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A extraordinarização do banal

por John Wolf, em 25.08.17

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O que escrevo integrar-se-á também na categoria do efémero. Assistimos a um processo de extraordinarização do banal, mas com uma nuance curiosa. Não são os outros que convertem a entidades sagradas os afazeres de uns e de outros - são os próprios. Assistimos, num curto espaço de tempo, ao processo de transformação do quotidiano em sublime, como se houvesse valor acrescido na self-distinção, na auto-atribuição de um papel de relevo na transformação das nossas sociedades - como se a secretária de Estado fosse a guru dos oprimidos do género. Se a Graça Fonseca continuasse com a sua vidinha teria sido melhor. Todos somos discriminados e maltratados, por uma ou outra razão. Uns por serem baixos e gordos, outros por não fazerem parte do sistema de trânsito partidário e outros por serem lésbicas. Embora a secretária de Estado julgue que serve uma causa incontornável, acaba por praticar uma espécie de engenharia social de algibeira. E há mais. Aproveita o cargo, a visibilidade e o amiguismo da Câncio para definir, em nome de uma imensa comunidade de desconhecidos, a defesa de uma categoria identitária que não a reconhece como sendo lider. Se nada fizesse e continuasse a secretariar, a coisa seria normal e levava o seu caminho. No entanto, coloca-se outra possibilidade. Será que foi humilhada ou gozada por colegas de geringonça? Esta tese não me parece assim tão rebuscada. De outro modo, o salto que faz da cartola apenas cria ruído em relação a um não tema. Pelos vistos não tem a maturidade suficiente para se aceitar e continuar a ser quem é. E há mais. Será que pôs em risco a condição estável de muitos que se acomodaram ao armário? Por que razão tem de ser assim? Volto à tese inicial. Se foi assediada por algum membro ou membra do governo deve apresentar queixa à APAV. E pelos vistos Marcelo também anda a inventar passes de magia. O que é isto? Nada.

publicado às 15:50

A AR no domínio do absurdo

por Ana Rodrigues Bidarra, em 17.01.14

 

 

 

 

Acabou de ser aprovada, na nossa câmara dos representantes, a proposta de referendo sobre a co-adopção e adopção por casais do mesmo sexo.

 

Confesso que, até há pouco, quis acreditar que isto não passava de uma brincadeira de mau gosto, mas agora o efeito perverso da intromissão da JSD no seio do Parlamento começa a sentir-se.

 

É de uma má-fé incrível que, quase um ano após a aprovação da proposta do PS para a coadopção por casais ou unidos de facto do mesmo sexo, com 99 votos a favor, 94 contra e 9 abstenções, se pretenda unir esta vitória (que não é apenas do PS mas sim das crianças e dos coadoptantes, que teriam um quadro jurídico adequado às suas especificidades) a uma questão que se apresenta distinta e que, ademais, já foi chumbada duas vezes pelo Parlamento, e submetê-las, como se de uma questão una se tratasse, a referendo.

 

Só mesmo uma pobre massa encefálica como a de Hugo Soares para propor isto.

 

Pior, só mesmo o PSD, impermeável ao voto de muitos dos seus deputados (veja-se a demissão de Teresa Leal Coelho, que iria votar contra a proposta e não o fez por motivos ligados não à sua convicção mas à “lealdade parlamentar”, das funções de vice-presidente da bancada), a impor uma disciplina de voto sob a batuta da JSD. Disciplina essa altamente contestada – note-se que vários dos deputados, nomeadamente, Mónica Ferro, Miguel Frasquilho, Mota Amaral, Cristóvão Norte, Paula Cardoso, Ana Oliveira, Ângela Guerra, Sérgio Azevedo e Conceição Caldeira, decidiram apresentar declarações de voto. 

 

A conformação de um voto de forma a evitar a deslealdade parlamentar é um exercício de subversão daquilo que é a efectiva representatividade. Na realidade, o que se aprovou hoje na AR transcende quaisquer querelas ideológicas, teoremas conflituantes e métodos contrapostos. Hoje foi um dia de vergonha ao nível da representação, hoje foi um dia em que se deixaram inúmeras famílias reais, denominadas não convencionais, nas mãos de uma decisão popular, pouco esclarecida e, arrisco dizer, algo preconceituosa.

 

Num Estado de Direito, no plano do dever-ser, seria inconveniente e inaceitável a corrupção das normas legais que brotam dos regulamentos, dos estatutos, das leis orgânicas, enfim, de toda a panóplia de fontes legais que servem o interesse público e cujo teor é geral e abstracto. Isto vocês sabem. Eles não. Esperemos que o TC aprecie devidamente esta borga de mau gosto.

 

Ora, na lei orgânica do referendo é restringida a possibilidade de serem referendadas duas matérias distintas, de uma única vez. Cumpre acrescentar ainda que apenas uma destas matérias, a da coadopção, tem um processo legislativo em curso, uma vez que a relativa à adopção foi chumbada duas vezes. A proposta aprovada submete a referendo duas matérias que, não só são distintas, como não são, pela sua natureza, referendáveis. Não são, lamento. Trata-se, como diz Isabel Moreira (God forbid, estou mesmo a concordar com ela. Um dia teria de ser), de uma questão que envolve direitos fundamentais e que põe em causa uma série de instituições que zelam pelos mesmos. Não é relevante, para o caso, que o direito à coadopção seja um direito de minorias (adoptada a perspectiva dos casais homossexuais) ou respeite ao superior interesse das crianças. O que importa aqui é dar abrigo à realidade que vige acima das nossas crenças. 

 

Hoje não se respeitaram os trabalhos que decorreram na especialidade pelos deputados do CDS, do PS, do PCP, do BE e do PSD. Hoje a AR fez tabula rasa dos trabalhos desenvolvidos no passado ano de modo a elucidar o voto dos deputados. Hoje foi olvidada a votação na generalidade que aprovou, a 17 de Maio de 2013, a possibilidade de coadopção por parte de casais do mesmo sexo. Hoje, um dia em que tanto se falou de lealdade, esta não foi observada.

 

O que aconteceu hoje foi uma demissão, por parte da AR, da discussão de um tema complexo que tem repercussões emocionais e práticas na vida real de muitos cidadãos.

 

Isto não é um exercício são de democracia, isto não é representar, isto não é nada.

 

Hoje foi um dia de vergonha para a democracia representativa.

publicado às 14:52

Pensar a sério dá muito trabalho

por Samuel de Paiva Pires, em 17.05.13

Um texto ilustrativo do modo de pensar ignorante e arrogante de certos progressistas. Atente-se particularmente no desfecho com um tom de ameaça velada e na auto-satisfação por se fazer parte do "lado certo da História." Supimpa!

 

O erro dos progressistas é estarem aprisionados pelo futuro, desconhecido, enquanto acusam os conservadores de serem reféns do passado, quando é no passado que encontramos os fundamentos da civilização e os elementos que permitem explicar o caminho que temos feito até aqui. Ser progressista é, de facto, muito mais fácil, e não admira que seja o tipo de pensamento dominante na civilização do espectáculo, do efémero e do superficial em que vivemos.

 

Afinal, como salientou Chesterton, «O futuro é uma parede em branco, em que qualquer homem pode escrever o seu nome do tamanho que lhe aprouver; o passado é que já vem preenchido com gatafunhos ilegíveis, como Platão, Isaías, Shakespeare, Miguel Ângelo, Napoleão. Não me é custoso estreitar o futuro à minha dimensão; já o passado tem mesmo de ter a amplitude e a turbulência da humanidade. E a conclusão desta atitude moderna é, no fundo, a seguinte: os homens inventaram novos ideais porque não se atrevem a acometer os ideais antigos. Olham para diante com entusiasmo porque têm receio de olhar para trás. (...) Falam-nos hoje muito do valor da audácia com que um qualquer rebelde ataca uma tirania antiga ou uma superstição antiquada. Mas atacar coisas antigas e antiquadas não é grande prova de coragem, como não é prova de coragem atacar uma avó. O homem verdadeiramente corajoso é aquele que desafia as tiranias jovens como a manhã e as superstições frescas como as primeiras flores. O verdadeiro livre-pensador é aquele cujo intelecto estão tão liberto do futuro como do passado. Aquele que se preocupa tão pouco com o que virá a ser como com o que foi; aquele que apenas se preocupa com o que deve ser.»

 

Leitura complementar: A respeito da co-adopção por homossexuais; Resumo de uma semana horribilis; Mais uma fronteira; Co-newspeak; Teoria da representação; Causas invertidas; Afinal, faz ou não sentido que a direita seja liberal e conservadora?

publicado às 20:52

Resumo de uma semana horribilis

por João Pinto Bastos, em 17.05.13

1) O Benfica perdeu em todas as frentes. Deixou escapar o Porto do soba desbocado que desmanda há mais de 30 anos um clube estalinizado, e claudicou frente ao exército de rublos instalado em Londres. A aura jesuítica esmoreceu, mas o fervor de quem acredita na vitória final mantém-se. Afinal de contas, o campeonato só termina nesta semana. E se há algo que caracteriza o futebol é a constância do milagre. 

 

2) O CDS deu o dito por não dito. O diz-que-disse já não funciona. Ou sim ou sopas. Quando se diz que "O CDS aceitou que, excepcionalmente, pudesse vir a ser considerada a introdução de uma contribuição de sustentabilidade sobre as pensões" é certo que a credibilidade arduamente granjeada ao longo de um penoso e dificílimo exercício de governação austerista tenderá a perder-se mais facilmente. O CDS afirmou pela boca do seu presidente, Dr. Paulo Portas, que não aceitava a nova contribuição dos reformados, porém, alguns dias depois, ao arrepio do que tinha sido afirmado e garantido, o partido protagonizou um volte-face pouco abonatório. Sejamos claros: na governação não há espaço para meias-tintas: ou sim ou não. Agora, apostar continuamente no nim, enquanto arma de arremesso político, só levará a que os eleitores percam a paciência, e o partido seja dizimado em futuros actos eleitorais. Parem, escutem e olhem.


3) A co-adopção de crianças por casais homossexuais. Sim, o nosso Parlamento aprovou esta aberração legislativa. Escuso sequer de mencionar e enfatizar os efeitos altamente destrutivos desta bomba de hidrogénio social. A matriz identitária do país foi, hoje, mais uma vez severamente abalada, sem que ninguém se tenha insurgido contra este estado de coisas. Já o disse noutros fóruns e volto a repetir neste blogue o seguinte: respeito a orientação sexual de cada um, mas, por favor, não destruam com a vossa sanha pós-moderninha, prenhe de ódio e de complexos pseudo-freudianos, tradições seculares que demoraram anos a serem buriladas. Faz falta um conservadorismo à altura deste descambar do Ocidente traumatizado por homúnculos que vivem do e para o presente sem perspectivas. Triste mundo. Triste gente.

publicado às 16:00

A respeito da co-adopção por homossexuais

por Samuel de Paiva Pires, em 17.05.13

Se falarmos no plano das ideias, num plano meramente abstracto, o meu conservadorismo impede-me de aceitar o que hoje foi aprovado no Parlamento, pelo que me parece salutar indicar um importante artigo de Abel Matos Santos onde é possível encontrar vários argumentos precisamente neste sentido - e que me fazem até suspeitar que a co-adopção por homossexuais será, talvez daqui a umas décadas, anulada. Por outro lado, o meu realismo leva-me a compreender a opção de Michael Seufert: o que é facto é que já existem crianças adoptadas por um único cônjuge homossexual e que vivem com outra pessoa homossexual, "o que levanta problemas reais no caso da morte desse cônjuge."

 

Porque na prática a teoria é outra, o que é nem sempre é conforme ao que deve ser, mas entre as posições tomadas nas redes sociais por várias pessoas, com conservadores a lamentarem o sucedido - e bem, particularmente no plano valorativo - e progressistas armados em iluminados muy evoluídos, como se soubessem alguma coisa sobre o conceito de evolução - ou perceberiam como este se confunde em larga medida com o de tradição e não se compadece com putativas revoluções de jaez racionalista -, prefiro o centro excêntrico patente no parágrafo anterior, ainda que obviamente penda para a posição conservadora e considere a progressista de uma infantilidade e ignorância patéticas que só podiam ter sido concebidas numa sociedade pós-moderna refém do politicamente correcto e do relativismo.

 

Talvez valha a pena lembrar que o estado de coisas a que chegámos resulta da combinação da emergência do conceito de justiça social com o positivismo legalista que, como Hayek e Oakeshott assinalaram, produziu a política da barganha baseada nas reivindicações em relação a direitos. Segundo John Gray, a acepção oakeshottiana da "política como uma conversação, em que a colisão de opiniões é moderada e acomodada, em que o que é procurado não é a verdade mas a paz, foi quase totalmente perdida, e suplantada por um paradigma legalista em que todas as reivindicações políticas e conflitos são modeladas no jargão dos direitos. Neste contexto, não só o discurso político civilizado se encontra virtualmente extinto, como as instituições legais para o qual é transplantado estão corrompidas. Os tribunais tornam-se arenas para reivindicações políticas e interesses, cada uma das quais desordenada e resistente ao compromisso, e a vida política noutros locais torna-se pouco mais que barganha e troca de favores."1 Nas democracias modernas, o estado de direito, ou seja, a lei enquanto princípio geral e abstracto, deixou de ser um limite à acção governativa, que passou a ser explorada pelos grupos de interesses, que assim puderam prosseguir os seus objectivos particulares à custa de terceiros, muitas vezes prejudicando a sociedade como um todo, mesmo que os indivíduos não o percebam ou até apoiem estes grupos de interesses, simplesmente porque estes recorrem à camuflagem dos seus intentos sob a capa da justiça social. Desta forma, a modernidade gerou um enquadramento que é altamente destrutivo das tradições intelectuais e morais europeias, que através do racionalismo construtivista e do relativismo produz morais inviáveis, ou seja, sistemas de pensamento moral incapazes de sustentar qualquer ordem social estável, que através de teorizações sociológicas contemporâneas e da corrupção da arquitectura e das artes (como Roger Scruton e Gray demonstram) criam um clima cultural que é profundamente hostil à tradição e também à sua própria existência. Confrontamo-nos, assim, com uma cultura que tem ódio à sua própria identidade, tornando-se, em larga medida, efémera e provisória.2

 

O mesmo é dizer que é mais do que preocupante assistir à tomada de decisões  que parecem acelerar a dissolução das nações europeias, não só culturalmente mas também biologicamente. Como costumam dizer os conservadores, as coisas são o que são.



1 - John Gray, "Oakeshott as Liberal", in John Gray, Gray’s Anatomy, Londres, Penguin Books, 2009, p. 80.

2 - John Gray, "Hayek as a Conservative", in John Gray, Gray’s Anatomy, op. cit., p. 131.

publicado às 13:35

Revelações Divinas do Natal de 2009

por Samuel de Paiva Pires, em 18.12.09

Paulo Cardoso e Samuel de Paiva Pires são bafejados pelo Divino, em uma fantástica Revelação, num Campo Pequeno perto de si. Não recomendável a pessoas susceptíveis. Não digam que não avisámos. 

 

 

publicado às 23:45






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