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Em Lourenço Marques, durante a I Guerra Mundial, o meu bisavô (2ª fila, o quarto a contar da direita para a esquerda, com bigodes retorcidos "à Kaiser") acompanhado por militares portugueses e britânicos
Querem uma verdadeira e bem mais dolorosa que o recente negócio do ingresso de uma pequena parte do Golfo da Guiné na CPLP? Não se trata de qualquer parlapatonice a comentar na TV a propósito de quebra de protocolo, ou de amuos salva-faces.
Aqui está a esmagadora humilhação, podendo ser acrescentada a outras que nos seriam impostas sessenta anos depois.
Tinha feito uma promessa, de joelhos e tudo, inspirado pela doutrina de Belém, que não dedicaria uma linha sequer ao relações públicas Luís Marques Mendes, mas ao virar a página de qualquer matutino digital, dou de caras com os últimos desabafos do conselheiro de Estado. Um indivíduo imbuído de um forte sentido de mexerico nacional. Deixei de escutar as suas alegadas mensagens oraculares, para me centrar em questões relacionadas com a linguagem empregue - a semântica da semana. Quando o Marques Mendes traz para a arena do léxico político o verbo humilhar, parece que estamos a lidar com um arrufo de uma Barbie. Que uma boneca rival entornou propositadamente um cocktail sobre o seu vestido apenas para a envergonhar em público, à frente do Ken e tudo. Desde quando é que a humilhação funciona enquanto código político, ou enquanto uma pequena moção de censura, de tamanho reduzido, liliputano? E depois há esta maravilha, esta pérola: "a solidariedade dentro do governo não funcionou". Sinceramente, penso que o Luís Marques Mendes está muito bem como porta-voz do surrealismo político que retrata Portugal. Se são estas miudezas que levam a lume para explicar uma tragédia nacional, este, e os demais conselheiros, estão confortáveis com a tragédia nacional. Estão-se nas tintas para o que o bufo de Estado e Governo tem para dizer. Enquanto esta novela de idiotas acontece, estamos a ser vítimas de bullying, de assédio psicológico. Somos nós que estamos a ser humilhados pelas palavras incertas que estão a ser proferidas e pelas decisões políticas que estão a ser tomadas. O Marques Mendes é um tonto inconsciente, parente próximo do Presidente da República. Pisam ambos, e sem pudor, tabus, como se fossem tábuas de engomar. A Nossa Senhora, e a humilhação, fazem parte do mesmo jargão de sofrimento que deve apenas residir no espírito toldado dos Portugueses. Esse território de sentimentos, é um refúgio sagrado, e não pode ser arrastado, com toda a sua carga simbólica, para o confessionário obsceno do mediatismo de ocasião. A seguir à humilhação de Marques Mendes o que teremos? A ciumeira de Seguro?