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Sonho com o dia em que a diferença salarial média entre homens e mulheres se inverta em favor das mulheres e o número de mulheres em cargos políticos e públicos e de direcção no sector privado seja superior ao dos homens. Primeiro, porque, embora se trate de uma realidade em que gostaria de viver, especialmente considerando que durante a esmagadora maioria da história da humanidade as mulheres foram e continuam a ser discriminadas de formas abjectas, repulsivas e sem qualquer justificação, perceberíamos todos que nem assim se conseguiria ultrapassar falhas características da cultura de cada corpo político. Segundo, e mais importante, porque deixaríamos de assistir ao chinfrim que os guerreiros pela igualdade de género a todo o custo teimam em produzir vociferando os seus preconceitos ideológicos assentes numa concepção profundamente errada da condição humana e numa compreensão débil dos fenómenos sociais, decorrentes do racionalismo construtivista. O que não quer dizer que, entretanto, não encontrem outras causas a que possam dedicar os seus esforços. Afinal, o racionalismo construtivista talvez nunca tenha tido um solo tão fértil como as hodiernas sociedades demo-liberais onde, infelizmente, a política da cartilha ideológica se sobrepôe à política enquanto conversação e acomodação de diferentes perspectivas. Como canta Samuel Úria numa belíssima crítica à primeira, Repressão!/ Repressão!/ Grita-se à toa/ Qualquer causa é boa num refrão.
Enquanto uns realizam testes primários, outros demonstram ao mundo o valor da ausência da palavra. Enquanto uns discutem IVAs e restaurantes, outros redesenham mapas de continentes. Enquantos uns estão à janela, outros organizam respostas concretas a ameaças substantivas. Enquanto uns falam de traições, outros dão facadas. Enquanto uns estão focados em si, outros sabem que deixaram de ter importância. Enquanto uns angariam simpatizantes, outros inscrevem combatentes. Enquanto uns pensam em tachos, outros aumentam a pressão da panela. Enquanto uns dormem, outros estão acordados. Enquantos uns são o que são, outros nem isso conseguem ser.
Roger Scruton, Modern Manhood:
«But just as surely are the feminists wrong to believe that we are completely liberated from our biological natures and that the traditional sex roles emerged only from a social power struggle in which men were victorious and women enslaved. The traditional roles existed in order to humanize our genes and also to control them. The masculine and feminine were ideals, through which the animal was transfigured into the personal. Sexual morality was an attempt to transform a genetic need into a personal relation. It existed precisely to stop men from scattering their seed through the tribe, and to prevent women from accepting wealth and power, rather than love, as the signal for reproduction. It was the cooperative answer to a deep-seated desire, in both man and woman, for the "helpmeet" who will make life meaningful.
In other words, men and women are not merely biological organisms. They are also moral beings. Biology sets limits to our behavior but does not dictate it. The arena formed by our instincts merely defines the possibilities among which we must choose if we are to gain the respect, acceptance, and love of one another. Men and women have shaped themselves not merely for the purpose of reproduction but in order to bring dignity and kindness to the relations between them. To this end, they have been in the business of creating and re-creating the masculine and the feminine ever since they realized that the relations between the sexes must be established by negotiation and consent, rather than by force. The difference between traditional morality and modern feminism is that the first wishes to enhance and to humanize the difference between the sexes, while the second wishes to discount or even annihilate it. In that sense, feminism really is against nature.»
Albert Camus, A Queda:
«Acredite-me, as religiões do mundo enganam-se desde o momento em que pregam moral e fulminam mandamentos. Deus não é necessário para criar a culpabilidade nem para castigar. Para isso bastam os nossos semelhantes, ajudados por nós próprios. O senhor falava-me do Juízo Final. Permita-me que ria respeitosamente. Eu espero-o a pé firme: conheci o que há de pior, que é o juízo dos homens. (…) Vou dizer-lhe um grande segredo, meu caro. Não espere pelo Juízo Final. Realiza-se todos os dias.»
(imagem do ionline)
Elevando o senso comum à condição de ciência: «Em tempo de crise, as mulheres investem mais na beleza para caçar homens ricos, garante estudo norte-americano.»
Bertrand Russell, "Ideas that have harmed mankind": «Male domination has had some very unfortunate effects. It made the most intimate of human relations, that of marriage, one of master and slave, instead of one between equal partners. It made it unnecessary for a man to please a woman in order to acquire her as his wife, and thus confined the arts of courtship to irregular relations. By the seclusion which it forced upon respectable women it made them dull and uninteresting; the only women who could be interesting and adventurous were social outcasts. Owing to the dullness of respectable women, the most civilized men in the most civilized countries often became homosexual. Owing to the fact that there was no equality in marriage men became confirmed in domineering habits. All this has now more or less ended in civilized countries, but it will be a long time before either men or women learn to adapt their behaviour completely to the new state of affairs. Emancipation always has at first certain bad effects; it leaves former superiors sore and former inferiors self-assertive. But it is to be hoped that time will bring adjustment in this matter as in others.»
Para além dos efeitos nefastos do feminismo de pendor neo-marxista – o que mais visibilidade e expressão tem –, um dos grandes problemas das relações humanas na contemporaneidade é o facto de muitas mulheres pensarem que são a Samantha de "O Sexo e a Cidade", e de muitos homens serem realmente idiotas como alguns dos que aparecem na série. A natural dinâmica de grupo que leva à imitação, propagação e aceitação social destes tipos de comportamentos acaba por originar um certo vazio de individualidade, dissolvendo-se esta no grupo, acabando muitas pessoas por se tornarem fotocópias umas das outras e, portanto, realmente entediantes e desinteressantes como as mulheres respeitáveis de que Bertrand Russell falava. É a vitória da matéria sobre o espírito, e do efémero sobre o eterno.
Soren Kierkegaard passa 90% de In Vino Veritas em pleno orgasmo intelectual misógino, para no fim reconhecer a realidade, que por força das evidências sou obrigado a subscrever. Quer-me parecer que a misoginia de Kierkegaard, Wilde ou qualquer outro, diz mais da muito imperfeita natureza masculina do que da feminina:
«No princípio havia só um sexo; dizem os gregos que era o sexo masculino. Dotado de faculdades magníficas, era uma criatura admirável em que se reviam os deuses; os dons eram tão grandes que aconteceu aos deuses o mesmo que por vezes acontece aos poetas que gastaram todas as forças na criação de uma obra: tiveram inveja do homem. O pior é que tiveram receio dele; temeram que ele não estivesse disposto a aceitar de bom grado o jugo divino; tiveram medo., embora sem razão para isso, que o homem chegasse a abalar o céu. Haviam feito surgir uma força nova que lhes parecia estar a ser indomável. A inquietação e a perplexidade dominavam então no concílio dos deuses. Mostraram-se primeiro de uma generosidade pródiga ao criarem o homem; mas agora tinham de recorrer aos meios mais violentos para legítima defesa. Os deuses pensavam que o seu poderio estava em perigo, e que não podiam voltar atrás, como um poeta que renegue a sua obra. O homem já não podia ser dominado pela força, porque se o pudesse ser, os deuses teriam resolvido facilmente o problema; e era isso precisamente o que lhes causava desespero. Era preciso cativá-lo pela fraqueza, por um poder mais fraco e mais forte do que ele, capaz de o subjugar. Que poder espantoso e que poder contraditório não havia de ser! A necessidade também ensina os deuses a transcenderem os limites do engenho. Pensaram, meditaram, encontraram. A nova potência foi a mulher, maravilha da criação; e os deuses, ingénuos e contentes, mutuamente se felicitaram pela nova invenção. Que mais poderei eu dizer em louvor da mulher? A mulher foi tida por capaz de fazer o que parecia impossível aos deuses; além disso, a verdade é que desempenhou admiravelmente o seu papel; que maravilha não deve ser a mulher para conseguir os seus fins! Tal foi a astúcia dos deuses. A encantadora foi formada e dotada de uma natureza enganadora; mal encantou o homem, logo se transformou, enleando-o entre todas as dificuldades do mundo finito; era isso mesmo o que os deuses queriam. Que seria possível imaginar de mais fino, de mais atraente, de mais arrebatante, do que este subterfúgio dos deuses que querem salvaguardar um império, do que este processo para seduzir o homem? Tal é a realidade; a mulher é a sedução mais poderosa do céu e da terra. Comparado com ela, o homem é um ente muito imperfeito.»
Soren Kierkegaard, O Banquete ou In Vino Veritas:
«Confesso a verdade quando digo que a minha alma está isenta de inveja e cheia de gratidão para com Deus; antes quero ser homem pobre de qualidades, mas homem, do que mulher - grandeza imensurável, que encontra a sua felicidade na ilusão. Vale mais ser uma realidade, que ao menos possui uma significação precisa, do que ser uma abstracção precisa, do que ser uma abstracção susceptível de todas as interpretações. É, pois, bem verdade: graças à mulher é que a idealidade aparece na vida; que seria do homem, sem ela? Muitos chegaram a ser génios, heróis, e outros santos, graças às mulheres que amaram; mas nenhum homem chegou a ser génio por graça da mulher com quem casou; por essa, quando muito, consegue o marido ser conselheiro de Estado; nenhum homem chegou a ser herói pela mulher que conquistou, porque essa apenas conseguiu que ele chegasse a general; nenhum homem chegou a ser poeta inspirado pela companheira de seus dias, porque essa apenas conseguiu que ele fosse pai; nenhum homem chegou a ser santo pela mulher que lhe foi destinada, porque esse viveu e morreu celibatário. Os homens que chegaram a ser génios, heróis, poetas e santos cumpriram a sua missão inspirados pelas mulheres que nunca chegaram a ser deles. Se a idealidade da mulher fosse positivamente, e não negativamente, um factor de entusiasmo, inspiratriz seria a mulher à qual o homem, casando, se unisse para toda a vida. A realidade fala-nos, porém, outra linguagem. Quero dizer que a mulher desperta, sim, o homem para a idealidade, mas só o torna criador na relação negativa que mantém com ele. Compreendidas assim as coisas, poderá efectivamente dizer-se que a mulher é inspiradora, mas a afirmação directa não passa de um paralogismo em que só a mulher casada pode acreditar. Quem ouviu alguma vez dizer que uma mulher casada tivesse conseguido fazer do marido um poeta? A mulher inspira o homem, sim, mas durante o tempo em que for vivendo até a possuir. Tal é a verdade que está escondida na ilusão da poesia e da mulher. Que o homem não possua a mulher, isso é o que pode ser entendido de várias maneiras. Ou está ainda na luta para a conquista, e assim se disse que a donzela entusiasmou o amante a ponto de fazer dele um cavaleiro, mas nunca se ouviu dizer que um homem se tornasse valente por influência da mulher com quem casou. Ou está convencido de que nunca lhe será possível casar com ela, e assim se diz que a donzela entusiasmou e despertou a idealidade do amante que se manifestou capaz de cultivar os dons espirituais de que porventura era portador. Mas uma esposa, uma dona de casa, tem tantas coisas prosaicas com que se preocupar, que nunca desperta no marido a idealidade. Há ainda outro caso, em que o homem não possui a mulher porque persegue um ideal. Assim vai ele passando de amor para amor, o que é uma espécie de ser infeliz no amor; a idealidade da alma do amante está então no ardor da procura e da perseguição, e não nos amores fragmentários que não valem a soma das aventuras particulares.»
Um dia vou-me sentar à mesa a falar com a miúda que há meses troca olhares comigo na pastelaria onde tomo o café de manhã. Amanhã ainda não é o dia. Nem sei se ele virá, que o melhor é mantê-la na sua função simbólica de me colocar bem disposto logo pela manhã, sem que sequer troquemos uma palavra. Porque citando Kierkegaard, "Que a mulher seja capaz de falar, quero dizer verba facere, todos nós sabemos, e não precisamos de prova. Infelizmente, ela não goza de reflexão suficiente que a ponha ao abrigo da contradição que surge a curto prazo, digamos quando muito, ao fim de oito dias, pelo que o homem tem de intervir para lhe prestar auxílio lógico, para a restabelecer na ordem do pensamento, pelo que o homem tem de a contradizer. Acontece, pouco depois, que a confusão bate em cheio."
Soren Kierkegaard, O Banquete ou In Vino Veritas:
«Estais agora a ver, meus caros amigos as razões por que renunciei ao amor. As minhas razões são tudo para mim; o meu pensamento é tudo para mim. Se o amor é o mais delicioso de todos os prazeres, recuso-o; recuso-o sem pretender com isso ofender ou desdenhar alguém. Se o amor é a condição do maior benefício, perco a oportunidade de bem fazer, mas salvaguardo o meu pensamento. Não é que eu esteja cego para a beleza, não é que eu esteja surdo para as harmonias e as melodias. Não. O meu coração não é insensível ao cantar dos poetas que gosto de ler, a minha alma não é destituída de melancolia e não deixa de sonhar com as belas imagens do amor. A verdade é que não quero ser infiel ao meu pensamento, pois, se o fosse, o que lucraria com isso? Quanto a mim, não sinto felicidade quando não sinto o meu pensamento livre; nem quando tivesse de interromper os meus pensamentos para me ligar a uma mulher, para gozar as maiores delícias; porque a ideia é para mim o meu ser eterno, e, por isso, mais preciosa ainda do que um pai ou de que uma mãe, mais preciosa ainda do que uma esposa. Bem vejo que se algo deve ser sagrado, é o amor; que se a infidelidade é algures infame é no amor; que se alguma traição é ignóbil, é no amor; mas a minha alma é pura, nunca olhei mulher alguma que a cobiçasse; nunca andei como borboleta em inconstantes voos até que, cego ou empurrado pela vertigem, fosse cair na mais decisiva das situações. Se eu soubesse em que é que consiste o amável, saberia também com exactidão se estarei ou não isento de culpa por ter induzido alguém em tentação; mas como ignoro o que é o amável, posso apenas ter a convicção de que conscientemente, nunca tal fiz nem quis fazer. Suponde agora que eu tivesse capitulado, que me tivesse resolvido a rir ou que sucumbisse de medo, o que talvez fosse possível. Sim, eu não sou capaz de encontrar a via estreita pela qual os amantes tão facilmente seguem como se fosse larga, imperturbáveis em todas as vicissitudes como se tivessem estudado e aprofundado, no nosso tempo que examinou já, sem dúvida, todos estes problemas, e, portanto, compreende também este meu pensamento: não tem sentido agir segundo o imediato, para ter sentido é indispensável passar pela meditação, por conseguinte é preciso esgotar todos os modos possíveis de pensamento antes de passar aos actos. Mas, que dizia eu? Suponde que eu tivesse sucumbido. Não teria eu então, irremediavelmente, ofendido a minha bem amada com o meu riso, ou não teria eu, pela minha retirada, causado para sempre o desespero dela? Quanto à mulher, vejo bem que ela não pode chegar a tão alto grau de reflexão; aquela que julgasse cómico o amor (usurpando assim o privilégio dos deuses e dos homens; porque é ela, mulher, por natureza a tentação que os incita a tornarem-se ridículos) trairia por isso inquietadores conhecimentos prévios, e seria portanto a pessoa menos apta para me compreender; aquela que concebesse o meu receio teria por isso perdido a amabilidade que era o seu encanto, sem que por isso ficasse apta para compreender; de um ou de outro modo, a mulher seria aniquilada, o que eu não sou nem serei enquanto tiver o meu pensamento para a minha salvação.»
Se há coisa que pode ser gabada a Silvio Berlusconi é o facto de não esconder que gosta de mulheres. Antes que apareçam por aí os falsos moralistas do costume, importa sublinhar que este subtil olhar que deitou à PM dinamarquesa é algo que todos os homens fazem todos os dias, dezenas de vezes por dia. É da natureza masculina, vem inscrito no nosso código genético, não há nada a fazer. Inveja terá Merkel por ele não lhe deitar olhares semelhantes.
Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser:
«Os homens que têm a mania das mulheres dividem-se facilmente em duas categorias. Uns procuram em todas as mulheres a ideia que eles próprios têm da mulher tal como ela lhes aparece em sonhos, o que é algo de subjectivo e sempre igual. Aos outros, move-os o desejo de se apoderarem da infinita diversidade do mundo feminino objectivo.
A obsessão dos primeiros é uma obsessão lírica; o que procuram nas mulheres não é senão eles próprios, não é senão o seu próprio ideal, mas, ao fim e ao cabo, apanham sempre uma grande desilusão, porque, como sabemos, o ideal é precisamente o que nunca se encontra. Como a desilusão que os fez andas de mulher em mulher dá, ao mesmo tempo, uma espécie de desculpa melodramática à sua inconstância, não poucos corações sensíveis acham comovente a sua perseverante poligamia.
A outra obsessão é uma obsessão épica e as mulheres não vêem nela nada de comovente: como o homem não projecta nas mulheres um ideal subjectivo, tudo tem interesse e nada pode desiludi-lo. E esta impossibilidade de desilusão encerra em si algo de escandaloso. Aos olhos do mundo, a obsessão do femeeiro épico não tem remissão (porque não é resgatada pela ilusão).»
A Isabel Moreira escreveu um post tão curto quanto assertivo:
Quando os homens de direita odeiam as mulheres de esquerda, essas ateias histéricas, malucas, amigas dos paneleiros, odeiam mesmo essas mulheres ou o desejo doentio que têm por elas?
É um post que é todo ele um estereótipo, é verdade. É uma generalização ambiciosa e arriscada, também é verdade. Mas lá que tem um fundo de verdade, também me parece ser razoável. Digo-o por experiência pessoal. De resto, na mesma linha de generalização, podem-se fazer variações do mesmo:
Os homens de esquerda, jacobinos cheios de idealismos bacocos e amanhãs que cantam, odeiam as mulheres de direita, betinhas ou beatas devotas ou o desejo doentio que têm por elas, ou seja, por lhes estragar a pose toda e os valores que eles detestam?
As mulheres de esquerda, ateias ou não, feministas ou não, histéricas ou não, amigas dos gays ou não, seja lá o que for, odeiam mesmo os homens de direita ou o desejo doentio que têm por eles, ou seja, por dominá-los e subjugar os seus valores que elas vêem como conservadores, machistas e/ou patriarcais?
E por último, a minha variação favorita, as mulheres de direita odeiam mesmo os homens de esquerda ou o desejo doentio que têm de lhes dar um banho, cortar-lhes o cabelo, fazer-lhes a barba e vesti-los decentemente?
Tenho para mim que só as instituições em acentuada degenerescência se agarram a um suposto passado glorioso para, através de processos de socialização dos seus membros, incutirem nestes a ideia de um alegado elitismo ou supremacia sobre outras congéneres. Quem aos sete ventos clama incessantemente determinados princípios e valores é, normalmente, quem mais os viola. E ou o sabe e fá-lo deliberadamente, julgando que consegue enganar todos os outros, ou acredita convictamente no que diz e torna-se, como referia Schumpeter, fatal à própria instituição.
E quando diariamente se assiste à dormência dos próprios membros da instituição, muitos deles calados porque não são livres, porque são servos e dependentes (no seguimento do que me vai ocupar por estes dias), outros acreditando nos amanhãs que cantam das personalizações do poder, o que haverá a fazer contra o agrilhoar das verdadeiras tradições fundacionais dessa instituição?
Talvez porque, também eu, não sou verdadeiramente livre para exprimir e concretizar em termos práticos o que acima escrevo, vai grassando uma revolta interna que consome e desgasta. Este país não é, decididamente, para quem quer dedicar-se à academia ou à política na sua acepção mais nobre. E muito menos para homens livres. Porque se como dizia Pessoa, "O Estado está acima do cidadão, mas o Homem está acima do Estado", então, de mim digo e digo-o a todos aqueles que sabem do que falo: já não somos Homens. Somos ratos liderados por ratazanas.
Confesso que por estes dias pouco me dedico a ler blogs. Quer seja porque não tenho paciência para os infidáveis chorrilhos de lugares comuns tão característicos dos períodos eleitorais, quer porque tenho mesmo demasiadas ocupações por agora. Mas se há blog que faz as minhas delícias e sem o qual não passo é mesmo o Mátria Minha, ora vejam:
Eugénia de Vasconcellos, who else?
... eu vou ali lançar-me da Ponte 25 de Abril, porque realmente eu não consigo compreender as mulheres:
Isto não pode ser verdade, só eu sozinho seria capaz de escrever um compêndio ou uma enciclopédia sobre como praticar o que a Sofia refere. E das vezes que o fiz nunca deu resultado. Se há algo que aprendi, é que as mulheres preferem os que não o fazem. E já agora, a quem achar piada, leiam sobre a Teoria da Escada. É algo muito realista, porventura algo machista, mas que tem muito fundo de verdade. Oh se tem...
Tendo estudado muito brevemente a aplicação de alguns modelos da teoria dos jogos à política e relações internacionais, fiquei agora a conhecer esta aplicação realmente inovadora (nota: paquera significa cortejo):
Teoria dos jogos explica por que paqueras são demoradas
Fêmeas usam o tempo para isolar os machos 'ruins', já que os 'bons' se dispõem a esperar, diz estudo
(imagem picada daqui)
SÃO PAULO - Cientistas criaram um modelo matemático do jogo de acasalamento que ajuda a explicar por que o cortejo é, frequentemente, um processo demorado. O estudo, de pesquisadores do University College London (UCL), Universidade de Warwick e da London School of Economics and Political Science (LSE) mostra que uma paquera prolongada permite que o macho mostre sua adequação à fêmea, que a fêmea discrimine os machos inadequados.
Química do amor logo não terá mais segredos, diz cientista
Gene condiciona comportamento social em macacos e humanos
A pesquisa, publicada na revista especializada Journal of Theoretical Biology, usa teoria dos jogos para analisar como machos e fêmeas se comportam estrategicamente no jogo do acasalamento. O modelo matemático considera um macho e uma fêmea em um encontro de cortejo, e o jogo termina quando um dos dois desiste ou a fêmea aceita acasalar. O modelo pressupõe que o macho é "bom" ou "ruim", do ponto de vista da fêmea, e que ela está interessada em aceitar o "bom" e rejeitar o "ruim". Já o macho ganha pontos se conseguir acasalar com qualquer fêmea, mas recebe mais se for "bom".
O estudo buscou comportamentos de equilíbrio estável, no qual as fêmeas se o melhor possível contra o comportamento masculino e os machos, o melhor possível contra o comportamento feminino. Ele mostrou que uma paquera demorada pode acontecer, com um macho "bom" dispondo-se a fazer a corte por um período mais prolongado que um macho "ruim", e com a fêmea adiando o acasalamento.
Desse modo, a duração da paquera dá à fêmea informação sobre a qualidade do macho e, ao adiar o acasalamento, ela ganha a oportunidade de obter e usar essa informação.
O matemático Robert Seymour, do UCL, diz que "ao adiar o acasalamento, a fêmea é capaz de reduzir o risco de ficar com um macho ruim". Ela lembra que, na espécie humana, o cortejo pode envolver um grande número de jantares, ida a espetáculos e outros programas, que pode durar meses ou anos.
"Um dos parceiros, frequentemente o macho, arca com a maior parte do custo financeiro, mas ambos pagam um custo em tempo, que poderia estar sendo usado de forma mais produtiva", explica. Por que as pessoas, e outros animais, não aceleram as coisas? A resposta parece ser o fato de que o cortejo longo ajuda a fêmea a obter informação sobre o macho".
O professor Peter Sozou, outro participante do estudo, diz que a solução encontrada pela fêmea é um "ajuste" entre o risco de acasalar com um macho "ruim" e o custo do tempo perdido durante o cortejo. "O problema estratégico da fêmea é como discriminar e isolar os machos ruins", afirma.