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... que ainda temos de suportar.
As notícias que têm vindo a lume a respeito da crise congeminada pelo senhor Fernando Vaz (estou a ser muito benévolo no tratamento dado a este gentleman), permitem extrair uma conclusão pouco abonatória no que tange à influência política e diplomática exercida pela CPLP. O Paulo Gorjão e o Francisco Seixas da Costa já se referiram ao assunto aqui e aqui, salientando, justamente, esse ponto. De mais a mais, as últimas ocorrências deste affaire não são, propriamente, muito surpreendentes. A CPLP, enquanto organização política, tem primado pela mais absoluta irrelevância - veja-se o supino caso do acordo ortográfico -, algo a que não é alheio o facto de tanto o Brasil como os PALOP, sem esquecer, evidentemente, Portugal, terem votado esta instituição a um agradável ostracismo, no qual os assuntos mais candentes se resumem à mercearia involucrada numa hipotética adesão do regime de Obiang Nguema Mbasogo à organização. Para bom entendedor, meia palavra basta. Ademais, é facílimo de entender a preferência do Estado português pela abordagem multilateral dos problemas políticos emergentes na Guiné-Bissau: em primeiro lugar, a reduzidíssima efectividade política e diplomática da CPLP assim o obriga, em segundo lugar, como o próprio Francisco Seixas da Costa ressaltou, o acto ocorrido em Bissau foi, clara e inequivocamente, um acto de pirataria, pelo que a abordagem a seguir deverá ser, obviamente, multilateral. Em guisa de conclusão, mais uma vez, a CPLP provou que, política e diplomaticamente, não existe fora do quintal das Necessidades, o que, em boa medida, só leva a concluir que, nestes moldes, a instituição em questão é absolutamente inútil. Por fim, gostaria, igualmente, de lamentar o total despudor exibido pelos media portugueses ao amaciarem as posições da Guiné-Bissau, com entrevistas e peças jornalísticas a destempo. Assim, com estes gramofones comentadeiros de péssima qualidade, é, de facto, muito difícil ter uma diplomacia que funcione e prossiga os interesses nacionais.
Pela mesma lógica, dado que, em 2011, Portugal perdoou à Guiné-Bissau uma dívida no valor de 77 milhões de euros, creio ser justo reclamar o fim da independência da Guiné e a sua integração na República Portuguesa.
Do blogue Pasmalu:
«O Dr. Silvestre Alves precisa urgentemente de ser evacuado
Depois de preso ontem em Bissau, o advogado Silvestre Alves foi barbaramente torturado a noite passada, tendo-lhe, os torcionários de serviço partido, as pernas, quebrado os dentes e cortado a língua.
Depois disso, o Esquadrão da Morte levou-o para Quinhamel, nos arredores de Bissau, onde foi atirado para a berma da estrada. À semelhança do que está a acontecer a Iancuba Indjai, também Silvestre Alves está em perigo de vida, a necessitar urgentemente de ser evacuado.
Recorde-se que o Hospital de Bissau não oferece nenhumas condições POLITICAS de tratamento, havendo médicos que se prestam a ser usados para serviços expeditos de matança.
PERANTE A CUMPLICIDADE ATIVA DA CEDEAO E A OMISSÃO DA CHAMADA COMUNIDADE INTERNACIONAL BISSAU ESTÁ A SER PERCORRIDA POR UM VENTO DE INSANIDADE MENTAL»
A RTP muito ganharia em ousar, existindo material para fazer mais de mil filmes deste tipo. Um tema que profundamente desagrada aos donos do poder em Portugal, sejam eles a meia centena de parlapatões que pessoalmente enriqueceram com os acontecimentos de há três décadas, ou aqueles que agora recambiados em comissionistas, preferem enterrar o passado sob uma montanha de "investimentos estrangeiros" feitos com o recurso aos cofres da CGD.
Este filme mostra a terra e a gente que a ama, tornando-a produtiva. Fala-se de um crápula estranhamente semelhante a certos fulanos que falando a nossa língua, foram igualmente tão expeditos nos métodos, mas calculistamente mais discretos no discurso, beneficiando da cumplicidade daqueles que na antiga Metrópole assentaram o seu poder no sacrifício dos demais.
Não se trata de rancor ou do ensimesmar saudosista de um passado que não voltará. É uma questão de justiça pelo conhecimento da verdade. O caso português dos africanos brancos - a minha família estabeleceu-se em Moçambique em 1885 e de lá regressou noventa anos e cinco gerações depois - torna-se ainda mais flagrante e tão ou mais chocante que aquele apresentado nestas imagens. Em português falamos de traição de Estado, total desprezo pelos concidadãos, perjúrio, roubo e limpeza étnica.
Estamos vivos e perdoamos, mas jamais esqueceremos.
Bom discurso há pouco de Paulo Portas na reunião solicitada por Portugal. Expôs bem a questão, do historial de desordens protagonizadas pelos militares guineenses ao longo dos anos, às implicações regionais da actual situação, passando pelo tráfico de droga e de armas. Mostrou o repúdio generalizado e o isolamento internacional que o auto-denominado Comando Militar tem contra si, reafirmou a solidariedade com o povo guineense, apoiou o pedido do governo deposto do envio de uma força internacional, e terminou com o aviso aos golpistas de que o seu comportamento poderá valer-lhes o julgamento por um tribunal internacional.
A diplomacia portuguesa teve aqui um bom momento e Paulo Portas está de parabéns.
Vão caindo tal como bastiões carcomidos pelo fogo da história, todos os dogmas impostos à credulidade de um povo português, já muito esquecido do que a África significou para a sua própria razão de existência.
A Guiné-Bissau nem sequer pode ser considerado como um exemplo de "Estado falhado", a expressão de recurso do dicionário da linguagem política que designa o descalabro, genocídio e regresso acelerado aos tempos do tribalismo pré-colonial. O país já não existe e suspeita-se de se encontrar agora num processo de pé-anexação ou partilha entre os vizinhos, não podendo a isto ser estranha a sua excelente situação geográfica de plataforma onde confluem interesses do narcotráfico e comércio ilícito de armamento, além dos rumores mais ou menos consistentes de promessas geológicas que garantem abundantes recursos petrolíferos.
Uma vez mais, suspeita-se da inefável mão de Paris. Num ininterrupto processo de perda de influência política e especialmente da francofonia, a aposta na desestabilização para uma futura forçada assimilação, indica que os franceses parecem querer regressar ao giscardianismo bokassista dos anos 70, com o consequente tráfico de influências através da imposição de títeres recrutados e dispostos a servir, se bem pagos forem.
O exército português bateu-se bem e com galhardia. E sobretudo, por uma causa mais que justa. Infelizmente, hoje é tarde demais para remediar os pesados erros cometidos por quem o abandonou.
Na imagem, o grupo de comandos portugueses de Marcelino da Mata
A propósito do brutal assassinato de Nino Vieira, convém recordar alguns factos de um passado não muito distante e que para nossa vergonha - de todos os portugueses, sejam eles políticos, militares ou ou gente comum - oportunamente foram relegados para o conveniente tugúrio do esquecimento.
Após a independência da Guiné-Bissau (Setembro de 1974), o ajuste de contas do partido pró-soviético PAIGC, fez-se de forma célere e radical, seguindo fielmente a cartilha estalinista dos manuais onde o terror se torna a arma ideal e total para a consolidação do poder. Desta forma, o regime do senhor Luís Cabral, é responsável pelo assassinato de um monstruoso número de antigos soldados africanos do exército português. Apenas culpados por terem envergado o uniforme da potência de que muitos consideravam ser a Guiné parte integrante, não tiveram o direito a qualquer tipo de julgamento, ou como seria ideal, de regressar aos seus afazeres da vida civil. As circunstâncias em que ocorreu a matança tem contornos dantescos e bem típicos daquela zona do planeta, onde a vingança sobre elementos de outras etnias ou tribos, é exercida com o recurso a qualquer forma de tortura prévia. Membros decepados em vida, chacina de famílias inteiras, imolação pelo fogo, eis alguns dos processos detectados neste escandaloso episódio com poucos paralelos na história das nossas forças armadas. Enterrados aos milhares em valas comuns, aqueles que conseguiram escapar a sucessivas levas da morte, foram marginalizados e excluídos da sociedade guineense, conseguindo uns poucos vir para Portugal. Curiosamente, os pressupostos igualitários que deram forma ao novo regime de Lisboa, não incluiu estes homens no quadro da cidadania, deixando-os na miséria e sem sequer reconhecer aqueles que pela sua bravura se distinguiram durante a guerra, recebendo por isso as mais altas condecorações de valor militar. Uma ignomínia tão aviltante, como o sonegar dos bilhetes de identidade portugueses a milhões de infelizes, sem sequer lhes ser dado o inalienável direito a opção. Evidentemente, eram negros e como tal, não contavam para as estatísticas, tornando-se até incómodos para uma situação política que antes do mais procurava afanosamente apagar cinco séculos de um passado para alguns inconveniente.
Hoje parece verificar-se a habitual catarse que geralmente ocorre após o desaparecimento de uma figura política incómoda. Se durante anos o nosso país dignamente protegeu a vida de Nino Vieira, hoje, após o assassinato levado a cabo por um grupo de magarefes armados, já podemos ler alguns artigos na prestimosa imprensa portuguesa, apodando o infeliz presidente de "ditador, bandido, corrupto, traficante", etc. É mais uma forma de purgar as responsabilidades, absolutamente semelhante e válida nos seus propósitos, tal como aquelas eternas teses da "melhor descolonização possível" que habitualmente os senadores da nação bolsam à hora dos noticiários ou das mesas redondas da corrente propaganda. Há sempre uma idiota de tacha arreganhada, olhos em alvo e microfone em riste, pronta a escutar embevecida, todo o tipo de banalidades, aldrabices e exercícios de onanismo "político". E torna-se ainda mais chocante esta arrogante canalhice, quando as ditas excelências tinham o perfeito conhecimento acerca do tipo de gente a quem entregavam o poder naquelas paragens. Consistiu num crime premeditado, assumido e ainda hoje orgulhosamente exibido como grande feito.
Nino Vieira teve o mérito de denunciar os massacres dos seus antigos e valorosos adversários no campo de batalha. Honra lhe seja feita. O que se torna incompreensível é este meio em que vegetamos, onde a captura de um quarteleiro sérvio ou croata, tem direito a parangonas nos jornais e a processos levantados pelo Supremo de Haia. Aqui em Portugal, convivemos diariamente com gente profundamente implicada neste tipo de crimes e que nem por isso deixa de ser convidada para eventos sociais, sejam eles de índole cultural ou política. Pior ainda, surgem periodicamente na própria televisão do Estado, comentando a actualidade política dos países que decisivamente ajudaram a destruir e a transformar em antecâmaras do inferno. Estão bem e recomendam-se, preciosamente protegidos por outros - civis e ex-militares portugueses - que orgulhosamente insistem no erro histórico e negam a responsabilidade da ascensão da chã malvadez à categoria de sistema de governo.
No nosso país não há gente talhada à medida de um Baltazar Garzón. Temos, isso sim, uma assustadora infinidade de páchiças e mamparras alçados ao nada invejável escalão de "luminosas inteligências" e autoridades da moral e da memória recente da nação. É a velha história das grã bestas que chegaram a grã-cruzes... Sabemos quem são. Coerentemente, até há quem continue a desenvolver negócios miliardários, pouco se importando agora com questões de neo-colonialismo ou escravatura infantil. Assim, tudo faz sentido.