedidos a Espanha |
Fala-se português | Algures numa ilhota fala-se um crioulo do português |
Língua oficial: português | Línguas oficiais: espanhol, francês, português |
PIB per capita: $6 116 | PIB per capita: $31 837 |
* Questão do momento: o sr. Obiang também tem filhas e mulher empresárias de sucesso? Perguntem ao sr. Cavaco, lá saberá.