Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
António José Seguro parece não entender que o mundo encontra-se em processo de transformação profundo. Os púlpitos, mesmo que espalhados por dezenas e dezenas de palcos, não correspondem ao exercício transversal que a democracia parece exigir. São pedestais para vozes da casa, socialistas do norte, desnorte ou sul do país. São caixões de ideias colocados na vertical para tentar levantar os olhos de eleitores semi-mortos pelos sucessivos enganos a que foram sujeitos. Este partido, e os demais, deveriam já ter entendido a importância dos movimentos de rua que deram a voz a defensores de equidade e justiça. Os reservatórios ideológicos dos partidos contêm águas paradas, infectadas com bactérias que promovem um quadro clínico grave. Uma espécie de cepticismo gratuito para quem está de passagem e se mantém indeciso na orientação a dar ao seu voto. A mobília pulpítica pertence a uma outra geração de carpintaria política. A caixa de fruta posta em sentido já não oferece o sumo que as pessoas querem. Um novo conceito não pode nascer num local chamado Coliseu dos Recreios. O recreio, que todos conhecem enquanto o intervalo das aulas, não será o local nem a hora indicada para levar por diante um novo programa eleitoral que integre os civis sem filiação ideológica, os cidadãos com enfoque político mas que dispensam os partidos. António José Seguro ao puxar as senhas do rolo e ao oferecê-las aos "camareiros" para que dêem à manivela da sua voz, quer dar a impressão de homem de grande abertura, mais um simples camarada do partido. Se a cúpula socialista decidiu atribuir mais tempo de antena aos candidatos autárquicos, eu teria algum cuidado. António José Seguro corre o perigo de ser confrontado com alguém da sua rama ideológica com uma ideia para o país. Porque até ao momento, Seguro não foi capaz de convencer o país que existe para além do Rato, que tem a capacidade para gerir o que quer que seja. Embora em Almodóvar o papel de parede diga TUDO, estamos de facto a lidar com NADA - mais uma vez nenhuma ideia de jeito foi escutada. Se ele acha que os últimos dois anos de governo lembram dois séculos. No seu caso, sem ser governo, lembra uma grande seca. Um bombeiro que diz vai apagar o fogo, mas que não tem água no camião-cisterna. E os incêndios do verão ainda nem sequer deflagraram. A madeira dos púlpitos poderia ter outro destino. Cadeiras para esperarmos sentados, zangados.
Algo a que assisti com curiosidade ao longo do último ano e meio foi a forma como muitos indivíduos, alguns dos quais até tinha em estima e na conta de seres vertebrados, comprovaram o que Schumpeter descreveu de forma magistral em Capitalismo, Socialismo e Democracia: «O cidadão típico, por conseguinte, desce para um nível inferior de rendimento mental logo que entra no campo político. Argumenta e analisa de uma maneira que ele mesmo imediatamente reconheceria como infantil na sua esfera de interesses reais. Torna-se primitivo novamente. O seu pensamento assume o carácter puramente associativo e afectivo.»
Infelizmente, a política em Portugal acaba por se concentrar mais em pessoas do que valores ou ideias. À volta dos líderes políticos há, no fundo, claques de futebol. Sabendo-se que o mais das vezes temos os mesmos agentes políticos que criticam determinadas políticas enquanto na oposição, a implementar políticas iguais ou idênticas quando no governo, não deixa de ser espantoso que as claques consigam acompanhar este movimento, muitas das vezes quase sem hesitação. Claro está que muitos o fazem porque têm interesse directo em tal - querem manter o emprego no governo, no parlamento, na câmara municipal etc. Quanto a estes, o facto de venderem desbragadamente os seus próprios princípios já diz quanto baste sobre a sua verticalidade. Já os outros, que não dependem directamente do governo, apenas o apoiando por mera identificação ou simpatia com as cores partidárias, constituem para mim um enigma. O que é que terão a ganhar em defender pessoas acima de ideias, pessoas que frequentemente levam à prática ideias que consideram erradas? Mero reconforto afectivo, porventura, de acordo com Schumpeter. Afinal, o espírito de manada é algo que há muito se apoderou das sociedades democráticas. Defender pessoas quando estas mudam de opinião em relação ao que antes professavam parece ser algo a que, dado o carácter associativo e afectivo do indivíduo típico no campo político, estamos fadados a assistir. Porém, em certos casos, e porque o homem vai fazendo a história sem saber que história faz, as mudanças de opinião até podem ter implicações positivas e saudáveis.
Mas há algo que é mais preocupante no concernente a este espírito de manada. Se no campo da opinião impera em larga medida o relativismo, o mesmo não se pode dizer nos campos da honestidade, da correcção moral, da conformidade a certas normas sociais e legais. Dando um exemplo prático e muito actual, que alguém que criticava violentamente José Sócrates pelas suas abjectas trapaças consiga defender Miguel Relvas, cujo rasto de trapaças já se tornou nauseabundo, é apenas revelador já não só de falta de verticalidade, mas de uma gritante pulhice. Mais, que muitos dos que enveredam por semelhantes atitudes critiquem e ataquem os que o não fazem, especialmente quando estes até podem encontrar-se politicamente na mesma área ou partido, revela já não só a falta de verticalidade e a pulhice de que sofrem, mas aquilo que verdadeiramente são: vermes.
Aqui chegados, parece fazer sentido actualizar a tocquevilliana preocupação com a tirania da maioria. O que me parece ser bem mais preocupante é a vermocracia, a tirania dos vermes.
Há quem pareça incomodar-se com o facto de alguns indivíduos, como é o meu caso, poderem em dado momento defender uma posição à qual se aproximam ora a esquerda, ora a direita partidárias, consoante estas estejam no governo ou na oposição. O problema é que não são aqueles indivíduos que mudam de posição. Não sou eu que ando de um lado para o outro. Eu estou sempre no extremo centro, que apenas obedece à independência da minha consciência. Há muito que aprendi que a essência do homem livre é ser do contra, preferindo resistir à massa - já Jung assinalou que «A resistência à massa organizada só pode ser efectuada pelo homem que tem a sua individualidade tão bem organizada quanto a própria massa» - e não me preocupando com as apreciações dos que pensem diferentemente de mim, rejeitando o consequencialismo para que possa, como aprendi com um dos meus mestres, viver como penso em vez de pensar como vivo, às vezes de bem com uns e mal com outros, outras vezes de mal com uns e bem com outros, quando uns nunca estão bem com outros. Há quem lhe chame radicalismo. Eu chamo-lhe apenas independência de espírito e força de carácter.
Felizmente, há bastantes indivíduos que alinham pelo mesmo diapasão, embora em muito menor número que os vermes. Mas há que resistir e continuar a travar os combates que possam permitir que um dia o Portugal político seja um local mais recomendável, com um ar mais respirável. É que, seguindo os ensinamentos de La Boétie, que inspiram o cabeçalho do blog do Professor José Adelino Maltez, «n'ayez pas peur. Na servitude volontaire o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá.»
A União Europeia (UE) assemelha-se a um couraçado que não consegue largar o estaleiro. De reparação em reparação, a UE vai tentando tapar os furos com medidas que acabam por proteger mais a capitania do que os marinheiros fustigados pela tempestade. A Europa começa quase sempre pelo fim. A Europa é uma súmula de consequências. Um logo se vê transformado em disciplina burocrática. Faz hoje o que deveria fazer mais tarde e esquece-se do que deveria ter feito ontem. Isto a propósito da União Bancária Europeia. De acordo com o enunciado pelos ministros das finanças da Zona Euro, o Banco Central Europeu será a entidade responsável pela supervisão de perto de 200 instituições financeiras a partir de 2014. O sentido de timing dos Europeus não se assemelha nada ao sentido de urgência imposto pelo Fiscal Cliff em Washington. O cidadão-comum-europeu-e-desempregado sentir-se-ia mais grato, se a UE tivesse inventado uma União de Emprego, uma extensão desse brilhante neologismo - livre circulação de trabalhadores no espaço Europeu. Uma vez que o flagelo do desemprego é a patologia-mor, talvez fosse boa ideia congeminar um sistema de transacções laborais, através do qual a emigração de "mala de cartão" passaria a obedecer a uma outra forma de ordenamento e equilíbrio. Se para o sistema bancário facilmente criam um fundo de garantia com avultados milhares de milhões, para o sistema de emprego deveriam equacionar uma bolsa de competências que permitisse facilmente dirimir as dificuldades do mercado de trabalho, e acabar com o conceito de imigração/emigração. É deste modo que eu vejo as coisas. A falta de ideias e soluções que tenham um impacto imediato na vida das pessoas e que gerem crescimento e procura, sustentabilidade. Porque raio começam pelo fim? Não era suposto as pessoas estarem em primeiro lugar? E não é "a Europa das Nações e dos Cidadãos" o lema instigador do projecto. Já não tenho dúvidas sobre onde isto vai parar.
O argumento da idade/antiguidade. O típico lugar-comum de quem julga que a idade é um posto seja lá para o que for, especialmente para validar argumentos numa discussão, como se um tipo mais novo não pudesse ser mais conhecedor e inteligente e derrotá-lo intelectualmente. Parece-me ser uma coisa muito portuguesa, esta variante do "respeitinho." Qualquer pessoa que caia na estupidez deste argumento falacioso está obviamente a pedir para que eu nem sequer perca mais um segundo que seja a debater com ela, até porque recorrer a isto implica automaticamente dar-se por vencida e, portanto, o meu trabalho aí está feito.
(Eduardo Correia e Nuno Castelo-Branco)
Quem leia o manifesto do MMS percebe bem a preocupação com a eficiência. E de facto, há algo muito pouco português neste Congresso em que às 10:45 já estão discutidos todos os pontos constantes da ordem de trabalhos para a manhã, que deveriam apenas começar a ser discutidos às 11:00. Além do mais, Eduardo Correia, colega do Miguel dos tempos do liceu Rainha Dona Leonor, é de uma simpatia e cordialidade notável.
Aqui ficam algumas das ideias lançadas durante esta manhã que também deixámos no Twitter:
Eduardo Correia faz o discurso inicial baseado na crise económica e de valores.
Eduardo Correia quer um Portugal mais justo, honesto e solidário.
MMS apresenta 105 soluções para o país na Moção ao Congresso.
Eduardo Correia: "O Estado não pode gastar tanto nem gastar tão mal".
Eduardo Correia: "O défice deveria ser inconstitucional, o Estado tem que dar o exemplo"
Eduardo Correia: "Saúde é o bem mais precioso da pessoa humana"
Eduardo Correia: "Para o MMS todos serão iguais perante a lei"
Eduardo Correia: "Connosco não haverá ninguém acima da lei"
Eduardo Correia: "É possível transformar Portugal no país com melhor qualidade de vida da Europa"
Eduardo Correia: "Há quem diga que MMS significa Muitos Mais Seremos"
(Congressista do qual não sabemos o nome): Crescimento anémico, produtividade muito baixa, mas apesar de remediado Portugal vive à rico endividando-se 2 milhões euros/hora
(Congressista do qual não sabemos o nome): "Estado alegre e irresponsavelmente distribuiu fundos comunitários sem critério"
(Congressista do qual não sabemos o nome): "Governo do PS acena com projectos faraónicos"
(Congressista do qual não sabemos o nome): "Para perceber que a economia do país está doente não é preciso o nosso partido, basta cá viver"
João Santos: "O Governo do pseudo-engenheiro Pinto de Sousa"