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Portugal dispõe de um regime de protecção social altamente regressivo, segundo palavras do insuspeito FMI. Ao longo das últimas décadas, os sucessivos governos desenharam um sistema que beneficia, sobretudo, os instalados em torno da manjedoura estatocrática. Até aqui não há nenhuma surpresa, pois, qualquer analista minimamente atento sabe, ou pelo menos tem a obrigação de saber, que o Estado em Portugal tornou-se um centro de apoio aos mobilizadores do dinheiro concentrado. O que não se sabia, ou não era do domínio público, eram os números envolvidos nesta trapaça politicamente organizada. Sabe-se agora que 40% dos gastos com pensões vão para os 10% mais ricos. Um número brilhante e redondo que não oferece a menor dúvida. Enquanto mais de um milhão de pensionistas desespera por pensões de reforma absolutamente miseráveis, uns poucos, os sibilinos "happy few", arrebanham o grosso dos dinheiros públicos dedicados a esta nobre tarefa ideada nos idos do século XIX por Bismarck. Perante isto, há que recolocar a célebre questão leninista: o que fazer? A resposta não é simples, nada é singelo neste mundo de contabilistas despolitizados, o que é certo é que qualquer reforma, que será inevitável caso se protele a necessária mudança, terá forçosamente de tocar nestes agregados. Por outras palavras, há gente que terá de encarar de vez a inelutabilidade da redução dos enormes privilégios que possui à conta dos contribuintes esmagados. A reforma da segurança social, a aproximação dos regimes público e privado, o fim das pensões milionários pagas pelo erário público, em suma, a moralização do Estado, que é sustentado por nós, produtores claudicantes, é uma exigência a que urge dar cobro. O relatório do FMI, que enferma de alguns vícios de elaboração noutras áreas da governação, foi particularmente bem escrito neste quesito. Mais: acertou na mouche, colocando a nu coisas que muitos teimam em negar, ciosos, talvez, das prebendas que teimam em não deixar. O socialismo dos "amanhãs que cantam e trazem sempre dinheiro para tudo e para todos" terminaram. Para bem de todos nós.