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Francisco da Cunha Leão, Do Homem Português:
«O homem preferido pelo português é o herói iluminado, cuja acção, tantas vezes intrépida, tem auréola de missão, um halo de poesia ou de transcendente destino.
Oliveira Martins, ao observar que o fundo céltico se manifesta em alto grau nos tipos humanos excepcionais da história pátria, como Nun’Álvares e D. João de Castro (este na sua ingénua ternura pela natureza), teve a intuição perfeita do herói português.
Logo no Amadis, esse ideal antropológico que se evidencia, todo pureza e sonho.
O herói iluminado não é simples impulsivo nem mero militante. Cabe aqui distingui-lo do tantas vezes temerário espanhol, propenso ao militantismo extremo, seguro do seu ideal enfático de personalidade.
O instrospeccionismo saudoso e as inferioridades numéricas, de que nunca esta nação se libertou, concorriam para preencher reflexivamente os entreactos da aventura, tornando-a eficaz. Há sinceridade na máscara do herói português. Basta olhar a face dos figurantes que povoam os painéis de Nuno Gonçalves. É resignado o rosto dos nossos Cristos, intimamente sofredores, em contraste com os espanhóis, tétricos, espectaculares.
O heroísmo foi inscrito por João de Castro Osório como característica dominante dos portugueses.
Heróico ou não, o comum dos portugueses só rende quanto é capaz, desde que situado em missão. O simples economismo só de níveis de vida e maquinetas, embora o interesse bastante, até pelo aspecto reclamativo social e político, não o prende totalmente. Quer a missão, campanha que pode ter carácter económico e social.
Uma vez que a não sinta, degrada-se. A crise da missão histórica reflectiu-se em crise do homem. Pulularam então os subprodutos do heroísmo: - o marialva, o fadista, conforme os escalões sociais, e certos bandoleiros; entre estes últimos, José do Telhado é do tipo galaico, José Brandão, do lusitano. Já o libertinismo puro não é connosco, amorosos por natureza, apaixonadiços, inflamáveis. O cálculo frio, em amor, é-nos difícil sustentar.»