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Parecendo uma repescagem das diatribes, omissões e falsidades durante décadas urdidas nos volumes da História da Grande Guerra Patriótica, têm ultimamente surgido alguns interessados pela temática II Guerra Mundial apresentando uns tantos "ses" sem qualquer sustentação, quando confrontados com a miríade de problemas ditados pela realidade tal como se apresentava em Junho de 1944.
Estando os historiadores perante a evidência de um conflito que cabe no conceito de guerra total, alguns pretendem considerá-la de forma sectorial, limitada e sem atender à sempiterna companheira dos eventos bélicos, isto é, a política interna e externa dos beligerantes, os interesses geoestratégicos dos principais contendores, fossem aqueles económicos, militares ou de exercício da soberania.
Dizem então que o desembarque anglo-americano na Normandia terá sido uma invasão desnecessária. Argumentam com a evolução das operações no teatro de guerra da frente oriental que estava a cargo dos aliados russos. Esta é uma consideração errada em todos os pressupostos, sejam eles militares ou políticos.
Em Junho de 1944, a Alemanha ainda era uma potência bélica de primeira categoria, apresentando ao mundo umas forças armadas muito numerosas, perfeitamente capazes sob o ponto de vista anímico e dotadas de equipamento tecnologicamente avançado. A indústria conduzida por Speer, atingiu picos de produção que não devem ser negligenciados, apesar dos redobrados esforços das campanhas aéreas desferidas pelas potências anglo-saxónicas. Não mencionado em detalhe a imensa superioridade técnica da sua arma blindada - mesmo atendendo aos modelos mais pesados do adversário soviético -, esta qualidade era extensível às armas que ditariam as regras nos conflitos vindouros. Mísseis de todos os tipos que iam surgindo nos teatros de operações, aviões a jacto, armas automáticas, uma nova geração de submarinos apenas muito mais tarde eclipsados pelo advento das classes movidas a energia nuclear, entre toda uma série de inovações que durante quarenta anos decisivamente influenciariam o desenvolvimento dos arsenais das principais potências mundiais.
Os britânicos consideravam imprescindível o desembarque na Europa, cientes que estavam daquilo que significaria a outorga de toda a guerra terrestre aos exércitos levantados pelo regime soviético. No que respeita aos seus aliados americanos, destes divergiam quanto à zona escolhida para a invasão, preferindo o "baixo ventre da Europa"- Mediterrâneo central, ou seja, a Itália, Grécia e a costa jugoslava - às praias do norte de França. A verdade é que desde o início da sua intervenção, os americanos sempre privilegiaram os pontos de vista do Kremlin, conhecendo-se também as conversações que Roosevelt e a sua administração foi entabulando com os soviéticos a respeito da liquidação dos impérios coloniais europeus, britânico incluído. A Estaline interessava a intervenção anglo-americana de uma forma limitada - permanente bombardeamento aéreo da Alemanha e caudaloso fornecimento material à URSS - e no sentido do alívio do envio pela indústria alemã, de equipamento destinado à Wehrmacht na frente leste. Os aliados ocidentais eram meramente utilitários e o lend-lease absorvia o seu quase exclusivo interesse por eles.
O conceito de defesa elástica que apesar de tudo o marechal Von Manstein conseguira impor como incontornável recurso para a contenção da avalanche que vinha do leste, é facilmente compreensível quando observamos nos mapas o lento avanço soviético em direcção a Berlim. Se a seguir a Estalinegrado (início do ano de 1943) esse progresso para ocidente parecia fulminante, a partir de Kursk - um colossal erro estratégico de Hitler - e apesar da esmagadora superioridade material, as ofensivas estiveram muito longe de atingirem aquela velocidade que teria pressuposto a queda do III Reich na primavera de 1944. A inversão de alianças da Roménia e da Bulgária - já após o D-Day -, criou um certo vazio naquela zona dos Balcãs, sem que isso significasse a imediata chegada do Exército Vermelho a Budapeste, Praga e Viena. Apesar de se encontrarem em grande desvantagem numérica, os alemães fizeram arrastar durante longos meses, as campanhas russas na Polónia e nas províncias germânicas do leste, a Prússia oriental, Silésia e Pomerânia.
A presença anglo-americana na Itália, não era um factor determinante para a derrota do Reich a ocidente, dados os condicionalismos impostos pelo terreno admiravelmente propício a quem nele estivesse numa posição defensiva. Assim sendo, havia que escolher outro sector que se prestasse a uma maciça concentração de recursos bélicos e capazes de decidirem pelo número, o resultado de uma batalha que se previa difícil e custosa. Sob o ponto de vista estritamente militar, os actuais revisionistas da história apresentam como certa a vitória soviética a leste, na presunção de Estaline contentar-se com a tomada de Berlim e zonas da Alemanha concedidas após as Conferências do Cairo e Teerão, ao domínio russo. Nada mais ingénuo. Consciente dos graves prejuízos causados ao esforço de guerra alemão pelas vagas de bombardeiros da RAF e USAF, Estaline decerto pretendeu estender o tão longe quanto possível, a presença dos seus exércitos na Europa central e ocidental. Quanto a isto não poderá existir a menor dúvida, conhecendo-se a importância decisiva que o factor político-ideológico exercia sobre a sua condução das operações militares e diplomacia. Poderá alguém alimentar algumas ilusões quanto a um esperado deter soviético nas margens Elba? Há que atender à forte presença da coluna pró-soviética que os partidos comunistas representavam na Europa ocidental, não se desconhecendo a eficácia do PCF que mesmo após finda a guerra, pesadamente influiria na condução da política francesa.
É verdadeira a suposição de que a ausência de uma intervenção terrestre em França, teria significado a imediata transferência para a frente leste de importantes unidades da Wehrmacht, capazes de consideravelmente atrasarem o avanço russo e adiarem em longos meses, o desfecho do conflito. Neste caso, a pressão exercida pela guerra aérea anglo-americana apenas beneficiaria geoestrategicamente a URSS, dando-lhe campo livre para uma decisiva penetração na Europa ocidental e sendo impossível aventarmos até onde aquela poderia ter chegado. Paris?, Madrid? Lisboa? Nas Conferências de Ialta e de Potsdam, Estaline insistiu na necessidade de um ataque aliado à Espanha de Franco e isto é por si demonstrativo de um aspecto que actualmente parece ter sido alijado das cogitações dos interessados pelo estudo dos últimos capítulos da II GM. Já é bem conhecido como um grave erro político - logo militar, num contexto de guerra total -, a negativa de Eisenhower em permitir um avanço dos seus comandantes em direcção a Berlim, considerada como um objectivo meramente simbólico. Estaline sabia que a capital alemã era muito mais que um simples objectivo de prestígio, pois o seu controlo pressupunha a reivindicação da legitimidade política sobre o conjunto da nação alemã, além de significar uma indefinida permanência do Exército Vermelho em pleno coração da Europa. E assim foi até 1990.
A vitória soviética era um facto iniludível, os números pesavam e a generosíssima contribuição material americana foi decisiva. Blindados na ordem de muitos milhares, milhares de aviões de todos os tipos, os uniformes que vestiram e as botas que calçaram as tropas russas, armas automáticas, artilharia, a prodigiosa quantidade de munições de todos os calibres, uma espantosa quantidade de veículos de transporte que decisivamente motorizaram o E.V., mares de combustível e de matérias primas, as rações de combate que fartamente alimentaram o gigantesco exército russo, eis a contribuição decisiva. Mas isto não era suficiente, pois americanos e britânicos receavam o advento das propaladas armas secretas à disposição do Führer, suspeitando da séria possibilidade de entre os recursos tecnológicos, poder encontrar-se a arma nuclear. Durante alguns anos - 1942-44 -, Estaline irrealistamente temeu a celebração de uma paz separada entre o Reich e as potências capitalistas ocidentais, jamais conseguindo entender o vasto quadro dos interesses dos EUA e do RU no concerto internacional e ostensivamente desdenhando do capital factor político na condução da guerra pelas potências demo-liberais. Jamais considerou a evidência de o seu regime se encontrar mais próximo daquele que Hitler simbolizava, desde a forma messiânica da condução do Estado, até à concentrada organização do mesmo.
Os números apresentados pelo escalpelizar de forças presentes na frente ocidental, parecem ser uma pequena fracção daqueles outros com que deparamos na consulta dos registos da frente leste. No entanto, as campanhas em França, na Bélgica e na Alemanha ocidental, foram decisivas para o abreviar do conflito e garantir a sobrevivência das democracias ocidentais na Europa. A partir desta realidade históricai, já estaremos no plano das suposições, onde apenas o Reino Unido dificilmente se teria mantido como a única parcela da Europa livre da ocupação e re-arranjo institucional ditado pela URSS. Daí até à quase imediata eclosão de uma terceira guerra mundial, tudo é possível imaginarmos.
Uma excelente crónica de Pedro Lomba, a respeito das recentes afirmações do Embaixador de Israel em Portugal (via Corta-fitas):
«Na semana passada a Gulbenkian acolheu a conferência Portugal e o Holocausto patrocinada, ao que sei, pela Embaixada dos Estados Unidos. Lendo os jornais, apercebi-me que saíram da conferência declarações estranhas. Mas nenhuma ultrapassou em desaforo histórico o que foi dito pelo embaixador de Israel, segundo o qual Portugal "foi o único país que colocou a sua bandeira em meia haste durante três dias", logo que Hitler morreu. E o embaixador de Israel acrescentou: "É uma nódoa que para nós, judeus, vai aparecer sempre associada a Portugal."
Tenho demasiado respeito e simpatia por Israel para deixar passar estas afirmações sem resposta, até porque aparentemente ninguém na própria conferência reagiu. Fui, pois, investigar. E escutar quem investigou. Ora, o sr. embaixador de Israel não sabe, não considerou que os demais Estados neutros europeus na guerra procederam como Portugal. Vejamos a imprensa da época:
No Diário de Lisboa de 3 de Maio de 1945 refere-se que "continuaram a meia haste as bandeiras da Nunciatura Apostólica, da Embaixada de Espanha e das Legações da Suíça e da Suécia". Em Dublin, o mesmo luto protocolar conduziu o primeiro-ministro (e ministro dos Estrangeiros) Éamon de Valera a apresentar condolências à legação alemã. Como pode o sr. embaixador afirmar que Portugal "foi o único com a bandeira em meia haste", quando a prática foi comum aos outros Estados neutrais?
Mas compare-se o luto protocolar do Estado português perante a morte de Roosevelt e o que se registou com a de Hitler. Quando Roosevelt morreu, Salazar deslocou-se pessoalmente à embaixada americana para apresentação de condolências. A propósito dos regulamentos protocolares, lê-se no recente livro do embaixador Bernardo Futsher Pereira sobre a diplomacia salazarista (p. 436): "Neste mundo convulso, Portugal permanecia a mesma plácida ilha de paz. As minudências jurídicas protocolares continuavam a ser rigidamente observadas. A 4 de Maio, quando correu a notícia da morte de Hitler, as bandeiras foram colocadas a meia haste. Quando o embaixador inglês protestou no dia seguinte, Teixeira de Sampaio argumentou que, fosse ou não fosse Hitler o maior criminoso da História, continuava mesmo assim a ser o chefe de Estado de um país com o qual Portugal mantinha relações diplomáticas. Os regulamentos prescreviam uma salva de artilharia e uma visita pessoal de condolências pelo Chefe do Estado ou seu representante. Tudo isso tinha sido eliminado e as formalidades reduzidas a deixar cartões e pôr as bandeiras a meia haste."
Não terá o sr. embaixador omitido o contraste entre a postura de Portugal aquando da morte do Presidente americano e os "serviços mínimos" verificados na morte de Hitler? Não sou historiador e não me pronuncio sobre Portugal na II Guerra. Mas dir-se-á que quer Portugal quer a Irlanda agiram, não por qualquer afinidade com o regime nazi, mas no respeito pelo formalismo protocolar inerente à neutralidade, numa lógica de "correcção diplomática" e de afirmação soberana.
Custa ter de fazer este reparo ao representante de Israel entre nós. Mas a acusação que fez é factualmente errada, é injusta e ignora o cânone protocolar. A 22 de Dezembro de 2011, a Assembleia Geral da ONU cumpriu um minuto de silêncio pela morte do ditador norte-coreano Kim Jong Il, mas esclarecendo à partida que se tratava de um acto protocolar. Foi uma nódoa que mancha Israel e os restantes membros? Ou foi apenas diplomacia as usual, de que o sr. embaixador aqui se esqueceu?»
Esperemos que não se trate de mais uma oportuna adaptação da excelente e bastante esquecida obra The Last 100 Days, de John Tolland. Alertado pela minha diária e rotineira leitura do Portugal dos Pequeninos, fiquei a saber que Pacheco Pereira teceu algumas considerações acerca do livro The End. Ainda não tendo lido a obra de Ian Kershaw, regista-se a certeza de um relato pormenorizado acerca do Götterdämmerung do III Reich. Sabe-se que até ao último dia da sua existência, a máquina do regime funcionou como os seus chefes previam. Os operários escrupulosamente chegaram a horas para o trabalho, os juízes ditaram as sentenças por mais impiedosas que fossem, a burocracia funcionou em pleno e os kommando de manutenção da ordem nacional-socialista foram tão eficazes como sempre.
Poderá ser mais fácil recorrermos a explicações do âmbito da psicologia, de massas ou não, que teria efectivamente condicionado uma imensa população de mais de noventa milhões de aparentes sonâmbulos, apesar da desgraça que atingiu a Alemanha com inaudita violência. Ainda não sei se Ian Kershaw procura explicar algumas das razões que levaram os alemães à total subordinação ao regime e consequente resistência até à última bala, último panzer e ao derradeiro buraco onde se entricheirava a gente do Volksturm. Algo sucedeu para tal ferocidade da tropa e civis alemães, aliás demonstrada pelas mais de 300.000 baixas soviéticas na já de antemão perdida batalha de Berlim.
Qual a explicação plausível para tal encarniçamento da resistência popular que permitiu o perfeito funcionamento da máquina do poder nacional-socialista?
Poderá isto ser verdade? Há precisamente um ano, corria a notícia da compra de um novo veículo de transporte do primeiro-ministro Sócrates. Pelos vistos, a carripana era de péssima qualidade, porque agora terá sido necessária a aquisição de uma outra reservada ao uso do primeiro-ministro Passos Coelho, pelo módico preço de 140.000 Euros.
Será um Mercedes? Não se vê bem, hoje em dia esta sucata a prazo é toda igual. Salazar também teve uma viatura desta marca, tendo utilizado a mesma durante décadas a fio. Foi oferecida por Hitler. A Sra. Merkel não poderia imitar o seu predecessor na Chancelaria, oferecendo carros alemães aos colegas de profissão?
Há precisamente setenta anos e a esta mesma hora, com a previsível benção da conjugação astrológica e o nevoento solstício das crenças ancestrais, o III Reich atacou a URSS. Uma operação mal preparada, errática e pior conduzida pelos "preságios, palpites e visões" do todo poderoso Führer. O resultado está à vista: um recuo sem precedentes do germanismo na Europa e a liquidação desta, como o factor decisivo no mundo.
Merkel colocou este bunker à venda por uma pechincha. Quer comprá-lo?
"17h25. Rassemblement à la résidence de Kadhafi. La télévision d'Etat annonce que des centaines de Libyens sont rassemblés au QG de Mouammar Kadhafi à Tripoli «en prévision de frappes françaises». «Les foules se rassemblent autour des cibles désignées par la France» pour les bombarder, assure la télévision, en diffusant des images en direct de Libyens qui, selon elle, sont rassemblés à la résidence à Bab al-Aziziya ainsi qu'à l'aéroport international de Tripoli."
Aqui está uma oportunidade para a demasiadamente excitada senhora Cândida Pinto. Todos têm seguido as suas reportagens, quase milimetricamente coincidentes com o inesgotável libreto da propaganda de Kadhafi. Sabemos a quem pertence a SIC e isso torna estes exageros compreensíveis.
Deixando o copy-paste kadhafista, resta-nos dizer que dentro do bunker soterrado por milhares de toneladas de areia entremeadas de placas de betão, o "guia da revolução" vai-se confortando no seu SPA privado. Lá em cima, à volta da tenda que cobre o complexo defensivo e onde o imaginam totalmente indefeso, magotes de mulheres ululantes servem de escudo, consistindo num potencial alvo do ataque que se espera e que Kadhafi deseja. Por enquanto, têm-se contentado com fervores patrióticos diante das equipas televisivas ocidentais e ainda bem que assim é.
Nada de novo. É uma velha história. Pensarmos que ao fim de setenta anos ainda falam de Hitler, quando este, refugiado no bunker da Chancelaria, jamais se serviu deste tipo de artimanhas!
Chandra Bose com Adolfo Hitler, em Berlim.
Uma das lendas mais difundidas em Portugal, consiste na mistificação do complexo enredo político e geoestratégico que conduziria à invasão de Goa, Damão e Diu pela União Indiana (17-12-1961). Condenada pela ONU, esta invasão ordenada pelo pacifista Nehru - o homem que conseguiu a proeza de malquistar a Índia com todos os países vizinhos -, obedecia aos pressupostos do movimento nacionalista indiano que nos anos 30 e 40 encontrava em Chandra Bose, o perfeito émulo dos ditadores da época, fossem eles o Fuehrer de Berlim, o Duce de Roma ou o Vozhd de Moscovo.
Leia aqui, no Combustões
Do facciosismo dogmático comunista com que Odete Santos presentou a comunidade ISCSPiana em duas sessões no espaço de meia dúzia de dias, um excelente texto, já de há alguns dias atrás, do caríssimo Corcunda:
"Uma das maiores demonstrações de impotência da Esquerda é a forma como vê os seus adversários. O “fáchismo” que descrevem nos seus oponentes é uma visão infantil do que foi o Fascismo na realidade, com toda a sua moral popular, estatista, restruturadora, centralizadora. Para a Esquerda, o “fáchista” é aquele que defende um conjunto de normas que não vêm da soberania popular, que não se submete ao papel instrumental da racionalidade como forma de elevar a Humanidade ao papel de realidade transcendente, que rejeita que o objectivo da vida humana seja a criação de uma sociedade em que se cumpre a panaceia do indivíduo (em que este ultrapassa a escassez e vive como Deus no seu universo particular). É evidente que os fascistas não partilhavam esse credo, mas a infantilidade mental que preside a esta dicotomia é apenas um reflexo de visões simples do mundo que reflectem a forma populista da esquerda de contemporânea.
A forma como Hitler é descrito como um inimigo da razão esclarecida (um contra-iluminista, portanto), um mero caso clínico de loucura ou um defensor do preconceito social populista (que a Esquerda veio destruir) é apenas uma forma de varrer para baixo do tapete os problemas levantados pelo paradigma moderno de que Hitler foi consequência lógica.
Afirmar que o problema de Hitler se encontra no seu desprezo pela Razão é apenas o primeiro acto da paródia. É verdade que Hitler foi um crítico da razão iluminista enquanto forma de ordenar a comunidade política. Mas também o foram Rousseau, Nietzsche ou Sartre. Não se consegue vislumbrar de que forma é que o anti-racionalismo de Nietzsche, que se encontra tão em voga nesta época pós-moderna, pode ser a causa de uma mal tão grande e de tantas bençãos (Foucault, Deleuze, etc.). E quem mais do que Hitler, transformou as ciências numa forma de religiosidade política, forçando nas descrições científicas as distinções que a necessidade política forçava? O segundo acto está montado. A diferença entre o mau e os bons está na forma como os segundos fazem uso dessa racionalidade. Os maus matam pela raça, os bons pela classe social. Sartre, santificado na Europa Ocidental, afirmava o seu pacifismo enquanto defendia os campos de concentração onde se empilhavam inimigos do povo. Estaline, o maior assassino da História, era um santo que fazia o mundo adequar-se ao sonho de Marx. A diferença entre o populismo de uns (do povo, com toda a fúria socialista) e o que é dirigido a outros (a pequena burguesia, com todo o seu ódio racial) é, para o Esquerdista, toda a diferença do mundo. Mas qual é a diferença real, ou o critério para avaliar a diferença entre os preconceitos de Robespierre ou Marx, a necessidade do Terror e da destruição física e social da burguesia ou da nobreza e ou de um outro qualquer povo?
É curioso que num mundo obcecado com os campos de concentração, a abertura ao Leste tenha vindo com a total incorporação da máquina estatal comunista. Sem culpados, sem crimes, sem dias da memória histórica...
Estão nos a preparar para o quê?"
Agora que muitos andam excitadíssimos com a interpretação de Benicio Del Toro desse indivíduo tão idealista quanto altruísta (perguntem aos que morreram apenas porque dele discordavam), essa fraude intelecutal que dava pelo nome de Che Guevara, o Paulo Pinto Mascarenhas recorda uma das capas mais polémicas da extinta Atlântico, aqui maravilhosamente comentada pelo José de Pina: