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Acabo de regressar da manifestação humana, de homens e mulheres, despidos de ideologia ou partidos políticos, que aconteceu na Praça do Comércio a propósito da falência ética e técnica do presente governo. Para cima de dez mil pessoas estiveram, solenes e dignos, em pose de indignação interior. Não foi necessária uma liderança vocal do protesto, não foram necessários acessórios partidários. As pessoas, toldadas e incrédulas pelo abandono do Estado em Pedrógão, Mação ou Arganil, vieram em paz, à civil. No entanto, o movimento silencioso e sereno foi contemplado por uma provocação com provável origem no governo e as suas filiais de geringonça. Bastou uma pequena seita de provocadores, que hasteou a bandeira da culpa do PS, PSD e CDS, para que alguns arrufos e socos mal orientados decorassem o terreiro do Paço. Os media, que vivem de sangue e emoções à flor da pele, para vender publicidade e comprar tele-espectadores, aproveitaram a pequena deixa para denominar a manifestação de "violenta". A RTP, pertença do Estado e do governo, apelidou o evento de "manifestação contra os incêndios", mas está a ser cínica e a obedecer aos patrões. O protesto foi mesmo contra a inexistência do governo, do Estado. Foi a favor da maior prerrogativa que um Estado deve defender - a protecção dos seus cidadãos. Mais nada.
fotografia: John Wolf
Em 2007 tive o enorme privilégio de trabalhar com Manoel de Oliveira na qualidade de "pequeno actor" no filme Cristovão Colombo - o Enigma. Guardo as seguintes imagens da sua presença. A grandeza de um cavalheiro, a paixão pelo cinema e a liberdade para percorrer os caminhos ditados pela sua alma. No final da rodagem da cena em que entrei como enfermeiro com pronúncia americana, dirigi-me ao realizador para agradecer e prestar a minha homenagem, ao que ele respondeu: "Ora essa, deixe-se disso meu caro".
Tive o enorme privilégio de conhecer e trabalhar com o Rui Tovar em 1999. Desse contacto profissional nasceu uma genuína amizade, duradoura e recheada de grandeza. O seu incomparável sentido de humor e o seu conhecimento enciclopédico de futebol, traduziam-se numa personalidade invulgar, na verdadeira humildade que distingue os grandes, no trato fino instigador do melhor que existe na natureza humana, em cada um de nós. Portugal perde um dos seus excepcionais. Empresto o meu abraço fraterno à sua família e em particular à sua mulher, Maria João. Que Deus o acolha do mesmo modo generoso com que ele recebeu e tratou tantas pessoas na sua passagem terrena, marcante. O Rui viverá na minha memória num local especial e reconfortante.
Portugal está de luto. Uma das suas quinas bateu as asas e rumou ao firmamento de outro imaginário. Na narrativa mítica que conta a história de Portugal, Eusébio era sem dúvida uma das suas figuras. Um dos deuses que viveu para além do regime do futebol para representar algo maior que o desporto-rei. A sua coroação mundial serviu também para expressar a voz da africanidade, tantas vezes preterida pelas centralidades europeias, pelos impérios que apenas nasceram com a Conferência de Berlim de 1884-85. Eusébio, provém, nessa iconografia, da epopeia dos Descobrimentos, da luz aberta pelos caminhos marítimos desbravados por Vasco da Gama, das colónias que se lhes sucederam. Sobreviveu à política como se esta não existisse, como se o poder fosse absoluto, apenas seu. No tridente da etno-folcloridade portuguesa, Eusébio, tal como Amália, confunde-se com um Portugal extemporâneo, orgulhoso, mas não menos valioso. A alegada elite intelectual portuguesa não encontra modo de demarcar-se do círculo do velório e da homenagem que um país inteiro lhe presta. Como se apenas a literacia merecesse o estatuto da imortalidade, cantada e declamada na edição de uma estrofe camoniana. Os heróis, não são aqueles seleccionados pela falsa estirpe de um iluminismo bronco, uma ala carregada de tiques de superioridade. O luto que converge para a mesma baliza, demonstra que os afectos comandam a vida, que Portugal é sentimental na hora certa, na hora errada - no momento justo. Que descanse em paz Eusébio.
Os dias e as horas serão esquecidos. Mas o ano de 2012 ficará marcado pela partida precoce de Luís Abel Ferreira. Um dos homens mais brilhantes que tive a oportunidade de conhecer, e que me ajudou no meu processo de construção literário. O Luís decidiu cessar a sua relação com este mundo, a 17 de Junho de 2012. Um profissional das letras na mais pura acepção da palavra. Um meio-termo que sempre procurou, mas que nem sempre encontrou. Um estilista devassado pelas mensagens dos outros. Um indivíduo que tornava a sombra faustosa, como um mistério resvalado para muito perto da capa, distante da euforia reclamada pela notoriedade. Foram tantas as obras que perpassou e que estabilizou nessa condição frágil que nunca chega. Um cidadão Português que deveria ser homenageado na sua constrição, na passagem que não é breve. Mas tenho vergonha do círculo que não acendeu a mecha de uma pequena vela. A Agustina Bessa- Luís será lembrada nos tons de petróleo desses livros infinítos. E se procurarem com devoção, lá estará o outro Luís que ampara, amparou e desamparou a simples lógica. Tenho vergonha de um país que não se rende, na hora da morte e da ressurreição. Lamento ser tão pequeno para não erguer o sentimento certo para tamanha crueza. Tenho vergonha de todos eles. Os fabricantes de capas que esgotáram a alma e as parcas edições que se seguiram. Peço perdão ao Luís em nome próprio pela rudeza que não mereces. Deste modo amargurado em ti, encerro um longo ano que não cabe num dia. Uma palavra teria bastado.
(Luís Abel Ferreira - editor-revisor-pensador)
No próximo dia 14 de dezembro, o arq.º Gonçalo Ribeiro Telles será homenageado em Lisboa no decorrer de um jantar cuja iniciativa conjunta pertence ao IDP - Instituto da Democracia Portuguesa e à Liga Portuguesa dos Direitos Humanos - CIVITAS.
Durante esta cerimónia o arqº Ribeiro Telles fará uma intervenção pública, a propósito das alterações introduzidas na delimitação da REN - Reserva Ecológica Nacional. A visada é a actual Ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, dr.ª Assunção Cristas, uma vez que a posição de Ribeiro Telles é muito critica face à extinção desta reserva, da qual foi fundador, enquanto Ministro de Estado e da Qualidade de Vida, na década de 1980.
Para Gonçalo Ribeiro Telles esta medida é também uma investida contra a RAN - Reserva Agrícola Nacional que, à semelhança da REN, visa impedir a proliferação aleatória e desenfreada da construção. Os tumores urbanos contribuem para a descaracterização do território e o desaparecimento das aldeias, em nome de interesses obscuros.
Este evento tem como objectivo o justo reconhecimento do contributo e legado do arqº Ribeiro Telles para a sociedade portuguesa, contará com a presença de cerca de uma centena de representantes de quadrantes da sociedade portuguesa. Todos prestarão a merecida homenagem a este ilustre cidadão, que ao longo dos seus já 90 anos de vida teve uma intervenção cívica activa.
Os organizadores também desejam que este seja um momento que faça jus ao caráter interventivo de Ribeiro Telles, dando-lhe oportunidade de defender publicamente a obra agora em risco às mãos do actual Governo.
O IDP
O IDP é uma associação cívica, independente, fundada em 2007, que tem por vocação a intervenção cívica e a promoção de um debate construtivo e apartidário sobre os desafios que se colocam à sociedade portuguesa.
A sua primeira finalidade é o aprofundamento da Democracia em Portugal como Estado independente no âmbito da União Europeia. O IDP surge como organização da sociedade civil que congrega pessoas independentes e pessoas com filiação em partidos de todo o espectro político. O IDP promove eventos de várias ordens, numa tentativa de permitir que a sociedade civil tenha uma voz audível na resolução das grandes questões nacionais.
www.democraciaportuguesa.org| email: idportugal@gmail.com
Para mais informações contactar: Tlm. 917 785 201
Instituto da Democracia Portuguesa
NIB : 0035 0001 0003 1560 4303 6
HOMENAGEM A GONÇALO RIBEIRO TELLES
A Fundação Calouste Gulbenkian e o Centro Nacional de Cultura vão organizar no próximo dia 6 de Dezembro uma sessão de homenagem e reflexão dedicada ao Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles.
ORGANIZAÇÃO
AURORA CARAPINHA
ENTRADA LIVRE
6 DE DEZEMBRO DE 2011
FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN • AUDITÓRIO 2
09h30
Abertura
Guilherme d’Oliveira Martins
Presidente do Centro Nacional de Cultura
Emílio Rui Vilar
Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian
10h00
O HOMEM
António Barreto • Eduardo Lourenço
Guilherme d’Oliveira Martins
11h15
Pausa café
11h35
O POLÍTICO
Augusto Ferreira do Amaral • Luís Coimbra
Diogo Freitas do Amaral
13h00
Intervalo para almoço
14h30
O PROFESSOR
Carlos Braumann • Aurora Carapinha
Ário Lobo de Azevedo
15h30
Pausa café
15h50
O VISIONÁRIO
Manuela Raposo Magalhães
Nuno Portas • Margarida Cancela d’Abreu
Viriato Soromenho Marques
17h10
Depoimentos
Dom Duarte de Bragança • Miguel Sousa Tavares*
Pedro Roseta • Maria Calado • Alberto Vaz da Silva
17h45
Apresentação da Fotobiografia
de Gonçalo Ribeiro Telles (Ed. ARGUMENTUM)
Fernando Pessoa • Alexandre Cancela d’Abreu
18h00
Encerramento
Mário Soares • Gonçalo Ribeiro Telles
*A CONFIRMAR
Na despedida de Manuel Pinho, esse grande ex-estadista, a homenagem possível (também extensível ao grande obreiro Mário Lino). Com o patrocínio de S. Exª o Presidente da República Bolivariana da Venezuela.