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Ainda não foi traçado o perfil psicológico do caso patológico que dá pelo nome de José Sócrates. À medida que a síndrome de prisioneiro se instalar no espírito do recluso, iremos ser contemplados com mais manifestações maníacas. A tinta vermelha da caneta BIC, que o ex- primeiro ministro usou para redigir uma nova reclamação, carrega outras angústias. Os especialistas, quando procuram estabilizar um certo padrão de comportamento de um alegado criminoso, servem-se de todos os indicadores para traçar o seu perfil. O vermelho (ou encarnado) reflecte, de um modo genérico, a tendência violenta, a predisposição para a agressão, e em consequência do desferimento do golpe, a fatalidade do sangue. José Sócrates ainda não desenhou todos os contornos do dilema do prisioneiro, mas para lá caminha. A teoria do jogo pode vir a tornar-se útil para tentarmos perceber o que nos espera. Sugiro também a leitura da obra de Konrad Lorenz - Sobre a Agressão -, embora esta última tenha a ver com comportamentos gregários. Ou seja, poderemos induzir que à medida que o recluso se sentir cada vez mais encurralado, irá, de um modo etológico, arrastar mais jogadores para o tabuleiro do desespero. Este caso está a tornar-se cada vez mais interessante. Nos meses que se seguem seremos fornecidos com muito material de estudo, bastante útil para redigir uma tése de doutoramento sobre ex-políticos com fétiches diversos - encarnados, encarcerados. Pouco importa. A cor dos factos não sofre grandes alterações.
Não tenho um telefone com uma linha directa para a central de segredos da casa da justiça, mas é óbvio que o pedido de Habeas Socras não tem pernas para andar (de Évora, ou do raio que o parta). Será racionalmente recusado. José Sócrates pode ser acusado de inocência as vezes que quiserem pelos Almeidas e Lacões deste universo, mas os prazos de entrega ao poder judicial ou de detenção não foram ultrapassados. Acresce a este facto que provavelmente os tentáculos do polvo de Castelo Branco se estendam de Caracas a Tripoli - como diz o próprio: "isto mal começou". Podemos afirmar, com alguma margem de erro contabilístico, que o Banco Espírito Santo também terá sido uma das instituições do regime socrático. Mas o Habeas Corpus também não faz sentido por outra razão. Sócrates, embora esteja privado de liberdade de movimentos, não perdeu o contacto com o mundo. Parece não ter dificuldades em mandar mensagens e bilhetes - quer em tom de ameaça quer em jeito de promessa - para diferentes orgãos de comunicação social. Em todo o caso, quem parece ter os movimentos condicionados, e estar ligeiramente paralisado, é outro cavalheiro. Já passou mais de uma semana sobre a detenção de Sócrates e António Costa nem sequer se dignou visitar o seu camarada. Mas será apenas uma questão de tempo até apanhar a mesma camioneta de Soares e companhia. À medida que o enredo for adensando, e Sócrates deixar de se sentir o homem mais livre do mundo, arrastará para o filme outros protagonistas. Não me parece, que em nome do Partido Socialista ou da revolução socialista, esteja disposto a passar uma longa temporada em Évora. Quando a ocasião o exigir, Sócrates, como dizem os nossos amigos brasileiros - vai botar a boca no trombone.