Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Vizinho do professor, o senhor Marques, com ele aprendera a ler na Cartilha Maternal, de João de Deus, ainda antes de entrar na escola, em 1935, mas quando nesse ano começou a ir para aquela mesma casa grande, oferecida à aldeia pelos senhores de Lisboa, donos da quinta ao lado, que também eu frequentaria muitos anos depois, era este o livro que levava na sacola de pano, que cruzara no peito. Ao carinho natural que se dedica ao nosso livro da primeira classe, acresce o facto de na contracapa estar inscrita uma data para ele especial, porque foi o ano em que nasceu: 1929.
Conta que por esses dias, todas as tardes se dirigia a casa do Professor Marques, que o acompanhava desde os seis anos, o ensinara, entre outras coisas, a ler, escrever e fazer contas, a fim de ler o jornal que, diariamente, relatava da evolução do conflito, e que, como bónus extra, ainda comia bolachas no lanche que a empregada do senhor Marques sempre providenciava.
Dele diz ter sido o grande Mestre que o preparou para a vida, e lhe pegou o bichinho do amor aos livros, desde o momento em que lhe abriu a porta da sua biblioteca.Uma pessoa de quem fala amiúde, e entusiasticamente: uma 4ª Classe melhor que muitos 12ºs anos !...
também, conta o meu pai que, criança ainda,era à sombra de uma árvore e junto ao pequeno rio que passa na aldeia - o Febras: ironia no nome, por ser, na verdade, pequeno?-, que adormecia, a ouvir o doce girar da roda no moinho de água de uma tia, de cujas mãos saía a mais saborosa broa, que bem a degustei, durante anos ainda.
O moinho da tia avó Lourença não existe já, nem eu o conheci. Dessa altura apenas a argola onde prendia o burro, que puxava depois a carroça com a farinha, essa farinha que iria alimentar a gente de meia aldeia....