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Curta mas relevante, a conferência de imprensa de Pedro Passos Coelho e Mariano Rajoy na Cimeira Luso-Espanhola (que os idiotas da televisão estatal insistem em chamar de "ibérica", precisamente o termo que a diplomacia portuguesa quer evitar). Esta cimeira, suposta realizar-se anualmente, não se realizou nos últimos anos pela simples razão que o governo de Zapatero não queria tirar fotografias ao lado de Sócrates e sus muchachos. Mas esta cimeira é diferente pelo momento de crise económica que afecta Espanha e de relações de poder dentro na União Europeia. Não por acaso foi agendada para hoje, "Dia da Europa", desvalorizando a "efeméride". A Espanha de Rajoy não aceita que situação económica seja usada para diminuir o seu prestígio e a sua posição como potência emergente e deixou isso claro quando disse, de peito aberto, que não iria cumprir a meta para o déficit público.
Nos discursos, ficou evidente a diferença entre os governos: entre os que sabem o que é governar, e os outros que acham que governar é anunciar medidas avulsas e, de quando em vez, dar uma explicação sobre o que estão a fazer.
Passos Coelho discursou para português (e, com alguma sorte, espanhol) ouvir enumerando as medidas acordadas entre ambos os governos para cooperação nisto, entendimento naquilo, abordagem comum para aqui e para ali.
Já Mariano Rajoy falou para ser ouvido na Europa, e sobretudo em Paris e Berlim, sobre a estratégia para combater a crise económica a nível continental. Sem condescendência para com o tradutor simultâneo, falou depressa e foi rapidamente ao cerne da questão: Espanha rejeita por completo a anti-austeridade defendida por François Hollande. Rajoy defende para a Europa a mesma estratégia que aplica em casa e que se baseia em três pilares: primeiro, austeridade (não gastar aquilo que não se tem) e controlo do déficit; segundo, sustentabilidade da dívida; e terceiro, crescimento por via de reformas estruturais, dinamizando o mercado interno.
Passos Coelho, nitidamente subalternizado pelo tema, pareceu ter sido apanhado de surpresa pelo alcance do discurso (o que não é suposto acontecer), com semblante de quem estava claramente «out of his depth»: os politicos portugueses não estão habituados a grande política, que é um campeonato que só conhecem pela televisão.
Não se esquecendo que estava em Portugal, Rajoy disse que a cimeira luso-espanhola servia para relançar as relações entre os dois países (depreendendo-se que tenham passado por um mau momento), referiu-se à importância de ambos os mercados como destino de exportações em ambos os sentidos, e das vantagens da cooperação e entre-ajuda. Pouco mais se referiu a Portugal em concreto e com relevância, não sem deixar de lembrar que - tal como a Grécia - o país foi intervencionado.
Passos Coelho correspondeu com um auto-elogio, na forma de um elogio aos esforços do novo governo de Madrid para restaurar a confiança dos mercados nas finanças espanholas, e nas corajosas reformas que está empreender.
É uma inevitabilidade que nas cimeiras luso-espanholas Portugal apareça subalternizado, e para tal basta a diferença de mentalidade e de postura entre os políticos dos dois lados. Não estamos propriamente a falar de Franco e de Salazar, que jogavam no mesmo campeonato e apareciam em pé de igualdade. No geral, os políticos espanhóis interiorizaram o projecto nacional de fazer Espanha voltar a ser uma das grandes potências europeias e uma com projecção mundial, nomeadamente no seu espaço de influência cultural. É algo que vem desde a derrota na guerra com os Estados Unidos, em 1898, altura quem que a sociedade espanhola sentiu que o país tinha batido no fundo e que tinha que recuperar da decadência para ocupar o seu lugar de direito na hierarquia internacional. Um século depois, após atravessar crises políticas e uma guerra civil que a deixou em ruínas, a Espanha conseguiu alcançar muito do pretendido e hoje reclama um lugar no G-8. Por isso, não aceita agora que a crise económica a obrigue a retroceder nesse processo, muito menos por diktat da Alemanha e de França.
Do lado português, a diferença de mentalidade é obviamente abissal e escusado será desenvolver o tema. Na cimeira luso-espanhola de 1992, Cavaco Silva foi ao ponto de obsequiar Felipe Gonzalez com a promessa que no ensino português o programa de História iria ser revisto de forma a ser mais simpático para com Espanha. Por exemplo, passaria a ensinar-se que a Batalha de Aljubarrota tinha sido, não a monumental derrota castelhana que foi, mas antes um empate e um acidente no bom relacionamento entre os dois povos - honra seja feita ao jornal Expresso, o único que na altura reparou nesta questão. Felizmente que muito do que é assinado nas cimeiras não é cumprido.
À diplomacia espanhola nunca interessa que Portugal apareça na cena internacional. A menos que queiram falar com os europeus maiores, e para isso os espanhóis recorrem ao escadote português, sempre disponível e honrado por tão nobre tarefa. Por isso, esta cimeira "ibérica" foi tão oportuna para Madrid.
Politicamente incorrectíssimo e importante para se perceber alguma da História contemporânea de Portugal. E é de aproveitar enquanto se publica. Da Oficina do Livro / Leya.
Ainda sobre a polícia espanhola nas ruas de Lisboa no fim de semana passado, posso esclarecer que não é a primeira vez que isto acontece. Em 1997, numa bela manhã de Sábado, vinha eu de autocarro na Rua Braancamp quando à entrada do Marquês de Pombal está uma patrulha da Guarda Civil a parar o trânsito, com o seu Renault Laguna verde e branco atravessado uns metros à frente, próximo da estátua. Era a largada da Volta a Espanha em bicicleta que nesse ano partia de Lisboa. Subindo a Avenida da Liberdade e depois virando para a Fontes Pereira de Melo passava o pelotão, com trios de motos da Guardia Civil abrindo e fechando o cortejo. Do outro lado do Marquês, na curva para a Duque de Loulé estavam agentes da PSP a cortar o trânsito, mas na Fontes Pereira de Melo lá estava outro carro da Guardia Civil. Sem surpresas, as pessoas indigniram-se a começar pelo motorista da Carris: «Onde isto já chegou! Ser parado no Marquês de Pombal pela polícia espanhola!»
"Está na hora de unir estes países, visto que as identidades culturais e linguísticas estão muito definidas", diz esta comensal habituée do regime/Esquema.
Mas quem é esta entradota "photoshopizada" que passa a sua vidinha fora de Portugal, para nos vir impingir algo que apenas beneficiará uma escassa minoria de oxiúros? É inesgotável, a fome que esta gente tem de protagonismo e especialmente, de benesses prodigalizadas pelo erário público daquem e dalem fronteira(s). Um grande esforço financeiro deve andar a ser feito por Madrid, para numa época tão difícil para a própria manutenção da unidade espanhola, engordar "térmitas" para uma empresa desta monta e com nula possibilidade de êxito em Portugal.
Quando o parasitismo se torna desbragado, nada há a temer. Ridícula, esta performance da pequena actriz. Enfim... merdeirices!
Definitivamente, o TGV entra no esquema política-obras públicas-futebol. Só não vê, quem não quer e resta-nos esperar pelo apuramento da verdade, quanto ao caso dos subornos na FIFA. Livravam-nos de mais um problema. Começamos a desconfiar deste súbito interesse espanhol pela cadavérica centenária.