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Semedo tem razão. O que fizeram às sementeiras? António Costa deve explicações ao povo e aos lavradores da cidade. Não acho graça nenhuma que tenham destruído a horta comunitária. O acto exprime o estado de desenvolvimento político do edil. Os dirigentes municipais demonstram que vivem na idade da pedra. O minifúndio urbano representa a resposta sensata aos excessos do urbanismo, ao avanço desmesurado do betão sobre a base agrária original. A paisagem rural precede a cidade, mas mais importante do que essa dimensão histórica ou arqueológica, será a resposta que a população encontra para suprir necessidades alimentares. Não estão a trabalhar para aquecer. Estão a plantar couves e batatas. Estão a homenagear a alface. E fazem-no alegremente, a cantar. A reforma agrária que lançou pânico nos latifúndios nos anos 70 parece ter sobrevivido e se mutado geneticamente para desbastar esta iniciativa que nem sequer aconteceu na floresta de Monsanto, e que nem sequer envolveu a empresa de transgénicos que também vai pelo nome de Monsanto. Ainda por cima a empresa agrícola era, ao que parece, uma multinacional. Ouvi falar na detenção de uma agricultora francesa e outro proveniente da Turquia. A polícia municipal que efectuou as detenções provinha de que ramo? Era polícia agrícola ou polícia dos costumes? Mesmo assumindo que havia questões regulamentares relacionadas com licenciamentos de hortas urbanas, o espírito empreendedor e integrativo da batata na cidade foi assaltado. Não havia necessidade de agredir a fruta e a nabiça. No contexto da crise seria expectável que um quadro favorável fosse estabelecido para autorizar talhões de cultivo um pouco por toda a cidade. Isso aconteceu um pouco por toda a Europa no contexto da miséria resultante da segunda grande guerra. Mas eu nem peço tanto. A praça do Império tem terreno? É rústico ou urbano? A alameda da cidade universitária está disponível? Então, faça-se uso da terra fértil e ponham os académicos a dar à pá, à enxada, em vez de encherem o peito com presunção. Não tinha sido Cavaco a afirmar que era um especialista, que sabia tudo sobre plantar árvores e sobre como arrancar as vinhas? Portugal não precisa de ser a Holanda nem a Noruega, mas ao menos deveria respeitar a sua matriz cultural. Lisboa foi sempre uma capital provinciana. Pelos vistos, deve haver quem não aprecie o regresso às origens humildes, de trabalho de sol a sol, na Horta do Monte ou noutro qualquer quintal da capital. O cooperativismo não é um exclusivo da Esquerda (Semedo, esta é para ti). A colaboração humana positiva floresce com muito pouco adubo, longe da política e dos pesticídas. Há quem se vá servir disto como espantalho autárquico, mas não vamos deixar. Não passa de um rebento.